tag:blogger.com,1999:blog-38967540871518318202024-02-20T03:54:23.933-08:00VersículosDoughttp://www.blogger.com/profile/10921754351760150046noreply@blogger.comBlogger48125tag:blogger.com,1999:blog-3896754087151831820.post-25613834272839525982017-03-29T10:13:00.001-07:002017-03-29T10:15:19.440-07:00Ver048<iframe width="560" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/M_Ndw53ne5k" frameborder="0" allowfullscreen></iframe>
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<i>“Como seria com qualquer idioma novo, meu primeiro contato com a língua dos anjos causou estranheza. Os símbolos, que muitas vezes me pareciam uma variação pomposa de letras gregas, não significavam exatamente letras, mas conceitos. Algumas horas depois, entretanto, eu já conseguia assimilar o conceito geral de frases inteiras e até mesmo a pronunciar algumas palavras.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Quando o sol covarde começava a se esconder, eu e Máira já tínhamos lido toda a sessão que tratava sobre Lúcifer e ponderávamos sobre o tínhamos descoberto ali.</i><br />
<i><br /></i>
<i>- Então, o grande plano dele é engravidar alguém? Esperava mais do grandão. - disse ela desapontada.</i><br />
<i>- Não foi isso que eu entendi. Olha aqui. - corrigi apontando o parágrafo que embaçava meu argumento - Me parece que Lúcifer, sendo um arcanjo, não pode interferir aqui neste plano de forma física, salvo em duas ocasiões. A primeira é sob as ordens daquele que o livro chama de 'O Criador’…</i><br />
<i>- Coisa que não vai acontecer tão cedo. - Maíra complementou.</i><br />
<i>- Também acho isso difícil. - concordei - Nos resta a segunda, então. Se algum mortal de muita fé concentrar toda a sua força de vontade e desejar uma ação específica, os arcanjos poderiam agir e até mesmo realizar este desejo. “O Fiel”, é como o livro chama este mortal. Seria ele quem poderia fazer essa ponte. Certo? - esta última palavra eu disse por educação, pois não tinha dúvida alguma de que eu estava correta.</i><br />
<i>- Essa parte faz sentido. Mas e o filho então? - Máira apontava para uma figura um tanto perturbadora de uma mulher grávida com expressão de horror. Era possível ver o interior de sua barriga, e lá havia um pequeno diabrete se alimentando de suas entranhas. </i><br />
<i>- Eu também não achei que o livro foi claro quanto a isso. - respondi - E nem acho que seja importante agora. Estou mais intrigada em descobrir qual é a ligação entre Lucas e Lúcifer.</i><br />
<i>- Olha só quem acredita nos boatos agora…- Máira provocou.</i><br />
<i>- Não é exatamente isso. É que eu lembrei de uma coisa…- como sempre, era difícil para mim revirar os armários antigos das minhas memórias. Mas eu confiava em Máira e me abri - Em Paris, logo depois que fui transformada, e eu estava debruçada sobre o corpo de Carlos. Acho que foi quase por instinto, sabe? A sede faz você deixar de pensar direito. Bom - segui, um tanto constrangida - a verdade é que eu não ia parar enquanto não secasse ele, mas Lucas interveio e me levou para casa quando achou que eu já estava “controlável”. As lembranças desta noite são um pouco nubladas, mas ainda me lembro bem de alguns pontos específicos.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Senti em minha língua outra vez o gosto dele. Do sangue dele. Uma das piores coisas da imortalidade é ter que conviver com suas lembranças ruins eternamente. Você pode esconde-las, pode ignora-las, pode até mesmo nega-las. Mas elas vão estar ali, com você. Para sempre.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Respirei, e continuei.</i><br />
<i><br /></i>
<i>- Lucas me levou ao apartamento que ele tinha no Centro de Paris. Eu lembro que tremia, de medo e de choque. Pela primeira vez, sentia odores que não conhecia, ouvia sons que nunca haviam tocado meus ouvidos e via cores que não tem nome. Suja e molhada. Ele me sentou no sofá, e me perguntou:</i><br />
<i><br /></i>
<i>- Você é a garota LeBion, estou certo?</i><br />
<i><br /></i>
<i>Lembro que não lhe respondi. Apesar de falar de modo paciente e compreensivo, Lucas era sedutor demais. Eu nunca tinha visto nada como ele antes. Seu rosto, sua voz, sua pele tão pálida quanto a minha. Eu, que sempre tive uma personalidade dominadora, me vi submissa a ele. Era como se ele fosse o dono meus olhos e minha atenção mas, com esforço, ainda mantive minha voz para mim.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Ele continuou a falar.</i><br />
<i><br /></i>
<i>- Filha de Jean-Luc LeBion e Dona Isabella de Albuquerque, se fiz minha pesquisa corretamente. Tenho observado a sua família há alguns anos. Desde antes de você nascer, Carolina. Seus pais tem o odioso hábito de frequentar a igreja e acreditar em qualquer coisa que lhes disserem. Serei sincero com você, eu sempre odiei esta alienação passiva. No entanto, preciso congratular seus pais pelo trabalho que fizeram com você. - Lucas me fitava satisfeito.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Ao ouvir a menção do nome de meus pais, a quem eu não via havia alguns anos, inevitavelmente as lágrimas brotaram em meus olhos. Minha respiração parou quando o vi caminhando lentamente em minha direção. Olhei para baixo, tímida, e ele levantou meu queixo suavemente. Me dominando com os olhos de gelo.</i><br />
<i><br /></i>
<i>- Não tenha medo, minha criança. Eu tenho intenção alguma de lhe causar mal. Você agora é minha, e eu prezo pelo que é meu. Meu nome é Lucas Malta, e eu acabo de te dar um presente. - como quem confessa um pecado, ele me disse - A dádiva da noite.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Senti sua língua passando confortavelmente pelas feridas, ainda abertas, que ele havia causado em meu pescoço. Tive calafrios de prazer incabíveis na ocasião. Entretanto, reais.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Lucas me despiu.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Em meu êxtase, eu ainda era castigada pela sede. Mas haviam tantas outras sensações novas pungindo em mim que eu não conseguia me sentir afligida exatamente por ela. Ele estava sobre mim no sofá de veludo, nossas silhuetas dançando à luz da lareira acompanhavam nossos movimentos de um jeito fantasmagórico e belo.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Saciado, Lucas pôs o polegar em minha boca, e disse relevando sem pudor os dentes que, agora, eu também tinha:</i><br />
<i><br /></i>
<i>- Carolina, minha pequena corruptora de homens bons. Seria você a fiel que eu tanto procurei?</i><br />
<i><br /></i>
<i>E se levantou subitamente. Meus olhos, ainda se acostumando à minha nova condição, não conseguiram entender bem como ele apareceu vestido e alinhado tão rápido. Passado o momento, a sobriedade novamente tomou conta de mim. Não compreendia bem meus sentimentos para com aquele homem, que acabara de sair pela porta.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Pouco a pouco, aquele apartamento passou a falar comigo. A me contar coisas que eu não queria ouvir, eu juro que podia ver as paredes me oprimindo e me senti culpada e imunda pelo que havia feito. Olhei para mim mesma e me vi nua e suja de sangue. Sangue do homem que achava que ia me fazer feliz.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Eu chorei novamente, dessa vez não lutei contra as lágrimas. Fui até o banheiro, precisava me ver, precisava lembrar quem eu realmente era, pois sentia como se não me conhecesse mais. Havia um espelho, mas ao me por de frente à ele, não havia nada o que refletir.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Eu não era nada. Não era ninguém. Gritei em desespero por não saber mais o que eu era e odiando meu destino. Mas mais do que tudo odiando, eu nunca odiei alguém como odiei Lucas naquele dia. E por isso as últimas palavras que ele disse antes de sua saída nunca me saíram da cabeça. O que era esta “fiel” a quem ele procurava? Porque foi exatamente esta a palavra que ele usou. Fiel.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Houve um silêncio incômodo quando parei de falar. Acredito que Máira estava esperando que eu continuasse, e quando percebeu que eu não o faria, disse:</i><br />
<i><br /></i>
<i>- Lucas gosta das mulheres do seu clã fiéis a ele, isso é muito estranho?</i><br />
<i>- Não. E por cem anos achei que ele quis dizer exatamente isso naquela primeira noite que eu tive como vampira mas, lendo este livro, uma luz se acendeu em mim. Com o tempo eu me conformei, achava que ele tinha me escolhido aleatoriamente, apenas para satisfazer seus desejos. Porque, bom, nós fazemos isso com os mortais. Mas, se ele realmente tiver este plano de forjar uma aliança com Lucifer e precisar de um intermediário aqui, talvez eu não tivesse sido um acaso afinal de contas. Não, Máira…eu estou começando a suspeitar que Lucas me usou como um peão de tabuleiro. - eu mesma me assustei ao notar o tom da minha voz. A ira escorria de minha boca como se fosse sangue.</i><br />
<i>- Calma, você não acha que ele te transformou pensando que você fosse essa figura do livro que tem o poder de fazer anjos descerem para este plano e etcetera, certo? Esse livro é bem obscuro em alguns pontos, concordo, mas ele foi claro ao dizer que “o fiel” que vai trazer Samael para este plano deve ser uma alma casta que foi deturpada pelas trevas. E, sem ofensas, mas você tem cara de que queimaria ao entrar em uma igreja mesmo quando era mortal.</i><br />
<i>- Exatamente. Eu sempre odiei este hábito dos meus pais. Cheguei fugir da minha primeira comunhão, em plena cerimônia. Mas talvez Lucas não soubesse disso. Minha família era muito devota, mas eu nunca fui. Se Lucas roubou a minha vida para que eu fosse um joguete nas suas mãos, não importa se ele tiver Lúcifer ao seu lado ou não, eu vou matar aquele infeliz.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Um cuco escondido atrás de uma lamparina antiga nos avisou que já eram sete horas - Acredito que seja a hora de finalmente pormos tudo isso em pratos limpos e resolver este mistério. Você vem comigo?</i><br />
<i>- Acho que fico mais confortável aqui, fora de qualquer risco a minha existência. Prefiro ficar aqui e esperar as novidades.</i><br />
<i>- Medrosa. - eu disse me levantando, pegando minha bolsa e indo até a porta - É melhor chamar a polícia. Daqui a pouco seus vizinhos vão começar a feder.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Me despedi do porteiro, que desta vez estava acordado, e avisei que a saída de emergência - que eu mesma tinha aberto - estava destrancada e que seria perigoso se passasse a noite toda assim. Busquei na minha bolsa o papel onde Beatriz havia escrito o endereço novo enquanto caminhava pela orla da cidade. Notei que parecia ter passado muito tempo desde que chegara ali com Máira desacordada nos meus ombros, era difícil pensar que tudo aquilo havia acontecido a menos de vinte e quatro horas.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Por estar queimando em emoções, demorei a encontrar o pedaço de papel. Quando finalmente li o endereço na cuidadosa caligrafia de Beatriz. Sorri, e lembrei de um distinto escritor e diplomata que conheci em um 'rendez-vous' algumas décadas atrás em Paris. O Sr Alves estava um pouco deslocado por ter chegado à cidade havia pouco tempo, mas logo ficou à vontade quando nos conheceu por sermos os únicos que também falávamos português na reunião. Apesar de seu francês ser impecável, ele justificou sua escolha de ficar conosco dizendo que nada era mais confortável do que ouvir a língua materna novamente, só que tanto Lucas quanto eu sabíamos que, na realidade, ele havia se encantado com a minha presença. Lucas se incomoda bastante com a aproximação do Sr. Alves, apesar de eu achar seus esforços para me agradar bastante educados e polidos. Eu tinha certeza de que ele o mataria ao final da noite, e genuinamente não me importaria com isso, não fosse pela cena armada por Manoela, que ainda estava conosco na época. Precisamos sair prematuramente da festa. Nunca mais voltamos a ver o Sr. Alves com vida, ao saber da notícia de seu falecimento, Lucas prometeu que ainda pisaria sobre o seu túmulo.</i><br />
<i><br /></i>
<i>E agora, de certa forma ele cumpria sua promessa, nossa nova casa se situava na Rua João Luis Alves.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Perdida em meu próprio rancor, eu caminhei do Leme até o bairro da Urca sem muita demora. Era uma típica noite de outono carioca, agradável e amena. Reduzi a velocidade quando cheguei à Urca afim de conhecer a vizinhança, afinal, havia estado pouquíssimas vezes naquela parte da cidade. Pessoas de alta classe se reuniam no que parecia ser um inusitado ponto de encontro do bairro: uma mureta que tinha vista para a bela enseada de Botafogo. Logo encontrei a rua que procurava, e pude ver que Lucas não a escolhera apenas por uma pequena vingança pessoal. Haviam muitas casas luxuosas naquela rua, com o padrão europeu que ele tanto gostava.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Lembrei de seu sorriso triunfante e senti desprezo. Se ele queria tanto o Inferno, eu lhe daria com prazer.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Havia um portão gradeado entre dois muros de hera bem conservada logo na entrada de nossa casa. Passei por ele e caminhei pelo pequeno jardim, que tinha flores desabrochadas apesar de já termos passado, há muito, da primavera. À minha frente se erguia a acinzentada construção clássica que mais parecia uma miniatura dos antigos palacetes vitorianos. Meu novo lar.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Subi os dois pequenos degraus que compunham a soleira da entrada e toquei nas portas de madeira lisa e maciça que se abriram como se me esperassem. Dentro o ambiente era bastante aconchegante, parecia menor que a nossa antiga morada no Catete e mais quente.</i><br />
<i><br /></i>
<i>O primeiro cômodo era uma espécie de sala de estar decorada com poucos móveis. Basicamente havia uma mesa de centro retangular, ampla e baixa, no meio do aposento. Ao redor da mesa, de modo planejado, foram dispostos sofás que pareciam bastante aconchegantes. Eram sofás básicos, sem qualquer adorno ou enfeite. Dispostos em pares e idênticos em todos os outros aspectos, diferiam apenas em suas cores, sendo pretos os que tocavam a parede aos fundos e vermelhos os que ficavam nas laterais da mesa de centro. Às costas destes últimos se erguiam dois pequenos lances de escada, um de cada extremidade do cômodo, que se encontravam num mezanino moderno.</i><br />
<i><br /></i>
<i>E lá, debruçado sobre as grades cor de chumbo do mezanino, Lucas me observava. Camisa social dobrada até os cotovelos e aberta nos primeiros botões, preta como seus cabelos. Trazia uma garrafa de cristal cheia até a metade com um líquido escarlate e uma taça do mesmo material e com o mesmo conteúdo na outra:</i><br />
<i><br /></i>
<i>- E então?</i><br />
<i>- Estou surpresa, - e realmente estava, mas com a minha reação. Imaginei que toda aquela ira dentro de mim me fizessem pular sobre sem qualquer aviso, mas me mantive calma e resolvi que iria jogar um pequeno jogo com ele. Enquanto subia a escada colada à parede esquerda para me juntar a ele - Conhecendo você esperava uma decoração muito mais, como posso dizer... barroca. Olha, eu sabia que viveria para sempre, mas não achei que fosse ver o dia em que Lucas Malta decoraria uma casa sem um papel de parede ornado em flores-de-lis ou veludo nas mobílias. Você até abriu mão de uma lareira na sala de estar. - deixei que ele me desse um beijo - Parece que os tempos estão mudando, não é mesmo?</i><br />
<i><br /></i>
<i>E lhe sorri, maliciosa.</i><br />
<i><br /></i>
<i>- Eu tive ajuda na decoração, devo admitir. - Lucas se voltou para a parte interna da casa, que se revelou um corredor largo e claro, dando as costas para o mezanino e examinou com o olhar de um artista que acabou de concluir um trabalho. - Não é realmente o tom que eu escolheria para a casa se tivesse feito sozinho, entretanto, acredito que tenha sido melhor assim. Estamos quase na virada da década, não seria prudente se continuássemos com aquele antigo mobiliário. - ele deixou seus olhos mais uma vez pousarem pelo corredor vazio antes de beber o último gole de sangue e voltar a olhar para mim - Mas a minha pergunta não se referia à casa. Você passou um dia inteiro fora, se eu não a conhecesse estar preocupado. No entanto, estou somente curioso. Como você conseguiu salvar a Aaba?</i><br />
<i><br /></i>
<i>Tomei a taça de sua mão e estendi para que ele a enchesse com o resto de sangue que havia na garrafa de cristal percebi, então, os detalhes bem trabalhados em seu material. O velho Lucas estava ali, apesar dos filtros.</i><br />
<i><br /></i>
<i>- E como você sabe que eu a salvei? Pensei ter ouvido você dizer que ela estava condenada, que era impossível.</i><br />
<i>- Exato. Mas nós vivemos juntos tempo o bastante para que eu possa notar sua predisposição em cruzar o limiar da possibilidade. - ele pôs a mão no meu queixo e em fitou com uma felicidade perturbadora - Se não quiser falar, eu respeitarei. Não é como se eu me importasse com a sua amiga, exatamente. Ah! E já que estamos falando de aliados, me acompanhe. Quero que você conheça alguém.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Lucas levemente tocou a minha cintura e, relutante, deixei-me conduzir pelo largo corredor que se abria a nossa frente. Primeiro, passamos pela porta fechada do que era o quarto de Beatriz, e ele me disse que ela estava fora caçando. Havia sido uma noite agitada, aparentemente. Em seguida, havia o que que parecia ser uma outra sala de estar, apesar de haver uma cama discreta, mas bem arrumada em seu interior. A porta estava aberta e eu pude ver dois corpos desfalecidos no fino tapete preto que forrava o chão. Um homem e uma mulher. Ela, que morreu de olhos abertos, tinha êxtase e satisfação em seu olhar vítreo. A mulher morta me olhou e eu não pude deixar de me ver em seus olhos. Talvez eu fosse tão descartável quanto ela, talvez meus olhos tivessem se pintado do mesmo vazio antes que ele resolvesse me trazer para si. Meu interior se revolvia em ódio daquele homem e eu sabia que não aguentaria aquele disfarce por muito mais tempo. Não havia sinal de sangue em seus corpos, bem como no tapete, e então, eu soube de onde tinha vindo o sangue que havia enchido a garrafa que provei.</i><br />
<i><br /></i>
<i>- Perdoe-me pelo desleixo, - disse Lucas fechando a porta - eu tinha acabado entreter nossos visitantes no momento em que você chegou. Ainda não tive tempo de dar fim aos corpos. Este, inclusive, é o nosso quarto de hóspedes, - e me deu um daqueles sorrisos tortos e perturbadores antes de falar em voz baixa - você sabe para que ele serve. Vamos seguir?</i><br />
<i><br /></i>
<i>Havia uma larga porta dupla bem no meio do corredor, as portas eram brancas e simples. Fora sua altura, que subia até tocar o pé-direito da casa, poderia-se dizer que era simples como um par de portas que acabou de sair de uma marcenaria rudimentar. Mesmo sua maçaneta era de um singelo metal liso e bronzeado.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Caminhamos até lá.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Havia algo emanando por detrás daquelas portas. Algo incômodo, que começou como uma leve impressão mas, a cada segundo, aumentava. Ia se mesclando a todo o asco e repulsa que agora eu tinha por Lucas. Até que tomou conta de mim inteiramente, a cada passo que eu dava, podia perceber meus sentidos se pondo em ataque, eu estava alerta como fico quando passo dias sem beber, o que era estranho, pois eu havia acabado de tomar uma taça de sangue ainda fresco.</i><br />
<i><br /></i>
<i>E mais, havia algo de familiar naquela sensação. Mas eu não conseguia exatamente lembrar onde havia experienciado aquilo anteriormente, a coisa realmente me desconcentrava.</i><br />
<i><br /></i>
<i>- E este, doce Carolina, - Lucas parou em frente às portas simples e intrigantes - é o quarto do NOSSO hóspede. Sei que você tem muitas perguntas a serem respondidas, e sei o quanto fui negligente com a sua criação. Você precisou aprender muito sozinha. Mas meu silêncio tem uma justificativa, eu precisava que você não soubesse, pois achei que fosse caber a você a parte mais importante do meu plano - enquanto ele falava, eu revolvia meus arquivos a tentar lembrar, lembrar de onde eu conhecia aquele sentimento tua incômodo. Então veio um nome na minha mente. Só podia ser ela!</i><br />
<i><br /></i>
<i>- Tive o prazer de ver você se tornar uma de nós e uma das melhores. E hoje, você vai saber que todo o seu sofrimento foi por um bem maior. Para o nosso bem maior.</i><br />
<i>- Catharina! - eu não consegui evitar dizer.</i><br />
<i>- Perdão? - Lucas disse sem entender.</i><br />
<i>- Todas as vezes que eu esbarrei com Catharina através dos anos, foi esse mesmo sentimento. Essa mesma sensação incômoda e inquietante. - meu tom de voz era alto, e eu percebi que já não estava mais sustentando a imagem de doce e tenra parceira. - Eu descobri seu plano, seu merda.</i><br />
<i><br /></i>
<i>Um arrastar de agulha rápido veio de dentro do cômodo ainda fechado e sem demora uma música começou a tocar. Pesada e dramática demais. “Amadeus,” - pensei - “nunca pensei que conheceria Lúcifer ouvindo a merda de Wolfgang Amadeus Mozart.”</i><br />
<i><br /></i>
<i>- Eu sei qual é o seu plano. - repeti - Você me usou. Você tirou tudo de mim para que eu fosse “a parte mais importante do seu plano”. Eu teria sido feliz, Lucas. Eu teria tido uma vida! E você me negou isso por puro egoísmo! Máira me contou que o plano inferior já cochicha sobre a sua intenção de se aliar a Lúcifer e tomar o Inferno. Eu sei que tem um anjo atrás dessas portas, e não qualquer um. O príncipe do Inferno está aqui e….</i><br />
<i><br /></i>
<i>As portas se abriram com um clique de fechadura bastante audível. E de lá ouvi pela primeira vez sua voz aguda como a de um tenor.</i><br />
<i><br /></i>
<i>- Acredito que esteja me confundindo com o meu irmão, senhorita LeBion. - ele tomou minha mão nas sua e se inclinou beijando-a - Eu sou Rafael, encantado."</i>Doughttp://www.blogger.com/profile/10921754351760150046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3896754087151831820.post-66516625134526029972017-01-19T19:18:00.002-08:002017-03-29T10:00:38.103-07:00Ver047<iframe width="560" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/5t99bpilCKw" frameborder="0" allowfullscreen></iframe>
<br>
<br>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">“Esperei que ele se repetisse. Demorou até eu quase
desistir, mas lá estava novamente o barulho. Como se alguém buscasse ar no
espaço, um esgarçar de cordas vocais grave que, desta vez, culminou um acesso
de tosse. Ainda molhada corri até a sala tentando, nos poucos metros que tinha,
conter minha esperança.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Máira, agora já totalmente em sua forma original, se
debruçava sobre os joelhos quando eu adentrei na sala. As asas dracônicas
riscavam a parede a cada tosse que dada. Ela expeliu algo, mas dessa vez não
era o mesmo líquido verde a pastoso de antes, mas um fluido translúcido e com
algumas bolhas. Deu pela minha presença ao levantar a cabeça para inspirar. Os
olhos, agora inundados de um verde brilhante focaram em mim e eu juro que eles
me sorriram antes dela dizer com a voz fraca:</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Eu agradeço tudo que você fez por mim, de verdade.
Mas estou fraca demais pra retribuir desse jeito, você pode botar umas roupas,
por favor.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Foi quando eu percebi que ainda estava nua e, sem me
importar minimamente com isso, fui até ela e a abracei à despeito dos seus
lamentos de dor. Contei a ela tudo que tinha acontecido desde a nossa batalha
na Vogue e respondi porque não estávamos no seu apartamento. Ela fez menção de
levantar e atravessar o corredor, mas sentiu vertigens antes mesmo de chegar à
porta, por isso a ajudei a retornar ao sofá antes de ir até o quarto pegar
roupas limpas para nós duas. Eliane tinha deixado alguns vestidos lá no armário
e tínhamos as medidas parecidas, apesar do gosto diametralmente oposto. Por
falta de opções, saí do quarto com um vestido verde escuro com uma estampa de
pequenos círculos multicoloridos. Para Máira que era maior que eu, uma camisa
do dono da casa serviu.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Meu vizinho tinha cara de quem tomava cappuccino? -
perguntou-me enquanto se vestia, sua segunda pele gradualmente ia cobrindo o
corpo infernal - Eu realmente poderia tomar uma xícara ou duas de algo quente
agora.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Bom, - eu disse procurando nos armários da cozinha -
ele tinha um pó de café barato aqui, acho que é o máximo que posso fazer por
você agora.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Se eu não morri com todo aquele sangue, não vai ser
um café seu que vai me derrubar. </span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Primeiro, a alegria de vê-la viva e, na medida do
possível, bem, me embriagou. Mas a cada frase dita, a cada gesto dado eu via
algo de diferente em Máira. Ela ainda falava do mesmo jeito desbocado e
espirituoso, mas era como se estivesse ponderando alguma coisa lá no fundo. Talvez
alguém mais distraído não percebesse, porque ela realmente estava tentando
parecer à vontade, mas, como eu disse, eu sempre fui boa em ler os
outros. </span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Saí da cozinha com duas xícaras de café preto. Duas
por força do hábito, mas dessa vez não toquei na minha. Máira tomou a dela com
bastante açúcar e depois tomou a segunda, pura. Já estava com aspecto humano a
essa altura, tinha escolhido cabelo castanho escuro e levemente ondulado até
altura dos ombros dessa vez. E olhos azuis-piscina, que me observavam por cima
da xícara.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- O que foi? - ela disse quando terminou.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Sou eu que pergunto. Está tudo bem? Quer dizer, você
parece estar bem, apesar de tudo. Mas eu acho que você ainda está segurando
alguma coisa aí dentro. Você se recuperou mesmo? Se estiver precisando de
alguma coisa, por favor, avise.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Máira desistiu de sua máscara-está-tudo-bem-agora
e penetrou em mim com seus novos olhos por alguns segundos prendendo a
respiração, então disse preocupada:</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Não o tipo de assunto para se conversar na casa de
estranhos. - e se levantou com cuidado - Vamos, acho que já consigo ir até o
meu apartamento.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Fiz menção de ajuda-la a chegar em casa, mas ela não
precisou. Já caminhava bem e quase não havia mais sinais de qualquer fraqueza
nela. Não, não era algo sobre sequelas da batalha que ela estava escondendo.
Peguei as xícaras e a cafeteira e levei para o apartamento de Máira, afim de
cobrir rastros quando viessem investigar a morte do proprietário e sua
namorada. Antes mesmo que eu perguntasse, ela disse:</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Sim, você pode entrar. Deixa as xícaras lá na pia,
são um pouco cafonas, mas eu perdi a minha em algum lugar por aqui. - e apontou
pra bagunça que ainda se fazia em seu apartamento, mas que dessa vez não me
saltou tanto aos olhos. Talvez eu já tivesse acostumando e me sentindo
confortável naquele lar.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Quando voltei, sentei sobre uma pilha de livros de
frente para a mesa onde ela estava sentada em uma cadeira.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- E então? – perguntei.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- O assunto é um pouco longo.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Tudo bem, eu não vou a lugar nenhum pelas próximas
treze ou doze horas mesmo. - e apontei para a varanda que deixava entrar a luz
do sol num ângulo ainda não muito perigoso - Inclusive, você pode fechar aquilo
pra mim?</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Ela fechou as persianas que cobriam a porta da sua
varanda, e ligou um interruptor que se escondia atrás de uma mesinha de canto
que abrigava algumas garrafas vazias. Quando voltou, sentou sobre uma outra
pilha de livros ao lado da minha. Me fitou do mesmo modo apreensivo que o tinha
feito na casa de Debóhra e finalmente disse:</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Olha, nada disso é certo, tá bom? Eu não tenho
nenhuma comprovação disso que vou dizer, mas dado o histórico do seu amigo, - e
a palavra amigo veio envolta em muito sarcasmo - acho que você deveria saber.
Pode ser o começo de alguma coisa realmente grande.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Me mantive calada enquanto ela estudava por onde
começar.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Eu quase morri dessa vez.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Eu notei - respondi.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Exceto que nós, demônios, não morremos. Toda vez que
nossa forma neste plano deixa de funcionar por algum motivo, somos novamente
levados ao Inferno. Uma projeção nossa é obrigada a caminhar em direção ao
portal mais próximo, e de lá somos levados até o plano inferior.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Nós ainda temos alma? - era uma oportunidade
perfeita para tirar a dúvida que me intrigava há décadas.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Porra, claro que sim! Na verdade, é sobre
nossas almas que tudo isso se trata. Desde A Queda, eles lutam pelas nossas
almas. As nossas e as dos mortais. Estrela da Manhã e o que eles chamam de Deus
estão basicamente jogando um jogo de damas eterno pra ver quem come mais almas
pro seu lado.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Eu nunca gostei desse pensamento. - me peguei
dizendo - Acho simplório demais, dicotômico demais e não me parece certo. Minha
família era extremamente religiosa e dizia que eu precisava concordar com o que
eles diziam para, entre aspas, ser salva. Nunca acreditei que seguir um monte
de regras e dogmas me salvariam ou condenariam de nada, e muito menos que outra
pessoa possa dizer para onde minha alma iria depois que eu morresse. Na minha
visão somos nós mesmos que nos salvamos, sempre que somos verdadeiros e fiéis
àquilo que acreditamos.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Nossa, as reuniões de família deviam ser realmente
animadas na sua casa. Eu concordo com você. - depois da brincadeira, ela voltou
a ter o tom preocupado na fala - Então, essa coisa…nossa alma, ela é guiada
pelo portal até chegar aos portais do Inferno. “Vós que aqui adentrais perdei
toda a esperança”, aquilo mesmo que você ouviu falar. Uma vez cruzados os
portões, não tem volta. Precisamos procurar outro portal para subir e, como eu te
falei, eles estão cada vez mais escassos. Mas, nossa forma física fica aqui
neste plano. É só quando realmente entramos no Inferno que nosso corpo aqui
começa a desaparecer. Imagino que eu deva ter dado sinais de algo parecido, não
foi?</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Sua segunda pele começou a descolar de você e muitas
veias apareceram no seu corpo original. - respondi.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Exatamente, isso era porque eu estava bem perto.
Quase na borda do meu portal, na verdade. - seus olhos estavam focados na
parede atrás de mim, mas refletiam a aversão que ela tinha àquele lugar - Eu já
podia ver os grandes portões, podia ouvir o Aqueronte correndo logo atrás
deles. Seu barqueiro asqueroso deveria estar babando para ter novas almas para
atravessar. Eu sabia que minha mãe, ou pior, alguma das minhas irmãs enviadas
por ela estariam me esperando com o par de moedas necessário para a travessia e
que, depois, minha vida seria outro sem-número de anos vagando por cada um dos
nove círculos, ouvindo lamentos e gritos de agonia, até conseguir achar alguma
saída de volta para cá.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Máira se calou por um tempo depois disso, o que me fez
pensar em quantas vezes ela já havia passado por aquilo. Depois me surpreendeu
com um sorriso, um sorriso amplo e aliviado. Seu sorriso era mais para ela
mesma do que para mim.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Mas aí você me salvou bem a tempo. - o peso que ela
trazia na voz parecia ter dado lugar à uma animação contagiante, apesar da
curiosidade permanecer em mim, eu gostava mais dessa Máira despreocupada. Peso
nunca combinou com ela - Eu lembro de estar andando em passos lentos pra em
direção ao portão enquanto outros passavam por mim, os que já tinham quem os
recebesse para fazer a travessia. Vi o barqueiro fazer três viagens enquanto os
outros que chegaram comigo já tinham ido quase todos. O único som eram os
latidos que o Cão que guarda os portões dava esporadicamente, eles têm o
barulho de trovões. Cheguei a nutrir uma leve esperança de que teriam me
esquecido, que nem mamãe nem nenhuma das minhas irmãs viesse. Eu sempre acabo
nutrindo essa esperança. Mas logo vi alguém vindo. – ela fez um suspense
proposital antes de continuar - Você quer dar um palpite de quem minha amada
mãe mandou para me buscar?</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Não, ela não fez isso! - e percebi que também estava
me divertindo com aquela conversa.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Sim, ela fez. Triskele tem um jeito muito peculiar
de educar suas filhas, sabe? A demora estava explicada quando eu vi aqueles
passos desengonçados vindo em minha direção. Imaginava que Debóhra estivesse
furiosa comigo e já começando a me preparar para um embate quando ela me pegou
pelo braço e começou a arrastar para longe dos portões, a direção oposta de
onde deveríamos ir. O barqueiro protestou, mas ela fez um gesto obsceno e
mandou que ele fosse dar mais uma volta no rio.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- O que ela queria?</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Saber de você. É, eu fiquei com essa mesma cara. Ela
pareceu ter esquecido todo o acontecido em sua casa anteontem e Debóhra
realmente é do tipo que guarda mágoa dos outros, então julguei que tinha
acontecido algo importante. Cheguei a pensar que você também tinha sido
exorcizada lá na boate, mas não dei a ela o gosto de ver a minha preocupação.
Ao invés disso, perguntei o que é que a “sanguessuga ruiva” tinha de tão
importante. E minha irmã me respondeu que não era você, mas sim seu
companheiro.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Lucas? - por essa eu não esperava - O que Lucas tem
a ver com tudo o que aconteceu com Debóhra? Ele nem foi conosco à casa dela.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Eu te contei que Lucas era famoso e infame ao mesmo
tempo lá no nosso mundinho inferior. Apesar de não saber se ele já esteve lá
alguma vez, meu palpite é que não, sua reputação o precede. Poderoso e
ambicioso ele é muito respeitado no Inferno, mas também tem muitos inimigos
velados que não esperariam para lhe passar a perna. Debóhra, que chegou lá
antes de mim, revelou-me que correm boatos lá de que Lucas está tramando alguma
coisa grande. E perigosa. Você está sabendo de alguma coisa?</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Pensei um pouco antes de responder:</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Ele tem insistido que tem algo para contar para mim
e para Beatriz já faz algum tempo. Mas não acho que seja algo dessa
magnitude, quer dizer, ele sempre gosta de atenção quando vai fazer alguma
coisa para o nosso clã. “Vamos nos mudar”, Lucas quer um grande anúncio. “É
preciso passar o inverno em Amsterdã”, reserva uma mesa no melhor restaurante
de Paris só para contar isso. Ele tem essa mania de grandeza mesmo, por isso
não acho que seu plano seja tomar o Inferno de Lúcifer ou algo assim.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Mas é. Ou pelo menos é isso que alguns dizem.
Debóhra não conseguiu me dizer exatamente tudo que ela ouviu, não deu tempo. No
meio da nossa conversa o portal me sugou de volta para cá. Você precisava ver a
cara dela. Mas ela teve tempo de me contar que dizem por lá versões diferentes
sobre o mesmo fato: Lucas Malta tem um plano. “Malta está formando um exército
para invadir o Inferno”, alguns dizem. “Malta descobriu a cura para voltar a
ser mortal.”, é o palpite de outros. Ou ainda, “Malta teria o Livro dos
Espíritos em sua posse, e o usaria para saber o ponto fraco de todo e qualquer
possível oponente.”. Mas a teoria mais aceita, segundo minha irmã, que seu
namoradinho estaria fazendo negócios com um Arcanjo.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Ele nunca foi meu namorado. – disse prontamente -
Acho que as coisas estão desanimadas lá pelo Inferno, não é? Para ficaram
conjecturando coisas assim. Estão faltando almas perdidas para torturar? - essa
história toda realmente não fazia sentido para mim - Ou será que a sua adorável
irmã não resolveu nos pregar uma peça?</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Eu pensei sobre isso, definitivamente era algo que
ela faria, mas alguma coisa não encaixa. Tudo bem, talvez ele não esteja planejando
algo tão grande. Mas ele tem o livro. Eu vi, você viu. E, Carolina, esse livro
estava perdido há milênios! Só alguém com que pudesse acessar a triqueta
saberia onde ele encontra-lo, e somente uma casta de anjos tem esse poder. Os
primogênitos.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- E quem são esses?</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Você deveria ter ouvido a sua mamãe e prestado
atenção nos estudos de religião, menina rebelde. Esse é um outro nome para os
Arcanjos. Supostamente os mais poderosos do lado de lá. Foram os primeiros que
o “Todo Poderoso” - ela fez aspas imaginárias com os dedos ao mencionar o
título - criou. O que corrobora com o boato que Debóhra me contou: se ele tem o
livro que somente um arcanjo encontraria...</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- É bastante improvável que Lucas se envolva com
anjos. De qualquer casta. Você viu como eu e a Catharina temos conflitos, mas
poderíamos ser consideradas grandes amigas se você visse o modo com o qual ele
fala deles. Definitivamente, você está dando atenção demais ao que sua irmã
falou.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Máira refletiu por um momento, suspirou fundo e
pareceu concordar comigo. Até que algum pensamento fez a dúvida retornar. </span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Você provavelmente está certa. Mas tem uma coisa que
ainda me faz pensar, Debóhra não disse “potestade, “serafim”, ou algo genérico
como “anjos”. Ela foi específica, dizem que ele está tendo encontros com um
arcanjo. E eles não são muitos. Na verdade, o que me incomoda é que, se você
pensar um pouco, as possibilidades se reduzem a um suspeito só. Isso já
aconteceu uma vez, um arcanjo se rebelando, digo. E as coisas não ficaram nada
pacíficas. Durante A Queda, Samael tinha um terço dos anjos do céu lutando
ao seu lado, mas ele não começou com tantos aliados assim. </span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Lúcifer era um dos arcanjos? - interrompi sua cadeia
de pensamentos.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- O mais bonito deles, segundo a minha mãe. Eu nunca
vi nenhum dos outros, mas lembro de tê-lo visto três vezes. Não costumo descer
ao Nono Círculo, mas minha mãe já me mandou dar recados lá, e posso corroborar,
o filho da puta é bonito. Em algum momento, talvez durante A Queda, ele tingiu
as asas de preto, do mesmo tom que os cabelos encaracolados que emolduram
seu rosto. O nariz e sua boca parecem ter sido esculpidos em pedra, dando
a ele um ar muito erudito e ao mesmo tempo, para sempre jovial, entende? Mas
são os olhos que te atraem. Aqueles olhos acinzentados parecem te atravessar e
ver todos os pecados que você já cometeu na vida. E te condenam. Mesmo que você
seja um demônio, se sente arrependido dos seus pecados quando ele olha pra
você. - Máira suspirava num misto de desejo e receio enquanto lembrava dele.
Confesso que eu também fiquei tocada só de imaginar tal figura. Ela continuou,
agora voltando ao seu argumento”</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";"> - Minha irmã confidenciou que mamãe está
bastante sentida com ele, por ainda não ter sido informada de nada. Ela acha
que Samael está planejando uma nova investida contra o Paraíso e está, como da
primeira vez, escolhendo os aliados mais poderosos primeiro. E Lucas Malta é -
ela pensou um pouco revirando os olhos para cima - provavelmente o infernal
mais poderoso neste plano atualmente. </span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Eu estava boquiaberta. Nunca tinha realmente comprado
essa ideia de que Lucas fosse tão poderoso ou influente assim, mas depois desse
argumento também fiquei um pouco curiosa. Parte de mim queria levar tudo aquilo
às claras, mal podia chegar em casa para contar tudo aquilo pra Lucas. No
entanto, outra parte se sentia insegura, se tudo aquilo fosse verdade, se
realmente Lucas tivesse sido convocado para uma segunda guerra entre planos,
levaria seu clã junto. E eu me sentia muito pequena perto à um confronto dessa
magnitude. </span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">No meio da indecisão, uma ideia. Lembrei que ainda
estava com o livro, na minha bolsa.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Você me disse que o Livro dos Espíritos mostra o
modus operandi e como combater qualquer demônio já catalogado, certo?</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Sim, toda e qualquer casta está lá. - Máira foi
assertiva. </span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Então, deve haver algo sobre Lúcifer lá…- disse
ainda lembrando daqueles olhos cinza-chumbo que pareciam me observar desde que
os concebi em minha mente.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">O rosto de Máira se iluminou com aquela perspectiva.
Sem o mínimo sinal de que ela estava entre a vida e a morte pouco mais de uma
hora atrás, foi até a minha bolsa ela mesma. Voltou a sentar ao meu lado e
passou as páginas. Ver aqueles caracteres indecifráveis para mim cada vez me
incomodava mais, eu odiava que conhecimento me fosse negado. Na verdade, odiava
que qualquer coisa me fosse negada.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Então, ela parou. Uma figura desenhada na parte
superior da página, em destaque, mostrava uma versão rudimentar da figura
descrita à mim antes. E lá estavam eles. Os olhos. Tornando inúteis todas
aquelas palavras que eu não sabia ler e denunciando que sim, Lúcifer, A Estrela
da Manhã, estava no livro.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Temos mais de doze horas até amanhecer. Que tal você
aproveitar e saciar nossa curiosidade enquanto me ensina a ler enoquiano?</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Máira se levantou sem responder. Foi até a sua cozinha
e voltou com uma palmatória de madeira antiga, bem rudimentar.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Roubei de um dos virgenzinhos alguns séculos atrás.
Era assim que os professores ensinavam os aprendizes deles na época. Sempre
quis bancar a professora mesmo, - e me olhou com malícia - e sempre quis usar
isso em alguém também. Vamos ver de quantos erros você precisa para ficar
vermelha. </span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Eu definitivamente adorava estar na companhia dela.
Aceitei a brincadeira.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">- Então vamos lá: lição número 01…</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Passamos o resto do dia e boa parte da noite lendo
sobre a volta de Lúcifer para este plano, e cada linha lida, os boatos ganhavam
mais veracidade. A cada página passada, eu esperava mais ter um ser celestial
de primeira grandeza me esperando em casa quando voltasse.</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 14.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Helvetica Neue"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">E quanto a isso eu estava certa"</span></i><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-family: Times; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Times;"><o:p></o:p></span></i></div>
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<br>
<br>
<div style="font-family: gotham, helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px;">
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<i>“<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;">Meus
sentidos estavam mais aguçados do que o normal enquanto corria para
trás do prédio procurando alguma entrada nos fundos, a urgência da
ocasião me deixava mais alerta. Encontrei uma saída de emergência
fechada, a porta de metal verde se destacava do prédio, que tinha
tons terrosos. Sempre imaginei que saídas de emergência deveriam
ficar desobstruídas, mas havia um cadeado que eu quebrei sem muitos
problemas apenas puxando-o para baixo. As dobradiças enferrujadas da
porta rangeram quando eu a abri, e por um momento eu poderia jurar
que alguém se aproximaria me obrigando a agir, mas o barulho apenas
se dissolveu no ar da madrugada.</span></span></i></div>
</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: "Helvetica Neue";"><i><br /></i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>Máira
pesava em meu ombro, e eu senti um pequeno alívio ao deita-la no
chão, mas não havia tempo para descansar. Com cuidado, rolei seu
corpo para dentro do prédio e vi que pedaços da sua segunda pele
ficaram em meus dedos. Limpei na barra do vestido que já estava sujo
e chamuscado enquanto seguia para a entrada principal do prédio. Era
arriscado, mas eu precisaria usar a porta da frente, precisaria que o
porteiro me deixasse entrar. Tudo que eu podia fazer era torcer para
que ninguém resolvesse usar a escada de incêndio naquela noite.
Jonas, o porteiro, outra vez dormia debruçado na mesa de recepção
e, do tapete que dizia “Bem-Vindo” eu bati palmas para que ele
acordasse.</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: "Helvetica Neue";"><i><br /></i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>Jonas
que era careca e aparentava mais idade do que realmente tinha, buscou
os óculos para me por em foco e, com o rosto ainda amassado de sono,
sorriu para mim dizendo:</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: "Helvetica Neue";"><i><br /></i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>-
Ah, eu lembro de você! Amiga da Dona Máira. Caramba, - ele checou o
relógio bocejando - está bem tarde…</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>-
Eu posso entrar? - disse ignorando suas frivolidades.</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>-
Ué, claro que pode, Dona. Por favor, entre. - Jonas estranhou a
pergunta, mas logo eu estava passando pela sua mesa num passo
apressado - Ei, a senhora se incomodaria de esperar um pouco? Preciso
interfonar lá para cima. </i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: "Helvetica Neue";"><i><br /></i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>Voltei
até sua mesa sabendo que eu deveria negociar com ele apesar de não
ter muito tempo para isso. Passei a mão pelos cabelos, sorri e
falei:</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: "Helvetica Neue";"><i><br /></i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>-
Precisa mesmo? Você viu que ela me deixou subir outro dia. Acho que
podemos pular essa parte não é? - terminei piscando para ele.</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>-
Desculpe senhora, - ele respondeu visivelmente incomodado de ter que
fazer aquilo - é a política do prédio.</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: "Helvetica Neue";"><i><br /></i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>Vi,
apreensiva, ele digitando os números no interfone. Podia ouvir meu
próprio coração compassando acelerado, sentia minha garganta seca
apesar de ter bebido sangue há menos de uma hora. No tempo que o
interfone levou tocando lá no quarto andar para ninguém, eu pensei
no quanto Lucas ficaria furioso se eu fosse descoberta e tivesse que
matar todos naquele prédio. Sem resposta, Jonas retornou o fone ao
gancho e me perguntou:</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: "Helvetica Neue";"><i><br /></i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>-
A senhora tem certeza que ela está em casa? Não vi dona Máira
hoje.</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>-
Tenho, - menti usando minha melhor cara de amiga dedicada - na
verdade, ela está doente. Me acordou agora no meio da madrugada por
estar sentindo dores muito fortes e pediu para que eu viesse o mais
rápido possível. Se ela finalmente pegou no sono, o senhor não
acha que podemos evitar acorda-la?</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: "Helvetica Neue";"><i><br /></i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>Ele
ponderou mais tempo do que eu gostaria, era um daqueles poucos
incorruptíveis que gente encontra por aí. Rezei para que ele não
insistisse, caso contrário eu teria que mata-lo e realmente isso
seria uma pena. Ele olhou para mim e julgou que eu não faria nada de
mal.</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: "Helvetica Neue";"><i><br /></i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>-
Você tem a chave?</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>-
Tenho, ela me deu uma cópia.</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>-
Tudo bem, pode subir. Uhh, bom…se puder não falar nada sobre eu
estar dormindo…</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>-
Claro que não, fica sendo nosso segredo. - respondi já passando por
ele novamente.</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: "Helvetica Neue";"><i><br /></i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>O
portão de metal da saída de incêndio estava aberto conforme
deixei. Peguei Máira e quase a deixei cair, foi quando percebi que
minhas mãos suavam. De novo a pus em meus ombros e subi em silêncio
pelos oito lances de escada que me levariam ao seu andar. Nenhum
vizinho de Máira passou por mim nos degraus, e o seu andar estava
vazio. Agradeci por isso, porque meu plano era cuidar dela ali mesmo,
no corredor. Pelo menos até que ela tivesse com o mínimo de
consciência para autorizar que eu entrasse em seu apartamento. Mas
quando já estava em frente à sua porta ouvi o barulho de passos e
um molho de chaves balançando no interior do apartamento defronte ao
dela. Eram duas pessoas, e eu poderia senti-las se aproximando da
porta. Torci para que voltassem, que desistissem de sair, afinal já
passava das 4am.</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: "Helvetica Neue";"><i><br /></i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>Eles
não recuaram, eu tinha somente duas opções àquela altura, atacar
o casal ou entrar no apartamento de Máira sem autorização e lidar
com o que acontecesse. Nunca tinha cruzado essa linha e nem soube o
que efetivamente poderia acontecer comigo se o fizesse. Somente
imaginava que seria ruim.</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: "Helvetica Neue";"><i><br /></i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>A
chave foi posta na fechadura do outro lado do corredor, me vi
obrigada a agir naquele exato momento.</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: "Helvetica Neue";"><i><br /></i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>A
porta se abriu. Escondida na esquina do corredor eu podia ouvi-los,
notei que eram um casal que se despedia. Aos meus pés, Máira fez um
ruído asmático que denunciou nossa presença. Prendi a respiração
esperando que aquilo passasse despercebido, agora já quase não
havia segunda pele cobrindo seu corpo e pude ver expurgos de um
malcheiroso líquido esverdeado saindo de sua boca. Não havia muito
tempo.</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<i><br /></i></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>Máira
arfou buscando ar outra vez.</i></span></span></div>
</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<i><br /></i></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div>
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>-
Que barulho foi esse? - indagou a voz feminina.</i></span></span></div>
<div>
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>-
Deve ser o cachorro do 408. Além de feder, aquele pulguento fica
latindo de madrugada.</i></span></span></div>
</div>
</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>-
Aquilo não foi um latido.</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>-
Você se preocupa demais, amor. Não tem perigo. O Jonas é o sujeito
mais caxias que tem, nunca deixaria alguém entrar sem ser avisado. E
o prédio todo tem sistema de alarme. Perigoso mesmo é você ir
embora daqui a esta hora. - a voz masculina se modulou numa
insuportável imitação infantil - Tem certeza que não quer ficar,
docinho?</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: "Helvetica Neue";"><i><br /></i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>Barulhos
de beijos. A casa era dele, ótimo, isso facilitaria muito as coisas
para mim.</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: "Helvetica Neue";"><i><br /></i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>-
Pára, Paulo. Você sabe que eu realmente preciso ir. Amanha, na
mamãe. Meio-dia, hein? Não se atr...</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>-
Vocês podem me ajudar? - cortei a conversa dos dois saindo da quina
que me escondia. Apesar de estar com o coração martelando as minhas
costelas a mil por hora, caminhei até eles lentamente, mancando em
decorrência de uma dor que não existia. Pus uma uma das minhas mãos
na barriga, como quem tenta estancar algum ferimento aberto, e com a
outra apoiei na parede.</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>-
Quem é você? - perguntou novamente a mulher.</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>-
Eu estava com uma amiga na praia, fomos assaltadas, levaram a minha
bolsa e... - deixei que a frase morresse numa voz embargada enquanto
sentia lágrimas descendo com calma pelas minhas bochechas. Lembrei
de Wolfgang, um diretor de teatro alemão que conheci quando a minha
companhia de ballet foi de Paris à Berlim para uma apresentação.</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: "Helvetica Neue";"><i><br /></i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>"O
teatro perdeu uma grande atriz.", era o que Wolf costumava dizer
a cada vez que eu negava seu convite para ficar na Alemanha em seu
grupo. E parecia que ele estava certo, porque enquanto a mulher
insistia em perguntar quem eu era, aquele que parecia ser Paulo veio
até mim prontamente.</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<i><br /></i></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>-
Meu Deus! Você veio da praia até aqui? Esses vagabundos não tem
jeito mesmo, vem comigo. - ele pôs o braço que me segurava na
parede em seus ombros e caminhou comigo em direção ao seu
apartamento. - Vamos ligar para polícia e eu te faço um copo de
agua com açúcar ou um drink se você preferir.</i></span></span></div>
</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>-
Você vai levar essa mulher para a sua casa? - protestava a outra -
Nos mal a conhecemos! Ela pode ser uma assaltante, li no jornal que
tem muitas mulheres entrando para o crime hoje em dia.</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>-
Se ela quisesse nos assaltar, já o teria feito. Fui educado para
nunca deixar uma dama em dificuldades, você sabe disso. - ele parou
a poucos passos da porta e, com cuidado se virou junto comigo em
direção àquela que reclamava - Você vem ou fica, Eliane?</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>-
Eu vou para casa! - ela respondia visivelmente contrariada - E saiba
que teremos uma conversa séria amanha, Paulo Ricardo!</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>-
Obrigada - eu sussurrei em seu ouvido enquanto ouvia os saltos de
Eliane se encaminhando para o corredor, em breve ela iria ver Máira
no chão. Eu precisava faze-lo dizer.</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: "Helvetica Neue";"><i><br /></i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>A
um passo de passarmos da soleira de sua porta, eu endureci. Paulo não
esperava aquilo, julgava estar sendo meu apoio e quase caiu quando
tentou me guiar por mais um passo.</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<div style="margin-bottom: 0cm;">
</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>-
Eu posso entrar? - perguntei ainda sussurrando.</i></span></span></div>
</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>-
Mas é claro que pode, não se preocupe com Eli, ela está naqueles
dias sabe?</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>-
Me desculpe – foi o que eu disse antes de ataca-lo</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: "Helvetica Neue";"><i><br /></i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>Em
seguida veio o estridente grito de Eliane. Se mais alguem acordasse
naquele andar minha situação estaria mais complicada ainda, então
quebrei o pescoço de Paulo rapidamente, mas com o cuidado de não
causar nenhum sangramento. Ele caiu com um som abafado no tapete de
sua soleira.</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<i><br /></i></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>Em
segundos, eu já estava com uma das mãos tapando a boca de Eliane e
abafando sua histeria. Ouvia movimentações sendo feitas em dois
apartamentos vizinhos, por isso, apesar de querer trata-la com um
pouco mais de crueldade, apenas bati sua cabeça contra a parede. Com
uma em cada mão, levei Máira e o corpo de Eliane para dentro do
apartamento de Paulo. O corpo do proprietário já estava metade lá,
e um leve chute bastou para que entrasse todo. Tranquei a porta e,
sem respirar aliviada busquei o Livro dos Ofícios na minha bolsa.</i></span></span></div>
</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: "Helvetica Neue";"><i><br /></i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>Levei
Máira até o sofá que havia na sala, seus chifres e rabo já
estavam materializados e não havia quase mais nada humano nela.
Veias arroxeadas começavam a se desenhar em sua pele alaranjada,
imergindo de seu pescoço e irradiando até o peito em todas as
direções. Apesar de inconsciente, havia uma expressão de profundo
sofrimento estampada em seu rosto. Sentei ao lado dela e comecei a
folhear o livro que tinha causado aquela confusão toda, ele pesava
sobre as minhas pernas e, em meu nervosismo, minhas mãos pareciam
atrapalhadas para virar as páginas com clareza.</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: "Helvetica Neue";"><i><br /></i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>Percebi
que o céu ia perdendo o tom azul escuro infinito da madrugada pelo
vidro da varanda com a visão periférica e corri para fechar aquela
cortina, bem como todas as outras que pudessem cobrir a luz da manhã
que viria. Ao voltar para o sofá, olhei para minha amiga e imaginei
que talvez já fosse tarde para ela, que eu tivesse falhado. Tinha
havido sangue demais, e, ao pensar nisso, eu tive uma ideia. Talvez,
se eu a mordesse, pudesse sugar todo sangue que a envenenara.
Pressionei meus caninos na base de seu pescoço, em uma das muitas
veias que agora já eram tão escuras como uma tatuagem, mas à
primeira menção de tocar o líquido que veio, minha língua o
rejeitou. Viscoso e ácido o fluido verde que ela expelia pela boca
era o mesmo que agora estava na minha e, por algum motivo, era
intolerável para o meu corpo.</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: "Helvetica Neue";"><i><br /></i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>Tomada
pela impotência, eu recorri ao livro novamente, achando agora a
página que abria o capítulo que tratava de sua casta infernal. Eram
cinco páginas, da descrição até o modo de se exorciza-la, todas
com colunas de texto mal diagramado e ilustrações sem perspectiva.
Como disse, eu ainda não era versada em enoquiano, portanto, à
primeira vista, mesmo o livro seria inútil. Minhas lágrimas
molhavam o papel amarelecido. Eram lágrimas de ira, de
inconformidade por estar de mãos atadas para ajudar alguém
importante para mim. Com raiva, passei a mão pelo papel molhado para
que as gotas não danificassem a página e minha mão parou bem sobre
um desenho que chamou a minha atenção. Parecia um esquema, um passo
a passo ensinando algo. No primeiro quadro, mostrava uma versão
rudimentar do corpo de uma Aaba, com a boca e olhos abertos, como se
estivesse gritando em espanto; e, nos outros, pares de mãos
despejavam um líquido escuro em sua boca aberta, seus ouvidos, seu
nariz e mesmo em seus olhos. Nesta exata ordem.</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<i><br /></i></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>O
Livro dos Ofícios nunca me ensinaria a salvar Máira, aquilo foi uma
esperança desesperada. A publicação foda dada aos mortais para nos
condenar, afinal de contas. Então, inferi que aquele esquema
ilustrasse o processo mais rápido de matar uma Aaba. Aquele líquido
- concluí - era sangue, e estava sendo posto em todos os seus
orifícios. Vendo aquele desenho, uma epifania nasceu em mim. Ela não
havia ingerido sangue na batalha, mas com certeza havia tido um
contato com o odor e mesmo a visão dele e isso já bastou para que
ela ficasse naquele estado. O organismo das Aaba parecia ser bastante
sensível à absorção de substâncias. Então pensei, que se eu
pudesse fazer com que ela absorvesse algo que fizesse o sangue dentro
dela sumir, talvez houvesse alguma chance.</i></span></span></div>
</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-size: 10pt;"><span style="font-family: "Helvetica Neue";"><i><br /></i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: 10pt;"><i>Quando
perdi a minha virgindade eu tinha dezessete anos, a mesma idade do
filho do cocheiro de meu pai. Eles moravam numa casa não muito longe
da nossa, na mesma propriedade, e isso facilitava muito nosso
contato. Quando os primeiros sinais de puberdade despontaram em nós,
papai resolveu dar um baile por algum motivo que já não recordo e,
como de costume, convidava a alta sociedade da cidade e seus
empregados sem qualquer diferenciação entre eles. Dançamos uma
valsa juntos e eu o levei para o meu quarto, onde tivemos juntos
nossa primeira experiência. Nervoso, mas satisfeito, ele saiu antes
que o baile acabasse e voltou à sua casa. Eu fiquei na cama o resto
da noite.</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<i><br /></i></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: small;"><i>Acordei
na manha seguinte sob os olhares da minha mãe preocupada e
histérica. Havia uma mancha de sangue em meus lençóis. “Pecado!”
e “Desonra!” dizia a minha mãe desesperada, afirmando que aquilo
não poderia ser visto fora de meus aposentos. Expliquei o que havia
ocorrido e ela prontamente mandou um criado demitir a família do
cocheiro e tira-los da propriedade imediatamente. Meus protestos
foram em vão, ela me trancou no quarto e disse para que eu dissesse
a qualquer um que tocasse à porta que estava doente enquanto ela
resolveria tudo. Algumas horas depois, ela voltou com minha ama. Eu
perguntei do rapaz, para onde ela o tinha mandado e minha mãe apenas
me disse que ele nunca mais me veria de novo. Em seguida, mandou que
a ama começasse. Ela trazia um balde em uma das mãos e um esfregão
na outra, com a habilidade que apenas a experiência pode dar, ela
tirou meus lençóis manchados da cama e molhou o esfregão na
solução espumante que trazia. Luvas protegiam suas mãos.</i></span></span></div>
</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: "Helvetica Neue";"><i><br /></i></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: small;"><i>Após
alguns minutos de dedicação sobre o apreensivo olhar de mamãe que
ainda me ignorava, a mancha cedeu. O salgue se dissolvia a cada
esfregada, restando no fim somente uma marca d’agua que logo
secaria ao sol. Lembro de ter ouvido a minha mãe perguntar aliviada
para minha ama:</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<i><br /></i></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: small;"><i>-
Como você sabia desta solução milagrosa?</i></span></span></div>
</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: small;"><i>-
A pequena Carolina não foi a primeira garota que eu criei, senhora.
- ela respondeu resoluta e polida - Já precisei restituir a virtude
de ao menos outras cinco moças, e a lixívia ajuda muito nisso.</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: "Helvetica Neue";"><i><br /></i></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: small;"><i>Seu
marido havia estudado botânica e tinha bons conhecimentos químicos,
de modo que não era difícil para ela ter acesso a um composto
assim. Com os anos, a lixívia perdurou na sociedade, apesar de ter
mudado de nome. Hoje em dia é de fácil obtenção, quase todo mundo
tem em casa ao menos um frasco. Mesmo sendo conhecido por <span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, sans;">um
nome menos técnico agora.</span></i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: "Helvetica Neue";"><i><br /></i></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: small;"><i>Água
sanitária.</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<i><br /></i></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: small;"><i>Sem
demora, fui ao banheiro de Paulo e lá encontrei um pequeno frasco
pela metade da solução diluída. Não era muito, mas teria que
bastar. Ela apagou dissolveu meu primeiro sangue, talvez pudesse
salvar Máira. Para humanos, ingerir água sanitária, ou bota-la
contra os olhos causa morte e danos irreversíveis. Mas era o sangue
que dava vida aos mortais e era fatal para ela, talvez o inverso
acontecesse com a ingestão de lixívia.</i></span></span></div>
</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: "Helvetica Neue";"><i><br /></i></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: small;"><i>Ou
talvez só acelerasse sua morte, mas eu arrisquei, era a única ideia
que eu tinha. Fiz com que ela bebesse, despejei sobre suas narinas e
ouvidos, e passei sobre os olhos também. Exatamente como estava
ilustrado no livro, só que com um líquido transparente, não
escuro. Segui o manual e esperei.</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: "Helvetica Neue";"><i><br /></i></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: small;"><i>Os
gemidos asmáticos pararam e as veias iam, pouco a pouco, recuando.
Mas nada além disso acontecia. A ansiedade já não cabia em mim,
chequei seu pulso e não havia nenhum. Abri um de seus olhos, mas
transformada não havia íris para reagir à luz, apenas um mar verde
opaco. Minhas esperanças diminuíam conforme o tempo passava. Já
era possível ver luz bordando as cortinas da varanda quando
finalmente me permiti checar sua respiração.</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: "Helvetica Neue";"><i><br /></i></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: small;"><i>Máira
não respirava.</i></span></span></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<i><br /></i></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<i><span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: small;">O
sol já nascia, eu não voltaria para casa até a noite. Desolada,
caminhei até o banheiro novamente, dessa vez para tomar um banho, já
que estava presa naquele apartamento e exausta do dia passado. Minhas
lágrimas se perdiam na cachoeira que descia do chuveiro. Não sei
quanto tempo passei me convencendo de que aquilo realmente tinha
acontecido. Máira estava morta. </span></span>
</i></div>
</div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<i><br /></i></div>
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Helvetica Neue;"><span style="font-size: small;"><i>Perdida
em pensamentos e culpa eu me secava quando fui surpreendida por
aquele barulho. Um barulho asmático."</i></span></span></div>
</div>
<br />
<div style="font-family: gotham, helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px;">
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<div>
</div>
</div>
</div>
<br />
<div style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, sans; font-size: 16px;">
<br /></div>
Doughttp://www.blogger.com/profile/10921754351760150046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3896754087151831820.post-70627196558247940802016-11-30T07:09:00.001-08:002016-11-30T07:09:24.277-08:00Ver045<iframe width="560" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/tQPNredrDO0" frameborder="0" allowfullscreen></iframe>
<br>
<br>
<div class="MsoNormal">
<i>“É comum nas histórias fictícias e até mesmo nos relatos
mais elaborados e precisos sobre nós que evidenciem a necessidade de bebermos
sangue, nossa beleza fora de medida que ajuda a seduzir presas humanas ou
nossas fraquezas. Mas poucas vezes vi qualquer menção à habilidade que os
vampiros têm de enxergar no escuro. A noite nos é clara como o dia e o breu,
revelador como um espelho.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Quando as luzes apagaram, as cruzes na mão dos exorcistas
emitiam um débil brilho azulado, mas que não os ajudava em nada. Lucas se
movia tão rapidamente que nem meus olhos acostumado ao escuro conseguiam captar
seus movimentos com clareza. Eu ainda estava muito machucada e o punhal maldito
fincava minha panturrilha no chão, mas ao olhar tanto para Máira quanto para
Beatriz, vi que elas também não conseguiam entender muito o que acontecia.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Os soldados e soldadas da fé estavam tombando um a um,
desnorteados por não saber de onde ou o que os atingia. Lucas poderia ser
preciso, mas preferia que eles sofressem. Uma pancada na têmpora ou um pescoço
quebrado deixaria a missão mais rápida para ele, entretanto era possível ver
que ele se divertia fazendo-os sofrer.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Eu também. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Ao ver Lucas arrancando os braços de um dos homens que
mantinha Bia cativa, lembrei da mulher que quase acabou comigo. Lembrei também
que tinha prometido cortar-lhe as mãos. Passei os olhos pelo salão que agora
mais parecia um cenário de guerra, as mesas derrubadas para todos os lados, o
bar destruído e suas garrafas quebradas no chão derramavam bebidas que se
misturavam ao sangue pintava o chão de vermelho. Eu a encontrei de joelhos se
protegendo atrás de uma mesa que ela fez de barricada, com uma cruz nas mãos
que apontava para cima. Eu podia ouvir a sua reza pedindo proteção, o que só me
deu mais vontade de mata-la.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Máira não compartilhava a visão noturna conosco e dado o
volume de sangue que havia ali, estava muito afetada. Lucas continuava matando,
nossos inimigos continuavam gritando. Beatriz passou para mim correndo e atacou
um infeliz que usava a cruz em frente ao rosto, na esperança de que o brilho
lhe revelasse algum perigo. Pude ver o horror nos seus olhos quando ela
enterrou o crucifixo em sua cabeça sem se importar no dano que causaria à sua
mão. Minha irmã estava se vingando, e eu faria o mesmo.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Eu já estava tão machucada que arrancar a adaga de prata que
tinha atravessado a minha perna quase não me incomodou. Mancando, eu me
aproximei da mulher torcendo para que Lucas não a marcasse como alvo antes que
eu chegasse até ela. Ela ainda estava ajoelhada e seus braços ainda erguidos
seguravam o crucifixo para o alto. Conforme chegava mais perto sua oração me
atacava como um golpe, mas não me fazia parar. Dei a volta pela mesa que a
protegia e sem aviso peguei seus dois braços pelos pulsos e com toda força os
bati contra o meu joelho. Na altura dos cotovelos dela.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>O grito de dor foi delicioso, apesar de não ter tido força
suficiente para expor a fratura pude ver em seu rosto a agonia estampada. Ela
largou a cruz que segurava que caiu no chão. Mas eu queria que ela visse quem
estava lhe atacando, então a peguei de volta e obriguei que a mulher a
segurasse com os braços quebrados. Não me importei com seus lamentos enquanto
aplicava meu peso sobre as articulações do seu cotovelo que já não funcionavam e
obrigava o crucifixo que segurava ficasse entre o rosto dela e o meu. Olhei
fundo em seus olhos e disse:<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Eu disse que era melhor ter me matado.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Sem dar tempo para que ela respondesse qualquer coisa, usei
a adaga prateada para cortar seus dois pulsos com um só golpe. A cruz caiu
outra vez, mas dessa vez deixei que ficasse lá enquanto me servia do sangue que
jorrava de seus pulsos no escuro. Pouco a pouco, podia sentir minha força
voltando. A dor persistia, mas se abrandava a cada momento. Nunca havia provado
sangue estando tão avariada, o sentimento de relaxamento foi semelhante
à pequena morte. Me entreguei totalmente e fiquei alheia à tudo que
acontecia.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Somente quando as luzes se reacenderam eu tirei meus lábios
dos braços que agora não passavam de tocos secos. O salão estava em frangalhos,
Beatriz havia desistido da matança e estava cuidando de Máira que desmaiara à
esta altura. O único de pé em toda Vogue naquele momento era Lucas. Parado, no
centro do salão, abotoou o terno negro que usava e fixou o nó da
gravata também negra enquanto checava se havia algum sobrevivente.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Havia. A comandante, a mulher da cicatriz no rosto que
se chamou de Amanda. Lucas a deixou para o final propositalmente. A cabeça de
Hugo permanecia exatamente onde caiu após atingir Amanda minutos antes. Ela,
valente, apesar de estar no chão levantava o olhar para Lucas desafiadora. Ela
não devolvia o desafio, apenas a fitava com um frieza e tranquilidade.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Acredito que a senhora estava perguntando por mim antes de
sermos interrompidos. - disse enquanto caminhava, passo a passo, até ela - Pois
bem, aqui estou.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Espírito baixo, sujo e repugnante! Criatura das
profundezas - ela levantou a voz - acha que eu temo você? Acha que qualquer um
na ordem teme você? Mesmo os que caíram aqui na sua emboscada covarde não o
temiam. Temos Deus e todos os anjos ao nosso lado. - ela trouxe o livro que
havia pegado da minha bolsa junto ao peito - Juramos viver pela cruz e por ela
morremos sem medo.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Amanda, certo? Amanda…Britto Pontes, talvez? Sim, sim. Se,
eu lembro do seu avô. “O bravo Britto Pontes” era como eles o chamavam. -
ele passou a caminhar em círculos envolta dela, um predador que circunda sua
presa - Diziam que ele nunca havia deixado de exorcizar um…como vocês
chamam mesmo? Ah, isso “infernal” - sorriu - Seu avô tinha uma fama e
tanto. Mas temo que bravo não fosse o adjetivo mais adequado para ele. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Lucas ia ligeiramente fechando o cerco a cada volta que
dava. Parou quando tinha a cabeça sem olhos de Hugo aos seus pés. Ele
olhou para ela com certo fascínio e a pegou pelos cabelos longos. A mandíbula
sem vida se abriu quando a cabeça foi levantada mostrando o pequeno pênis que
ainda se projetava lá de dentro como uma língua. Lucas continuou.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Você o conhecia? - perguntou com naturalidade para Amanda
que não o respondeu - Este aqui demorou para falar. Foram duas horas nas quais
precisei me dedicar a mutilações e tortura requintada até que ele me
dissesse aonde vocês panejaram a emboscada. Ele me lembrou o velho Britto
Pontes. Os tolos da sua ordem talvez chamassem o garoto de bravo também. Mas eu
vejo as coisas de outro prisma. Não há bravura em sofrer por uma causa perdida.
Não há coragem em esperar por uma recompensa que não virá. O garoto rezou a
cada osso que eu lhe quebrava, e eu lhe arranquei os olhos. Ele pediu por
proteção quando eu arrancava seus dentes, e eu lhe cortei a masculinidade. Seu
avô pedia por piedade quando eu lhe cortei a garganta. - lágrimas escorriam dos
olhos impiedosos de Amanda - E isso foi há três gerações atrás. É
impressionante como vocês ainda não aprenderam. Não há ninguém ouvindo às
suas preces. Ele desistiu de vocês, tempos atrás. Essa obtusidade que
vocês chamam de coragem ou bravura, é o que garante que nós
continuemos vivos enquanto vocês... - Lucas olhou ao seu redor e sorriu -
Bom, vocês nem tanto.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Amanda tentou juntar as forças que ainda lhe restavam para
levantar e morrer com alguma honra, mas Lucas não permitiu. Pôs a cabeça do
adolescente morto em um de seus ombros e a forçou para baixo, deixando
Amanda novamente em seus joelhos.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Não faça tanto esforço, - ele disse de forma doce - nós já
vamos acabar. Eu apenas gostaria de esclarecer isso para você antes. “Deus
e os Anjos estão do seu lado”, você disse. Não, minha pequena, Deus abandonou
vocês. Quanto aos anjos, no entanto, você tem razão. Alguns deles
realmente ainda lutam para manter o status quo. Mas permita que eu lhe conte um
segredo: - agora ele estava de frente para ela, desceu o rosto até encostar o
lábio em seu ouvido direito e sussurrou - existem anjos do nosso lado também.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Lucas mordeu sua jugular e em questão de segundos a mulher
forte e autoritária que quase me matou desfalecia e secava sob nossos olhos. Eu
já tinha presenciado Lucas se servir de uma presa diversas vezes antes, entretanto,
sua precisão e velocidade ainda me impactavam. Bia, com Máira desfalecida nos
braços, o via em ação pela primeira vez. Ela parecia ter esquecido toda
dor, seu rosto refletia medo e encanto ao mesmo tempo.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Ao terminar, ele se virou para nós. Não havia uma gota de
sangue sequer em seu rosto ou terno. Passou a mão pelos cabelos, que não haviam
se desarrumado durante toda a luta e nos olhou com seus frios olhos negros. De
mim para Beatriz e depois para mim novamente.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Vamos precisar conversar sobre isso - e indicou o livro
que acabara de tomar de Amanda - Mas depois. Se não for de encontro ao plano de
vocês duas para expor e acabar com o nosso clã, gostaria de pedir a ajuda das
duas para que possamos camuflar toda essa bagunça. Discretamente.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Existem dez cadáveres aqui, Lucas. - eu disse - Não tem
como nos livrarmos destes corpos todos discretamente. Não no nosso estado.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Máira veio de carro - Beatriz notou - Talvez você possa
parar o carro nos fundos da boate e nós vamos botando os corpos no porta-malas
e depois dirigimos até um lugar seguro para nos desfazermos deles.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i> <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Lucas a olhava incrédulo.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- E onde você sugere que nós nos desfaçamos de dez corpos,
exatamente? Todos religiosos, diga-se de passagem. Todos brutalmente
assassinados. Consegue imaginar a repercussão que isso pode ter? Eu agradeço a
ajuda, Beatriz, mas nesse tipo de ocasião na qual é preciso tomar uma decisão
inteligente. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Lucas caminhou até o que restava do bar da boate e ali
encontrou uma garrafa que milagrosamente tinha escapado ilesa de toda a luta.
Um whisky de aparência cara. Ele pensou um pouco e tirou o lenço vermelho que
ornava o bolso do paletó, o pôs no gargalo ate que tocasse o líquido dourado.
Eu já estava mais revigorada e podia sentir meus ferimentos cicatrizando,
caminhei até ele quando entendi sua intenção com a garrafa.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Você não pode estar pensando em fazer isso! - protestei.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Fazer o que? – Beatriz perguntou.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Alguma ideia melhor? - eu não tinha - Imaginei. Pense
nisso como um sinal de respeito, Carolina. Não faz parte da fé deles dizer que
o fogo purifica? Pois bem, vamos purificar seus corpos agora.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Lucas abriu um pequeno frasco que tinha em seu bolso interno
e umedeceu o lenço vermelho com ele, do mesmo bolso tirou um fósforo que riscou
na mesa do bar e o fez entrar em combustão. A ponta do lenço embebida em álcool
também se incendiou ao tocar o fósforo, tornando completo o coquetel molotov
improvisado.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Espera, você vai tacar fogo no lugar? - só então Bia
percebia o plano - Não é você que odeia chamar atenção? Um incêndio no meio de
Copacabana não é exatamente algo discreto, Lucas. Tenho certeza de que…<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Silêncio! - ele a interrompeu levantando a voz - Ouça,
ouça lá fora.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- São sirenes? - agora eu também podia ouvir.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- São. Estão a algumas ruas ainda, é verdade. Mas estão à
caminho. Por isso, sim, vamos incendiar o lugar. - ele pegou garrafas que ainda
poderiam ser usadas no chão e rasgou tiras da roupa de um cadáver próximo e
molhou-as com o álcool. Acendeu as duas garrafas as deixou no bar, com um
sinal para que pegássemos. Beatriz deixou Máira com cuidado ao chão e eu pude
ver que seu estado era pior do que eu pensava, sua segunda pele estava
descolando do corpo em várias partes, seus lábios tinham uma aspecto doentio e
manchas roxo-esverdeadas apareciam em seu corpo.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Ela não parece bem... - Beatriz comentou o óbvio.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Só vamos acabar logo com isso e sair daqui. - eu respondi
preocupada com minha amiga e com as sirenes que agora estavam mais perto.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- As cortinas - disse Lucas - mirem nas cortinas e nos
tapetes. Ao meu comando. Preparem-se. Agora!<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Lançamos os coquetéis que se verteram em impiedosas
labaredas nas luxuosas cortinas de seda e no tapete de pele que se estendia
pelo salão de entrada. Lucas preparou mais alguns e lançamos outra vez. Em
menos de um minuto a Vogue estava inundada por uma densa fumaça e um fogo feroz
brilhava em suas entranhas. Tivemos o cuidado de deixar o caminho para a porta
dos fundos livre de qualquer ataque, pois seria por ali que partiríamos. O
calor fez evaporar qualquer vestígio da água-benta que fora jogada em mim e eu
já não sentia dor alguma agora. Bia não conseguia esconder seu nervosismo no
meio de todo aquele foto (eu havia lhe contado que o fogo era uma das poucas
coisas que podia nos machucar) e também não conseguiu esconder o alívio quando
Lucas mandou que ela fosse atrás do carro de Máira e o deixasse preparado para
nossa fuga. De forma desengonçada, ela pôs a Aaba nos ombros e seguiu como um
anão que carregava um gigante.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Lucas tinha mais uma última ideia para amenizar os vestígios
da nossa aventura naquela noite antes de irmos. Ele pediu que eu empilhasse os
dez corpos num só monte enquanto ele puxou, com extrema agilidade, uma das
cortinas flamejantes de sua base. Ele estendeu a cortina de fogo como um tapete
no chão e nós pusemos os dez corpos lá dentro. O som das sirenes de polícia e
bombeiros já era audível por ouvidos humanos quando ele uniu as duas pontas das
cortina cobrindo os cadáveres numa espécie de forno e os deixamos lá
carbonizando. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Noticia-se o incidente daquela noite de agosto de 1955 até
hoje como um dos maiores incêndios da história do Rio de Janeiro. Dizem
que os danos foram fatais e o prédio teve que ser demolido, pois suas
estruturas estavam comprometidas, mas não ficamos para ver o resultado de nossa
obra. Corremos para a saída e encontramos Bia impaciente com Máira
desacordada ao seu lado, entramos no carro e ela deu a partida. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>O vento da madrugada acariciava gentilmente nossa pele que
aos poucos ia voltando à hipotermia normal. Lucas ia no banco traseiro comigo e
nos guiava para nosso novo endereço, no bairro da Urca. Ele disse que já havia
preparado toda mudança e que não precisaríamos mais voltar ao Catete. Máira
precisava de cuidados, entretanto. Enquanto nós parecíamos nos recuperar a cada
segundo que passava, sua aparência continuava preocupante. Me pus entre
as orientações de Lucas e pedi para Beatriz mudar o caminho. Para o Leme, onde
Máira morava.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- É mais perto daqui, e ela claramente está mal. Precisamos
fazer alguma coisa. Retorne, Bia.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Ela se preparou para dar a ré. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Não retorne, Beatriz. - Lucas disse sem qualquer emoção -
Mantenha a nossa rota pois temos um compromisso para o qual já estamos
atrasados. Esta noite sequer deveria ter acontecido, tem alguém nos
esperando em casa.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Quem? - Beatriz perguntou, ao volante, confusa.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Não importa quem esteja nos esperando, vai
continuar assim. Não podemos deixa-la sozinha nesse estado.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Não podemos? - Lucas agora parecia interessado na questão
- Receio que possamos sim, Carolina. E, falando nisso, desde quando você vem se
preocupa com uma Aaba? Até onde eu sei não somos bem vistos na comunidade
deles.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Máira, neste momento começou a ter um ataque de tosse
crônica e dos seus lábios já acinzentados saía um líquido verde viscoso. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Beatriz, faz a merda do retorno agora! Preciso ajuda-la e
talvez não haja tempo para irmos até a nossa casa. Você lembra o endereço,
corre. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Bia engatou a ré e fez um retorno numa manobra rápida. Lucas
não mandou que ela mudasse de direção, ao invés disso indagou: <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Gostaria de saber como você vai prover esses cuidados à
sua amiga. Carolina, sejamos realistas, você não tem a mínima condição de
ajudar essa infeliz. Ela vai acabar morrendo de qualquer jeito. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Nós já perdemos muita coisa, Lucas. - vi-me dizendo -
Perdemos nossa família, perdemos pessoas importantes que tínhamos na nossa
vida. Perdemos até a porra da luz do Sol nessa vida que levamos. Mas eu
realmente sinto pena de você, se você já perdeu a esperança. É tudo que podemos
ter agora. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Se você quer mais uma responsabilidade para você, ótimo. -
Lucas deu de ombros - Mas eu tenho coisas mais importantes a fazer. Vai ser uma
pena que você perca a nossa reunião. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Sobre o que é essa reunião, afinal? - Beatriz indagou. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Sobre o livro, sobre nós, sobre eles…sobre o mundo inteiro
na verdade, e todos os seus planos espirituais. É bom que você vá, Beatriz,
assim pode botar Carolina a par dos fatos. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Bia parecia desconfortável, claramente ela planejava cuidar
de Máira também. Além do fato de ainda não se sentir totalmente à vontade
sozinha com Lucas. Mas e eu a tranquilizei: <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Ele tem razão, você vai à reunião e me conta o que houve.
Se é algo realmente tão importante, vai ser interessante ouvir da boca de
alguém que não tem o pensamento mais pessimista do mundo. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Lucas silenciou e eu acreditei que tínhamos um acordo. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Chegado ao prédio de Máira, abri a porta e saí do carro
dando a volta para pega-la no banco do carona. A acomodei
gentilmente sobre os ombros e bati a porta com meu quadril. Antes de sair
eu me despedi especificamente de Beatriz. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Enquanto pensava em um jeito de subir ao quarto andar com
Máira naquela situação sem ser vista, ouvi o carro dar uma recuada e seguir seu
caminho até sumir na rua. Tentava disfarçar a preocupação que me acometia
sorrindo internamente da mania que Lucas tinha de sempre supervalorizar seus
atos. Qual seria o assunto tão importante daquela reuniãozinha, afinal? Não
preferi ajudar Máira, não por alguma sensação de dívida pelo que ela fez na noite
que nos conhecemos, mas por realmente valorizar a única amizade que tinha
conseguido cultivar em cem anos. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>E, pela segunda vez, deixei de conhecer Rafael."<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
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<i>“Rafael. Hoje sei que dei menos atenção do que devia àquele nome, mas para ser justa ele não significava nada para mim naquela época. Por isso, assim que Bia saiu do meu quarto, troquei de roupa e deitei em meu caixão sem maiores preocupações sobre isso. Já que eu não durmo, na maioria das noites eu apenas fecho os olhos e passeio pelas minhas lembranças até que o sol se canse e eu possa levantar novamente. Entretanto naquela alvorada, ao trancar a tampa do caixão, eu percebi que a empolgação deitada ali ao meu lado. Quando se leva uma vida como a minha, são raros os momentos de real excitação. A maioria das noites, após algum tempo, parecem apenas a repetição umas das outras, como um deja vu monótono e insosso.
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<i>Mas o tal Livro dos Ofícios trazia a centelha da ansiedade que tanto faltada no meu pós-vida. Em minha cabeça, eu conjecturava as diferentes possibilidades que poderiam se dar com o desenrolar daquela história. No escuro do meu caixão de cedro eu me perguntava se conheceria outros demônios como nós, como seria a travessia para descer ao Inferno? Pensava em tudo que Maíra tinha dito sobre os demônios tão poderosos que habitavam as profundezas e imaginava a extensão das suas habilidades.
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<i>Será que algum deles poderia trazer Carlos de volta?
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<i>Este pensamento varou minhas conjecturas como uma lâmina, e como tal, machucou. Me forcei a mudar a direção do que acontecia na minha cabeça e mergulhar em frivolidades. É curioso pensar em como algumas horas podem parecer toda a eternidade.
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<i>Levantei pouco antes do sol se por e pude ver, através das grossas cortinas que ainda havia um pouco de luz no mundo. Ainda faltava algum tempo até chegar a hora de ir para a Vogue encontrar Máira, por isso, preparei um banho relaxante e passei algum tempo imersa na banheira lendo o livro que poderia definir tanto o destino deste plano, quanto do plano inferior e do superior. Apesar de não conseguir, ainda, assimilar seu conteúdo, era possível sentir a energia que aquelas folhas carcomidas pelo tempo emanavam. E, página após página, lá estava ela. Aquela marca. A triqueta me intrigava profundamente, senti o impulso de tocá-la na casa de Debóhra e apesar de ter sido alertada da possibilidade da consequência de me machucar ao fazê-lo, eu estava de novo querendo encostar naquele símbolo de tinta fresca que parecia pulsar no meio das páginas.
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<i>Algo nela me chamava, e a cada página que eu passava, chamava mais forte. Pouco a pouco, como se estivesse ausente do meu próprio corpo, vi minha mão se encaminhando para a marca. Eu ouvia as batidas do meu próprio coração se acelerarem, e apesar de ter bebido na noite anterior, senti a garganta secar. Meu indicador estava prestes a tocar a tinta proibida quando batidas na porta me despertaram.
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<i>- Você não disse a que horas vamos sair. Acabei de levantar, já estou atrasada? - Beatriz perguntava do outro lado.
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<i>- Na verdade, não combinei uma hora certa com Máira. Eu estou terminando o banho aqui, o que acha de sairmos umas 21h? - respondi fechando o livro com certa urgência e sentindo que voltava a mim aos poucos.
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<i>- Ok, vou tomar um banho também e já desço. - senti seus passos se afastando da porta e depois se aproximando novamente - Você viu se o Lucas voltou para casa?
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<i>- Não, fiquei no caixão o dia todo. Mas você sabe como Lucas é, provavelmente já esteja nos esperando na casa da Urca.
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<i>- É… - Beatriz soava pensativa - Você deve acabar o banho antes de mim, se incomoda de receber os homens da mudança?
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<i>- Não, pode deixar comigo. - respondi, ainda sentindo a garganta seca.
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<i>Saí da banheira e me sequei com calma, ainda olhando para o livro misterioso. Sempre fui atraída por mistérios, gosto de entender do que se tratam e, mais do que tudo, de resolvê-los. E estava animada para resolver aquilo logo.
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<i>Quando os homens chegaram, precisei me segurar para não ataca-los enquanto carregavam as caixas de mudança para o caminhão. Eram três, não muito atraentes, mas robustos e bastante vigorosos. Minha força de vontade foi maior que a minha sede e eles seguiram para minha futura casa em segurança. Bia apareceu na sala e perguntei a ela se o homem que atacamos ontem havia saciando-a, ela disse que sim. Estranhei minha necessidade de beber sendo que havia me alimentado à poucas horas, mas logo o livro tomou novamente meus pensamentos e comecei a conversar com a minha irmã sobre a noite.
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<i>Chamamos um taxi pouco antes da hora marcada e em pouco tempo estávamos na luxuosa Vogue. O ambiente não havia mudado muito desde a última vez que havíamos estado lá, mas eu senti um leve impacto assim que passei pela porta principal. O homem que segurava as grandes portas de vidro foi educado e se prontificou a guardar o casaco que Bia usava e, após ela declinar, nos levou até uma mesa, que aceitamos após perceber que Máira ainda não havia chegado.
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<i>- Não foi este homem que nos recebeu da outra vez, foi? - Beatriz notou.
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<i>- Não, e a cantora era uma mulher. - indiquei o homem que cantava Sinatra no pequeno palco ao fundo do salão - Tomara que Máira não demore muito, quero discutir isso logo.
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<i>Um garçom que obviamente não era o mesmo que nos atendera da outra vez veio acompanhado de uma moça que era estranhamente familiar a mim. Ele nos trouxe a carta de bebidas e se oferecei para que anotar o nosso pedido. A mulher ao seu lado nada disse, mas percebi que ela me examinava minuciosamente. Eu pedi um bordeaux e Bia um licor. Quando os dois se foram perguntei:
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<i>- Aquela mulher é familiar, não é?
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<i>- Aquela garçonete? Não, nunca a vi antes. Ao menos não me lembro dela. Posso vê-lo? - Beatriz pegou a bolsa que eu tinha posto em cima da mesa. Onde estava o Livro dos Ofícios.
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<i>- Não sei se é uma boa ideia, Bia… Vamos esperar Máira chegar, certo?
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<i>- Acho que você tem razão. - o garçom veio, dessa vez sozinho, trazer nossas bebidas. Depois que ele foi embora, ela baixou a voz e continuou - Eu estou curiosa, como ele era? O garoto na jaula. Nunca vi nenhum desses padres que você e o Lucas falam tanto.
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<i>- Eu também não os encontrei muitas vezes. E é melhor que continue assim, lembra quando eu te contei que havia uma outra pessoa que morava conosco antes de você? Manoela. Lucas a matou por ela ter exposto nosso segredo em uma crise de ciúmes e isso atraiu a atenção da Ordem. Tanto ele quanto ela quase foram mortos por uma única mulher. Eu a matei, mas por um momento de descuido de sua parte. Eles são extremamente empenhados e perigosos e fora que são sempre acompanhados por uns anjos insuportáveis e...
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<i>Neste momento, um dos garçons apareceu encaminhando Máira até a nossa mesa. Ele puxou a cadeira para que ela sentasse e se retirou com visível pressa. Todo o ambiente no clube estava muito denso. O homem ao piano já não cantava mais, agora entoava algum dos noturnos de Chopin e os poucos clientes nas outras mesas não pareciam estranhamente tensos. Tudo era muito estranho ali, naquela noite, mas foi o olhar no rosto inquieto da minha amiga que evidenciou que algo estava errado. Máira havia perdido a cor morena de sua segunda-pele, eu poderia achar que ela estava doente, se doenças nos acometessem. Olheiras escuras contornavam seus olhos e os lábios estavam secos.
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<i>- Você já está sabendo de tudo? - ela perguntou à Beatriz rispidamente. Bia me fitou confusa por um momento antes de responder:
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<i>- Bom, acho que sim. Carolina me disse tudo ontem, sobre a aventura de vocês noite passada.
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<i>- Sobre o livro? - Máira insistiu.
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<i>- Sim, sobre o livro também.
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<i>Máira fechou os olhos e suspirou tombou a cabeça sobre as mãos que se apoiavam na mesa.
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<i>- É, estamos todas no mesmo barco, então.
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<i>- Do que você está falando? Aconteceu alguma coisa com você? - eu perguntei.
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<i>- Eu voltei para pegar a bolsa lá na casa da Debóhra, lembra? Esperava que ela enchesse o meu saco, falando sobre como eu deveria parar de andar com você e coisas assim, mas tinha certeza que esse era o único perigo que eu corria indo lá. Quer dizer, claro que ainda não teria dado tempo do garoto despertar. - seus lábios se abriram num sorriso sem humor enquanto ela olhava para mim - Ah, mas você é boa, garota. Você é muito boa. Nós demos sorte, Carolina. Saímos de lá na hora certa. Eu toquei a campainha uma vez. Quando fui tocar a segunda, percebi que a porta estava aberta. Entrei, chamei por ela e nada. Encontrei fácil a minha bolsa no sofá da sala onde sentamos, mas achei estranho o silêncio de Debóhra e continuei chamando por ela. Procurei por todo o andar superior e justo quando eu achei que poderia ter certeza que estava sozinha na casa, ouvi dois dos padres subindo as escadas.
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<i>- Os sacerdos?! Eu estava justamente falando a respeito deles para Carolina, nunca os vi. - Beatriz se precipitou - E então, você os atacou?
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<i>- Você não simplesmente ataca dois sacerdos assim, garota. Eu pude sentir a energia daqueles dois, não seria páreo para eles. Não os dois ao mesmo tempo. Me escondi atrás do armário grande da sala e esperei pelo melhor momento. De atacar ou de fugir, não sabia o que seria antes. Prendi a respiração quando eles entraram na sala. De onde eu estava, podia vê-los sem que me vissem, mas você sabe como eles são - ela disse olhando para mim -, os filhos da puta sentem o nosso cheiro. Mas acho que eu estava com sorte, eles não me notaram. Estavam focados procurando o livro. Depois de alguns minutos eles se separaram e eu arranquei a mandíbula do que ficou na sala enquanto fugia pela janela.
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<i>- Como eles poderiam saber do livro? - perguntei apertando a bolsa sobre o meu colo.
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<i>- É difícil dizer com certeza, mas é provável que seu admiradorzinho tenha dado um jeito de fugir da jaula, exorcizou a minha irmã, se mandou para o clubinho deles e deu com a língua nos dentes quando chegou lá. Agora eles sabem que o livro existe e quem o tem em posse. Você disse o seu nome pra ele, Carolina - Máira disse isso num sussurro - Acho que chegou a hora de você contar pro Malta o que aconteceu. Para a segurança de vocês duas.
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<i>Neste momento se aproximou o garçom, aquele que havia atendido Bia e a mim quando chegamos. Ele trazia uma taça equilibrada sobre uma bandeja e a ofereceu para Máira que ficou surpresa e disse:
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<i>- Desculpe, meu bem, eu ainda não fiz o pedido. Você deve ter se equivocado.
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<i>- Não. - disse o garçom sorrindo - Nós estamos bem certos.
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<i>E subitamente jogou o conteúdo da taça no rosto de Máira que gritou em agonia. Sem dar tempo para que ela tivesse outra reação, ele bateu com a bandeja em sua cabeça e minha amiga foi ao chão.
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<i>Vendo aquilo, eu e Beatriz nos pusemos à postos para atacar. Minha intenção era acabar com aquele garçom maldito sem demora, mas antes que eu pudesse fazê-lo, um outro homem, que estava sentado à algumas mesas de distancia da nossa veio correndo em minha direção e me derrubou. O homem era gordo e se pôs em cima de mim, me comprimindo com seu peso. Ele pôs o antebraço em meu pescoço afim de me imobilizar enquanto procurava algo em seu paletó, provavelmente uma arma. Mas ele nunca a encontrou, ao ver o mínimo momento de distração em seus olhos, eu passei as mãos sobre sua testa e queixo e quebrei seu pescoço com um baque seco.
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<i>Após tirar o brutamontes de mim e voltar a me orientar eu vi a mulher novamente, aquela que eu achara familiar assim que chegamos à boate. Ela estava investindo contra Beatriz com uma adaga de prata. Eu a vi, e dessa vez a reconheci. Era a mesma mulher que fumava debruçada na janela do prédio vizinho à casa de Debóhra. Rapidamente, as coisas passaram a fazer sentido. A emboscada, o ataque, tudo. Eram todos sacerdos ali, funcionários e convidados. Eu tentava manter a calma, mas o desespero estava tomando conta de mim. Olhando envolta, eu podia contar oito deles no meu campo de visão, mas era impossível saber quantos realmente existiam ali. Bia se livrou do ataque da mulher e gritou um alerta para mim.
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<i>Me virei e pude ver outro homem vindo em minha direção, estaca e martelo em punho. Este era atlético e sua ira era sensível, seus olhos assassinos estavam focados em mim e eu só tive tempo e recuar alguns passos até que ele completasse o ataque. Sua estaca errou meu coração, mas fez sangrar meu ombro esquerdo quando foi enterrada quase até a metade. Meu braço estava inutilizado, mas ainda assim eu consegui fechar a boca em seu pescoço enquanto minha mão boa se fechava sobre o seu pulso do martelo. Meu sangue e o dele se misturavam ao vermelho do meu vestido.
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<i>Gritei de dor ao arrancar a estaca do meu ombro ferido, mas não tive tempo de respirar, pois a mulher que havia me visto da varanda me atacou por trás e passou um rosário pelo meu pescoço, o que me queimou ao mais leve toque. Enquanto eu sofria, ela passou as mãos pela minha cintura e agarrou o laço que havia em vestido, na altura da barriga. Senti seus dedos puxarem as pontas do laço com força ate quase rasgarem, o ar se foi de meus pulmões e pude ver um outro sacerdo desferir um golpe contra Máira antes de cair sobre os meus joelhos.
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<i>A mulher que me atacava tomou meu cabelo pelas mãos e os puxou para si. A mesma adaga de prata que ela usou para atacar Beatriz agora se preparava para cortar a minha garganta exposta. Meu pescoço parecia estar em chamas, eu não conseguia falar ou respirar e meu ombro esquerdo latejava, mas foi quando ela derramou um frasco de agua-benta sobre a minha testa que eu realmente senti o que era dor.
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<i>Meu vestido não tinha gola, então o líquido sagrado corria pelo meu rosto, pescoço e colo, ate descer queimando pelos meus peitos e barriga. Ouvi o frasco vazio se quebrar quando ela o arremessou no chão e senti o aperto em meus cabelos ficar mais forte quando ela se preparava para cortar a minha cabeça. Pela primeira vez achei que tudo estaria perdido.
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<i>Seu braço levantado com a adaga em punho foi a última coisa que eu vi antes de fechar os olhos e esperar pelo pior. Entretanto, o golpe foi detido por uma voz. Um grito de comando, pelo que eu pude entender em meio àquele sofrimento. Ainda tendo os cabelos seguros pelas mãos da mulher, fui obrigada a acompanhar seus passos enquanto ela parecia me levar de volta para o meio do salão. Jurei que cortaria aquelas mãos se saísse viva dali.
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<i>Ao abrir os olhos, eu vi outra mulher à minha frente. Esta, era bela, mas trazia uma vil cicatriz que rasgava sua boca e subia até a orelha direita. Seus cabelos eram poucos, batidos rente à cabeça como os cortes masculinos da época. Meus olhos ardiam e era dificil mente-los abertos, mas ainda assim não era difícil perceber que esta mulher com a cicatriz tinha uma posição de liderança naquele grupo. Pela visão periférica pude ver Máira segura por três homens junto à parede e Beatriz, pobre Beatriz, usava um colar de alho apertado como uma gargantilha e tinha duas lâminas atravessando seu ombro esquerdo.
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<i>A mulher da cicatriz, que usava salto caminhou até Beatriz, que era a que parecia ter o estado mais enfraquecido de nós três. Uma mulher e um homem seguravam minha irmã. Ao ver sua líder se aproximando, eles forçaram aos braços de Beatriz para que ela se curvasse. A mulher da cicatriz se apresentou como Irmã Amanda e teria dado um sorriso acalentador, não fosse a deformidade em seu rosto. Ela levantou o queixo de Beatriz com a base de um crucifixo, o que fez Bia dar gritos insuportáveis e a olhar para ela.
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<i>- Aonde está o livro? - Amanda perguntou sem qualquer reação.
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<i>Beatriz não respondeu e a cruz foi novamente pressionada contra ela. Desta vez na testa. Irmã Amanda repetiu a pergunta.
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<i>- Aonde. Está. O. Livro?
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<i>- Eu não sei. - os olhos de Bia encontraram os meus por um momento e ela me disse com eles que não iria dizer uma palavra. Eu amei Beatriz naquele momento. - Eu não sei do que você está falando.
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<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i><br /></i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i>Amanda voltou a se erguer e limpou o crucifixo na barra do vestido preto que usava. Fez sinal de que o homem e a mulher que seguravam seus braços podiam solta-la e quase instantaneamente, ela caiu. Apoiou as duas mãos no chão para aparar sua queda. Amanda fez questão de pisar nas suas mãos com o salto fino enquanto passava. Beatriz chorava.
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<i><br /></i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i>Olhei para Máira e vi em seus olhos a mesma falta de esperança que eu sentia. Estávamos perdidas, as três. Feitas prisioneiras daquelas pessoas, que diziam estar “do lado do bem” mas não mediam crueldades e sadismos para conseguir o que queriam. Eu fiz um esforço com toda a minha força para me soltar da mão que segurava meus cabelos, mas só que consegui foi fazer a dor aumentar. Amanda se pôs no centro do círculo e, sem nenhuma aparente preocupação disse:
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<i><br /></i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i>- Peço que simplifiquem as coisas. Não me causa prazer causar sofrimento à vocês, somente Deus tem o direito de fazê-lo. Mas entendam, aqui nós representamos Deus. E por isso estou autorizada pela Santa Igreja me valer de todas as formas de persuasão que puder para que vocês me digam algo que eu prefiro perguntar amigavelmente. Eu sei que uma das três tem o Livro dos Espíritos, um jovem do nosso corpo de aprendizes conseguiu fugir das garras de uma da sua espécie - ela disse para Máira - e nos contou que vocês tem o livro em sua posse. Contou que ele mesmo o teve em mãos, mas não estava respondendo por si. Então, novamente, eu peço que entendam que já estão condenadas e cooperem. Vai ser mais rápido para todos aqui. Onde está o livro?
</i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i><br /></i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i>Nenhuma de nós respondeu, outra vez.
</i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i><br /></i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i>- Bom, - Amanda disse com falso pesar - acho que teremos que começar os trabalhos então. João, traga-me a caixa.
</i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i><br /></i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i>O mesmo homem que abriu a porta para nós quando chegamos tirou da parte debaixo do bar uma valise muito semelhante a uma caixa de ferramentas, com o único detalhe que era ornada por símbolos cristãos.
</i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i><br /></i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i>- E agora, por quem começaremos? A Aaba truculenta ou a filha de Lilith com cabelos de fogo? - ela decidiu. Fez sinal para que minha captora me soltasse e sentir meus cabelos caindo sobre mim novamente foi um breve momento de alívio. Máira esbravejava para que ela fosse escolhida e não eu, mas Amanda a ignorava. Ela ajoelhou ao meu lado e pousou a caixa de ferramenta entre nós. Lá eu pude ver um arsenal de pequenas armas de corte e de contato.
</i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i>- Tive informações de que você é protegida de Lucas Malta também. - Amanda falava enquanto separava seus equipamentos de tortura - Sabe, meu avô foi morto por ele. Meu pai me contava histórias sobre ele. Eu consegui esta cicatriz ao procurar as pistas dele junto com minha favrashi protetora. - ela escolheu um punhal prateado que se formava em três dentes afiados - É de seu histórico não acumular muitas parceiras, seu clã sempre foi pequeno. Ele me tirou muita coisa, ruiva. Não preciso de muitos motivos para retribuir o favor, então não me dê. Só me diga agora onde está o livro, e mais, onde está Malta?
</i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i><br /></i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i>Eu, que havia escutado tudo isso de cabeça baixa, pela primeira vez a encarei nos olhos. Meu corpo todo doía, mas eu meu ódio me dava forças.
</i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i><br /></i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i>- Você não devia ter me soltado. - eu cuspi em seu rosto - Agora eu vou te fazer outra cicatriz como esta e terminar o serviço que deixaram pela metade.
</i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i><br /></i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i>Antes que eu avançasse, no entanto, a mulher da adaga a enfiou fundo na minha coxa, fincando-me no chão. A dor nova dor suplantou todas as antigas e, enquanto eu a assimilava, senti uma das pontas do punhal invadir a minha boca.
</i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i><br /></i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i>- É uma boa idéia, mas que tal eu lhe dar este presente? Poucas coisas me dariam mais prazer do que desfigurar este rosto tão bonito. Última chance, demônio, onde está o livro?
</i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i>- NA BOLSA PRETA! - Máira gritou surpreendendo a todos. - A merda do livro está na bolsa preta, ok? Agora acabe logo com isso, sua puta!
</i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i><br /></i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i>Após revistarem a minha bolsa e checarem a autenticidade do livro, Amanda voltou a mim. Ela ainda não estava satisfeita.
</i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i><br /></i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i>- Ótimo, viu? Vocês aprenderam a cooperar bem rápido. Mas eu tenho mais uma pergunta a fazer antes de, como você disse, “acabarmos com tudo”. Onde está seu mestre? Onde está Lucas Malta, vampira?
</i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i><br /></i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i>Um objeto a acertou em cheio após dizer isso. O punhal com o qual ela me ameaçava voou de sua mão e se fincou no chão da boate bem ao seu lado. Amanda se levantou do golpe inesperado e gritou ao ver o que havia lhe atingido. Era uma cabeça, com os glóbulos oculares arrancados, os ouvidos decepados e a genitália saindo pela própria boca.
</i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i><br /></i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i>Era a cabeça de Hugo.
</i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i><br /></i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i>- Eu estou aqui. - a voz de Lucas vinha do teto do salão.
</i></div>
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i><br /></i></div>
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<br />
<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<i>E as luzes se apagaram assim que ele terminou a frase."</i></div>
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<br>
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<div style="font-family: 'Helvetica Neue'; font-size: 14px;">
<div>
“A sequencia de reações comum à todas as pessoas que viam o livro era sempre a mesma: primeiro estranhar aquela publicação antiga e, em seguida, passar suas páginas com cuidado.
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Hugo não fez isso. Como se já soubesse o que procurava, ele abriu uma página aleatória, examinou rapidamente seu conteúdo e nos disse:
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<div>
- Este é o Livro dos Ofícios dos Espíritos. Tenho certeza. - sua resposta era para a pergunta de Debóhra, mas os olhos ainda estavam em mim.
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<div>
- E como você sabe disso? - perguntei.
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- Sabe, garoto, você não devia mentir para nós. - Máira agora estava atrás dele, olhando a mesma página e mesmo assim não entendendo o que Hugo poderia ter visto ali.
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- Ele não está mentindo. - respondi examinando-o com mais cuidado. Hugo parecia ser uma das raras pessoas que é criada à parte desse mundo de mentiras e desonestidades. O tipo de pessoa que nunca mente, e que, quando mente, faz isso tão mal que é quase uma piada. É claro, eu poderia estar redondamente equivocada, mas leio bem as pessoas, e quase nunca me engano. Hugo era um menino bom, e ver uma pessoa boa naquele estado só me deixava mais angustiada.
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- Não, não é mentira. Veja - ele apontou para um símbolo aleatório em meio a outros na página – é a triqueta.
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- Acho que te tirei do treinamento cedo demais, Hugo. - Debóhra parecia um pouco frustrada ao corrigir seu escravo - A triqueta era muito comum em documentos sacros dessa época. Isso não é evidência de nada.
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- Triqueta? - direcionei a pergunta para Máira, especificamente, mas Hugo se apressou em responde-la.
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- Sim, sim. - baixou as mãos que ainda estavam apoiadas nas minhas de forma que eu pudesse ter uma visão melhor do livro enquanto ele sinalizava novamente onde eu devia olhar. Hugo virou a página, e lá estava mesmo desenho na folha seguinte. E na outra também. Era um símbolo incomum, mas que ao ser visto, me causou uma estranha familiaridade. Sua forma era bem básica: um triângulo que tinha os vértices abaulados no formato de folhas que eram interligadas uma com a outra, uma na vertical e outras duas abertas nas laterais baixas, como as pernas de uma estrela. Além disso, um círculo cortava as três formas.
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- Antigamente este símbolo era muito usado pelos sacerdotes para indicar a trindade deles. - Máira falou.
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- O pai, o filho e o Espírito Santo. - endossou Hugo dando calafrios em todas nós.
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- Mas não faz diferença - logo interveio nossa anfitriã - Se você me trouxer livros, cartas, pergaminhos antigos…quaisquer documentos em geral que passassem pela mão dos religiosos, é bem provável que eles viessem com essa marca.
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- Você está equivocada. - Hugo falou surpreendentemente.
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Debóhra, foi atingida por aquilo como por um tapa. De onde estava, olhava incrédula para o que deveria ser a primeira discordância de Hugo a qualquer comentário dela. Ele pareceu perceber a gravidade do que tinha dito, mas não se desculpou, apenas olhou para baixo. Eu deixei apenas uma das mãos apoiando o livro junto das dele e com a outra levantei seu queixo:
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- Por que ela está enganada? Me conta. - encorajei-o com um sorriso.
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- Não enganada, - ele me disse retribuindo o sorriso e pude ver tártaro nos seus dentes - só equivocada. O que você disse é verdade, senhora, muitos dos documentos com os quais eu comecei a ser introduzido à Ordem tinham a triqueta impressa neles. Mas não como essas que podemos encontrar aqui. – ele apontou novamente para o livro. - Você consegue ver algo de diferente nelas?
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- Parecem mais escuras do que o resto das coisas escritas no livro. Mais vívidas. - pontuei.
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Debóhra se aproximou para ver mais de perto e Máira saiu detrás do garoto para se pôr ao meu lado também.
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- Exatamente. - ele disse animado - Um dos meus professores nos contou uma vez que este era um problema para a Igreja desde tempos antigos, validar documentos como oficiais ou não. Eles passaram então a usar este símbolo para essa função. Se a carta tivesse a triqueta, seria considerada oficial e canônica, caso contrário era desprovida de qualquer valor. Acontece que este símbolo, segundo diz a tradição, não foi criado por nenhum mortal. Ele foi reproduzida por nós, sim, muitas vezes através dos séculos. Mas o que realmente representa é a assinatura de Nosso Senhor. E a primeira vez em que ele foi apresentado à humanidade, disse meu professor, foi exatamente no Livro dos Ofícios dos Espíritos, que nos foi entregue por um anjo para que pudéssemos aprender mais sobre os demônios. E claro, as cópias que foram feitas com o tempo também têm a triqueta em todas as páginas, mas a história diz que somente na publicação original, escrita pelo próprio Deus, nós a encontraríamos assim - ele passou o polegar pelo símbolo e o virou para nós - sempre como se estivesse recém escrita.
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Seu polegar estava sujo com tinta preta.
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Eu tive a iniciativa de fazer o mesmo, mas Hugo, com alguma urgência, segurou a minha mão com força.
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- Não faça isso! Acho que essa tinta machucaria você. Todas vocês, na verdade. - ele disse, dando a entender que tinha ciência do tipo de criaturas que éramos.
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Eu agradeci, e voltei a pensar no que deveria fazer com o livro agora. Será que Lucas sabia que isso estava lá em casa todo esse tempo? Se sabia, por que não fez nada a respeito? Ao meu lado, minhas companheiras tinham reações diferentes ao fato. Debóhra parecia ter recuperado a alegria e olhava para a suposta assinatura de Deus com os pequenos olhos cintilando, enquanto Máira fitava desconfiada nosso cativo.
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- E como vamos saber que você não inventou tudo isso agora?
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- Irmã, por favor, você sabe que eles são incapazes de mentir para nós. - disse Debóhra dando dois tapinhas no rosto de Hugo, que alheio à discussão das duas, ainda olhava para mim. Percebendo que o garoto ainda me admirava, ela mostrou incômodo e mandou que ele voltasse para a jaula.
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Hugo, no entanto, não se moveu.
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- Eu disse para entrar na jaula, querido. - sua voz era doce, mas sua respiração era fatal - Agora.
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- Qual é o seu nome? - Hugo olhava para o chão quando me fez essa pergunta, mostrando a típica timidez e falta de jeito de um adolescente.
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Antes que eu respondesse, a Debóhra pôs uma das mãos dobre a boca de Hugo e o obrigou a virar o seu rosto para ela com desnecessária violência. O menino, que estava magro e frágil, quase caiu com o tranco.
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- O nome dela não te interessa. Tudo que te interessa é o que eu digo, entendido? Agora entra aí, - disse ela jogando Hugo de volta à sua prisão e trancando a porta - e quando eu terminar de resolver esse assunto nós vamos conversar. Seriamente.
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Ela fechou o portão e passou a chave que trazia no bolso. Achei que Hugo fosse se mostrar abatido e passivo como antes, mas dessa vez percebi algo diferente. Percebi que ele a desafiava. Não verbalmente, mas sua cabeça e seus olhos se mantinham erguidos enquanto ele apertava com força as barras imundas que lhe continham. Talvez nada daquilo fosse da minha conta, mas imposições nunca me agradaram a cada atitude de Debóhra fazia meus sangue ferver mais um pouco. Eu estava a ponto de segui-la e provavelmente arrumar outra discussão quando Máira me disse.
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- Melhor irmos embora daqui o quanto antes.
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- Do que você está falando?
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- Confia em mim, não gosto da minha irmã mais do que você. Mas eu a conheço, e é melhor sairmos daqui agora.
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Máira estava agindo de forma estranha desde que descemos ali, mas preferi não questiona-la no momento. O ambiente ali estava me sufocando, era melhor ir embora mesmo. Caminhei até a escada com ela e me virei para dar uma ultima olhada para o menino nu que estava atrás das grades. Ele sorriu para mim com seus dentes podres.
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- Carolina. Meu nome é Carolina. - disse sorrindo de volta enquanto subia de volta.
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Ao sair da escada, Debóhra e Máira conversavam no corredor que seguia até a sala principal. Elas pararam assim que eu subi os degraus mais ainda pude ouvir um pouco do que conversavam. Era sobre Hugo. Minha curiosidade pedia por mais detalhes mas dissimulei bem e fingi que nada tinha ouvido.
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O silêncio pontuou a tensão que parecia se apertar para caber no estreito corredor. Eu já não gostava da Debóhra, depois de ter visto todo aquele andar subterrâneo, eu precisava de toda a minha força de vontade para não causar uma confusão ali mesmo. Máira, talvez percebendo isso ou talvez por sorte, disse:
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- Ok, nós temos uma mina de ouro nas mãos. Melhor discutirmos bem o que vai ser feito com esse livro, para quem vamos entrega-lo e o que vamos querer em troca. Precisamos trabalhar juntas nisso e, o mais importante de tudo, guardar isso em segredo.
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- Eu não me importo com o que vocês queiram, ou mesmo para quem vocês vão entregar o livro. Tudo que eu quero é que seja alguém capaz de devolver a forma que eu tinha antes. Acho que vocês podem resolver o resto sozinhas.
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Após dizer isso, ela saiu com seu andar cômico de volta para a sala. Lá, Máira tentou ensaiar uma conversa amigável, entretanto o clima estava pesado demais para isso. Debóhra parecia não suportar mais a nossa presença em sua casa e eu tinha certeza de que aquela visita já tinha se tornado longa demais. Nos despedimos friamente e seguimos para o carro. Assim que demos a partida e eu comecei a dirigir quis saciar minha curiosidade:
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- Tudo bem, agora só estamos nós duas aqui. Por que você está agindo estranha desde que chegamos na casa da sua irmã? É por causa do livro? Eu também estou com um tanto insegura com o que fazer com ele, mas acho que vai dar tudo certo. - eu disse, ao volante.
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Máira me direcionou o olhar que é dado àqueles que não entendem algo óbvio:
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- Não, essa é a parte que menos me preocupa de tudo que aconteceu hoje à noite. Você realmente não percebeu o que fez ali?
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- Eu e você descobrimos um tesouro milenar e sagrado que acreditava-se estar perdido há séculos, basicamente.
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- Além disso, eu e você acabamos de condenar Debóhra ao Inferno. Outra vez. Você mais do que eu, na verdade. Não que eu esteja preocupada com ela, mas é melhor você pisar fundo. Debóhra é poderosa. E vingativa. Acho que ela ainda não percebeu o que aconteceu mas, por via das dúvidas, acelera aí.
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- Eu? O que foi que eu fiz? - perguntei em minha defesa - Eu a poupei, isso sim. Tive que me segurar para não tirar aqueles olhos falsos da cara dela com as minhas unhas.
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Agora que já alcançávamos o início da descida da Serra, minha amiga ia relaxando. Ela se permitiu sorrir e me explicou:
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- Você libertou o garoto. Eu não suporto quando vocês fazem isso, mas admito que ela mereceu. Nem ele sabe disso ainda, mas o efeito de Debóhra sobre ele está evaporando. Ele ainda não tem muita experiência, mas ainda assim, quando voltar a si totalmente vai acabar com ela. Debóhra é tão pedante que nem vai saber de onde veio o golpe.
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- Então você acha que eu libertei o garoto lá das garras da sua irmã? Olha, bem que eu queria, aquela ali merece morrer de fome.
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- Eu não acho, tenho certeza. Caralho, o que foi que o Malta te ensinou além de chupar o sangue alheio, hein? Você nem sabe a extensão dos seus poderes! Lembra que, quando nos conhecemos naquele bordel, eu fui um pouco grossa com você?
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- Grossa? Você está sendo gentil. - brinquei.
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- Certo, eu fui uma vadia. Mas eu tinha um motivo. Você deve ter percebido que nós duas somos criaturas de hábitos diferentes. O sangue, por exemplo, você precisa dele enquanto eu tenho aversão. Mas tem um ponto no qual nossas espécies agem de modo bem parecido: quando precisamos caçar uma vítima. Eu e você usamos a luxúria dos mortais como vantagem para nos saciarmos deles. A diferença é que, para nós, o desejo sexual dos homens é um alimento e, para vocês é só uma arma, uma ferramenta para chegar até o pescoço deles. Vampiros e Aabas caçam a mesma presa e do mesmo modo, só que vocês levam vantagem sobre nós, são os únicos infernais capazes de quebrar nosso encanto sobre os mortais. Não é incomum acontecer brigas entre alguma das minhas irmãs e uma vampira porque um escravo resolve querer mudar de dona.
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<div>
- Vou confessar que o modo com a qual ela estava tratando aquele menino me incomodou bastante. Mas eu estava com mais vontade de matar a sua irmã do que de seduzi-lo. Tudo que eu fiz foi perguntar sobre o livro como você e ela também fizeram.
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- Mas foi o bastante. Debóhra é orgulhosa demais para notar isso, quando ela ainda era a mais bonita entre nós gostava de se vangloriar dizendo que nunca tinha perdido um escravo sequer. Ela não sabe como é, mas eu já vi acontecer muitas vezes. No fim da conversa o moleque só respondia à você e sequer olhava para ela. Se fosse um mortal qualquer ela não teria muitos problemas, provavelmente mataria ele e procuraria outro. Mas ela está com um sacerdo preso em casa, vai ser pega de surpresa e, no fim, exorcizada. Por isso eu estava com tanta pressa para sair de lá, não sei o que aconteceria primeiro, ela perceber o que aconteceu ou o padrezinho começar as orações. Só não queria estar lá quando acontecesse.
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<div>
- Oops…- eu disse sorrindo - Mas já que estamos no assunto, eu fiquei com uma dúvida quanto à isso. Claro, você disse que ela era muito atraente algum tempo atrás, então faz sentido ela ter vários seguidores aos pés dela naquela época. No entanto, agora ela é basicamente o extremo oposto de qualquer coisa atraente. Mas o garoto lá estava preso naquelas condições e parecia satisfeito com aquilo tudo. Como é que ela fez a cabeça dele sendo horrenda daquele jeito?
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<div>
- Nossa abordagem com os mortais é diferente da de vocês também. Claro que se o objetivo for nos alimentar só por uma noite tudo bem, podemos fazer como os vampiros, levar a vítima para casa e depois dar um fim nela. Mas se quisermos garantir uma fonte de alimento perpétua e tornar a vítima nosso escravo, precisamos cultivar a admiração dele por algum tempo, as vezes meses, até que ele esteja totalmente na nossa mão a ponto de esquecer das próprias necessidades. Torturamos tanto o indivíduo que ele quebra e passa a responder somente à nós. A não ser quando aparece uma sanguessuga biscate tipo você pra estragar tudo. Ela com certeza já estava brincando com aquele garoto desde antes dele começar o seminário e você acabou com tudo em minutos. - Máira parou e notou o sorriso no meu rosto - Você está adorando isso, né?
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- Talvez.
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- Vadia.
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Como eu estava dirigindo, primeiro fomos à minha casa e de lá Máira levaria o carro de volta para o seu apartamento. Quando chegamos, perguntei se ela não queria terminar a noite em algum lugar para discutirmos o que fazer com o livro. Eu gostaria de contar tudo o que descobrimos para Beatriz, e conversar com Lucas. Máira achou melhor que não falássemos com Lucas sobre isso ainda, mas concordou que poderíamos dividir isso com a Bia, afinal ela morava comigo. Só que, antes de subrimos, Máira ela deu falta de sua bolsa. Parece que na pressa de ir embora tinha deixado-a na casa da irmã e queria voltar lá o quanto antes, pelos motivos que já tinha dito.
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- Eu posso ir com você, mas dessa vez você dirige. - me propus.
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- Não, vamos evitar mais problemas, certo? Melhor você ficar aqui, fora que já são quase quatro da manhã, não poderíamos curtir muito a noite com seu horário de Cinderela.
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- É, você tem razão. Vamos fazer assim, eu deixo Bia a par de tudo que descobrimos hoje e amanha à noite saímos nós três para conversar melhor sobre isso, que tal?
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- Por mim está ótimo. Vogue?
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- Vogue. - respondi,
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Ela deu ré com o carro e seguiu a rua enquanto eu subia as escadas da minha casa. Bia estava com um homem sem camisa e de físico muito bonito carregando as últimas caixas da mudança de dentro da casa para a nossa sala. Ela nos apresentou e quando ele terminou o serviço nos divertimos com ele. Não restava mais nenhuma mobília nos nossos quartos, exceto nos caixões, sentamos obre o meu e lá contei a ela tudo que tinha descoberto naquela noite. Bia arregalou seus olhos orientais o máximo que pôde enquanto ouvia a história e no fim concordou que não devíamos contar nada para Lucas por enquanto.
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- Onde ele está, inclusive? - perguntei.
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- Não sei ao certo, depois que você saiu eu percebi que ia ter muito trabalho para arrumar as coisas da mudança. Então resolvi caminhar pelo Aterro e encontrar alguém para ajudar. Quando trouxe ele para casa - indicou o corpo do homem forte com a cabeça - Lucas já tinha chegado. Ele estava acompanhado de um homem muito estranho.
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- Como assim “estranho”?
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- Difícil dizer. Ele não parecia agressivo, mas sua presença era muito incisiva. Me fazia sentir mal perto dele. Apesar de ter sido muito polido e cortês, sequer olhava para mim enquanto falava comigo e percebi que reprovou em silêncio o que sabia que eu pretendia fazer com o homem que tinha trazido para casa. Ele parecia ter uma aura de superioridade que me incomodava.
</div>
<div>
- Estranho, – pontuei - um vampiro não deveria se importar com nossos hábitos.
</div>
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- Mas ele não era um de nós. Não parecia humano também. Era uma figura peculiar, mas que parecia ser muito íntima de Lucas. Eles saíram outra vez alguns minutos depois que eu cheguei. Foram, como Lucas disse, “tratar de negócios”. Fiquei um pouco intrigada com isso porque ele nunca trouxe para casa alguém que não fosse uma vítima. Pelo menos não desde que eu estou morando com vocês. Mas no fim fiquei aliviada de ver aquele homem indo embora.
</div>
<div>
- Estranho, eu também nunca o vi fazendo isso, será que era algum outro demônio? Você lembra o nome ele?
</div>
<div>
- Rafael. Diz alguma coisa para você?
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<div>
- Não, não diz. - respondi."
</div>
</div>
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<br />
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Doughttp://www.blogger.com/profile/10921754351760150046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3896754087151831820.post-61464201734065536992016-07-24T19:53:00.001-07:002016-09-18T16:27:42.732-07:00Ver042<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/3dyNbMVfeyM" width="420"></iframe>
<br />
<div class="MsoNormal">
<i><br /></i>
<i>“A Serra fluminense não é exatamente fria, apesar do
imaginário popular. Alguns graus abaixo da temperatura da capital, mas para
quem já morou na Europa e é basicamente uma morta-viva que se alimenta de
sangue quente, “frio” tem uma outra conotação. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>As pessoas na discreta rua residencial que contornei para
estacionar o carro pareciam concordar comigo, nenhuma delas usava casaco.
Exceto um adolescente que vinha com cabelo penteado para trás com gel numa
tentativa frustrada de copiar o estilo dos atores de cinema da época. Ele, e
sua jaqueta de couro destoavam de todos os outros passantes. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Assim como a casa. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Situada entre um prédio de arquitetura moderna e uma padaria
de aspecto familiar e tradicional, a casa não parecia se encontrar em nenhum
dos dois extremos. Sua construção parecia ter sido feita de maneira paulatina,
o que acarretou numa desconexão geral em sua estrutura. Era pequena em
comparação ao seu terreno, fazendo parecer que a grama alta engolia seus
membros mal costurados. Não havia cerca, e a vegetação vinha até a calçada onde
era aparada naturalmente pela roda dos carros. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Ótimo, ela está em casa. - Máira indicou com a cabeça uma
luz acesa emanando da janela que ficava à extrema direita da casa. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Fomos até o único ponto de passagem através da grama não
aparada, que era uma sucessão de placas de concreto postas uma após a outra,
abrindo caminho até a soleira da porta de madeira. Uma senhora que fumava numa
das varandas do prédio que se levantava à esquerda da casa nos olhou com
desaprovação e jogou a sobra de eu cigarro no farto jardim da casa antes de
entrar. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Não havia campainha, em seu lugar foi posto uma aldrava
oxidada pelo tempo. Máira bateu duas vezes contra a porta, e quando se
preparava para faze-lo novamente, ouvimos a tranca se abrir e as dobradiças
gemerem. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>A madeira não parecia estar em bom estado, então fiquei em
dúvida se Máira tinha batido forte demais e forçado a tranca ou se realmente
alguém havia aberto a porta. Alguns segundos depois um braço fez um gesto para
que entrássemos. Minha amiga seguiu o gesto instintivamente, enquanto eu fiquei
parada na soleira da porta. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Posso entrar? - perguntei. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Não sabia que você se misturava agora, irmã - disse a voz
escondida atrás da porta de madeira podre. Uma voz arrastada e com a língua
presa. - Sim, você pode entrar. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>A porta se fechou assim que entrei e eu a vi. Máira tinha me
contado a história toda, por isso eu acreditava estar preparada, mas você não
se prepara para receber uma bala de canhão mesmo que tenha ouvido a ordem de
disparo antes, certo? Debóhra era baixa e seu tronco tinha a forma de um
barril, as pernas eram tortas e os braços pareciam curtos demais em comparação
ao resto do corpo. Eu poderia dizer que os cabelos loiros vinham a altura do
pescoço, mas o que mais impressionava em sua aparência grotesca era que Debóhra
não tinha pescoço. Uma massa de carne desforme e pele repuxada unia seus ombros
à base do rosto. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Um silêncio constrangedor desceu sobre a casa onde todas nós
trocamos olhares sem saber muito bem com agir. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Então…eu não estava esperando visitas. Não sei se tenho
alguma coisa na dispensa para oferecer. - a irmã de Máira quebrou o gelo com a
sua voz defeituosa - Mas acredito que vocês não se importam muito com isso,
quer dizer, acho que você nem come coisas convencionais, certo? <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Não, e nem estou com sede também. - minha resposta saiu
mais grossa do que eu esperava, mas foi por estar ainda pasma com aquela figura
à minha frente. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Debóhra abriu um sorriso amarelo o máximo que sua pele
defeituosa permitia e examinou a mim e a sua irmã com olhos suspeitos. Ela
tinha um ar pedante a despeito de sua aparência, e isso me incomodava. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Por que não vamos até a sala? - ela sugeriu e começou a
liderar o caminho sem se preocupar em esperar a nossa resposta. Percebi que seu
caminhar era desengonçado, ela andava com as pernas arqueadas e abertas demais
e os curtos braços alternavam em balanços cômicos a cada passo. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Ao adentrar na sala, ouvi a madeira de seu piso estalando
abaixo dos meus pés. Como a casa toda parecia num estado comprometido não dei
muita atenção a isso, mas confesso ter me assustado quando eu e Máira sentamos
no sofá puído e pude sentir nitidamente as tábuas arqueando sob o nosso peso. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Debóhra, no entanto, não esboçou reação a isso. Ela se pôs
numa poltrona de aspecto mais novo ao nosso lado e estalou todos os dedos da
mão antes de perguntar para Máira: <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- E então, irmã, você tem visto a mãe? Alguma das outras? <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Depois do nosso encontro eu não fui mandada lá pra baixo
ainda, por isso estou há alguns anos sem ver a mãe. Mas encontrei Lúpta e
Cicélia para um drink há um tempo atrás. Elas também perguntaram sobre
você. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Perguntaram, é? Elas são adoráveis mesmo. - nossa anfitriã
disse sarcástica - Gostaria que elas tivessem se preocupado em me avisar da
pequena brincadeira que nossas outras irmãs fizeram comigo também. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>O sorriso repuxado tinha aparecido outra vez e, enquanto
Máira e a irmã conversavam sobre frivolidades eu notei que algo mais me
incomodava naquele aposento. Corri os olhos pela sala e, apesar do mau gosto,
percebi que não era a decoração. Um cachorro latia lá fora, mas salvo isso não
havia som algum para me perturbar também. Procurei rapidamente algum crucifixo
pela sala por instinto, antes de lembrar que Debóhra também era uma de nós. Por
fim, senti o que era. O cheiro não parecia estar emanando de algum ponto
específico, e eu não havia dado atenção a ele assim que entramos, mas agora,
sentada ali, podia senti-lo inundando o ambiente. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Máira e Debóhra não pareciam notar, não como eu. Culpei meu
olfato mais sensível por isso, mas a verdade é que inspirar estava se tornando
uma tarefa bem incômoda. O cheiro era forte e parecia uma mistura de
excrementos humanos, novos e velhos. Apesar da decoração ruim, a sala parecia limpa
até certo ponto e eu estava me perguntando de onde ele poderia estar vindo
quando Máira me cutucou. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Vai, mostra pra ela. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Pardon? - respondi sem saber bem o que deveria mostrar. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Eu perguntei para Máira o motivo da visita e ela disse que
tinha trazido algo para me mostrar. Acredito que esteja na sua bolsa? - disse a
língua presa. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Ah, sim. - me apressei em tirar o antigo livro da minha
bolsa e entrega-lo a ela. Como Máira, ela não entendeu de início o que era. Mas
não ouve surpresa em seu olhar quando ela começou a entender o conteúdo das
páginas. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Então - seus olhos fundos não saíam das páginas enquanto
ela falava - você me trouxe um dos livros dos padres. Eu agradeço, mas não
entendo o motivo. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Irmã, eu acredito que este seja o primeiro livro. Aquele
que o anjo trouxe e entregou para eles. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- O original? - Debóhra passou mais algumas páginas do livro
o examinando com cuidado. - Onde vocês o encontraram? <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Estava na biblioteca especial da minha casa. - respondi. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- E quem é você, vampira? <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Sou Carolina LeBion. - fiz questão de que meu nome tivesse
um tom tão desafiador quanto a empáfia de sua pergunta. A Aaba se limitou a
olhar como se aquilo devesse ter dito alguma coisa a ela. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Carolina é do clã de Lucas, ela vive com ele ha mais de cem
anos. - pela primeira vez, pude ver o rosto horrível adquirir uma expressão
surpresa. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Malta? Você é do clã de Lucas Malta? - ela pôs uma ênfase
sutil no “você”. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Sou, e viemos até você porque Máira achou que você poderia
confirmar se esse é realmente o original do Livro dos Ofícios. - eu ainda não
estava acostumada com a aparente fama de Lucas entre os demônios, mas me vali
dela para reforçar nosso ponto - Acredito que, se você não puder avaliar o
livro, estamos todas perdendo nosso tempo aqui. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Debórah estalou os lábios displicentemente e me fitou por
algum tempo. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Digamos que eu possa. Vamos supor que eu consiga dar a
vocês a certeza se este é o primeiro Livro dos Ofícios ou uma cópia
inútil dele. Diga-me, Carolina LeBion, o que eu ganharia com isso? <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>A possível ajuda e a curiosidade para saber o resultado de
nossa busca não foram maiores que o ódio que senti daquele tom presunçoso e do
desdém com o qual Debóhra havia olhado para mim. Carlos dizia que meus olhos
perdiam o castanho e pareciam vermelhos quando eu estava muito intensa e tenho
certeza de que meus olhos estavam bem vermelhos naquela ocasião. Usei toda a
minha velocidade para atravessar a sala e chegar até Debóhra, inclusive lembro
de ter quebrado uma mesa de centro que estava no caminho. Ela sequer entendeu o
que estava acontecendo até ser tarde demais e, no espaço de uma inspiração, eu
já estava à sua frente, agarrando sua garganta e levantando-a enquanto minhas
unhas entravam fundo na pele dilacerada de seu pescoço. Sendo um pouco mais
baixa que eu, seu esforços eram em vão e eu facilmente a ergui até que seus pés
não tocassem mais o chão e depois bati algumas vezes a sua cabeça contra a
velha parede, que logo cedeu. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Você ganha a sua existência nesse plano, - minha voz
estava alterada até mesmo para os meus ouvidos, soava áspera e assassina - e
acho que isso é uma ótima oferta e eu aconselharia que você aceitasse. Caso
contrário, - eu quase podia sentir sua frágil traqueia entre os meus dedos -
você vai voltar para o Inferno. Mais horrorosa ainda. É isso que você ganha. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Máira apareceu ao meu lado um tanto quanto assustada e com
calma baixou meu braço e junto dele sua irmã. Ainda mantive os dedos alguns
segundos enquanto olhava fundo nos olhos dela e os torci quando tirei. Minhas
unhas fizeram rasgos consideráveis e eu queria acabar com ela ali mesmo, mas me
limitei a sustentar o olhar desafiador para ela. Apesar do estado em que eu a havia deixado, ela não desviou o olhar
por um instante sequer. Debóhra era odiosa, mas valente, preciso admitir.
<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Minha amiga se pôs entre nós tentando evitar uma luta que
certamente chamaria a atenção dos vizinhos e poderia nos complicar. Debóhra não
deu atenção a ela, e confesso que também não. Eu apenas esperava um leve
movimento dela para agredi-la outra vez quando fui surpreendida. Ela não
atacou, apenas rasgou rispidamente uma das mangas da camisa que usava e a
enrolou desajeitadamente sobre o pescoço. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Agora que a atmosfera da sala estava esfriando, Máira pegou
o livro que tinha caído no chão quando eu fiz minha primeira investida e a
mostrou para ela, como que para traze-la de volta à razão: <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Irmã, se eu estiver certa, nós temos um tesouro aqui.
Imagine quanto demônios estão atrás disso aqui?! E eu não estou falando da ralé
como nós. Não, ou vi dizer que o próprio Sonneillon procura isso séculos a fio.
E se ele faz, os outros lordes do Inferno também fazem. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- E que diferença a busca de nossos nobres senhores poderia
significar para mim? - sua voz saiu fina e esganiçada. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Máira sorriu para ela maliciosa. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Você se lembra quando Azmodeu e a mãe tiveram aquela briga
de décadas e no fim, ele quebrou alguma das vértebras dela? <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Claro que lembro. Ela ficou inválida e nos obrigou a
cuidar dela por meses. Seu ponto? <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Exatamente, mas após a poeira baixar, ela mandou que
algumas de nós fossem chamar Buer, lembra? Para reabilita-la. Meu ponto, irmã,
é que existem alguns entre nós com o poder de curar semelhante ao do próprio
Rafael. E estou certa que algum deles acharia sua reabilitação um preço justo a
ser pago pelo livro. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>O brilho da ganância tomou a face da minha rival e pareceu
restabelece-la e confesso que naquele momento vi um vislumbre de beleza em seu
rosto. Debóhra tinha em seu âmago mais profundo o desejo de voltar a ser como
era e gozar de todas as regalias que sua beleza lhe trouxe um dia. Era
inesperado ver a irônica e desbocada Máira conduzir uma negociação quase
diplomática, mas ela se mostrou competente. Enquanto sua irmã se deliciava com aquela
perspectiva, ela insistiu: <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Se, é claro, você puder nos ajudar neste pequeno detalhe.
Pensei no seu jovem amigo. Você ainda o tem? <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- E quando foi que eu perdi algum admirador, irmã? - Debóhra
alisou a garganta ferida por cima do pano empapado - Venham comigo. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Acompanhamos seu passo desajeitado por um corredor que
parecia ir se tornando mais abafado a cada momento. Conforme avançávamos, o
fedor ficava mais intenso. Gesticulei para Máira, questionando se também estava
sentindo aquilo, e ela apenas disse para que eu esperasse. O corredor dava numa
área que parecia ainda estar em construção, um cômodo retangular e apertado. O
piso, as paredes e o teto eram cobertos da mesma mistura de cimento mal acabado.
Não havia nada ali, a não ser uma escada que descia em diagonal, morrendo no
sentido contrário ao corredor de onde viemos. Nossa anfitriã, que seguia em
silêncio, checou os bolsos à procura de algo e quando encontrou desceu a
escada. Máira a seguiu e eu preferi ir por último para descer com calma, já que
me sentia nauseada. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>E foi lá, quando pisei no último degrau, que descobri a
origem de toda a podridão que empestava o ar da casa. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Estávamos bem abaixo da sala onde eu havia feito o ataque à
Debóhra minutos antes. Amplo, o ambiente era o que tinha os melhores móveis da
casa: uma grande mesa, um armário, uma mesa de cabeceira e uma cama. Todos
aparentando bom estado e feitos da mesma madeira de qualidade. Não havia
janelas, no entanto, abajures e lâmpadas de mesa mantinham o ambiente bem
iluminado. Tudo era bem aconchegante e receptivo, exceto pela jaula. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Não seja rude, Hugo. De oi para as visitas. - disse
Debóhra, entre discretos pigarros. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Dentro da jaula, que era feita de barras de ferro e ia do
piso ao teto do quarto, havia um garoto. Adolescente, era provável que não
tivesse nem dezoito anos. Ele estava nu e acorrentado numa viga mais grossa que
se erguia do centro da jaula. Tinha cabelos escuros e lisos à altura dos
ombros, e por dentre eles eu vi um rosto bastante feminino. Somente as grossas
sobrancelhas, que me faziam lembrar de taturanas, me indicavam que era um
garoto. Isso e o que ele tinha exposto entre as pernas preso por um cruel cinto
de castidade, mas mesmo ele era muito pequeno e desproporcional à sua altura.
Hugo tinha marcas de urina na parte interna das coxas que irradiavam até o
chão, onde também era possível ver fezes antigas e novas forrando todo o
interior de seu cativeiro. Não havia vestígio de comida. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- O-oi…olá. - respondeu o garoto, e eu pensei ter ouvido
timidez na sua voz. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Tenho que dizer que aquilo me pegou desprevenida, não
esperava algo como um garoto preso numa jaula num lugar como aqueles. Máira não
estava sequer minimamente impactada com a visão, o que me levou a crer que ela
já estava ciente daquilo. Fiquei perplexa com aquele quadro e demorei para me
dar conta que elas já tinham sentado nas confortáveis poltronas que ficavam na
lateral da jaula e me juntei à elas. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Este é um dos meus admiradores. - Debóh dizia isso com
orgulho e júbilo - Hugo estava estudando para se ordenar. Ele ia ser um dos
Sacerdos, mas nos encontramos alguns meses antes da cerimônia e tudo mais, e o
que eu posso dizer…acho que o amor venceu, não é mesmo? <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>O garoto não respondeu. Apenas olhou para aquela figura
horrenda à sua frente e tentou levar um dos braços acorrentados à sua direção
sem lembrar das correntes que o impediam. Era quase inexplicável a admiração
naquele olhar, ele estava fingindo muito bem ou realmente parecia estar
apaixonado por Debóhra. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Conte para elas o que você era quando nos conhecemos. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Um estudante da Ordem dos Sacerdos da Catedral de São João
Batista. - ele respondeu, incapaz de tirar os olhos de sua dona. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Não, não querido…eu estou dizendo sobre suas experiências.
<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Ah, eu…eu era virgem. - e agora definitivamente havia
timidez na sua voz. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Muito bem! Isso mesmo, - Debóhra o parabenizava como uma
cachorro que aprendeu um truque novo - ele era virgem. Você acredita quanto
tempo eu consegui ficar sem precisar me alimentar depois que tirei a virgindade
do Hugo, irmã? Meses! <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Virgem, é? - Máira brincou - Achei que não se achava mais
desse tipo por aí. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Eu estava realmente desconfortável, por alguma coisa além do
odor pútrido. A notícia de que o garoto era virgem me incomodou ainda mais. Ele
era padre, virgem e, ao que tudo indicava, estava apaixonado. Assim como
Carlos, e ver qualquer coisa que tivesse o mínimo paralelo com ele naquele
estado não me deixava nenhum pouco à vontade. Mas acredito que, mesmo se não
tivesse encontrado nenhuma ligação entre os dois, ainda assim eu ficaria
terminantemente contra qualquer forma de amor impingida a outra pessoa.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Por que você mantêm ele assim? - perguntei, seca. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Do que você está falando? - Debóhra respondeu no mesmo
tom. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Estou falando de você literalmente precisar deixar um
homem acorrentado para que ele esteja com você. O que você ganha com isso? <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Eu quero. - quem respondeu foi o próprio Hugo. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Debóhra saboreava sua primeira vitória sobre mim. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Pode repetir, querido, acredito que a nossa sanguessuga
aqui não escutou direito. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Eu gosto…assim, quero dizer. - olhou para o interior da
sua jaula - Ela sugeriu e eu…eu gosto. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Máira me olhou de modo censor, e talvez ela estivesse certa.
Eu não deveria me meter e aquilo não era da minha conta, mas aquela situação
não me descia. Me recompus e voltei ao meu assento tentando não ser tão
atingida pela visão do garoto pisando em seus próprios excrementos por vontade.
<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Agora, eu tenho um pedido para te fazer, Hugo. A minha
amiga ali tem um livro que, eu acredito, você tenha familiaridade. Estamos em
dúvida da autenticidade dele. Você acha que pode nos ajudar? - a última
frase foi dita com toda libido que sua voz de língua presa poderia ter. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Agora mesmo! Vou fazer o possível, senhora. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Debóhra estendeu a mão para que eu lhe desse o livro, mas eu
a ignorei e o levei até a jaula de Hugo e esperei que ela abrisse a porta e
trouxesse seu escravo. Com uma referência irônica, ela me induziu a entrar. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Eu não vou entrar aí. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Tudo bem, - Debóhra bateu a porta com força - ele tem bons
olhos. Mostre o livro. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Máira se pôs ao meu lado empolgada enquanto eu desembrulhava
a publicação do pano que a protegia. Escolhi uma página aleatória e abri o
livro na altura dos olhos de Hugo. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Seu cativeiro era grande, ocupava boa parte do quarto, e por
isso tínhamos uma relativa distancia entre nós. Ele olhou fixo por um tempo, depois
baixou os olhos e voltou a se esforçar mais. Frustrado consigo mesmo, ele olhou
para Debóhra e disse: <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Desculpe, eu não consigo ler. Está muito longe. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Eu não vou entrar aí. - repeti. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Por que você não o traz aqui, irmã? Adoraria ve-lo mais de
perto. - Máira ainda tratava tudo com muita naturalidade. Sua irmã, que não
estava nenhum pouco feliz em sujar os pés, me fuzilou com os olhos antes de entrar
na jaula e trazê-lo para perto. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Passei o livro para as mãos dele e ele quase o deixou cair, por ser
pesado. Então pus as minhas mãos sob as dele, afim de dividir o peso, e ele me
olhou. Primeiro de relance, e tentou voltar ao livro, mas sem demora seus olhos
estavam em mim novamente. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Fixamente, como se fosse eu o objeto a ser examinado, ele me
olhava. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Debóhra, estava claramente incomodada com aquilo, e isso me
deixou feliz. Ela puxou um dos mamilos do garoto com tudo que podia e
perguntou: <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Ela acredita que esse seja... <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- O Livro dos Ofícios dos Espíritos. Sua publicação original
- ele disse com uma voz tão sofrida quanto certeira. “<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
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<br /></div>
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<br />
<br />
<div class="MsoNormal">
<i>“O corredor que encontrei ao sair do elevador ela longo,
estreito e tinha luzes opacas. Apesar da iluminação ruim não foi complicado
encontrar o apartamento 402, todas as outras portas, talvez por padrão do
prédio, eram brancas. A porta de Máira era negra. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Não precisei tocar a campainha ou bater na porta, ela se
abriu assim que parei de frente a ela. Máira sorria lá dentro, usava a mesma
camisola que eu vi na fotografia impressa no jornal mais cedo. Ela me puxou pra
dentro com entusiasmo, e estranhou quando eu firmei posição na soleira de sua
porta. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Posso entrar? - eu disse. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Nossa, vocês são insuportáveis com essa polidez toda. O
que acontece se eu disser que você não pode entrar? <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Vamos ter que conversar com a porta aberta então. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Eu poderia ser cruel e me divertir com isso, mas você tem
sorte, estou de bom humor hoje. - ela fez uma referência exagerada e afetada -
Você pode entrar sim, alteza, por favor não repare na bagunça. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>E sim, havia bagunça. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Talvez por estar vivendo com Lucas há tanto tempo eu tenha
me habituado a ambientes herméticos e organizados, sequer me lembro como será
meu grau de organização antes disso. Mas acredito que, mesmo na durante o tempo
que morei com Marie, que não era exatamente um primor de organização, nosso
apartamento estivesse nem perto daquilo. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Ao entrar, eu não sabia se aquilo era um quarto, uma sala ou
uma cozinha. Provavelmente era um misto dos três cômodos. O ambiente era amplo,
é verdade, mas parecia pequeno com tanto entulho e má distribuição de móveis.
Ela bateu a porta e percebeu meu espanto. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Eu disse para não reparar, vadia. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Eu li que nosso garçom de ontem se jogou da varanda. Estou
aqui tentando imaginar como ele passou por aquela mesa de centro pra chegar lá.
<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Rá rá rá, muito engraçadinha você. - ela disse se jogando
em um sofá que ficava no meio da passagem de um corredor que levava para o
interior do apartamento. - Mas não foi só para me e dar lições de decoração que
você veio pra cá, ne? <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Não. - caminhei até o sofá e sentei ao seu lado após tirar
algumas revistas que estavam empilhadas nele - Eu pensei na conversa que
tivemos ontem e notei que não sabia nada sobre o passado do Lucas. Quem ele era
antes de se transformar e o que ele fez até se tornar quem é hoje. Resolvi
tentar conseguir algumas informações sobre ele, mas não consegui nada. Aí
resolvi procurar lá em casa, na nossa biblioteca, alguma coisa que me ajudasse,
e encontrei isso. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Mostrei o livro a ela. Máira primeiro não reconheceu, mas
quando viu a cruz invertida na página de rosto, vi suas feições mudando da água
para o vinho. Suas mãos passaram pelas páginas com velocidade e espanto. Até
que ela me perguntou:<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Onde foi que você disse que conseguiu isso mesmo?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Na biblioteca lá de casa. Pelo estado do livro é bem
antigo. Eu acho que é um livro de estudo, mas não consegui entender nada do que
está escrito. Não sei se isso tem algo a ver com o Lucas exatamente, mas esse
livro me chamou a atenção em meio aos outros e eu resolvi traze-lo para te
mostrar. Você consegue ler alguma coisa?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Consigo. É enoquiano, a língua dos anjos. - ela ainda
passava as páginas, como se estivesse à procura de algo específico, e era
possível ver figuras das mais diversas intercaladas com grafismos
ininteligíveis impressas nas folhas amareladas.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Até que, subitamente, Máira parou. Ela aparentava
nervosismo.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Lembra que eu te contei, no dia que nos conhecemos, sobre
a minha mãe?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Lembro. Vagamente, na verdade. - respondi - Ela lutou e
caiu ao lado de Lúcifer, mas usa o rosto de um anjo que matou durante a guerra,
não é?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Isso. Um esqueleto em forma de serpente que, na cabeça usa
o rosto de um anjo como máscara. - ela levantou o livro e o pôs a alguns
centímetros do meu rosto. - Parece familiar para você?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Na página que ela me mostrava havia a ilustração de uma
pilha de corpos humanos, homens e mulheres com expressão de horror, rodeada por
uma coluna vertebral de onde saíam incontáveis costelas afiadas como espadas e
que tinha em seu fim um rosto de olhos frios. Lívido e belo, emoldurado por cabelos
encaracolados.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Essa é a minha mãe. E este - Máira fechou o livro e o
jogou no meu colo - é o Livro dos Ofícios. E o pior, estou quase certa de que
essa é a versão original.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Ok. E eu deveria saber o que isso quer dizer?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- O Livro dos Ofícios foi uma das primeiras armas que eles
receberam para usar contra nós. Os sacerdos, quero dizer. Ele já passou por
várias mãos ao longo do tempo, e é tão valioso que eles até fizeram algumas
poucas cópias para distribuir entre as sedes da Ordem, mas nunca conseguiram
reproduzir integralmente a versão original. E eu acho que é essa ai.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Esse livro não tem nada a ver com o Lucas então, né?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Não, tem a ver com todos nós. Isso estava na sua casa todo
esse tempo?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Acho que sim. Eu não tinha reparado nele antes, mas agora,
dedicada a pesquisar, ele chamou minha atenção. Mas eu não sei se entendi muito
bem. Sobre o que trata esse livro, exatamente?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Quando te falei da criação da Ordem dos Sacerdos, eu
expliquei que, no início, achávamos que eles não causariam mais problemas
porque eram destreinados e não muito equipados, lembra? Acontece que um deles,
não sei dizer o nome do infeliz, foi visitado por um anjo certo dia. E esse
anjo lhe deu esse mesmo livro. O Livro dos Ofícios, é uma enciclopédia onde
está listado todo e qualquer tipo de infernal, e também todos os rituais e
formas de destruição para cada um. Quem tiver esse livro, especialmente sua
versão completa, pode ter o conhecimento necessário para exterminar qualquer
demônio.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>O livro pareceu pesar sobre as minhas coxas.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- E por que você suspeita que esse seja o livro original?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Não são muitos mortais que conseguem reproduzir enoquiano,
mas eu conheci um ou dois que sabiam sim, então logo que vi o idioma já
levantei alguma suspeita. Mas tem a minha mãe nesse livro, como eu te mostrei.
Desde que caiu, ela nunca mais saiu do Inferno. Lúcifer gosta muito daquela
filha da puta e não permite que ela venha para este plano por ter um cargo alto
lá. Então, nenhum mortal poderia documentar com tantos detalhes assim a parte
dela. Vampiros, Incubus, Bernes…isso se vê por aí, mas esse livro tem coisas
como Bael e Vassago. Carolina, eu mesma nunca vi a porra da cara do Vassago. Só
um anjo pode ter escrito isso.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Entendi, então isso é importante. Muito importante. - eu
disse - Não pode cair na mão dos padres senão acabou para nós. Por que não o
queimamos aqui mesmo, então?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Sorrindo, Máira pegou o livro novamente e, com a mão que o
sustentava, formou chamas que o engoliram. Pude sentir a luz e o calor da
labareda, era tão intensa que mal era possível ver o livro dentro dela. Depois
de alguns segundos, Máira recolheu o fogo e eu me espantei em ver a publicação,
ainda intacta, entre os seus dedos.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- É impossível dar fim a essas merdas. Eles usam algum tipo
de reza que impede que possamos danificar seus equipamentos místicos. – quanto
mais ela pensava naquele livro, mais eu podia sentir seu desconforto crescendo
- Eu preciso de um drink.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Ela me entregou o livro, levantou e foi em direção à sua
cozinha apertada, que tinha sua entrada bloqueada por uma pilha de roupas
usadas. E, sentido o calor da edição intacta agora nas minhas mãos, eu tive um
estalo:<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Ele não queimou. Isso prova que ele é a primeira versão do
livro, não?<br />
- Na verdade não. A primeira versão não se destruiria com fogo, mas mesmo as
cópias que eles fizeram eram protegidas e benzidas. Eu não conseguiria destruir
nenhuma delas com esse truque.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Senti que minha amiga se esgueirava do livro o máximo que
podia, mas eu estava curiosa e queria saber mais. Pelo menos mais sobre a minha
raça.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Você disse que entende esse tal enoquiano, não é?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Sou fluente nele e em outras cinco línguas. Por quê? - ela
respondeu fechando a geladeira e voltando para o sofá com uma garrafa de
espumante. A mesma que tinham dos servido na Vogue. - Lúcifer era um anjo,
assim como os que caíram com ele depois da batalha. Tudo no inferno é escrito
em enoquiano e existem até alguns dos grandes figurões lá debaixo que fazem
questão de só se comunicar nessa língua. Eu acho horrível, mas tive que
aprender pra me virar.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>O fino e desgastado laço vermelho que servia como marcador
de páginas do livro estava, onde eu presumia por causa das figuras, ser o
início da sessão que tratava de nós, vampiros. Abri o livro nesta página e
mostrei para Máira.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Me ajuda a traduzir, então? Imagino que aqui esteja
escrito “Vampiros”, certo? - apontei para uma sequencia de grafismos desconexos
que serviam de título.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Sim. “Upyres”, na verdade, mas sim. São vocês. - ela
respirou fundo - Você quer mesmo fazer isso?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Quero sim. Já faz mais de cem anos que eu estou nessa vida
e ainda não sei porque eu preciso pedir permissão pra entrar na casa dos outros
toda vez, por exemplo. Quero saber a extensão dos meus poderes, e saber meus
pontos fracos também.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Ontem eu estava aqui fodendo um cara gostoso até ele
querer se matar e hoje vou passar a noite lendo com você. Quando foi que a
minha vida começou a ir ladeira abaixo, ein?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Máira, então começou a transcrever o significado daqueles
segredos para mim. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Foi por causa desse livro e dela que eu aprendi tudo que sei
sobre nós, vampiros. Não eram muitas páginas, seis ou sete contando
ilustrações. Aprendi o motivo pelo qual nosso corpo rejeita tudo que não seja
sangue, que a minha aversão a alho tem sim justificativa. Descobri que poderia
me comunicar com certos animais da noite e ouvi sobre A Primeira. Ouvi e senti
orgulho de estar relacionada com ela de alguma maneira. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>E descobri nossas fraquezas. A primeira coisa que Lucas me
disse foi sobre a luz do Sol, com isso eu já estava familiarizada, entretanto
havia muito mais perigos do que eu imaginava. Água-benta, crucifixos e outros
artefatos religiosos podiam nos machucar, mas não chegavam a nos
exorcizar ou exterminar. Exceto estacas de madeira benzidas, essas, se fossem
estocadas contra meu peito, poderiam causar graves ferimentos e morte.
Descobri, também, que deveria evitar fogo a qualquer custo, meu corpo não se
recuperaria de ferimentos causados por ele porque aparentemente o calor das
chamas era algo purificador. Provar o sangue de uma vítima com o que o livro
chamou de “Morte Rubra” seria outra de minhas fraquezas, eu e Máira discutimos
um pouco sobre esse tópico, pois o livro não especificava o que seria essa
anomalia, e inferimos que isso seria alguma doença que contaminasse o sangue da
minha presa e que seria passada para mim ao morde-la. Por fim a prata, e isso
explica porque eu tive que me desfazer de todos os meus anéis, brincos e
cordões de prata depois da transformação. Não era alergia, como eu suspeitei,
mas somos intolerantes a este material por algum motivo que o Livro dos Ofícios
também deixava vago. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Essa vocês compartilham com os Weriuuolf. - Ela disse
quando fechou o livro e quando viu minha expressão de interrogação, completou -
Nome técnico dos Lobisomens, eles também são vulneráveis à prata. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Ah, sim... <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Eu fui pega de surpresa. Com o tempo acho que peguei
confiança na facilidade com que tinha para me satisfazer. Nunca pensei que
precisaria tomar cuidado com tantas variáveis, mas a verdade é que foram mais
de cem anos tendo sorte ao escolher minhas vítimas. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Muito bem, e o que vamos fazer agora? - Máira me tirou de
meus devaneios perguntando. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Não estou com muito apetite, mas te acompanho se você
quiser ir a algum lugar. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Você não entendeu. O que vamos fazer agora quanto a isso?
- apontou para o livro que agora estava ao meu lado no sofá. - É valioso
demais, e imagino que todos os virgenzinhos estejam atrás dele. Você tem algum plano
pra ele? <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Eu não tinha. Ainda não tinha assimilado bem a importância
de ter a versão original do Livro dos Ofícios dos Espíritos em minha posse.
Sim, esse era o nome completo do livro, que eu só vim a saber mais tarde
naquele dia. Minha ideia era voltar com ele pra casa e bota-lo, discretamente,
entre os outros livros da mudança. Mas ao me ouvir dizer isso, Máira quase
cuspiu o espumante que bebia direto da garrafa. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Além de suicida você também é idiota?! Eu vou desenhar
para você: ISSO NÃO PODE CAIR EM MÃOS ERRADAS. Ou mãos certas se você preferir.
É muito arriscado, Carolina! Tenho muito amor à minha existência para deixar
você ser irresponsável desse jeito. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Se você não me deixa leva-lo de volta pra casa e ele é
indestrutível, o que fazemos então? - Eu disse, me contagiando com seu
nervosismo. Máira, sentava e levantava nas cadeiras mal posicionadas que se
espalhavam pela sala. Batia os pés no chão quando estava sentada e estalava os
dedos quando estava andando. Olhava do livro para mim e passava repetidamente
as mãos pelos cabelos que, dessa vez ainda mantinham a franja, mas estavam na
altura do seu quadril e num uniforme castanho escuro. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Até que parou. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Contrariada, ela sentou na mesma mesa de centro que eu havia
notado quando cheguei e com uma careta de desgosto disse: <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Eu já sei o que vamos fazer. Não vai ser agradável, mas
acho que precisamos estar certas de que essa é a primeira publicação do livro
antes de qualquer coisa. Eu suspeito que seja, e tudo leva a crer que eu tenha
razão, mas não tenho gabarito o bastante para dar certeza absoluta. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- E quem poderia? <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Um sacerdo poderia. Pelo menos pra identificar
instrumentos bentos eles servem. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Tá bom. - comentei, irônica. - E é claro que eles
ajudariam a gente de bom grado. Máira, a gente nem pode entrar numa igreja.
Agora você é que está parecendo maluca. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Mas quem disse que eles teriam opção? Acontece que uma das
minhas irmãs, - ela respirou fundo agora - e provavelmente a mais insuportável,
pedante e arrogante delas, pode nos ajudar com isso. Anteontem você me
apresentou a sua “irmã” oriental, acho que hoje é a minha vez de retribuir. Eu
vou trocar essa camisola e botar alguma coisa que pelo menos finja que eu sou
uma mulher de respeito. – pegou as chaves na pia da cozinha e jogou pra mim –
Mas você dirige, eu estou sem saco hoje.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Descemos e o porteiro disse para não nos preocuparmos que
tudo ficaria bem, quando passamos por ele a caminho da garagem. Provavelmente
ele se referia ao suposto suicídio acontecido mais cedo, mas foi bom ouvir
palavras de alguém que não estava pensando que tinha uma arma em potencial na
bolsa. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>O caminho foi longo, e mais uma vez eu gostei de estar atrás
do volante. Quando dirigia, eu podia esvaziar a minha cabeça e finalmente
relaxar um pouco. Faz tempo que eu não durmo, e por isso eu posso estar com a
memória um pouco comprometida, mas dirigir aquele carro foi para mim como
dormir uma boa noite de sono depois de um dia exaustivo. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Então, qual é o seu problema com ela? Sua irmã. -
perguntei afim de fazer Máira falar algo, mas sem realmente me importar. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Vocês, vampiros, tem uma tendência natural a se fechar em
grupos e por isso talvez você não entenda muito. Mas isso não costuma funcionar
com a maioria dos demônios. Eu não me dou bem com as minhas irmãs. Com nenhuma
delas, mantemos a distância e passamos séculos sem ter contato nenhum. Pega a
próxima esquerda. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- E já que vocês são distantes e não se dão bem, por que sua
irmã nos ajudaria a descobrir a autenticidade do livro? <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Porque ela me deve uma. Depois daquele sinal pega a saída
para a Serra. Sim, vamos sair do Rio. Só espero que ela ainda esteja morando lá
- ela disse essa última frase para si mesma. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Pensei ter ouvido você dizer que ela era arrogante e
insuportável. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Sim, ela era. Algumas décadas atrás, ela era a mais
atraente de todas nós. Minha mãe nos fez com ligeiras diferenças, mas parecia
que ela tinha caprichado na Debóhra,. Ela era mais inteligente, mais bonita e
mais poderosa que todas nós. Sério ela era insuportável. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Mas vocês não podem moldar a forma que usam para se
mostrar para os humanos? - enquanto eu falava um gato preto de olhos brilhantes
cruzou a estrada com um rompante - Por exemplo, você sempre muda os cabelos,
por que não poderia mudar suas formas e ficar mais parecida com ela então, se
isso incomodava tanto? <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Se você abrir o livro no capítulo que trata sobre eu e
minhas irmãs, vai ver que chamamos de segunda pele essa maquiagem que usamos
para transitar livremente nesse plano. Acontece que a segunda pele não toma a
forma que eu quiser assim, arbitrariamente. Comprimento dos cabelos, cor dos
olhos, formato das unhas eu consigo variar, mas a segunda pele se molda ao meu
corpo como ele é. Ela tem meus exatos volumes, fora os chifres e o rabo, claro.
Debóhra era gostosa e atraente por ser gostosa e atraente, ponto. Nenhuma de
nós conseguia chegar lá e isso causava muitas discussões e conflitos. As vezes
eu suspeito que Triskelle a fez assim de propósito, aquela cobra adora ver o
circo pegando fogo. E a Debóhra era uma filha da puta também, ela sabia disso e
sabia que incomodava a gente, ainda assim esfregava na nossa cara. - e com uma
voz afetada ela fez uma caricatura da irmã - ‘Ai, eu nunca fui exorcizada. Não
preciso fugir ou me preocupar em limpar minhas pistas porque nunca suspeitam de
mim. Deve ser muito chato ter que se preocupar com tudo isso.' <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- E imagino que você tenha saído no tapa com ela algumas
vezes. - falei ainda rindo da sua imitação. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Muitas, mas aí é que está, a vadia ainda era forte como um
touro. Eu saía por baixo todas as vezes e em qualquer aspecto. Eu e qualquer
uma que tentasse. Bom, foi assim até que ela se descuidou. - um sorriso sádico
em seus lábios - E toda a arrogância foi por água abaixo. Acontece que algumas
das minhas outras irmãs, com raiva das atitudes babacas dela por séculos, prepararam
uma armadilha que ela caiu como uma criancinha ingênua. Você sabe que nós nos
alimentamos dos desejos impuros dos homens, certo? <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Algo que é bem mais fácil de conseguir do que sangue. -
pontuei. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Talvez. Mas para Debóhra essa facilidade não deu bons
resultados. Outra de minhas irmãs tinha um plano, ela tentou e torturou tanto
um mortal que o levou a loucura. Nessa condição, ele não respondia mais por si
e fazia tudo que ela queria. Isso não é algo incomum isso acontecer, eu mesma
tenho vários escravos que visito pra me alimentar quando quero. Os homens ficam
parecendo nossos cachorrinhos e fazem tudo o que pedimos sem o mínimo
questionamento. Ela poderia ter pedido a ele um olho, um braço ou qualquer
outra coisa que ele daria, só que ela pediu que ele servisse de isca. Eu não
participei desse plano, estava no plano inferior na época. Mas de lá pude ver
as minhas irmãs arquitetando tudo. As instruções do mortal eram bem simples,
começavam dizendo que ele deveria estar no mesmo bar que Debóhra estaria
naquela noite. Ela não suspeitou de nada e, cheia de si, não demorou para
atacar aquele alvo fácil. Em pouco tempo estava no carro dele, no
estacionamento, se alimentando dele. O mortal tinha mais uma instrução: quando
ela mostrasse a sua verdadeira forma, ele deveria tirar a tesoura que tinha
escondida dos bolsos e cortar a própria pele, o máximo de vezes que
conseguisse. São breves segundos que ficamos realmente vulneráveis a um golpe
desses, você viu quando aconteceu comigo lá naquele hotel. É rápido, mas
ficamos sem defesa durante o processo de transformação. Obediente, o escravo
fez o que lhe foi ordenado. - Máira simulou o movimento de cortes com as mãos -
E quando Debóhra estava enfraquecida demais para qualquer reação, ele esfregou
em seu pescoço todo o sangue que conseguiu antes que a hemorragia lhe tirasse a
consciência. Entenda, seu vir sangue, meus olhos passam a arder e lacrimejar, o
cheiro me deixa com náuseas e dor de cabeça…mas é o contato direto com a pele o
pior. Eu nunca passei por isso, mas sei de relatos bem pesados, principalmente
em embate com os padres que usam o próprio sangue contra nós. Em nossa pele,
ele arde e corrói como ácido, nossa carne ferve e até os ossos podem se
desfazer em alguns poucos segundos de contato. Ela foi encontrada por algum outro
demônio, acho que um jinn ou um kappa que estava fugindo enquanto era
perseguido por sacerdos. Ferido, ele não conseguiu fazer muita coisa para
ajuda-la e acabou emboscado pelos padres. Os dois foram exorcizados e Triskelle
mandou que eu recebesse Debóhra nos portões. Eu não gostava mais dela do que
minhas irmãs que montaram a armadilha, só que era menos insuportável cruzar
meio Inferno para levar minha irmã ferida pra casa do que contrariar a minha
mãe. Ela não é conhecida por ter muita misericórdia. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Ela estava viva? - não desviei os olhos da estrada um só
momento enquanto ela contava a história, mas estava totalmente absorta nela. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Estava, eu disse que a puta era forte. Quando a encontrei,
ela estava desacordada, mas antes de atravessarmos o Aqueronte já tinha
acordado. Vaidosa, me perguntou como ela estava e eu disse a verdade. Ela
estava horrível. Deformada no rosto que antes fora bonito de um jeito que os
olhos estavam fundos demais e as bochechas e o maxilar muito inchadas e
protuberantes. O acabelo crescia em tufos secos e esporádicos e os lábios
estavam com bolhas purulentas. Mas o pior era o seu pescoço, ou melhor o que
havia sido o seu pescoço. Foi lá que o enviado das minhas irmãs tinha
concentrado o sangue no ataque e desde os ombros até a base do queixo tudo ali
era um amontoado de tendões defeituosos, cartilagens corroídas e ossos. Mais de
uma vez eu pensei que o peso da sua cabeça iria partir a espinha e tornar tudo
ainda pior, mas isso não aconteceu. Quando chegamos no castelo de Triskelle,
ela ordenou que eu deixasse Debóhra em sua cripta e saísse. Eu nunca me senti à
vontade no castelo da minha mãe e essa era a deixa que eu precisava pra sair de
lá. Continuei minha busca por portais para voltar para cá e eventualmente achei
um. Triskelle conseguiu permissão para criar uma classe de demônios para
ela depois da guerra, mas somos um número específico, ela não poderia destruir
e criar assim, segundo sua vontade. Lembro de ela ter pedido para Abaddon
permissão para criar mais de nós um tempo atrás e ele vetou. Ah, desculpa,
Abaddon é... <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Outro nome pra Lúcifer, - respondi - entendi pelo
contexto. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Isso, você está pegando o jeito. Então, não acho que ela
tenha feito o que fez para trazer Debóhra de volta por ser boazinha ou mesmo
por ter alguma empatia por ela, mas não é vantajoso para Triskelle que ela
perca suas servas assim. Pega a direita aqui, vamos passar pelos portões de
Friburgo, e depois já não falta muito. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Você encontrou com essa Debóhra depois de tudo isso? -
perguntei enquanto seguia suas orientações. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Encontrei, alguns meses atrás, na verdade. Não a
reconheci, foi ela quem veio falar comigo. Sua segunda pele agora se molda em
cima do seu corpo defeituoso, o que torna muito difícil para ela ter algum
sucesso com as investidas para se alimentar. Mas ela foi esperta, sua aparência
pode ter sido comprometida, mas não a cabeça, sabe qual é a única coisa que nos
sacia mais que a consumir os desejos luxuosos de um mortal? <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- O que? <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Consumir os desejos de um padre. São muito mais nutritivos
e nos permitem ficar satisfeitas por muito mais tempo. Debóhra me contou que
mantêm um sacerdo como seu escravo sexual no porão de casa. E é assim que tem
se mantido ultimamente. Você consegue imaginar? Ela corrompeu um padre! <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- É…acho que consigo imaginar sim. - eu ri enquanto deixava
que a ficha caísse para ela. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Você é insuportável, Carolina. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Não é culpa minha se os rapazes não conseguem dizer não.
Mas falando sério agora, o quão estragada ela ficou depois daquilo? <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Você vai ter a oportunidade de perguntar a ela
pessoalmente. Encosta aqui, nós chegamos."<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
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<br /></div>
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<br>
<br>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">“A noite foi bastante
interessante. Fiquei até quase fecharem o bar e a música parar, só quando Máira
resolveu chamar o garçom Lucas para sentar a nossa mesa que percebi que era
hora de ir embora. Bia havia saído horas antes com o homem bonito depois de passar
algum tempo em sua mesa, então entendi que eu poderia atrapalhar a jogada da
minha amiga se continuasse ali, e além disso, passava das três e eu queria
mesmo evitar a correria da madrugada anterior na volta para casa. Resolvi
aproveitar a madrugada gelada e ir andando, apesar da relativa distância e,
durante o caminho, pude digerir as coisas que Máira havia me dito. O que
poderia ser aquele plano que Lucas estava pensando? E quem seria seu
companheiro nessa história toda? Eu já estava morando com ele há muito tempo,
devia saber se houvesse mais alguém tão próximo assim. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Do jardim, pude ver
que a luz de nossa sala estava acesa, sinal de que Lucas não tinha saído, ou
que Beatriz tinha voltado antes de mim. Independente de quem fosse, a
curiosidade me atiçava e seria bom ter alguém pra prolongar o papo que comecei
na Vogue. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ao subir as escadas
para a sala, o encontrei encaixotando e encapando os artigos de decoração da
nossa sala. Lucas estava de bom humor, muito diferente de como o tinha visto na
madrugada anterior, ainda bem. Usava um pijama de seda preto, que indicava a
sua intenção de ficar em casa o resto da noite.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Carolina, que
surpresa! - checou o relógio e disse irônico - Chegou cedo hoje. A noite não
estava boa?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Acho que estou um
pouco cansada de ontem ainda.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Justo. Cheguei a
pensar que você tinha fugido de mim. - brincou - De qualquer jeito, é ótimo que
você esteja aqui, eu tenho novidades. Pode dar adeus à essa espelunca. Nós
vamos sair daqui. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Não é que eu morresse
de amores pelo nosso casarão no Catete, mas fui pega de surpresa, não achei que
ele encontraria um lugar tão rapidamente. Lucas era exigente e criterioso
demais e ainda mais no Rio de Janeiro nos anos 50, não imaginei que algo
chamasse sua atenção tão cedo.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Beatriz também ficou
surpresa quando eu contei.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Ah, então ela já
chegou? - perguntei tirando o casaco e me sentando na poltrona.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Ela chegou mais ou
menos uma hora atrás. Disse que você a incentivou a caçar a primeira presa
sozinha hoje. Apesar de ter chegado com a gola do vestido ainda suja de sangue,
ela está seguindo os seus passos. Com certeza vai ficar bem, mas imagino que
esteja cansada por decorrência do esforço. É até bom que ela já tenha subido,
assim podermos conversar à sós.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Você tem certeza que
quer conversar sobre a mudança às três e meia da manhã?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Não, Carolina. -
Lucas deu um doce riso debochado - Veja, não existe discussão acerca
da mudança. Eu já determinei quando e para onde ela vai acontecer. O que vamos
conversar agora é outro assunto, temo que mais urgente ainda.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Conforme ele se
aproximava de mim, o robe de seda em seu torso abria com o seu caminhar e eu
percebi rapidamente que conversar não era mais o que eu queria fazer. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Quero falar sobre
como pode ser perigoso para você sair pra se divertir com outros, digamos...
segmentos o plano inferior.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Você está me
espionando? - eu disse, mordendo os lábios.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Como você pode dizer
isso? - se mantendo sério e focado - Passei a noite inteira atrás de um novo
lar para nós. Você sabe como é difícil fazer corretores imobiliários
trabalharem a noite? Como poderia espionar você se cruzei três cidades dedicado
a encontrar o melhor lugar para vivermos? Eu só quero dizer para você o mesmo
que contei à Beatriz: eu não acho que seja prudente para a segurança de nossa
família que vocês espalhem nosso segredo tanto assim.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ele sentou na mesa
baixa que ficava de frente para a poltrona, bem próximo a mim. Próximo o
bastante para que eu sentisse seu perfume e que ele fizesse todo o meu corpo
formigasse de vontade. Quando pensei em agarrar robe e fazer força para
tirá-lo, Lucas, como se previsse minhas intenções, levantou da mesa e pôs dois
candelabros dourados numa caixa. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Você está com medo
de mim? – perguntei lasciva. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Medo? Não, minha
doce Carolina. Não se trata de medo, mas de cautela. Se você e Beatriz nos
pusessem em risco, eu seria obrigado a agir. E eu odiaria agir neste caso.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Isso é uma ameaça? -
a distância ajudava a clarear os pensamentos e perceber as entrelinhas onde
Lucas escondia suas intenções.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Um conselho. Um que
eu acredito que você seja inteligente o bastante para seguir. - ele se selou a
caixa e fechou os botões de seu pijama - Fico feliz em ver que você e Beatriz
estejam se dando tão bem. Não gozo do mesmo tratamento, acho que ela ainda não
superou aquilo tudo de eu ter matado seus irmãos, mas nada que o tempo não
cure, certo? Peço que passe o nosso combinado à ela também. Agora vamos nos
recolher, acredito que você tenha muitas coisas para empacotar, vamos nos mudar
em dois dias, afinal.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Me pegando pela
cintura, ele me deu um beijo. Lucas não era aquele tipo que é só charme e
nenhuma ação. Ele sabia o que fazer e quando fazer. O beijo foi demorado e me
deixou sem ar, mas parecia que respirar não era importante. Quando acabou, eu
estava ofegante e ele me deu uma mordida leve exatamente no mesmo lugar onde
havia me tomado tanto tempo atrás. Sussurrou para mim ainda antes de ir: <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- À propósito,
acredito que você vá gostar na nossa nova casa. Fica na Urca. Agora você vai
precisar de menos tempo para chegar na sua querida boate.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ainda extasiada, Lucas
já devia estar no meio do corredor quando compreendi suas palavras. Ele tinha
sim nos seguido, ou mandado alguém nos seguir já que de fato estava
procurando nossa nova casa. Talvez seu bom humor e segurança viesse de daí,
agora ele sabia onde estávamos, com quem estávamos e o que estávamos
fazendo lá. De súbito, um sentimento de que eu era só uma marionete me
acometeu, e se ele estivesse me manipulando esse tempo todo? O que Máira havia
me dito sobre aquela história misteriosa de Lucas ainda ecoava na minha cabeça
e me fez lembrar de como ele estava furioso no dia que cheguei tarde em
casa e indiretamente frustrei o que ele havia planejado.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">O que era só
curiosidade passava a tomar contornos de algo mais sério.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Não tenho a
necessidade de dormir, mas acredito que mesmo que tivesse, não dormiria naquela
noite. Meus pensamentos voavam a mil por hora, eu criava e destruía estratégias
repetidamente afim de encontrar a melhor solução para entender o que Lucas
estava fazendo por baixo dos panos. Todas as minhas tentativas pareciam conter
alguma falha fatal e eu percebi, quando o sol já se mostrava no céu, que
precisaria saber mais sobre ele antes que soubesse alguma coisa sobre suas
ideias. Eu não sabia nada sobre o seu passado, o que havia feito para chegar
até ali, mesmo depois de tanto tempo de convívio íntimo. Entretanto, não
poderia me precipitar, qualquer ansiedade poderia ser fatal, Lucas já estava me
ameaçando veladamente e agora não custaria muito para que suas ameaças se
vertessem em ações. No escuro do meu caixão, a única luz que eu encontrei foi a
do conhecimento. Eu estudaria sobre ele, se Lucas era mesmo tão infame quanto
Máira dissera, procurando nos lugares certos eu poderia encontrar informações.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">A noite seguinte se
mostrou mais quente, mas trouxe consigo uma chuva feroz e barulhenta. Levantei
por volta das 19h e comecei a separar meus pertences para a mudança. Depois que
organizei a maior parte do meu armário e dos meus pertences, passei pelo quarto
de Beatriz para perguntar como havia sido a noite anterior, mas ela parecia
estar em seu caixão ainda. Então, segui até o final do corredor, afim de buscar
na nossa biblioteca algum livro que pudesse pelo menos me dar alguma pista de
por onde começar minha pesquisa sobre Lucas. Meu objetivo, entretanto, foi
impedido pela presença do próprio em frente à nossa estante se perguntando que
livro escolheria agora. A estante que tínhamos era enorme e cobria um lado
inteiro da parede de nossa sala, com cinco andares de livros entre raros,
velhos, conservados e novos. Ele notou a minha presença sem precisar me ver.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Só agora foi que eu
terminei as aventuras de Sherlock Holmes, uma pena não ter lido a tempo de
contar para o velho Arthur o que eu achei. Lembra de quando nós passamos uma
semana na casa dele em Sussex?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Lembro. Eu terminei
os livros a tempo, enviei uma carta para ele agradecendo sobre “O Vampiro de
Sussex”, e ele respondeu dizendo que tinha certeza que pegaríamos a referência.
Acho que ainda tenho a carta dele em algum lugar, se você quiser ler.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Não, vamos deixar o
doutor descansar em paz. Pronto - disse ele se erguendo na ponta dos pés para
alcançar um livro no quarto andar da prateleira - Vou ler um pouco desse tal
Lovecraft agora, estão falando muito dele lá na América pelo que eu soube. E
então, tudo pronto para a mudança?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Lucas disse isso se
virando para mim. Apesar do clima ainda não ter voltado ao normal no Rio de
Janeiro ele estava sem camisa, e quando virou, pude ve-la nitidamente. Seu
tronco sem camisa sempre me atraiu, não tenho pudor em falar isso, mas depois
do impacto inicial era sempre aquela cicatriz que saltava aos meus olhos. Nós,
vampiros, não temos marcas de ferimento, nosso poder de regeneração é forte o
suficiente para cicatrizar em tempo acelerado quaisquer machucados abertos que
possamos ter. Aquela cicatriz no peito esquerdo dele, no entanto, me intrigava.
Era profunda, como se tivessem tentado enfiar alguma coisa ali e a pele ao
redor era marcada por queloides repuxadas que formavam um pequeno sol
defeituoso irradiando de seu peito. Percebendo o foco do meu olhar, ele disse
lascivo:<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Quer tocar nela?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Eu queria. Poderia
dizer que minha entrega ao desejo naquele dia foi uma estratégia para
conseguir alguma informação, mas estaria mentindo. Desabotoei um pouco
minha blusa, deixando à mostra o que interessava e fui em sua direção. Enquanto
ele beijava meu pescoço eu me focava na cicatriz com a mão que estava livre.
Quando pressionei, parecia haver um buraco ali, como e os ossos de sua costela
também refletissem o buraco que não cicatrizou bem na pele. Quase instantânea
ao meu toque foi a sua reação de dor, a cicatriz ainda lhe machucava.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Quando terminamos,
estávamos sofá que ficava em frente à nossa biblioteca. Sentada em seu colo, eu
brincava com os cabelos do seu peito enquanto ele estava entretido com um livro
chamado “Nas Montanhas da Loucura”. Meus dedos encontraram a marca em forma de
sol e perguntei, com a casualidade de quem oferece um café, qual era a origem
dela. Ele respirou fundo e fechou o livro antes de responder:<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Isso já foi há muito
tempo. Essa cicatriz é um dos motivos de termos nos conhecido. Fui imprudente
numa atividade que fiz e quase fui emboscado, os padres me cercaram…três ou
quatro, não lembro ao certo. Dei cabo da maioria deles, mas um me pegou de
surpresa com uma daquelas estacas. Consegui feri-lo bastante com um golpe quase
ao mesmo tempo e fugi para a França.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"> - O que me deixa
curiosa é o fato dela ainda estar aí depois de tanto tempo. Quer dizer - com as
minhas unhas fiz três rasgos em seu ombro que em questão de segundos se
fecharam - por que ela não reagiram assim?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Visivelmente
desconfortável, ele empurrou o meu quadril para que eu
levantasse. Depois guardou seu o livro de novo na prateleira alta e
se apoiou na lareira que nunca precisamos ligar.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Este ferimento foi
causado por uma arma sagrada, por isso sua cura foi tão complicada. Viajei num
navio para a Europa no compartimento de cargas me alimentando de ratos e pequenos
animais dos tripulantes. Achei que aquela seria minha última viagem.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Mas por que se
aventurar na Europa mesmo estando tão ferido?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Eu precisava tratar
a ferida e soube que Buer estava pelos campos da Irlanda naquela época. Só ele
poderia fazer isso.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Quem é Buer? -
perguntei um pouco ansiosa.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">E acho que o momento
tinha acabado porque Lucas só ajeitou o cabelo e sorriu de lado dizendo que era
uma informação com a qual eu não precisava me preocupar. Ele perguntou se toda
a nossa atividade não havia me deixado com sede e após a minha negativa, ele
lamentou ir caçar sozinho e foi se arrumar em seu quarto.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Eu menti, tudo o que
fizemos me deixou, sim, com sede. Isso era algo recorrente comigo, sexo e
sangue vinham sempre juntos. Aproveitei que Lucas tinha saído para examinar com
cuidado os livros da nossa biblioteca, os mais antigos primeiro. Achei sim
algumas coisas que tangenciavam o ocultismo, muito de William Blake e até mesmo
um compilado de textos apócrifos, mas nada disso me ajudava. Eu insisti, correndo
os dedos pela estante, encontrei um livro com a lombada arrancada e a capa
descascando. Parecia ter sido encadernado com couro, mas agora ele estava
endurecido e queimado. Ao abri-lo vi uma cruz invertida mostrava que talvez
aquilo fosse promissor, só que as páginas seguintes falaram comigo numa língua
que eu não compreendia, minha primeira impressão era que fosse russo, ou talvez
grego. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Devolvi o livro sem
nome para a prateleira no seu devido lugar, para que não houvesse suspeitas, e
comecei da outra extremidade, a botar nossos livros em caixas. Beatriz apareceu
algum tempo depois e, depois de me contar o que tinha feito com seu parceiro da
noite anterior, me ajudou com a tarefa. Nesse meio tempo Lucas saiu de seu
quarto usando um belo terno azul marinho com um guarda-chuva nas mãos e
perguntou mais uma vez se não estávamos com vontade de acompanha-lo. Assim que
ele partiu, disse à Beatriz que precisava pegar algo no meu quarto e escondi o
livro da cruz invertida sobre a blusa. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Chegando no meu quarto,
passei novamente as páginas amareladas e endurecidas na intenção de que pelo
menos as figuras fizessem algum sentido. Consegui identificar criaturas de
diferentes formas representadas em desenhos sem perspectiva ou proporção, o que
me fez pensar naquelas pinturas sacras medievais que a gente vê em alguns
museus, mesmo antes de transformada sempre odiei aquelas coisas. Não consegui
extrair nada de seu conteúdo textual, mas uma análise mais cuidadosa das
imagens me fez inferir que aquele era um livro de estudos. Era possível
perceber esquemas gráficos ilustrados por partes de corpos decepadas de seu
todo, como se precisassem ser evidenciadas por algum motivo. Uma das sessões
mostrava o desenho de um corpo de vampiro e todos os seus pontos vulneráveis ao
lado de uma ilustração ampliada de nossa arcada. Percebi que não conseguiria
tirar muito mais daquele livro sozinha, guardei-o na minha bolsa e desci antes
que Bia pensasse alguma coisa. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Enquanto terminava de
separar os outros livros (Beatriz já tinha feito dois lances da estante),
tentei pensar em uma maneira de entrar em contato com Máira para ver se ela
podia me ajudar com a descoberta. Não tinha seu endereço exato, então nem uma
carta eu poderia enviar. E já estava começando a sentir a garganta seca queimar.
<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Falta só uma
prateleira. Você acha que consegue terminar sem mim, Bia? Vou subir e me
arrumar para caçar um pouco. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Ah, claro. Nossa,
você ainda está com animo para sair hoje? Eu ainda estou acabada de ontem. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Eu sei como é. - eu
disse nostálgica - É a primeira vez que seu corpo recebe sangue estranho e por
isso demora a processa-lo, daí o seu cansaço. Acontece com todo mundo, na minha
primeira vez eu abusei, peguei uma mulher que tinha três vezes o meu tamanho e
deixei ela sem nenhuma gota no corpo. Hibernei por dias. Mas você vai se
adaptando, daqui há alguns meses nem vai mais sentir. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Tomara, mas hoje vou
deixar você sem companhia mesmo. Eu termino aqui, mas já que você vai subir se
incomoda de levar meus bonsais pro meu quarto? Vou bota-los numa caixinha
especial. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Bia tinha aprendido
com os avós a cultivar bonsais e botou três deles em cima da nossa mesa de
centro, acho que era pra dar harmonia na casa ou algo assim. Eu até achava os
bonsais bonitos e concordava que era legal ter um pouco de vida na casa. Fui
até os vasinhos de onde brotavam as pequenas árvores. Ao lado deles, estava o
jornal que seria entregue às bancas na próxima manhã. Minha surpresa não foi o
jornal em si, Lucas continuava com o hábito que trouxe da Europa conosco, mas
sua manchete. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">“SUICÍDIO OCORRIDO NA
MANHÃ DE ONTEM CHOCA MORADORES DE PRÉDIO DO LEME” - diziam as letras garrafais.
Mais abaixo ainda podia se ler em uma tipografia mais modesta - “Garçom de
tradicional boate da Zona Sul se atirou do quarto andar do edifício nas
primeiras horas desta manhã sem motivo aparente. Entrevistamos a moradora do
apartamento. Mais nas páginas 06 e 07. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">E na foto que
ilustrava a matéria estava Máira numa camisola de renda bastante justa e
decotada trazendo uma expressão de preocupação e transtorno no rosto. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Aposto que o jornal
vai vender bastante amanhã. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Nas páginas indicadas
na chamada encontravam-se mais detalhes do caso, entre eles o endereço do
apartamento. Eu estava pensando em retornar ao puteiro onde conheci Máira ou
até a Confeitaria Colombo naquela noite, mas aquela reportagem me ajudou
bastante em saber onde ir. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Alguma coisa
interessante no jornal? - Bia tinha acabado de guardar os livros e agora me
olhava interessada. Eu tinha esquecido que ela estava na sala. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Vão fechar a rua da
praia para uma passeata no fim de semana de novo, acredita? Odeio quando eles
fazem isso, muito tumulto. - minha mentira soou convincente pois havia
acontecido algo semelhante no mês anterior - Bom, melhor eu tomar um banho e
trocar essa roupa. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Peguei os bonsais e o
jornal. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Vou deixa-los no seu
quarto. Até mais tarde, Bia. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Na banheira, eu ainda
passei as páginas do livro com o crucifixo invertido uma última vez afim se
poderia levar alguma coisa para Máira. Nada. Me vesti e peguei um taxi para o
Leme. Lembro do taxista ter dito algumas gracinhas, o que me irritou. Mas
precisava dele até que chegássemos no endereço mostrado no jornal. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Depois, no entanto,
não precisava mais. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Existe uma realização
pessoal um tanto quanto cruel no momento em que você percebe ser capaz de secar
uma presa até quase os ossos sem desperdiçar uma só gota. Minha blusa branca e
minha saia pretas saíram imaculados do taxi que eu havia pedido para parar num
beco, logo atrás do prédio de Máira. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Era um prédio novo
para época, com seis andares e uma arquitetura moderna bem chamativa. As
varandas eram largas e, especificamente a do quarto andar mostrava luzes acesas
no interior do apartamento. Ela estava em casa. Subi o lance curto de escadas
que levava ate a portaria, que às 22h, ainda mantinha seus portões abertos. O
porteiro acordou com um sobressalto quando eu chamei seu nome e se benzeu por
reflexo. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Meu Deus! Dona a
senhora me assustou. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Não sou senhora
ainda. - disse friamente - E acredito que Deus tenha um pouco mais de barba que
eu. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">O homem percebeu que
eu tinha ficado incomodada e seguiu tentando ser profissional. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Perdão, senhorita.
Como posso ajuda-la? <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Vim visitar minha
amiga. O nome dela é Máira e ela mora no quatrocentos e d…. - deixei a frase no
meio por ter medo de ter cometido uma gafe grave. O jornal dizia o endereço,
mas mantinha Máira como testemunha anônima. Talvez ela tivesse dado outro nome
ao se instar ali e... <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Quatrocentos e dois.
Uma tragédia o que aconteceu, você sabe que eu vi o corpo caindo com tudo aqui
na calçada? Tem cada pessoa maluca hoje em dia…bom vou interfonar para ela
aqui. Qual é o nome da senhora? <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Carolina. Carolina
LeBion. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ele discou um número e
apertou um botão vermelho no aparelho que ficava em sua mesa. A voz de Máira
soou do outro lado. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Oi, dona Máira. Tem
uma senhorita Carolina aqui, posso mandar subir? <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Carolina… Carolina…
- ela parecia estar pensando. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- LeBion - eu o
lembrei apenas com os lábios e sem nenhuma voz. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Isso, Carolina LeBion.
<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Aaaah, é uma ruiva? <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Isso mesmo. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Não, odeio essazinha
aí. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ele e eu nos olhamos
surpresos. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Brincadeira, pode
subir sim. - ela riu como se estivesse ali vendo nossa expressão. - Mas você
deveria ter cuidado com essa aí, Jonas. Ela morde. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ele sorriu e fez sinal
para eu subir sem saber que, daquela vez, Máira tinha dito a verdade.” <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
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<br>
<br>
<i>“O cedro do interior
do meu caixão é escuro, mas o escuro sempre me foi confortável. A luz me
incomodou ao abrir a porta do caixão e levantar, mas minha perna já não
mancava. Abri as cortinas pesadas do quarto e as gotículas na janela me
contaram que havia chovido. Fazia uma rara noite fria no Rio de Janeiro e eu
preparei um banho quente para que a começasse relaxada.</i><br />
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<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Imersa em espuma, tive
tempo para refletir sobre o que quase havia acontecido na madrugada anterior,
em como Lucas tratara Beatriz e eu. Notei que, inconscientemente, eu achava
estar ligada a ele eterna e exclusivamente e que era isso que ele me fazia
acreditar. Entretanto, agora eu passava a enxergar as coisas de outro modo, meu
encontro com Máira foi muito elucidante. Ela parecia estar se virando muito bem
sozinha, e há muito mais tempo que eu.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Decidi que não mais
suportaria as imposições sem sentido e idiossincrasias de Lucas. É verdade que
seu conhecimento e experiência com casos da Ordem poderia ser algo decisivo vez
ou outra, mas pondo tudo na balança, achei que não valia à pena. Pela primeira
vez eu pensei em abandonar o meu clã e acho que o teria feito naquele exato
momento se estivesse sozinha. Mas havia Beatriz, e eu me preocupava com ela.
Apesar de já ter mostrado fibra algumas vezes nos poucos momentos que tivemos
juntas, eu ainda temia pelo seu futuro e não a deixaria sozinha com Lucas de
maneira alguma.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Eu conversaria com
Máira essa noite sobre isso, ela já estava neste plano há muito tempo e talvez
tivesse conhecido alguém da minha raça que se desgarrou de seu clã
também. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Perdida em meus
pensamentos, não o quanto havia demorado no banho até perceber os espelhos e
vidros do banheiro nublados, assim como meus pensamentos. Depois de me secar,
fui até o quarto e passei algum tempo também escolhendo o que vestir. Sempre
gostei de me vestir para o frio, me lembrava os tempos de Paris, escolhi um
casaco de manga longa que ia até os meus joelhos, posto por cima de um vestido
vermelho justo, meia-calça e um par de botas de couro. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Ao abrir a porta da
sala, encontrei Beatriz encarando em silêncio a cadeira sobre a qual tínhamos
dedicado nossos esforços na madrugada anterior para apagar qualquer vestígio de
massa cinzenta ou ossos que ali restassem. Sentei ao seu lado no sofá maior e
ficamos assim por alguns minutos. Como quem acordasse de um transe, ela disse:<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Ele saiu. Assim que
o sol se pôs, falou que ia procurar outra casa para nós em algum canto mais
reservado da cidade ou talvez algo no interior. Comentou que tem uma cidade
imperial no alto da Serra e disse que talvez fosse até lá. - ainda contemplando
a cadeira de madeira escura e estofado vermelho ela seguiu - Eu acho cafona.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- É, Lucas tem o gosto
um tanto quanto antiquado mesmo. Acho que é reminiscência da época que foi
transformado. Você passa a acostumar depois de um tempo. - dei de ombros.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Posso te fazer uma
pergunta?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Sim, eu sou ruiva
natural. - brinquei.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Não, piadista. É
sobre ele. Eu…eu realmente fiquei assustada ontem à noite. E fiquei me
perguntando a madrugada toda em meu caixão, como era possível vocês dois terem
se conhecido. Você e ele, não é preciso muito tempo para perceber, são
incompatíveis.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Ah, Bia…isso já foi
há muito tempo. Lucas me transformou quando eu estava em Paris uma vida atrás,
me levou para o seu apartamento lá e me deu os passos básicos que eu devia
seguir à partir daquele momento. Eu não tinha mais ninguém - disse num suspiro
- e me sentia muito perdida, principalmente no início. Acho que não senti o
tempo passar e acabei ficando por aqui. Como eu disse, acho que você passa a
acostumar depois de um tempo.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- E sobre aquilo que
você disse ontem, de haverem outras. Tem mais alguém morando aqui?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Não, mas já houve
mais uma companheira conosco. Viveu algumas décadas conosco na França, mas
acabou sofrendo um acidente fatal.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Mas você conhece
outros de nós então, certo? Quer dizer, existem outros a quem possamos recorrer
caso as coisas fujam do controle…como fugiram ontem?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Sim e não. - percebi
que eu já estava na posição de dar conselhos sobre a vida de vampiro - Existem
outros de nós sim, tive contato com um clã grande liderado por uma mulher assim
que chegamos ao Rio de Janeiro e enquanto morávamos na Europa, conheci alguns
outros. Mais velhos ou mais novos, nossa raça tende a se unir em grupos para
proteção mútua, e nesses grupos todos seguem ao líder. Por isso não, não
existem ninguém a quem possamos recorrer sobre questões internas da nossa
família. Lucas é o líder do clã e, infelizmente, devemos segui-lo enquanto
fizermos parte disso. Mas não se preocupe, eu já estou pensando numa solução
para isso. Agora vamos, vá se arrumar que Máira logo passará aqui.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Beatriz voltou três
quartos de hora depois, usava um vestido branco de cortes orientais e detalhes
dourados. Seus olhos estavam maquiados e seu cabelo preso num coque justo
firmado por duas agulhas longas. Ela já trazia consigo a palidez característica
de nós e isso só realçava o negro profundo dos seus olhos e cabelo.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Máira chegou antes do
retorno de Lucas e eu agradeci porque odiaria vê-lo naquela noite. Ela buzinou,
mas já estávamos ao pé da escada mesmo antes dela parar o carro. Dessa vez, um
conversível esporte alongado e chamativo. Combinava com ela. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Ei, ruivinha! Será
que você e sua amiga gueixa não querem dar uma volta no meu conversível hoje? -
me chamou com uma piscadela<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Abri a porta do carona
enquanto Beatriz se sentava no banco detrás. Máira usava uma blusa de mangas
longas e gola alta que vestia muito bem no seu corpo. Na cabeça usava um lenço
envolvendo seus cabelos e preso na base do seu pescoço, algo que estava em moda
na época. Depois que eu me sentei ao seu lado, ela virou todo o corpo para mim,
sorriu e desamarrou o lenço.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Seu cabelo estava
drasticamente diferente da noite anterior. Volume, cor, tamanho, tudo. Agora
sua raiz começava tão escura quanto o cabelo de Beatriz e, nas pontas, passava
a ter um bonito tom aloirado. Uma franja reta se apresentava sobre os olhos
também, e depois de soltas, duas tranças pendiam sobre os seus ombros.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- E aí, gostou?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Como você fez isso?
- puxei uma das tranças para me certificar que não era uma peruca muito bem
produzida - Seu cabelo estava na altura do queixo há menos de dez horas atrás.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Uma das vantagens de
poder usar uma casca pra esconder a minha forma verdadeira é que eu posso
molda-la como eu quiser. - disse convencida - Sempre que eu canso de um cabelo,
da cor dos olhos ou algo assim, posso trocar somo se fosse uma roupa no meu
armário. Fora que é ótimo para não levantar suspeitas, vocês deviam tentar
qualquer dia desses. E você, Flor do Oriente, o que achou?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- É, ficou legal, eu
acho.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Desculpa, não
apresentei vocês. Máira, essa é Beatriz, minha irmã de clã. Bia, essa é Máira.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Máira olhou para
Beatriz e depois para mim, voltou-se para frente e deu a partida no carro.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- É melhor vocês
pensarem em outra desculpa, ninguém vai acreditar nesse papinho de irmãs. Agora
vamos, vou levar vocês para um lugar que aposto que vocês não conhecem.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Ela estava meio certa.
Eu realmente nunca tinha estado na Vogue, apesar de ter ido algumas vezes com
Máira lá depois daquele dia, mas Bia já tinha ido algumas vezes lá com um
ex-namorado. Contrastava muito com o ambiente de segunda que Máira costumava ir
para arrumar suas vítimas. A Vogue atraía a alta sociedade carioca na época e
foi frequentada por muitos nomes importantes entre os anos 40 e 50. Logo que
chegamos, havia um senhor de smoking tocando com talento um pianoforte na
antessala enquanto uma cantora estava ao microfone com um francês impecável. Uma
pista de dança com piso diferente e alguns casais colados um ao outro separava
o bar no fundo do salão das mesas que se seguiam arrumadas em quatro fileiras.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Máira foi na frente,
abrindo caminho entre os engravatados e as mulheres em vestidos brilhantes até
que decidiu uma mesa para ficarmos. No final do salão, estávamos perto dos
primeiros casais da noite que se aventuravam a dançar juntos alguma música
romântica que tocava. Eu tinha acabado de sentar e colocar meu casaco nas
costas da cadeira quando um garçom veio nos atender:<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Boa noite,
senhoritas. Gostaria de dar-lhes boas vindas à Vogue e me apresentar. Meu nome
é Lucas e eu vou atender a sua mesa essa noite. As senhoritas já estão prontas
para pedir? Eu recomendaria o espumante, recebemos umas garrafas dos Estados
Unidos no início do mês e...<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Então Lucas, será
que você consegue trazer uma garrafa desse espumante americano especial num
baldinho com algum gelo para nós? - Máira falava sussurrando e debruçada na
mesa evidenciando seus atributos.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Bom, nós temos por
política aqui na Vogue servir apenas taças ou copos das bebidas no bar…mas
acredito que talvez, se eu falar com o meu gerente, quem sabe? - o homem
tentava com todas as forças manter a polidez.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Ah, - Máira tinha
levantado e ajeitava a gravata borboleta do garçom enquanto falava - tenho
certeza que você consegue dar um jeitinho.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Sim, sim. Claro, eu
vou falar com ele sim. A garrava e três copos, certo?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Não - apontou para
nós duas sem tirar os olhos do garçom - essas duas aqui estão grávidas,
acredita? Uma taça só, você vai ser vir só a mim hoje, Lucas. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Depois que se sentou,
virou com um sorriso de orelha a orelha para nós, orgulhosa de si e disse:<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- E assim, meninas, é
como se ganha uma garrafa de espumante.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Grávidas? Sério,
parecemos grávidas pra você? – perguntei fingindo indignação.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- É melhor eu ficar
calada, porque a verdade pode doer, Carolina. Nossa amizade ainda é nova e eu
não gostaria que ela fosse abalada com coisas pesadas. - depois de fazer piada,
ela olhou para Beatriz que fuzilava o garçom com os olhos - Caramba, você não
gostou mesmo do garoto, hein? O que foi, você é daquelas orientais puristas que
“não se mistura”?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Não, não é nada
disso. É que ele me lembra alguém que eu não gosto. - Bia respondeu, e eu já
começava a ver um caráter reservado nela.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- É o líder do nosso
clã, tem o mesmo nome do garçom. Lucas. E eu e Beatriz tivemos uma leve
discussão com ele ontem depois que eu cheguei em casa.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>A alegria foi sugada
do rosto de Máira como se fosse um líquido escoando por um ralo. Seu sorriso
sumiu, seus olhos ficaram preocupados e sua pele chegou a ficar quase tão
pálida quanto a nossa. Quando voltou a falar, estava tão séria que eu mal
reconheci o tom da sua voz.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Lucas? Lucas Malta é
o líder do clã de vocês?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Nossa, que chute!
Como você soube? Lucas é um nome tão comum… - Beatriz transformou em palavras a
minha dúvida.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- O nome pode ser, mas
o dono dele não é. Lucas Malta é perigoso. Bastante perigoso. Já ouvi de
grandões lá embaixo de que ele é proibido até mesmo de entrar em alguns dos
círculos do Inferno por estragos que fez por lá. Da última vez que soube dele,
tinha sido ferido por um dos coroinhas e fugido pra Europa. Achei que estava
morto.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Então você conhece
Lucas? Que mundo pequeno.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Não, Carolina. O
nosso mundo é grande pra cacete, mas tem algumas figuras que todos pelo menos
já ouviram falar. É meio caso de segurança ter esse tipo de conhecimento. -
suspirou um pouco - Não, eu não o conheço, apesar de já ter estado no mesmo
recinto que ele em duas ou três ocasiões durante os séculos. Evitei contato
todas elas. Qual de vocês duas é mais velha?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Ficamos sem saber o
que dizer, nunca tínhamos perguntado as idades que tínhamos no ato da
transformação uma para outra. Máira, impaciente seguiu.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Quem ganhou as
presas primeiro?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Eu. - respondi<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Ok, e além de vocês
duas, tem mais gente no clã?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- A Carolina disse que
tinha mais uma menina, mas ela acabou sofrendo um acidente.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Não, não foi
acidente Carolina. E você sabe disso.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Fui pega de surpresa,
e me senti até um pouco envergonhada por ter atenuado esse fato antes, mas a
minha intenção era só deixar Beatriz mais tranquila quando disse aquilo.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Do que você está
falando? - Beatriz indagou.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- É verdade, Bia. Eu
não fui totalmente sincera antes, desculpe. Essa companheira que morava
conosco, Manoela, causou uma leve confusão lá em Paris acabou nos expondo. -
lembrar de tudo aquilo me incomodava profundamente - Viemos para o Brasil para
tirar a Ordem do nosso encalço. Mas antes disso Lucas a assassinou.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Beatriz recuou em sua
cadeira até sua nuca tocar o encosto adornado e chique. Havia um misto de
insegurança com desconfiança em seu olhar, mas eu não via medo ali. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Como? Como ele a
assassinou?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Bia...<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Carolina, nós
estamos passando perigo morando com esse homem. Isso não está certo. Temos que
nos precaver!<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Ele quebrou o
pescoço dela. - disse em voz baixa. - A fez acreditar que estava tudo bem, que
a tinha perdoado e sem cerimônia virou seu rosto para a parede.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Foi Lucas, o garçom,
quem quebrou o silêncio trazendo a garrafa de Charles Heidsieck 38 na num balde
prateado e uma única taça. Esbocei um sorriso quando reconheci o rótulo e
lembrei de quando tinha conhecido o próprio Charles anos atrás e que em sua loucura
em me agradar, ele quase batizara sua nova produção de espumantes como
“LeBion”. Sorte que o convenci do contrário, ia ser incômodo explicar essa
coincidência agora. Nosso garçom, satisfeito consigo mesmo, comentou:<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Senhoritas,
desculpem a demora mas estava tentando convencer nosso gerente a conceder essa
cortesia a vocês. Espero que seja um rótulo do seu agrado. - virou a garrafa
para Máira.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Sim, sim. Pode
servir, amigo. - ela disse com certa impaciência.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Lucas serviu o
espumante e se retirou. Bebendo de um gole, Máira ponderou:<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Eu concordo com ela,
Carolina. Abandonem esse clã o quanto antes. Vocês foram espertos saindo de
Paris, parece que a Ordem ainda deve estar procurando vocês por lá, mas até
quando?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- De novo essa
“Ordem”. O que é isso? - Beatriz indagou.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Existem grupos em
cada cidade do mundo, financiados e armados pelo Vaticano para caçar e
exorcizar qualquer infernal que esteja aqui neste plano. - expliquei de forma
sucinta. Máira, entretanto, tinha mais a dizer.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Tem sido travada uma
disputa entre o plano superior e o Inferno pelas almas dos mortais desde o
início dos tempos. Acontece que Yahweh deu para os seus preferidinhos o dom do
livre-arbítrio, o que significa que eles fazem suas próprias escolhas. Samael
foi traiçoeiro e rasgou pontos específicos onde o tecido que divide este plano
e o plano inferior era mais frágil, criando portais e deixando assim que alguns
demônios passassem de lá para cá.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Samael? - Beatriz
tinha a curiosidade dos inteligentes.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Eu nunca sei por
qual nome as pessoas o conhecem. Diabo, Lúcifer, O Adversário… você escolhe.
Com as passagens abertas, depois de algum tempo, alguns infernais passaram a
ser criados aqui mesmo, vocês duas são um exemplo. Demorou um tempo até que o
pessoal lá de cima percebesse que a nossa presença aqui desequilibrava bastante
as coisas, digamos que os mortais tendem a gostar muito mais do nosso jeito de
ver o mundo do que do dele. Foi então que resolveu criar uma categoria nova de
primogênitos chamada Favrashi, nossa amiga Catharina é um deles, Carolina.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Esses tais Favrashi
tentariam fazer com que o máximo de mortais tivesse atitudes boas, altruístas e
nobres para que fossem salvos no fim de suas vidas, certo?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Errado, parece que
mesmo em desvantagem Yahweh preza muito pelo dom da escolha que deu aos
humanos. Ele selecionou alguns mortais por todo o mundo, não sei dizer quais
foram os critérios de escolha, mas diria que foram “os mais puros” ou “os mais
dignos” blá, blá, blá aquele tipo de coisa chata. A missão dos anjos enviados a
este plano era proteger e orientar cada um destes mortais escolhidos que
aceitasse atender ao chamado. A esse grupo, foi dado o nome de “Sacerdos” e
eles não demoraram para seguir em sua missão. Quando nós, do plano inferior,
soubemos disso até achamos graça pensando que eles não passariam de falastrões,
pregadores de praça, e que ninguém iria dar ouvidos à eles. Mas o plano era
outro, Yahweh não ia proteger as almas de seus preciosos mortais mostrando-lhes
o caminho a seguir com palavras de conforto ou algo assim, seus agentes
escolhidos não buscariam convencer ninguém das maravilhas do plano superior, a
missão deles era caçar cada demônio que encontrasse e fechar o máximo de
portais que encontrassem, afim de evitar que mais de nós viéssemos para cá e
livrando os mortais que aqui estão de nossas “tentações”. Os Favrashi ensinaram
as primeiras gerações, que no começo ainda não eram páreo para a maioria de nós
mas foram melhorando e aprendendo mais a cada retorno. A “Ordem dos Sacerdos” é
o nome que esses grupos têm.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Apesar de já conhecer
a história, era bom ouvir Máira falando, ela tinha a visão de quem realmente
vivera aquilo tudo e me ajudava a esclarecer algumas dúvidas que apareciam.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Você já foi
emboscada por eles alguma vez? - interrompi o monólogo de Máira<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Já me pegaram
quatro vezes, e está cada mais difícil sair do Inferno com o tempo, é por isso
que Lucas deve ser tão paranoico com discrição. É melhor deixar que eles não
nos vejam. - enquanto ela mesma se servia de uma segunda taça, Beatriz sofria
para assimilar toda aquela nova informação.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Então, basicamente
existem grupos de malucos religiosos aí fora nos caçando e nós estamos aqui,
bebendo e dançando como se fosse algo super seguro e normal?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Calma, Bia. Não é
tão perigoso assim. - eu a acalmei - E o melhor jeito de não chamar atenção é
se misturando. Tive uma ideia, você ainda não conseguiu uma presa sozinha desde
que eu te transformei. O que você achou do rapaz tímido sentado sozinho na
última mesa da esquerda? Acho que ele gostou de você.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Apesar de ela estar de
costas para ele, eu tinha uma visão melhor. Pude ver o homem de corte e postura
militar que tomava cerveja e não tirava os olhos de Beatriz desde que chegou.
Ao menciona-lo, ela se virou e deu um leve aceno para ele. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Confesso que seria
bom descansar um pouco a cabeça disso tudo, e esse seu espumante me deu sede. -
ela disse<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Então, senta lá com
ele ou o convide pra dançar. Você não vai ter muitos problemas pelo que eu
estou vendo daqui.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Ela o fez. Era bom ver
Beatriz animada, odiava pensar no estado de nervos que ela poderia ficar se não
tirasse o foco do nosso problema. Ficamos só Máira e eu na mesa e ela mais uma
vez enchia sua taça.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Quero te perguntar
uma coisa. Quando você disse que transformou a Beatriz, foi literal? Você
realmente fez isso?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Sim, fiz. Na
verdade, Bia foi a primeira pessoa que eu mordi e transformei. Lucas a trouxe
para casa como um exercício para mim, mas consegui fazer na primeira vez.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- É, talvez a garota
esteja certa em fugir mesmo. - ela baixou o tom de voz, sabendo de nossa
audição aguçada. - Você já conheceu algum Ghoul?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Acredito que não.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Imaginei, não é bem
o tipo de demônio que frequenta os mesmo ambientes que vocês. Bom, Ghouls são
um tipo de infernal que costuma viver em cemitérios comendo carne em
decomposição. Não são muito poderosos, o máximo de perigo que levam aos mortais
são as histórias de barulhos ou aparições em cemitérios que você acaba
escutando por aí. A própria Ordem não liga muito para eles por não considera-los
muito prioritários. Acontece que, na terceira vez que os soldadinhos de Deus me
mandaram de volta pro Inferno, junto comigo estava um Ghoul. Você nunca foi
exorcizada, e espero que nunca seja, mas é um longo caminho até os portões do
Inferno e é bom ter alguém para conversar enquanto não chega. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Era estranho ver Máira
tão séria assim.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Enfim, esse cara,
Ptyr era o nome dele, me contou que tinham armado para ele. Enquanto
caminhávamos pelo deserto vermelho que leva até o porto onde o Barqueiro nos
pega, parou algumas vezes para detalhar o que dizia ter acontecido a ele. O
pobre Ptyr não tinha muita sorte, estava no lugar errado na hora errada, mas
conseguiu ouvir algo importante. Segundo ele, o vampiro conhecido como Lucas
Malta estaria arquitetando um plano com um aliado grande para não só se tornar
muito mais poderoso, mas também para transformar este a Terra numa extensão de
seus domínios onde somente ele, e aqueles transformados por ele comandaram. Não
conheço Lucas, mas ele parece ser bastante narcisista, até mesmo para os meus
padrões. Mesmo outros vampiros, aqueles que ele não tivesse posto suas nobres
presas seriam escravizados se o plano dele desse certo.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Que plano era esse?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Ptyr não tinha
detalhes, perceberam que ele estava ouvindo e logo trataram de joga-lo na sede
da Ordem mais próxima para que fosse exorcizado. Mas me disse que teve tempo de
ver o parceiro de Lucas nesse plano. Segundo ele, parecia ser um anjo.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Ela olhou para
Beatriz.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Isso já tem algumas
décadas. Talvez o plano tenha dado errado, ou ele tenha desistido. Mas a
verdade é que Lucas Malta tem a fama de não respeitar nem mesmo os vampiros que
ele transforma. Beatriz está certa em querer se afastar dele o quanto antes.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- O que aconteceu com
o Ghoul?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Chegamos na outra
ponta do Rio da Morte e minha mãe estava esperando, assim como Mormo, o Senhor
dos Ghouls. Nos despedimos e eu nunca mais o vi.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Tudo bem, mas ele
deve ter dado essa informação para mais alguém. Será que ainda podemos
encontra-lo? Ou encontrar alguém para quem ele tenha contado isso com mais
detalhes?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Acho difícil
acharmos ele outra vez, e quase impossível algum outro demônio ter tido a
paciência de aguentar ele contando essa história. Eu mesma só tive porque
tínhamos um caminho grande a seguir, mas cada vez que ele parava para contar
algo eu ficava puta.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Ele precisava parar
para falar?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>Máira olhou para mim
com malícia enquanto enchia sua sexta taça com o espumante que nosso garçom
havia trazido.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i>- Eu não disse que ele
falava, Carolina. Ptyr me contou toda história rascunhando coisas na terra.
Haviam arrancado a sua língua.”<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<!--EndFragment-->Doughttp://www.blogger.com/profile/10921754351760150046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3896754087151831820.post-80478594730086150992016-04-28T12:21:00.001-07:002016-04-28T12:21:16.280-07:00Ver038<iframe width="420" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/qeMFqkcPYcg" frameborder="0" allowfullscreen></iframe>
<br>
<br>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Foi em uma noite na qual eu tinha saído com Vinicius para
atender um chamado solicitado para conter um Demballa que havia sido invocado
num ritual feito por jovens médiuns de umbanda na zona oeste da cidade. Cheguei
ao nosso esconderijo na Lapa que hoje me serve de apartamento e Carol já estava
me esperando.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Como sempre, meu impulso era pular em cima dela assim que a
vi. Vez ou outra, eu a tomava pela cintura e trazia pra mim sem ao menos
lembrar de tirar a batina, o que causava alguns ferimentos à ela e me deixava
envergonhado depois. Mas em geral, Carol não se importava. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Naquela noite, eu estava esperando exatamente isso, chegar e
trair os juramentos da minha ordem em todos os cômodos da casa com ela, mas ela
tinha este diário nas mãos. Já comentei que a leitura era complicada em alguns
momentos, mas ela insistiu que eu o lesse todo e confesso que agora eu já estava
tão entretido e curioso para saber mais do seu passado, que sentir as páginas
acabando nos meus dedos me deixou um pouco frustrado. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Passava das três da manhã, e eu sabia que logo Carol
precisaria voltar para casa, mesmo assim segui a leitura: <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Se eu não soubesse
que sonhar era impossível para nós, acreditaria que os pensamentos nos quais eu
mergulhava naquele momento eram devaneios de uma vida toda. A dor física estava
num segundo plano, mas eu conseguia senti-la aumentando. Meus pulmões estavam
sendo tocados pelo fogo que me consumia de dentro para fora e respirar se
tornava cada vez mais complicado e doloroso. A mão invisível que se fechava em
meu estômago não dava trégua e até mesmo meus olhos cerrados por trás das
pálpebras doíam.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Mas eu já não estava
mais lá. Eu estava em Paris, passeando pelos Jardins de Luxemburgo na primavera
de mãos dadas com Carlos, ou sentada na beira do Sena com garradas de vinho
enterradas na neve do inverno enquanto testava a validade dos seus votos numa
noite estrelada. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Eu estava com ele e o
mal estar físico não me incomodava.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Eu não sei quanto
tempo fiquei nesse estado de envenenamento, mas me pareceu muito pouco. Máira
chegou trazendo uma mulher baixinha gorducha de meia idade e me contou que
precisou puxar meus cabelos para que eu despertasse, pois seus chamados eram em
vão.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Carolina? Carolina,
você está me entendendo? Está acordada? - eu assenti com a cabeça ainda meio
grogue - Ótimo. Então, foi o que eu consegui encontrar. Está tarde pra caralho
e não tem muitas opções de mortais na rua. Essa mulher aqui estava saindo de um
taxi quando eu a parei antes de entrar em casa. Tive que desmaia-la para
agilizar o processo.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Meu olhar foi da a
mulher rosada sentada na cadeira à minha frente para a expressão despreocupada
de Máira de pé logo atrás dela. O segundo plano era a prataria da Colombo
exposta numa grande estante de vidro atrás do balcão, atravessada pela fria luz
da lua. Contemplei a cena por alguns momentos, até que percebi as bordas do
quadro escurecendo. A cena aos meus olhos ia ficando cada vez menor, a
escuridão ia tomando conta de tudo até eu ouvir um grito e sentir algo quente e
pulsante em meus lábios.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Pouco a pouco, eu fui
recobrando os sentidos. Minha cabeça funcionava melhor e passei a ter consciência
de estar bebendo do pulso da mulher trazida por Máira. Meus olhos se abriram
sem dor e vi que a toalha que cobria a mesa, bem como o meu vestido estavam
sujos de vermelho. Notei também uma faca de serra sobre a mesa, suja com o
mesmo sangue que eu bebia.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">A ausência de Máira
foi a terceira coisa a ser notada.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Lembrei que o sol já
estava muito próximo de nascer e que Beatriz deveria estar com a garganta seca
em casa me esperando. Só tomei da minha presa o que precisava para recobrar
minimamente minhas faculdades físicas. Quando percebi que já podia ficar de pé,
rasquei um pedaço da toalha que cobria a mesa e fiz um torniquete
improvisado no pulso exposto da senhora que jazia desfalecida na cadeira. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Eu precisava ir
embora, já não havia mais muito tempo e eu não estava certa de que conseguiria
usar a minha velocidade total para chegar em casa à tempo. Precisava encontrar
Máira. Meu relógio já se aproximava das cinco da manhã, e toda a confeitaria
agora já estava muito mais dourada do que quando eu tinha chegado. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Mesmo ainda estando
muito longe da plenitude das minhas capacidades psíquicas e com um bate-estaca
dentro da cabeça não foi difícil sentir a presença de Máira. Ela nunca foi
discreta. Apesar de perto, ela estava muito fraca e quando notei isso tentei
acelerar pelo corredor de mesas até a escada em espiral. Quase fui ao chão
depois de alguns passos, não fosse o balcão. Achei que seria mais inteligente
se eu fosse um passo de cada vez até ela. Me parecia que ela estava no
segundo andar do estabelecimento, que eu ainda não havia conhecido. Chamei seu
nome algumas vezes, desconfiada dos meus sentidos mas mão tive resposta. Eu não
estive muito tempo desacordada, mas temia que algo estivesse acontecido neste
ínterim. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">O segundo andar da
Confeitaria Colombo não difere muito do primeiro em dimensão, mas tem em seu
centro um buraco no chão das mesmas medidas da claraboia que fica bem acima
dele. Um grande número de mesas está posta ao redor do buraco e, nas paredes,
grandes espelhos equidistantes me faziam ter a ideia de que o lugar era muito
maior do que a realidade. Em um destes espelhos Máira estava refletida, também
desacordada.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Me aproximei
preocupada e puxei para trás os cabelos que cobriam seu rosto. No espelho atrás
dela, parecia que os fios de cabelo levantavam sozinhos por ação de alguma
força fantasmagórica. Ainda olhando o reflexo, vi a pele dela nos pontos em que
minha mão se aproximava de seu rosto, passava a ter contornos de um amarelo purulento
e doentio.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">As preocupações
aumentaram, a urgência também. Olhei ao redor, procurando alguém que poderia
ter causado isso a ela, mas não havia ninguém exceto a mulher que eu havia
deixado lá embaixo. Através do buraco no piso, eu podia vê-la. O pedaço de
toalha atado ao seu pulso já estava totalmente escarlate. E só então eu
entendi.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Não fui eu quem abriu
o pulso daquela mulher, eu sequer estava consciente quando elas chegaram. A
faca na mesa agora fazia sentido, foi ela. Máira sabia que eu não conseguiria
fazer aquilo e apesar de toda a sua aversão a sangue só se afastou quando teve
certeza de que eu estava me desintoxicando. Havia um bar neste segundo andar, e
eu usei a pia dele para lavar o rosto, as mãos e o vestido. O sangue ainda
estava fresco, não tive muito trabalho. Molhei uma toalha e também passei no
rosto dela e nos cabelos. Os hematomas amarelados foram sumindo gradativamente,
e seus lábios começaram a recobrar a cor mas ela ainda não respondia aos meus
chamados.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">De volta ao bar,
peguei um a dose do único conhaque que havia lá, ajoelhei ao seu lado e a fiz
beber. Pareceu dar resultado, ela recobrou a consciência pelo menos.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Máira, você está
bem?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Não. Nenhum
pouco. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sua voz soava distante
e pastosa, levantei com o coração pulsando na boca. Não havia mais sangue nela,
eu havia limpado tudo. Será que havia em mim? Busquei o espelho como primeiro
instinto, mas ele não ajudou. Entendendo a minha preocupação, ela disse:<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Não, não é você. É o
cheiro, aquela gorda está aberta e eu ainda posso sentir o cheiro enjoativo
dela. Me tira daqui, preciso de ar puro.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Máira não tinha
condições de ficar sobre os próprios pés, e eu não estava em minha melhor
forma. Tive que sustentar seu peso, bem maior que o meu, sobre meus joelhos e
coluna, isso nos fez demorar mais do que deveríamos para sair da confeitaria.
Conforme nos aproximávamos da mulher ia ficando mais difícil. Caímos duas vezes
no caminho até sair, numa delas Máira tombou sobre minha perna direita com tudo
e me deixou mancando. Mas eu sempre tive boa tolerância à dor, talvez por causa
do ballet, e não reclamei.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Quando finalmente
conseguimos sair, sentamos sobre um banco de madeira ao lado da porta da
confeitaria. À essa hora, já existiam poucos transeuntes pelas ruas do Centro.
Máira inspirou forte e profundo algumas vezes e isso já foi suficiente para que
ela recobrasse a cor morena e saudável que tinha. Depois de algum tempo ela
sorriu, tão forte e contagiante que eu me juntei ao seu riso.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Que noite! Você é
perigosa, hein? Se eu fosse esperta, nunca sairia com você outra vez.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- É, os garotos
costumam falar isso. - brinquei ignorando a dor que ainda permanecia em meus
maxilares.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Convencida. Olha,
sei que você não tem muito tempo, então acho melhor você ir se adiantando com a
miss bacon lá dentro. - ela tirou do decote novamente a chave do carro de
Rogério - E também acho que isso aqui pode ajudar você chegar em casa à tempo.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Claro que não, eu
posso ir correndo! E você precisa muito mais do carro do que eu.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Não precisa se fazer
de forte, Carolina. Eu vi que deixei você mancando. - ela pôs a chave no meu decote,
só que não ficou escondida como no ela. Pela minha blusa ser justa e meus seios
menores, parecia que eu tinha um terceiro peito deformado ou algo assim - Pegue
o carro, ponha a nossa amiga nele e vai pra casa. São quase seis horas, você
precisa ir.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Por que você não me
deixa lá e depois vai pra casa?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Tá brincando? Você
tem uma entrega de uns 200kg e sangrando lá pra levar pra casa. Não, não.
Prefiro deixar vocês à sós. Eu me viro. Sabe, apesar das suas tendências
suicidas você até que não é insuportável, e a eternidade não vale nada se você
não puder se divertir um pouco. – ponderou - Acho que vai ser muito mais fácil
eu arrumar alguma coisa com mortais se eu tiver essa sua bunda do meu lado. Não
que eu precise, claro. Mas se você não estiver ocupada, poderíamos sair hoje à
noite de novo para dançar um pouco e tomar alguma coisa. EU tomar alguma coisa,
você vai ficar de boca fechada.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Claro, claro. Eu
moro no casarão atrás do Palácio do Catete, você passa lá mais tarde? - eu
disse sorrindo - E prometo que só bebo da garganta dos caras que a gente
enganar.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Ótimo - ela disse se
levantando - Nossa, que droga, não tenho mais dinheiro como será que eu vou
para casa agora?!<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Essa última frase foi
dita com o volume um pouco mais alto que o normal, o suficiente para um rapaz
que passava entregando os jornais do dia ouvir e se aproximar. Jonas, se
apresentou e disse que se ela o acompanhasse até o final da rua, ele poderia
lhe dar uma carona na sua scouter. Máira aceitou prontamente, me deu um beijo
na bochecha e disse baixinho ao meu ouvido:<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Viu? Eu disse que me
virava. Te vejo mais tarde.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Observei enquanto ela seguia
de braços dados com Jonas e notei que, pela primeira vez em muitos anos, eu
tinha feito uma amiga de verdade. Ainda mancando muito, caminhei até a minha vítima
esquecida e consegui, aos poucos, leva-la até o carro.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Eu não pegava num
volante há muito tempo, mas é como andar de bicicleta. Numa bicicleta de quatro
rodas e com um motor. O carro não era conversível, mas ainda assim eu pisei
fundo porque não queria confiar num de alumínio para me proteger do sol. Enquanto
dirigia, pensei que seria muito bom ter o meu próprio carro. Ajudaria não só
nessas situações emergenciais, mas também levantaria muito menos suspeitas.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Em menos de vinte
minutos eu já estava em casa. Já me sentia mais recuperada do incidente e agora
até consegui levar minha presa sobre os ombros. Bati a porta de madeira e vi o
primeiro andar vazio, imaginei que Lucas e Beatriz já estivessem em seus
caixões pela hora.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Eu estava
errada. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Subi as escadas e
quando passei pela sala de estar, uma voz controlada e cortante me convidou a
entrar. O ambiente estava um pouco diferente, mais sombrio e percebi também que
havia alguma mobília nova no cômodo.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Gostou das cadeiras?
Comprei alguns móveis para o seu quarto também. - Lucas falou monotônico -
Achei que a presença permanente da nossa nova companheira demandaria novos ares
para a casa.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- É muito bonito sim.
- toquei no veludo vermelho que envolva o assento, o encosto e os braços da
cadeira de madeira adornada antes de pousar a mulher que trazia nela. – Onde
está Beatriz? Ela deve estar com sede.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Já tomei conta disso
também. - ênfase no “também” - Sabe por quê, Carolina? Porque eu me preocupo
com este clã. Porque enquanto você estava lá fora se divertindo sei lá com o
que, eu estava aqui me virando para arrumar as merdas que você fez.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Do que você está
falando?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Lucas não alterou o
volume da voz, mas Beatriz parecia estar começando a aprender a sentir as
coisas. Ouvi seus passos saindo do quarto que havia escolhido como seu e
parando no umbral da porta da sala. Mesmo atrás de mim eu podia sentir, ela
estava com medo.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Eu estou falando,
Carolina, que você pode ter estragado a melhor chance que nós já tivemos de
fazer algo realmente relevante. Sua irresponsabilidade simplesmente atrapalhou
uma ideia que eu estou amadurecendo há um século!<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- A culpa não é dela.
Fui eu quem pediu para ela trazer algo para eu comer…beber, quero dizer. -
Mentiu Beatriz, e eu pensei que ao contrário do senso comum, mentir pode
definir um traço enorme de caráter dependendo da ocasião.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Você, por favor
fique quieta, novata. Não lembro ter solicitado sua opinião nesta conversa.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Lucas, você ainda
não respondeu o que foi de tão importante que eu estraguei.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Não importa mais,
importa? Eu já desmarquei mesmo. Agora vai saber quando é que ele vai resolver
descer aqui de novo para nos honrar com a sua ilustríssima presença. - ele
pingava cinismo.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Tudo bem, fique aí
com as suas desilusões secretas. Eu não me importo. Beatriz, desculpa a demora,
fiquei um pouco…ocupada essa noite. Mas aqui está o lanche que eu te prometi.
Acabei começando sem você, espero que não se importe, mas ainda tem muita
coisa, fique à vontade.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ela avançou sobre o
pescoço da mulher ignorando seu pulso aberto. Me caminhei de volta para o
corredor que daria no meu quarto, estava exausta demais para discutir e Lucas
parecia estar num dia insuportável. Mas ele me interrompeu outra vez.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Você está mancando?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Talvez.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Alguma coisa mudou na
sua expressão de pedra por um breve momento e, se eu não o conhecesse bem,
diria que ele até estava preocupado comigo. Mas na verdade, Lucas era o tipo de
homem que odiava perder o que julgava ser dele.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Quem vez isso?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Eu conheci alguém.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">O silencio que se fez
foi quebrado pelo despertar da mulher gorda marcado por um grito de dor
lancinante. Antes mesmo que Beatriz parasse seu frenesi, Lucas já estava em
cima da mortal e, com uma só mão, descontou toda raiva que não demonstrava estar
sentindo no crânio dela. Ele se estourou num leve fechar de dedos dele,
explodindo miolos e sangue em cima de Beatriz. Ele não se sujou.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Não faço ideia de como
se deu a transformação de Lucas, mas a frieza característica era tão intrínseca
que eu imagino ser um traço que ele carrega desde a sua vida mortal. Beatriz
parecia abalada com a visão da coisa toda, mas não atreveu a se manifestar,
tremendo, apenas e afastou do corpo mutilado o máximo que pôde. Não consigo
imaginar como ela conseguiu amadurecer numa vampira tão estável vendo tanta
coisa durante os primeiros dias de sua transformação. Beatriz sempre foi muito
forte.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Quem foi que você
conheceu? - Lucas estava se segurando.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Não é só você que
tem mistérios, não é?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Carolina, eu exijo
que você me diga o que fez esta noite! - disse o homem vertendo seus olhos num
vermelho tão intenso quanto os meus cabelos. A voz engrossando pela primeira
vez desde que o conheci.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Escuta aqui! Eu não
sei por quanto tempo você alimenta essa ilusão de harém que criou aqui. Você
faz ideia do quanto isso é patético? Você é um pobre coitado que mendiga companhia.
Transforma mulheres para não se ver sozinho por toda a eternidade, porque
ninguém suportaria passar ela ao seu lado. Não sei quantas delas foram
submissas a você, mas vou te contar que isso não vai funcionar comigo. Levantar
a voz não vai ajudar, eu não vou falar porra nenhuma do que eu fiz essa noite
pelo simples fato de que eu não quero.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Eu tinha conseguido.
Desestabilizei o infeliz de um jeito que ele não conseguia mais se segurar. Ele
fechou os punhos e percebi que ele ia me atacar. Por uma fração de segundo
pensei em Manoela, no que ele fez com ela, e tive medo pela primeira vez
naquela conversa. Nunca lutei com Lucas, mas acredito que por toda a
experiência, eu não seria páreo para ele num combate corporal. Fui salva pelo
gongo.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Por um grito, na
verdade.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- PAREM! Agora, parem
com isso. O que vocês querem fazer? Lutar até cansarem? Eu acabei de me tornar
isso que somos, e já sei o tamanho do estrago que podemos fazer. Será que
ninguém aqui é inteligente o bastante para saber que uma briga agora, por
motivo nenhum, seria um contrassenso? Lucas, você mesmo passou horas me dando
um sermão do quanto a discrição e invisibilidade era importante para a
nossa…nossa raça, e agora está aí agindo como um adolescente descompensado que
acredita que vai resolver tudo no soco. Pelo amor de Deus, você estourou os
miolos de uma mulher na nossa sala! Se vocês querem quebrar a merda da casa
inteira, ótimo! Só me deem tempo de fugir antes porque eu não quero que nosso
vizinhos falem muito de mim. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Como eu disse,
morávamos num casarão atrás do Palácio do Catete, e nessa época, ali era a
residência fixa do presidente da república. Beatriz estava certa, um escândalo
ali chamaria tanta atenção que não teríamos mais problemas se resolvêssemos
brigar na frente da Candelária.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Lucas respirou fundo e
contemplou Beatriz em silêncio. Lucas Malta era um ser perigoso de muitas
maneiras, soube por Carlos que ele é dos demônios mais procurados pela Ordem. Mas
é a sua calma fria e extremamente controlada que sempre me fez teme-lo. Lucas
era capaz de desmembrar um mortal vivo, e enunciar parte por parte do corpo que
arrancava com a serenidade de quem lista os itens que precisam ser comprados no
mercado. Eu já o vi fazer isso. Muitas vezes ele fez parecer que gostava de
mim, ou no mínimo que sentia atração por mim, mas eu nunca me iludi: Lucas
Malta nunca sentiu nada por ninguém. Ele era incapaz de sentir uma ínfima partícula
de empatia.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Isso nunca me impediu
de discutir com ele ao menor sinal de uma atitude que me incomodasse,
entretanto ali, naquela sala, eu temi por Beatriz. Passo ante passo ele se
aproximou dela que parecia aos poucos compreender o peso do discurso de acabara
de fazer, mas era incapaz de se mover. Lucas parou bem em frente a ela e deu um
sorriso mudo.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Bem pontuado. Muito
bem pontuado, Beatriz. - eu comecei a relaxar após ouvir estas palavras, no
entanto eu vi seu próximo movimento e inevitavelmente veio à minha cabeça a
lembrança do destino que Manoela tivera. Lucas tomou-a pelo pescoço e a
levantou com uma só mão, batendo fortemente seu corpo contra a parede. Apesar
da atitude, sua voz seguia inabalada quando voltou a falar.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- No entanto, acredito
que por ser nova nisso você ainda não compreenda a hierarquia das coisas.
Carolina pode ter te transformado, mas eu a transformei. Eu sou o líder deste
clã e você nunca mais deveria levantar a voz para mim, criança.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Prendi a respiração
nos breves segundos nos quais ele ainda a manteve no ar, mas o barulho oco que
se fez quando ele a soltou e ela tombou sem forças em estado de nervos sobre o
nosso assoalho me fez relaxar. Eu poderia ver o medo nos olhos dela, e me culpo
até hoje por não ter tido uma reação mais imediata naquele dia.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Eu estou cansado de
vocês. Das duas. Acredito que já tenham frustrado meus planos o bastante por
essa noite, por isso vou descansar um pouco no meu caixão até o sol morrer.
Ficaria grato se não fosse perturbado e, por favor - indicou a mulher sem
cabeça na poltrona nova - limpem essa bagunça, sim?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Apesar do que disse,
Lucas se deteve antes de ir de fato para o seu quarto. Eu já havia corrido para
abraçar Beatriz agora, que se debulhava em lágrimas pensando que ele já não
estava mais lá. E voz dele me incomodou como uma agulha sendo espetada por
baixo da unha quando disse:<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- No entanto, Beatriz
percebeu algo que nem eu nem você atentamos, Carolina. Apesar da localização
geográfica de nossa morada ser favorável, a social não é. Estamos no debaixo
dos holofotes, quaisquer mínimos problemas que passarmos aqui poderão
facilmente ser percebidos pelos mortais porque todos os olhos estão voltados
para o palácio aqui em frente. Vou me dedicar, a partir de amanha, a encontrar
um lugar mais discreto para morarmos.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">E se foi.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Depois de acalmar
minha nova irmã, eu e ela limpamos a poltrona de feltro e nos livramos do
corpo. A levei para o quarto que ela havia escolhido e tive uma leve surpresa
ao vê-lo mobiliado. Lá, eu contei a ela da minha noite e justifiquei a minha
demora. Falei de Máira, e que me encontraria com ela ainda naquela mesma noite.
O caixão que ela havia escolhido era verde, e tinha o mesmo ideograma oriental
decorando-o em intervalos iguais.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- O que quer dizer? O
símbolo do seu caixão.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Meu avô tinha uma
historia que contava para mim e para o meus irmãos. Você sabe, muita gente acha
que se combate o medo que você tenha de qualquer coisa com força. Mas isso não
é realmente verdade. Ser forte não necessariamente te faz ser destemido. Todos
nós temos medo de algo, interdependente do quão forte formos. E você sabe o que
meu avô dizia que é a melhor arma contra o medo, Carolina?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Não.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- A perseverança. Você
não tem que ser uma pessoa sem medo, mas você tem que ter a perseverança para
ser maior do que qualquer medo que possa te acometer. É isso que significam
estes símbolos no meu caixão.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Eu sorri e pensei no
quão perseverante eu tinha sido todos estes anos. Fechei a tampa esverdeada sobre
ela e caminhei até a porta dos seus aposentos. Parei quando a ouvi novamente.”<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Você acha que eu
poderia acompanhar você e a sua amiga nessa saída de mais tarde?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Claro, Bia. Ela não
se incomodaria, e eu ia adorar.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Me despedi e fui
descansar da madrugada movimentada que tinha tido sem nem imaginar que a
conversa que eu teria aquela noite seria determinante para o que aconteceria
comigo doravante.”<o:p></o:p></i></div>
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<br /></div>Doughttp://www.blogger.com/profile/10921754351760150046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3896754087151831820.post-91565081824763350782016-04-07T20:03:00.004-07:002016-04-07T20:05:15.049-07:00Ver037<iframe width="420" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/o3AIgk4Lr68" frameborder="0" allowfullscreen></iframe>
<br>
<br>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Eu não gostei de
Máira naquele primeiro momento. Ela me pareceu cheia de si e bastante pedante,
coisas que eu nunca suportei. Antes era só uma caçada normal à procura de
alguma vítima ordinária para levar para casa, entretanto agora as coisas haviam
se tornado muito mais interessantes. Eu sempre gostei de desafios, e não
era preciso ser muito atenta à detalhes para perceber que Máira não era
acostumada a eles. É curioso pensar em como a nossa amizade tão grande nasceu
de uma desavença dessas.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Na época eu ainda não
sabia que as coisas eram tão complexas assim. No âmbito sobrenatural, eu digo.
Acreditava que nós, vampiros, éramos a única parcela infernal do mundo. Foi
isso que Lucas me contou e foi no que eu acreditei por muito tempo. É verdade
que já tinha sentido cheiros e presenças diferentes eventualmente, algo que não
parecia humano ou pelo menos humano de modo não-convencional, mas isso sempre
passava rápido e eu sentia como se tivesse sido só uma impressão. Fui atingida
com a energia totalmente diferenciada de Máira desde que ela pôs os pés ali.
Quando Rogério se sentou na mesa próxima à minha, vi que ele parecia não
pertencer àquele ambiente mas Máira parecia não pertencer à este plano. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ela se pôs ao lado
direito do homem que agora parecia ter sido levado ao paraíso. Se uma mulher já
consegue ter um homem nas mãos, imagine duas. Rogério afrouxou a gravata e
articulava com Máira, disfarçando a empolgação, sobre coisas triviais
deliberadamente preparando terreno para chegar ao ponto que realmente procurava.
Deixei escapar um riso eleve quando ele finalmente fez a proposta à ela, a
previsibilidade masculina chega a ser cômica às vezes. Máira, no entanto,
parecia bastante incomodada; não pela ideia do insistente Rogério, mas pela
minha presença ali. E eu estava adorando isso.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Voltado para ela,
explicando novamente como eu havia aparecido no encontro dos dois, Rogério
estava totalmente de costas para mim. Máira fingia estar ouvindo, mas seus
olhos focavam nos meus. Respondi com meu melhor sorriso falso-inocente e dei de
ombros. Ela me olhou mais furiosa do que nunca.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Eu entendo se
estiver atrapalhando algo entre vocês dois. Meu plano esta noite era só tomar
algumas taças de vinho para esquecer dos meus problemas e logo voltar para
casa. Vou voltar para a minha mesa e esquecer deste incidente na sua camisa
Rogério. - toquei o alto de suas costas, no ponto onde a mancha se iniciou, e
fui acompanhando sua extensão até mais embaixo.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Não! - o homem levantou
quase que com um pulo – De modo algum, minha querida. Veja, Máira entende, ela
só não está muito à vontade em mudarmos nossos planos, mas acredito que isso
seja facilmente remediado. Tenho uma ideia para quebrar o gelo e aproximar
vocês duas, meninas. Eu tenho outra camisa no carro, que inclusive combina melhor
com meu terno que essa aqui. No fim você acabou me fazendo um favor, Carolina.
Eu vou até lá trocar e, enquanto isso, por que vocês não aproveitam o tempo
para se conhecerem melhor? Acho que seria ótimo.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Eu sequer estava
tentando e o pobre coitado já estava comendo na minha mão. Fez-se alguns
segundos de silêncio depois que ele bateu a porta do bordel e eu facilmente
adivinhei o que aconteceria em seguida. Fingi procurar alguma coisa na minha
bolsa distraída enquanto percebia Máira me avaliando de cima abaixo. Como se
tirasse uma máscara, seu tom de voz e suas expressões mudaram quando ela falou:<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Ok, o que é que você
esta querendo aqui?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Pardon?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Para de encenação,
garota. O idiota já foi embora, podemos falar abertamente agora. EU o vi
primeiro, já encontrei alguns da sua laia, vocês não respeitam isso mas fique
sabendo que eu não estou disposta a perder esse aí.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Minha…laia? <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Eu vi os seus dentes
quando você sorriu. Não sei como os mortais burros não percebem isso em vocês,
é tão obvio! Acho que eles estão ocupados demais ficando de queixo caído, mas
eu vou te falar que estou há três dias esperando para esse aí, pode ir buscando
outra coisa pra você.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">O sentimento de perigo
eminente tomou conta de mim. Primeiro, pensei que ela fosse da Ordem e que
estivesse ali para me caçar, mas não fazia sentido, ou os métodos deles no
Brasil eram bem diferentes dos europeus…a indumentária também. Instintivamente
levantei da mesa, perdendo o chão e a pose, eu nunca havia sido descoberta
antes. Máira percebeu meu descompasso e também pareceu intrigada.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Serio? Assim tão fácil?
Qual é a pegadinha,? Te falei que já conheci outros de vocês e não são de
desistir de uma presa assim.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Quem é você? Você
está sozinha aqui? - lembro de ter dado uma rápida olhada nas mesas ao nosso
redor<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Não. Estou com
aquele panaca que acha que vai se dar bem com nós duas hoje. Por que você está paranoica?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- E…o que você quer
com ele?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- O mesmo que você: me
aproveitar de toda a vitalidade dele e depois mata-lo. Só que sem toda aquela
sujeira toda de sangue que o seu pessoal faz.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Pss! Fale baixo -
sussurrei - quer que nos descubram?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Pelo amor de Lúcifer!
Esses idiotas? Eles estão mais preocupados em ver a bunda daquela ali - apontou
para o palco - do que nos ouvir. Você é nova nisso?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Eu estou
transformada há um século... - disse um tanto embaraçada. - Mas você…calma, eu
estou um pouco perdida...você não é uma upyr também?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Máira gargalhou.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Eu? Garota, eu sou o
contrário de vocês! Sabe aqueles problemas todos que vocês tem com luz,
crucifixo, alho, blá blá blá? Acontece algo semelhante comigo se eu vir sangue.
Acho que o único ponto em comum aqui é que eu e você seduzimos os mortais antes
de acabarmos com eles.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Existem…outros?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Típico de vocês
acharem que são tão especiais. Sim floquinho de neve, tem demônios para caralho
espalhados aqui nesse plano e mais de nós lá embaixo, mas nem se preocupe em
descer lá, a diversão está toda aqui em cima. Engraçado, em cem anos acho que
você já deveria saber disso.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- É…acho que eu tenho
vivido um pouco reclusa. – sorri sem jeito.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Sabe de uma coisa?
Acho que aquele palhaço do Rogério fez algo de útil na vida pela primeira vez. –
pensou um pouco e disse - Por que não esperamos ele voltar e damos o que ele
tanto quer? Eu tive uma ideia.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Sou toda
ouvidos. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Rogério voltou e não
conseguiu conter a felicidade por eu e Mária “termos nos dado tão bem”.
Rapidamente pediu que a garçonete fechasse a conta, mas não sem antes perguntar
se eu não queria uma garrafa daquele Bordeaux para viagem, já que eu mal tinha
tocado minha taça. Disse que não era necessário, mas ele comprou assim mesmo. De
braços dados à nos duas, nos conduziu até o seu carro e disse que daríamos um
passeio. O Fleetmaster era caro e novo, mas pintado num verde de muito mau
gosto. Imaginei que ele fosse pedir um quarto ali mesmo no estabelecimento onde
estávamos, mas Rogério nos levou até um lugar mais chique, em frente à praia de
Botafogo. Depois eu soube que o bordel era ideia da Máira, ela sempre marcava
com as vítimas lá pois o lugar não levantava muitas suspeitas.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">O recepcionista o
chamou pelo nome quando lhe entregou as chaves do nosso quarto, o que poderia
complicar um pouco a situação. O quarto 248 seria nosso por seis horas e o
plano era bem simples: levaríamos o Rogério para cama, onde Máira o prenderia
com o par de algemas que tinha levado em sua bolsa. Ela me revelou ser uma
Aaba, um tipo de infernal que se alimentava dos desejos luxuriosos de mortais.
Quanto mais ela seduzia, mais envolvia a vítima e fazia que ele tivesse sentimentos
mundanos; mais se satisfazia. Acontece que, ao estar satisfeita, Máira era
obrigada a mostrar sua verdadeira forma e consequentemente a matar o pobre
coitado. Ou enlouquece-lo, o que ela me disse fazer quando estava entediada
também. Uma vez nossa vítima impossibilitada de fugir, ela iria primeiro
enquanto minha tarefa seria cuidar para que o homem não gritasse durante o
processo, quando estivesse saciada, seria a minha vez, ela sairia do quarto e
eu teria Rogério totalmente para mim. Eu estava excitada, mal podia esperar
para ver a forma real de Máira. Eu havia sido transformada, mas ela havia
nascido no próprio Inferno. Havia tanta coisa que ela podia me revelar, tantas
perguntas que eu queria fazer.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Começamos, Rogério
ofereceu certa resistência quando Máira sugeriu as algemas, mas aceitou sem
pestanejar quando eu disse que era um desejo antigo. Eu mesma prendi seus
braços entre as grades de metal da cama e quando tive certeza de que ele não se
soltaria, acenei para que minha nova amiga seguir com o plano. Ela se despiu,
eu fiz o mesmo. Na época seus cabelos lisos eram castanhos e batiam na altura
dos ombros num corte reto e sem muitas curvas, mas não fazia falta, todas as
curvas que ela precisava estavam no seu corpo. Nua ela chamava ainda mais
atenção que vestida, era alta, mas sua presença era imposta por muito mais que
só altura. Seus seios eram o que mais chamava atenção à primeira vista, sem
dúvidas grandes. Mas se fosse visto com calma, seu corpo tinha formatos e
volumes específicos nos lugares certos. Sem exageros, ela era toda torneada. Tinha
o corpo de uma pin-up da época. Só que, apesar de tudo isso, era a expressão no
seu rosto, com seus olhos grandes e redondos, além de um sorriso confiante que
dava à Máira ares de dona do lugar.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Percebendo que eu a
observava, ela me olhou de volta. Sempre fomos diferentes fisicamente em todos
os aspectos, e acredito que foi isso que naquela noite despertou esse interesse
mútuo entre nós duas. Não saberia dizer se foi ela quem se aproximou primeiro
ou eu. O primeiro registro que tenho é de estarmos de frente uma para outra,
bem de perto. Lembro também da forma que seus lábios se abriram num sorriso
torto quando percebeu a surpresa que tive ao sentir suas mãos me abraçando por
trás. Abraçando e apertando, as duas mão apertavam bem forte a minha bunda. Não
me importei e deixei que ela me trouxesse para si. Meu rosto ficou enterrado
entre aqueles seios tão maiores que os meus e, com vontade eu me dediquei a
eles dois enquanto era estimulada por baixo pelos dedos dela. Apesar de ser
menor, consegui empurra-la até a beirada da cama, de pernas abertas, e agora
era eu quem usava os dedos enquanto ela passeava com as mãos pela minha cintura
e subia até os meus peitos. Eu me arrepiei, mas não parei. Minha pele se marcou
fácil com os dedos dela cada vez mais fortes conforme eu aumentava a frequência
e força dos meus movimentos. Quando ela relaxou, levei os dedos da mão esquerda
à boca, ao tira-los, ela pegou meu pulso e mordeu com força.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Essa marca aí é pra
você lembrar de quem mordeu você, vampira - ela levantou e falou ao meu ouvido
- Vamos ao prato principal?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Durante todo aquele
momento eu havia esquecido totalmente do homem que prendi à cama. Enquanto
Máira o despia, e negava todos os pedidos para que ele fosse solto, eu percebi
que seu pau já estava latejando depois de tudo aquilo. Apesar de ser bonito
para um homem de meia-idade, pensei que Rogério nunca deveria ter tido uma
experiência como esta. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ela subiu de quatro na
cama, e foi engatinhando até ficar sobre o corpo dele, sustentada sobre seus
braços e pernas à uma altura onde ele não conseguia tocar nela, por mais que
tentasse. Os grandes seios chegavam a milímetros de onde sua língua esticada
não conseguia alcançar; suas unhas passavam por suas pernas, mas nunca no meio
delas e quando ela lambia o rosto do homem eu sabia que o que ela estava
provando na verdade era seu desejo. Ele se contorcia de prazer e ela estava
chegando cada vez mais ao seu ápice. Sentada ao lado deles, eu tapava a boca de
Rogério com a minha mão e esporadicamente arranhava seu pescoço com o cuidado
de não abrir nenhum corte exposto. Ainda.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">De súbito as luzes
começaram a falhar, o homem não percebeu e nem poderia em seu estado, mas eu
soube que estava acontecendo. Mantive sua boca fechada, agora com mais força e
senti ele reclamando da dor com sons abafados. Máira estava sorrindo e, no meio
deste sorriso, sua voz começou a entrar num tipo de metamorfose sinistra onde
os sons iam se entrecortando. Arqueou o corpo para trás quando chifres
começaram a brotar das laterais de sua testa, curvando-se para cima. Seu corpo
tremia e gradativamente eu percebi suas unhas crescendo nos pés e nas mãos; até
mesmo suas feições, principalmente os olhos, agora estavam diferentes. Uma
sombra se alongava sobre os seus olhos e suas sobrancelhas. Suas íris
apresentavam um laranja muito vivo no lugar do castanho escuro. Todo esse
laranja se focou nos olhos azuis do homem atado a cama que parecia não
acreditar no que via. Ele olhava para mim em busca de ajuda e eu gostava de ver
o seu desespero.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">No último estágio da
transformação, Maíra jogou todo o seu corpo para frente e eu vi suas omoplatas
rachando com um barulho seco. Pouco à pouco asas de dragão iam emergindo da sua
pele com a facilidade de uma borboleta que rasga seu casulo, mas sem nenhum
sangue escorrer. E da mesma forma, um rabo de animal despontou do seu quadril e
se enrolou no pé direito de Rogério. Pude ouvir nitidamente quando o rabo
quebrou seu pé num estalo. Ele teria gritado por causa da dor, mas eu não
permiti.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Máira levantou de cima
do homem, ficou de pé ao lado da cama e deu uma voltinha se exibindo. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- E então? O que acha.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ela ainda tinha o
corpo que tinha como mulher, mas toda aquela mudança a fazia uma criatura
única, pelo menos aos meus olhos. Acho que a reação de Rogério foi plausível,
para mortais ela devia realmente parecer um monstro, mas para mim era admirável.
Vendo que eu não responderia, ela voltou a atenção para a nossa vítima que
derrubava lágrimas mudas à essa altura.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Aaah, coitadinho.
Cuidei para que ele não fugisse, mesmo se as algemas falharem - apontou para o
pé dobrado num angulo errado - Acha que você consegue dar conta dele sozinha?
Ótimo. Te contei que não suporto ver toda essa sujeira né? Eu vou te esperar lá
fora, mas leve o tempo que precisar. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">A luz começou a voltar
no quarto e eu vi seus traços demoníacos recuando enquanto ela juntava as
roupas e se vestia. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Ah! Vê se se lava
depois. Vou dar um jeito no recepcionista enquanto você se diverte. Te encontro
lá embaixo.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Esperei ela fechar a
porta e olhei para a minha presa daquela noite. Eu não precisava me alimentar,
estava cheia. Mas estava tão animada que lembro daquele homem até hoje como uma
das minhas refeições mais satisfatórias. Não foi uma mordida, nem duas. Eu o
mordi em todos os lugares que consegui pensar e só bem depois lembrei que eu só
saí de casa para conseguir algo que saciasse a sede de Beatriz, agora eu teria
que levar outra vítima para ela. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Durante o banho,
refleti sobre a montanha-russa que havia sido aquela noite. O relógio ainda não
marcava quatro da manhã e eu já havia tido mais agitação do que poderia lembrar
ter em anos.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sempre tive uma
facilidade grande para ler pessoas, mesmo antes de ser transformada. Para mim é
simples perceber uma atitude dissimulada, uma mentira, ou alguma intenção
espúria de outrem muito antes que notassem que eu já sabia, o que tornava
algumas situações bastante interessantes. Lembro que Carlos costumava dizer em
muitas ocasiões que eu conseguia ler a mente dele, e realmente isso parecia ser
verdade. Mas nesse caso não era por alguma intenção obscura que ele tivesse
para comigo ou algo do tipo. Carlos era uma dessas raras pessoas com o coração
bom, realmente bom. Até ingênuo muitas vezes, eu diria, e a bondade em sua
essência não tem manchas. Ela é transparente como vidro.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Máira definitivamente
não era boa, isso eu conseguia afirmar sem maiores problemas também. Só que, com
surpresa, me dei conta de que confiava nela, o que poderia ser muito arriscado.
Depois de me vestir, senti em mim um impulso enorme de sair pela varanda do
hotel e não ver Máira nunca mais. Esse é o problema em ser boa percebendo a
falsidade nos outros: você custa a acreditar em alguém realmente confiável
quando aparece. Refleti um pouco mais e senti os dentes que ela deixou no meu
pulso minutos antes. Ela sabia tudo de mim, da minha espécie pelo menos. Nossos
pontos fracos, modo de agir… e ainda assim ofereceu parceria ao invés de usar
tudo isso contra mim. Ainda me contou a sua fraqueza sem nem pensar em alguma
atitude minha! <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Resolvi, então, que
daria uma chance. Máira não era transparente mas sua nebulosidade não me
incomodava. Desci e a encontrei no lobby do hotel misturada à uma pequena fila
que começava a se formar no balcão de recepção, que estava vazio. Dois homens
disputavam a atenção dela que fingia uma indignação bastante caricata pela
ausência do funcionário. Ao me ver ao pé da escada, piscou pra mim e veio em
minha direção:<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Carolina, você
demorou demais no banheiro! Acredita que o recepcionista do hotel ainda não me
atendeu? - piscou discretamente para mim - Acho melhor procurarmos vaga em
outro lugar.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Fui incapaz de não rir
com aquela atuação ruim e tive que ser dura com os dois homens que insistam que
não fossemos embora para que saíssem do nosso pé. Máira parecia estar muito
animada apesar do avanço da hora, o que me ajudou ainda mais com a simpatia que
já sentia por ela.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Você está com sono?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Sono? Não, eu não
durmo. –<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>eu respondi sorrindo.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Aquela historia toda
dos caixões então é mentira.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Não, temos caixões
sim. Mas servem mais para proteção da luz durante o dia ou viagens longas do
que para dormir.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Você são estranhos.
- e fez uma careta - De qualquer forma, se você não dorme então não está com
sono agora, e se não está com sono agora talvez tope ir comigo até a minha
confeitaria favorita. Nada melhor que um doce de sobremesa depois de um
banquete, não acha? Não se preocupe com a hora - ela acrescentou ao me ver
checando meu relógio - eu conheço o segurança e ele sempre “esquece" a
porta dos fundos aberta para mim.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Bom, não é isso…é
que logo logo vai nascer o sol...<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Não se preocupe
Cinderela, eu te levo para casa na hora. Confia em mim?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Confio. – e
confiava.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Ótimo, porque você
não teria muita opção mesmo já que eu te sequestraria. – brincou - Agora vamos
pensar, estamos em Botafogo e precisamos chegar rápido ao Centro já que a
senhorita tem hora pra voltar pra casa. Como faremos? - outra vez a atuação
dissimulada - JÁ SEI! Por que não pegamos o carro daquele nosso amigo do hotel?
Acho que ele não vai precisar mais, não é mesmo? Se pelo menos tivéssemos
pensado nisso antes… <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Máira tirou uma chave
prateada do meio do decote e começou a roda-la em seu indicador. De novo, não
pude segurar o riso e pensar no quanto aquela noite estava sendo agradável.
Entramos no carro de cor estranha de Rogério e Máira foi dirigindo pela orla de
Botafogo até o Centro. No caminho contei para ela a história de como fui
transformada, todo o caso com Manoela e do recente evento no qual eu
transformei Beatriz e ela estava em casa me esperando. Contei até mesmo do meu
romance com Carlos e notei que aquela foi a primeira vez desde que eu havia
conversado com alguém sobre isso desde o ocorrido. Era bom me abrir um pouco,
eu já não fazia isso há muito tempo.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Paramos o carro na Rua
da Carioca e seguimos à pé até a confeitaria, pois Máira não queria chamar
atenção. Caminhamos conversando distraídas quando de repente eu senti outra
presença daquele tipo diferenciado. Só que me incomodou bastante. Eu a senti
antes de Máira que deu ainda dois passos adiante antes de notar que algo estava
errado. Do outro lado da rua estreita vinham passos tão leves que pareciam não
tocar o chão, e veio também a voz mais insuportável que eu já ouvira na vida.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Quanto tempo faz,
Carolina? Vinte anos? - ela disse com nojo.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Vinte e quatro. Você
costumava ser mais generosa com esses intervalos - devolvi com a mesma
cortesia.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Eu estou em missão,
e quem veio para este continente foi você. Vejo que você fez uma amizade. Pelo
menos agora você sabe o tipo de gente com o qual deve se misturar, não é?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Catharina?! - Máira
estava surpresa - Você se conhecem?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Infelizmente.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Lembra do que eu te
contei no carro? Então, Catharina era a protetora dele.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Catharina parecia
brilhar no meio da noite usando somente um vestido de cetim azul claro e
sapatos baixos. Os cabelos dourados estavam mais curtos do que da última vez
que a tinha visto, mais parecidos com o corte que ela usava na época que nos
conhecemos. Eu não suportava encontrar Catharina por muitos motivos, mas o
principal era a culpa que ela me fazia sentir sobre o que aconteceu com ele.
Ela passou entre nós duas calada e só quando estava alguns passos de nós parou
e disse.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Você ainda sente
falta dele? - sorriu para si mesma - Ótimo…ótimo.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">E sumiu pela escuridão
que eu tinha vindo.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Essa mulher é
insuportável! Você acredita que uns duzentos anos atrás ela e um desses padres
virgenzinhos quase me deixaram em encrenca e…Carolina, você está me ouvindo?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Estou,
estou…desculpe. São lembranças demais, eu acho. Só isso. – meu coração ainda
disparava.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Sabe do que você
precisa?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Sei, de cappuccino
quente.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Eu ia dizer “uma
vingança bem dolorosa em cima daquela puta angelical” mas tudo bem, fazemos do
seu jeito. Deve ter cappuccino lá dentro. Vamos.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">A Confeitaria Colombo
já tinha seu nome na época, mas eu nem imaginava que ela se tornaria a mais
tradicional da cidade décadas depois. Entramos pelos fundos, e me deparei com
um salão enorme, mais largo do que longo, onde muitas mesas cobertas com
lençóis se enfileiravam bordeando um móvel de carvalho sobre o qual ficavam
mostruários de vidro adornados com metal cravejado nas laterais. Atrás deste
balcão uma escada em espiral dava acesso ao segundo andar que eu não conseguia
ver. O padrão do piso lembra muito a capa deste caderno onde deixo minhas
memórias, um desenho abstrato e contínuo bonito e intrigante, de certa forma me
fazia lembrar os cafés de rua franceses. No escuro, ela deixava de lado o
brilho dourado que tinha durante o dia e se vestia de prata. A luz da lua
invadia o ambiente, atravessando a grandes janelas e também claraboia alongada
à nossa direita tornando as mesas, que eram pretas, naquela noite prateadas,
bem como os talheres e prataria expostos no balcão onde Máira procurava o bule
e o moedor de grãos.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Já adianto que meu
café não é grande coisa. Mas, enquanto eu preparo aqui, por que você não me
conta mais sobre esse seu problema com a Catharina? Quer dizer, ela já tentou
me mandar de volta pro Inferno umas três vezes e nem eu tenho tanta tensão
assim com ela. O que realmente houve?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Sentei numa das
cadeiras de prata e tirei minhas luvas passando os dedos pelo alto relevo do
metal que circundava a mesa. <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Ele era o protegido
dela. Carlos, o homem sobre o qual eu falei com você no carro.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Você não faz o
mínimo tipo de que se envolveria com um padre, sabia? Engraçado, se me
perguntassem, eu diria que você teria comido o coraçãozinho apaixonado dele no
café da manhã. - disse enquanto derramava o café já moído na maquina.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Padre ou não, eu me
envolvi. - meu polegar encontrou uma cruz entalhada no beiral da mesa e de
propósito o forcei sobre ela - E ele se envolveu comigo. Catharina parece levar
muito a sério o serviço dela. Me culpa por ter perdido seu protegido e está
convencida de que eu o tornei vulnerável e distraído. O pior de tudo é que eu
realmente talvez tenha culpa nisso.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Eu discordo. O cara
quis ficar com você e largar toda aquela baboseira de igreja, o que na minha
opinião foi muito esperto da parte dele. Sei que deve ser difícil pra você
acreditar, mas nem tudo gira ao seu redor. A decisão foi dele.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- É legal da sua parte
tentar tirar esse peso de mim, mas eu estou convencida. Quando me transformei,
cheguei a pedir para Catharina me matar porque achava que não aguentaria isso.
Ela se negou, e agora parece fazer questão de abrir minha ferida todas as vezes
que nos encontramos.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Aquela vadia é bem
cruel para alguém que se diz do lado dos bonzinhos, ne? <o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- É, é sim. - esbocei
um sorriso - Mas e você? Qual é a sua história?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Bom – ela suspirou -
você sabe da guerra, imagino não é? Estrela da Manhã aprontou para cima do cara
lá de cima e acabou perdendo. Caiu, e com ele um terço do céu.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Estrela da manhã? -
perguntei<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Lúcifer, Diabo,
Satan, Rei das Mentiras…ele tem vários nomes.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Ah, sim. Desculpe,
não fomos apresentados formalmente. E você estava nessa luta?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Claro que não! Está
me chamando de velha, vadia? Minha “mãe" estava. Triskelle, uma súcubo, a
“rainha das súcubos”, como gosta de ser chamada. Não é a coisa mais linda de se
ver: imagine uma serpente de ossos enorme e com rabo afiado como uma espada. Eu
nunca vi seu rosto, mas acredito que seja bem feio, ela arrancou o rosto e o
escalpo de um serafim muito poderoso chamado Daniel, um dos grandes pelo que eu
ouvi falar, durante a guerra e deste então o usa como máscara. Fora ele, ela
matou mais 99 serafins na luta e por isso, Lúcifer permitiu que ela criasse uma
linha inteira de demônios com a forma e habilidade que quisesse. E que bom que
ela não nos criou à sua imagem e semelhança, senão seduzir alguém ia ser bem
difícil. Aqui, seu cappuccino está pronto.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Eu sabia, mas quis
tentar. Lucas tinha me dito que nós não podíamos comer ou beber nada que não
fosse sangue. “Vai fazer suas entranhas queimarem como o Inferno”, ele disse.
Não me arriscaria a fazer isso na presença dele ou sozinha, mas Máira estava
ali. Eu confiava nela. A xícara, de porcelana e tão branca quanto eu,
pesou na minha mão. Máira, que puxava uma cadeira para sentar ao meu lado até
percebeu a hesitação que eu tive de leva-la aos lábios, mas apenas deu de
ombros.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Eu nunca fui próxima
de uma vampira. Já percebeu como eles chamam vocês? “Upyr”, nossa eu acho
horrível esse nome. E, estou aprendendo muito sobre vocês hoje. Primeiro o
caixão que vocês usam para não dormir, e agora você tomando café. Eu poderia
jurar que vocês não podiam tomar nada além de sangue, acredita?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Pareceu descer sem
efeito. Percebi que ela falava a verdade, realmente o cappuccino estava bem
ruim, mas só sentir qualquer outro gosto que não fosse de sangue já elevou meu
ânimo. Infelizmente, por pouco tempo. Em questão de segundos eu senti um enjoo
tão forte e crescente que quase não pude responde-la.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Não podemos. – minha
garganta parecia fechar-se sobre si mesma enquanto um refluxo era empurrado do
meu estômago apesar das minhas tentativas de contê-lo - Máira, eu vou precisar
da sua ajuda.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Ela não acreditou em
mim de primeira, mas deve ter visto a expressão no meu rosto e se convenceu de
que eu não estava brincando.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Você sabia que não
podia e bebeu mesmo assim? Ai caralho! Você é maluca, garota? E agora, o que a
gente faz?<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Catharina me lembrou
que eu perdi muitas coisas naquela noite. – as palavras saíam com dificuldade e
eu percebi que estava suando - Algumas eu nunca vou poder ter de volta. Mas o
cappuccino, pelo menos o cappuccino, eu ainda posso provar. - senti uma pontada
no estômago aliada a uma cólica muito forte. - Preciso de sangue para desintoxicar.
Traz alguém para cá, qualquer pessoa. Rápido.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Máira me trouxe de
volta para a cadeira, foi quando eu percebi que tinha caído no chão com o mal
estar. E me deu um beliscão no braço.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">- Nunca mais eu faço
café pra você! Maluca...eu já volto.<o:p></o:p></i></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Pus os braços sobre a
mesa e deitei a cabeça sobre eles, fechei os olhos e pensei nele. Talvez não
fosse ajudar muito, mas eu sempre ouvi dizer que uma dor forte tem o poder de
anestesiar uma menor. <o:p></o:p></i></div>
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<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16pt;">
<div class="MsoNormal">
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Quando me deu este caderno, Carol disse que era importante
que eu o lesse inteiro, sem pular nenhuma página sequer, por mais que a leitura
se mostrasse difícil em algumas partes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Não imaginava como isso poderia ser possível, até chegar
nesta página. Exigiu muito de mim continuar lendo depois disso e eu só
continuei porque Carol e seus olhos persuasivos estavam me observando durante a
leitura. Ela poupou os detalhes, mas a minha mente não. Ele passeando pelo
corpo dela, os dedos se enrolando pelos seus cabelos e a boca nos lábios dela
me fizeram jurar para mim mesmo que mataria aquele filho da puta com as minhas
próprias mãos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A próxima parte do que eu vou transcrever aqui, são
fragmentos da vida de Carol algumas décadas depois de já estabelecida de volta
ao Rio de Janeiro:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">“Parecia ter esquecido o que era o calor. Quando desci no
porto do Rio de Janeiro, o abraço quente do ar me embalou como um parente que
eu não via há muito tempo. Eu tinha mesmo saudades dessa cidade. Pude ver, ano
após ano, a arquitetura mudar, mas o espírito ainda era o mesmo que eu conhecia
desde antes de sair daqui para ir à Europa. O Rio de Janeiro, em muitos
aspectos pode ser chamado de uma cidade vampira.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Logo que chegamos, Lucas me levou à casa de um clã que ele
conhecia e estava estabelecido no Rio há séculos. Era um clã grande, pude
contar mais de dez membros, sua líder era uma mulher de aparente meia idade,
pele de um bronzeado pálido um tanto quanto engraçado e cabelos castanhos. Ela
disse a Lucas que tudo ai estava calmo, os sacerdos da Ordem de Paris
ainda não haviam feito contato com os do Rio e, quando perguntada se indicava
um bom lugar para morarmos sem chamar atenção naquele Rio de Janeiro dos anos
quarenta, ela sem hesitar respondeu o bairro do Catete. “Muito movimentado e
perigoso” - ela disse - “Pessoas desaparecem com certa frequência sem
explicação por ali."<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Viver à base dos pequenos animais que encontrávamos nos
depósitos da embarcação já era deprimente, mas o tédio contava como maior ponto
à favor de um suicídio que voltou a pairar na minha cabeça vez ou
outra. Passei a tolerar a presença de Lucas durante a viagem, senão
enlouqueceria. Perguntei para ele, ao sairmos da suntuosa casa do clã que
visitamos como aquela mulher podia saber tanta coisa, ele me disse que Madame
Fernanda passou sua vida toda cuidando da vida de outras pessoas, e não era
diferente no seu pós vida, e que, se eu precisasse de alguma informação, era só
procura-la.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Encontramos uma bonita casa próxima ao Palácio do Catete, um
pouco menor em altura, então, quando o sol incidia sobre o palácio ele próprio
fazia sombra sobre ela. O que obviamente era muito conveniente para nós. Quando
fomos avaliar o imóvel, o vendedor nos tratou com tanta bajulação após ver
nossos francos que acreditei que ele estivesse se convidando quando disse que
talvez aquela casa fosse um pouco grande demais apenas para eu e Lucas, mas
pensando bem, ele tinha certa razão. Quando levantei essa questão mais tarde,
em particular, Lucas me disse que tinha planos para aqueles quartos vazios.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Os primeiros dias na casa foram tranquilos. Contínhamos
nossos ataques até saber exatamente como a população da local se comportava,
chegando a ficar semanas sem beber nada. Logo a cidade entrou em carnaval,
confesso que eu nunca fui muito afeita à esta época do ano mas toda a liberdade
foi dada às ruas nos alimentou bem pela primeira vez desde que tínhamos saído
da França.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Na quarta-feira de cinzas eu resolvi que não sairia. Me
dediquei a conhecer todos os cantos da casa pela primeira vez desde que a
tínhamos comprado. Era um casarão com sete cômodos grandes. Eu escolhi o quarto
mais distante da sala de estar pois, naquele momento mais do que nunca, eu
queria minha privacidade, os outros entretanto não diferiam muito dele. O pé
direito era igualmente alto e tinha imensas janelas retangulares que
acompanhavam a longitude da construção cobertas por grossas cortinas que
pareciam vedar a passagem de qualquer luz. Todos os aposentos eram
parecidos, apenas variações singelas de dimensão diferiam um do outro. Isso, e
o fato de estarem pouco mobiliados, apenas com restos de móveis de madeira antigos
que outros inquilinos haviam abandonado. Tirando o meu quarto e o de Lucas,
todos os outros eram um amontoado de poeira e móveis esquecidos.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Em um deles, encontrei uma penteadeira com escrivaninha
embutida. Sentei sobre a frágil cadeira que compunha a decoração do cômodo. O
espelho onde eu não me via tinha uma moldura bonita, apesar de estar manchado
pelo tempo, resolvi que ia bota-lo no meu quarto. Eu já tinha aceitado o fato
de ser vampira há décadas neste momento, passara a gostar inclusive, mas se
tinha algo de que eu ainda sentia falta, era de poder me ver novamente.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">De volta ao meu quarto, coloquei o móvel na parede que
ficava oposta à porta e comecei a pentear meus cabelos até sentir dedos gelados
tocarem meus ombros. O perfume característico denunciou que era Lucas antes
mesmo de eu precisar me virar. Seus beijos subiam pelo meu pescoço, os arrepios
também. Ele parou na base do meu ouvido, sussurrou que tinha um presente e
pediu que eu o acompanhasse.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Na sala, havia uma garota em prantos, amordaçada e amarrada
nos pulsos e tornozelos. A visão me chocou menos do que deveria. Na
verdade, tive uma pontada de prazer em ver uma presa tão indefesa daquele modo.
Devido ao pano que torcia em sua boca, seus lamentos eram ininteligíveis e
baixos, a voz de Lucas falando comigo os abafou ainda mais. Como quem
apresentava a atração de um circo, ele disse que achava que eu estava pronta
para o que era “o próximo passo” da vida de um vampiro. Matar poderia ser
difícil no início, mas agora eu já não tinha problemas neste ponto. O que eu
deveria aprender agora era como não matar, ou nas palavras dele “enganar a
morte”.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Era necessário - continuou - que um vampiro soubesse
perpetuar a espécie. Ele inventava cenários onde ele poderia ser capturado ou
morto e, para me proteger, eu precisaria de aliados. Eu nunca tinha pensado em
transformar alguém, por mais que agora veja isso com normalidade, mas dei razão
a ele. Lembrei da situação com Manoela em Paris e no caso de eu não ter
conseguido chegar à sacerda a tempo. Se algo daquele género acontecesse
novamente, seria bom ter a habilidade de transformar outros. Sobrevivência
resumia a questão.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Perguntei como deveria fazer, e isso despertou um novo nível
de desespero na presa. Lucas foi didático, o primeiro passo era o mais difícil:
me manter focada depois que começasse a beber o sangue dela. Deveria prestar
atenção, ouvir as batidas do coração da minha vítima e continuar bebendo até
levar sua vida ao limite. “É preciso ter a sensibilidade de perceber o momento
anterior ao coração da vítima dar sua última batida, e parar ali”, ele disse,
“Feito isso, ela deve beber um pouco do seu sangue.” Lembro de ficar um pouco
nervosa, mesmo sem motivo algum. Lucas falou mais de uma vez que era normal que
não se conseguisse fazer uma transformação logo na primeira tentativa.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Minha atenção era toda da moça amarrada à nossa frente.
Cabelos pesados muito lisos e escuros eram caíam até seu quadril. As lágrimas
borraram a maquiagem, mas não escondiam seus bonitos traços orientais. Senti a
garganta começando a secar. Lucas ia saindo do foco da minha consciência. Nada
importava muito agora, o frenesi já havia começado no momento em que resolvi
que ia transformar aquela mulher, ou a mataria tentando. <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Caminhei lentamente até ela, enquanto tirava minhas luvas
curtas de renda e as jogava no chão. Avaliei, então, como começaria. Ela estava
deitada de bruços, então abri as pernas uma em cada lado de seu corpo e
ajoelhei. Com enrolei seu longo cabelo nos meus dedos e puxei para trás, para
que ela fosse obrigada a me oferecer seu pescoço. Lucas me observava como um
técnico dedicado, mas ciente de que eu não ouviria mais suas instruções, permaneceu
calado.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Uma vez, não muito tempo depois de eu ter tirado a
virgindade de Carlos, eu me arrumava para um ensaio atrasada, enquanto ele me
esperava pacientemente. Na espera, ele achou um caderno, parecido com este,
onde eu costumava escrever. Já faz tanto tempo…eu sequer lembro o que havia
escrito naquelas páginas, mas lembro da reação dele ao ler. Ele olhou para mim
com aquele misto de admiração e felicidade cega que em quase cem anos eu nunca
consegui entender o motivo, e disse 'Carol, tem alguma coisa que você não possa
fazer? Quer dizer, olha estes poemas! Você dança, escreve, entende de artes… Eu
não sei como, mas você tem esse toque especial de conseguir ser impecável em
tudo que se propõe a fazer. Eu tenho certeza que não tem uma coisa sequer nesse
mundo que Carolina LeBion não consiga dar conta.'. <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Não, eu não focava minha atenção nas batidas cada vez mais
descompassadas do coração da minha presa. Eu as ouvia. Mas minha atenção estava
na voz dele que eu me permiti buscar na parte mais escondida da minha memória
depois de tanto tempo, me dizendo que eu conseguiria.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Com os sentidos velados, eu tentava me ater a realidade.
Beatriz perdera a cor, o calor e a consciência, mas eu ainda podia sentir seu
coração forte se agarrando ao fino fio de vida que ainda lhe restava. Desde
antes de ser transformada ela já mostrava força memorável, mas depois de algum
tempo finalmente eu senti que ela estava cedendo.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Minha garganta reclamou quando eu usei toda a minha
concentração para me afastar de seu pescoço. À primeira vista no entanto, achei
que havia passado do ponto. Lucas que observava imóvel desde o momento que eu
começara, pegou meu polegar direito e forçou a minha própria unha contra o
pulso esquerdo que facilmente se abriu numa pequena e constante fonte de
sangue. Levei meu pulso até os lábios moribundos e ressequidos de Beatriz que
mesmo desmaiada ingeriu o que saía de lá.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Lucas a tomou nos braços e pôs confortavelmente no sofá. Por
algum tempo esperamos até que ela acordasse. Achei que seria melhor me
apresentar sem estar coberta de sangue e fui ao banheiro tomar um banho
enquanto Beatriz dava sinais de resposta.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Já estava vestida e limpava meu pulso ferido na pia quando
ouvi um grito muito agudo vindo da sala, seguido de um baque seco. Chegando de
volta à sala, encontrei Lucas imobilizando os punhos contra a parede. Ela
estava furiosa.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Manoela havia sido a única transformação que eu presenciei
antes de Beatriz e talvez pela reação dela à tudo aquilo ter sido tão
tranquila, me surpreendi com a revolta da recém-transformada que mais parecia
um demônio encarnado. Chamei sua atenção ao me aproximar dela e esse foi o
momento de distração que Lucas precisou para desacorda-la. <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Perguntei o motivo da reação agressiva e Lucas contou que a
primeira coisa que Beatriz fez ao acordar foi perguntar da família e ele
prontamente respondeu que ela não deveria mais se preocupar com eles, já que
ele os havia matado. Conversamos sobre o que faríamos com ela por algum tempo.
“Era um teste, apenas um exercício para você. E você o fez muito bem, devo
dizer. Mas ela não tem mais utilidade agora e já que está causando problemas,
eu acabaria com isso agora mesmo.” - ele disse. Olhei para Beatriz, percebi que
ela era apenas um pouco mais nova que eu era quando fui transformada. Discordei
e disse para Lucas que ela iria ficar conosco. Ele desaprovou em silêncio,
pegou as chaves do carro que tínhamos comprado poucos dias antes do carnaval
começar e disse que iria se divertir um pouco. “Eu não vou bancar a babá de
ninguém, só evite causar problemas. Manoela obrigou a mudarmos de continente e
eu não estou com vontade de fazer isso outra vez."<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Não quis amarara-la, até porque, sei que ela se livraria das
amarras como se elas fossem papel. Deixei que acordasse sem incômodos e que
ficasse à vontade comigo ali. Lucas deve ter batido forte, pois sua primeira
reação após acordar foi levar a mão à nuca. Demorou alguns segundos para se
situar mas me reconheceu e levantou de uma vez. Só que por decorrência da
pancada, acredito, Beatriz pareceu estar tonta e logo se sentou novamente.
Nosso primeiro contato começou um pouco estranho:<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">- Quem é você?<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">- Meu nome é Carolina. E eu sei que essa é uma situação
bastante delicada, mas eu realmente estou querendo te ajudar.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">- Ajudar? AJUDAR? Seu namorado matou os meus pais e irmãos!
Não, acredito que vocês já ajudaram demais. - Beatriz me fitou com olhos de
gelo<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">- Ele não é meu namorado, Beatriz. É Beatriz, não é? Aquele
homem, o nome dele é Lucas e...<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">- Você já teve família? Sabe o que é ver um a um dos seus
entes queridos ser atacado por…caralho seja lá o que vocês sejam e não poder
fazer nada além de gritar?<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">- Sim e não.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">- Que porra isso quer dizer?!<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">- Eu tive família sim, e tive que abdicar dela há muitos
anos. E não, não os vi sendo atacados por nenhum demônio. Mas eu sei o que você
passou, e acredite quando eu digo que é muito mais complicado passar por isso
sozinha.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">- Ah é? E aposto que estar com você seria muito mais fácil,
não é? Bancar a amiguinha das pessoas que tiraram tudo que eu tinha seria muito
mais fácil! Me poupe, Carolina! - Ela percebeu que estava gritando e se
recompôs - Por que você parou?<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">- Eu também perdi tudo, sabia? E também não pedi por essa
vida. Entendo a sua revolta, ela é justificada. Eu estou aqui para te ajudar se
você quiser, - caminhei até a porta - mas caso contrário, fique à vontade para
ir embora. Só cuidado, eu passei pelo que você passou hoje há cem anos e ainda
não sei tudo que há pra saber sobre nós.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Beatriz se encolheu no sofá e desistiu de conter as
lágrimas.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">- Como foi que você conseguiu? Eu sempre fui muito ligada à
minha família. Agora me sinto tão…desamparada. – olhou para as mãos muito mais
opacas que antes – Eu nem sei mais o que eu sou agora...<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">- Olha, talvez eu não saiba realmente o que você está
passando por ter perdido seus pais e irmãos de forma tão cruel. Mas como disse,
eu tive perdas que tornaram minha transformação muito traumática também. E
posso te garantir, pode parecer impossível, mas você vai aprender a viver de
novo.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">- Quem…quem você perdeu? - soluçou.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Minhas lágrimas também vieram, só que de forma desavisada.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">- A esperança. Por algum tempo, eu perdi a esperança. Você
perguntou porque eu parei? Foi por precisar acreditar que criaturas como eu e
você ainda podem ser felizes apesar de tudo. <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Beatriz e eu enxugamos nossos rostos e ficamos um momento em
silêncio.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">- Eu estou com fome...<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">- Não, você está com sede. É fácil confundir no início.
Olha, temos três quartos vagos nessa casa enorme, por que você não escolhe um
pra você enquanto eu te trago um lanchinho? Depois eu conto tudo que você
precisa saber.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Beatriz me olhou enquanto passava pelo umbral do corredor.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">- Carolina, por que você está sendo tão gentil?<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">- Gentil? Não se iluda, eu não sou nada gentil. Só estou
cuidando de você, Bia. Não é isso que faz uma família?<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Na época, eu não estava tão familiarizada com as ruas do Rio
e demorei algum tempo até achar um lugar que pudesse encontrar uma vítima.
Estava cansada depois de todo o stress da noite e pretendia fazer aquilo
rápido. Infelizmente, devido ao avanço da hora, não era mais possível encontrar
algum desavisado vagando pela rua. No Flamengo, até hoje existe um
bar/bordel que na época era bem movimentado. E foi lá que eu fui surpreendida
naquela noite.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O ambiente era majoritariamente masculino. Claro, existiam
as moças que trabalhavam no local e eram de fácil identificação por causa do
código de vestimenta do seu ramo de trabalho. Mas também era possível ver
algumas poucas mulheres que estavam ali só para tomar um drink ou, quem sabe,
conhecer pessoas novas. O sugar fedia a álcool e suor.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Sentei numa mesa sozinha num dos cantos do estabelecimento,
no outro extremo do palco onde duas mulheres performavam um número sensual. Da
minha mesa, eu tinha visão geral do primeiro andar do bordel e comecei a
examinar os clientes, buscando algum alvo em potencial. Vi um rapaz solitário
umas duas mesas à minha esquerda mas ele não parecia muito limpo e com certeza
tinha alguma doença de pele. Pedi uma taça de bordeaux por aparência e aguardei
mais um pouco.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Alguns minutos depois, um cavalheiro usando um terno bem
cortado e um chapéu, ambos cinza, entrou e se pôs na mesa à frente da minha.
Tirou seu paletó devido ao calor e dobrou os pulsos da camisa até a altura dos
cotovelos. O homem era bastante atraente e com certeza diferia de todas as
outras pessoas daquele lugar. Achei que Beatriz fosse gostar dele. <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Percebi que a cada dez minutos, o homem olhava seu relógio.
Ele estava esperando alguém e resolvi agir antes que sua companhia chegasse.
Derrubei a minha taça de vinho propositalmente no paletó que ele deixou na
cadeira mais próxima da minha mesa. Minha tentativa foi bem sucedida, depois de
um breve segundo de raiva, ele me olhou e aceitou as minhas desculpas por ser
“Tão desastrada."<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Fui convidada a sentar à sua mesa, afinal uma dama não
deveria estar sozinha num ambiente como aquele e de bom grado aceitei. O homem
não tirava os olhos do meu decote e para piorar, tirei o meu casaco. Sabia que
era só questão de tempo, mas como falei antes, estava cansada. Enquanto
conversávamos senti que alguém havia parado de pé atrás de mim, não dei muita
atenção pois achei que era somente uma das mulheres que trabalhavam na casa. O
meu alvo pareceu não notar também até, depois de algum tempo, sermos interrompidos.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">- Achei que essa noite seria só nossa, Rogério.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Me virei e vi uma mulher que aparentava ter a minha idade ou
pouca diferença, mais alta que eu, tinha a pele morena característica da
maioria dos cariocas e os olhos escuros bastante sedutores. Sua roupa era de
bons tecidos, mas ligeiramente vulgar e o decote cavado evidenciava ainda mais
os seios, que chamavam atenção por si só.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></i></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i>- Meu bem, era exatamente este o meu intento esta noite, - o
homem respondeu um tanto quanto nervoso - mas veja, Carolina aqui estava
sozinha. Não vejo mal em levarmos ela para se divertir conosco essa noite
também, você permite não é? À propósito, - disse Rogério voltando-se para mim -
Carolina, esta é Máira."</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: #cccccc; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
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<br /></div>
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<br>
<br>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">É doce e agradável o perfume que o
caderno solta enquanto passo suas páginas. Muitas páginas neste diário são
importantes para que a história que conto possa ser compreendida em sua
totalidade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Deixo aqui mais um relato que Carol fez,
pouco antes de visitar meu quarto a primeira vez, após a morte do meu pai. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">“Eu ia ao espetáculo anual da Revenant,
minha antiga companhia de ballet, religiosamente. Em algumas noites, Lucas
levava a mim e Manoela ao Ópera para ver alguma apresentação estrangeiro. Mas
sempre que a Revenant subia ao palco, eu gostava de ir sozinha. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Fora Lucas, minha única companhia diária
era Manoela e aquele jeito insuportável que ela tinha de querer chamar atenção
a qualquer custo. Depois de alguns anos transformada, resolvi procurar Marie.
Ela guardou alguns segredos meus e me ajudou muito quando eu cheguei à Paris.
Era uma grande amiga e isso era exatamente o que eu precisava. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Era inverno e as ruas de Paris estavam
pintadas de branco, mas isso não impediu que o teatro estivesse lotado dos
lugares mais humildes aos camarotes mais luxuosos naquela noite. A Revenant
apresentaria “La Fille mal Gardée", uma das peças que sempre quis em
dançar. Fiz questão de pegar o nosso camarote, que tinha a melhor vista do
teatro, mesmo estando sozinha naquela noite. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Subiram as cortinas e a orquestra
começou. Entre rostos conhecidos e novos, eu procurava Marie. Estranhei sua
ausência, ela era habilidosa e à essa altura já poderia ser até a
primeira-bailarina da compania. O espetáculo estava muito bem ensaiado e
produzido. Não foi Marie, mas Juliette, a protagonista e ela estava
estonteante. A plateia aplaudiu de pé quando o acorde final soou. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Não ter encontrado Marie me deixou
frustrada e preocupada. O que poderia ter acontecido? Por que ela não estava no
palco? Resolvi ir até nosso antigo apartamento e fazer uma visita surpresa. Uma
última tentativa, se não a encontrasse, voltaria para casa. Eu já controlava
melhor meus impulsos, mesmo quando a sede era intensa, mas mesmo assim preferi
esperar na saída do teatro por algum solitário, apenas por garantia. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Fingi estar perdida e em pouco tempo o
rapaz tímido já me acompanhava pelo Centro de Paris. Fomos até uma parte mais
calma do Sena, onde ele percebeu que não seria um encontro romântico um pouco
tarde demais. Joguei seu corpo no rio quando terminei e antes de ir embora e
chutei a neve manchada de vermelho apagando quaisquer rastros.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">As memórias me atingiram quando virei a
esquina e procurei pelo número 68 onde morei por tanto tempo. Toda expectativa,
vontade e sorrisos que eu tinha conhecido ali…minha vida antiga e toda a
promessa de felicidade que ela ensaiava ser. Ainda estava tudo ali. Lembrei da
primeira vez que levei Carlos àquela casa, em como ele estava nervoso e
preocupado com o que eu acharia sem nem imaginar que eu já queria devora-lo de
qualquer jeito. Naquele tempo, esse garoto, Pablo, ainda não tinha aparecido e
eu contava para mim mesma que já tinha aceitado tudo que aconteceu. Algumas
vezes até acreditava. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Não essa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">A luz do meu antigo quarto estava acesa
e a ideia de ter outra pessoa ali me incomodou muito. Não havia motivos para
estar nervosa, mas eu estava. Ia pisando na neve que cobria a calçada com tanta
hesitação que meus pés quase não deixavam marcas. Toquei na porta e, apesar da
hora avançada, a resposta não demorou. Uma senhora sexagenária muito magra e
com marcas senis por todo o corpo abriu a porta simpática, por um momento tive
certeza que tinha errado a casa, mas havia um quadro na parede atrás da velha
senhora que eu mesma tinha comprado. Laurine era o seu nome, simpática me
convidou a entrar sem a mínima desconfiança. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">A casa ainda mantinha o mesmo aspecto acolhedor
e quente, apesar da decoração estar um tanto diferente. Agora que me via
acolhida do inverno duro, Laurine perguntou se eu precisava de algo, perguntei
por Marie dizendo que era uma amiga antiga. A anfitriã pediu que eu sentasse à
mesa antes de responder. Sentou ao meu lado e não sei importou com a
temperatura da minha pele quando pôs a mão na minha e disse que minha amiga
havia falecido pouco menos de um ano atrás, mas que tinha lutado bravamente por
meses antes de ceder à tuberculose. Ela era uma tia antiga de Marie e estava
tomando conta da casa, ajustando os últimos detalhes antes de pô-la à venda. O
olhar piedoso de Laurine não facilitou nenhum pouco as coisas, sentia como se
toda a qualquer pessoa que um dia fora importante para mim tivesse ido embora.
De repente eu percebi que, fora o meu clã, não havia mais ninguém em quem eu
pudesse me abrir. Eu tinha perdido o último laço que ainda me prendia ao que eu
tinha sido um dia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Voltei para nossa casa cabisbaixa
naquela madrugada. Ao abrir a porta, encontrei Lucas e duas dançarinas do
Moulin Rouge no chão da sala, deitados em meio à garrafas de vinho vazias. Resolvi
me juntar porque parecia ser uma diversão melhor do que ficar sozinha com meus
pensamentos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Manoela estava fora. Desde que as crises
de ciúmes dela haviam se tornado mais frequentes, ela estava agindo de modo
estranho. Ela nunca foi um bastião da sanidade mental, mas agora mostrava um
comportamento passivo-agressivo causado pela preferência que Lucas tinha por
mim e nunca fez questão de esconder. Manoela era obcecada por ele desde a sua
transformação. Diferente de mim, ela pediu para ser transformada. Praticamente
o obrigou a fazê-lo. Nunca soube muito bem o que ela fazia antes, mas de algum
jeito descobriu quem…o que eu e o Lucas éramos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">É impossível esquecer a noite em que ele
eu lia à luz da lareira quando o vi entrar em casa mantendo sua frieza de
costume, mas um tanto quanto preocupado. Sentou em uma das poltronas e, como se
não me visse, mergulhou em seus pensamentos. Perguntei o que havia acontecido e
ele respondeu com um sorriso amarelo e os olhos frios que alguém havia nos
descoberto, uma mulher. Começou a me explicar as consequências daquilo, e o
assunto me pareceu realmente sério. “Eu já vi alguns clãs importantes ruírem
da noite para o dia por terem sido descuidados e deixado um mortal descobrir
seus segredos. Essa mulher sabe onde eu moro e está nos chantageando. Precisamos
agir." – ele disse distante. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Para mim parecia muito óbvia a solução:
nos livraríamos da mulher. Matar não era mais um problema para mim e Lucas fazia
isso como exercício matinal. Mas era um pouco mais complexo que isso, Manoela
não era exatamente burra e tinha tomado cuidado para que seu plano seguisse
exatamente do modo que ela queria. Quando sugeri que emboscássemos a emboscássemos,
ele disse que ela era filha de um antigo sacerdo francês que tinha abandonado o
ofício para viver com uma mulher, por coincidência brasileira também. O pai
havia morrido há alguns anos, mas ela tinha escrito uma carta à Ordem de Notre
Dame contando onde estávamos e quem éramos, se a atacássemos essa carta iria
parar nas mãos deles e poderia ser nosso fim. Claro, poderia ser um blefe mas
Lucas, covarde, não queria arriscar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Perguntei o que faríamos então e fui
pega de surpresa quando ele me disse que a convidaríamos para casa naquela
mesma noite. Eu achei ser uma ameaça, mas a verdade é que Manoela tinha feito
tudo aquilo por apenas um motivo: ela queria ser transformada. Por ter sido
filha de um sacerdo tenho certeza que sabia o tipo de criatura que se tornaria
mas, ao invés de sentir repulsa, ansiava por aquilo. E conseguiu o que queria.
Victor a trouxe para casa e sentamos os três à mesa no que mais parecia ser uma
reunião de negócios. Ele explicou para ela todos os termos, ela concordava com
a cabeça sem objeções. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Foi burocrático. Por Manoela não ter mais
parentes próximos vivos em Paris, tudo pôde ser realizado ali mesmo. Após
concordar em ser submissa às decisões do líder do clã e jurar não fazer nada
que comprometesse nossa segurança, Lucas cravou os dentes em seu pescoço e pude
ver o rubor abandonando seu corpo e enquanto a transformação acontecia. Eu só
conseguia pensar em como alguém em sã consciência trocaria sua vida por aquilo
que nós tínhamos. Se ela não soubesse, eu entenderia, mas ela tinha consciência
do que a esperava e mesmo assim, literalmente, bateu à nossa porta. Eu daria
tudo para que a minha vida tivesse tomado outro rumo naquela noite há tanto
tempo atrás, e ver Manoela tomando aquela decisão me causou nojo. Talvez esse
tenha sido o motivo de nossa relação nunca ter passado do suportável. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Mas como eu disse, nas últimas semanas a
coisa havia se tornado pior. A predileção de Lucas não que isso fazia alguma
diferença para mim, eu continuava fazendo as coisas que eu queria e quando eu
queria. Mas parecia ser algo muito importante para Manoela. Ela era uma mulher
bonita, disso eu nunca tive dúvidas. Os cabelos castanho-claros caíam como uma
cascata sobre os seus ombros e seguiam até o meio das costas. Ela tinha feições
doces e delicadas que contrastavam bem com seus olhos cor de mel sedutores,
mais voluptuosa, tinha um corpo que agradava mais o senso comum dos homens e
devia estar acostumada a chamar atenção, coisa que ela parecia gostar. Acontece
que, desde a sua transformação ela conseguia atenção de todos os homens, e até
algumas mulheres, que queria. Exceto de Lucas. E eu conseguir sem nem ao menos
tentar deixava-a fora de si.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Coisas bobas como escolher me levar de
acompanhante à um certo baile onde só tínhamos dois convites, ou me chamar para
brincar com alguma presa antes de chamar a ela poderiam ser motivos de
discussões homéricas. A leve sugestão de que Lucas sentia mais atração física por
mim do que por ela bastava para que a casa ficasse em chamas. Manoela se
descontrolava facilmente, e isso estava começando a ficar perigoso. Seu último
surto até aquele dia tinha ocorrido porque Lucas tinha comprara uma pintura de
Lilith para pôr na parede de nossa sala e ela, por ignorância ou ciúmes, achou
que fosse eu. Os cabelos são semelhantes sim, e a pele pálida, mas fora isso
era uma mulher ruiva como outra qualquer. Saí do meu quarto alarmada com os
gritos, a tempo de ver Manoela quebrando a moldura com as próprias mãos e
dizendo, com o dedo em riste para Lucas que não aceitaria ser “a segunda” por
muito tempo. Encostada no umbral da porta eu perguntei irônica se aquilo era
uma ameaça, ela se limitou a me responder com um olhar fuzilante e saiu
batendo a porta. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Alguns dias depois da apresentação de
ballet que fui, haveria uma exposição no Louvre a qual também fomos convidados,
mas somente um par de convites. Naquela época o museu ainda era recente e não
tinha todo o glamour nem a tradição de hoje em dia, de modo que recebia obras
de artistas menos conhecidos esporadicamente. Normalmente, apesar da
insistência de Lucas, eu recusava e Manoela acabava indo com ele a este tipo de
evento. Lembro que houve um programa parecido alguns meses antes e eu pude
ouvir os dois se divertindo quando voltaram, mesmo com a porta fechada do meu
quarto. Parecia que Manoela precisava marcar um território que eu nunca me importei
em possuir. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Eu costumava recusar, no entanto, Lucas
disse que um conhecido meu estava relacionado entre os artistas convidados a
expor. Era verdade, reconheci o nome de um ex-namorado de Marie que por um
tempo frequentou a nossa casa, pensei que poderia ter mais detalhes com ele
sobre os últimos dias dela e aquilo serviu de alento para melhorar minimamente
uma noite que tinha sido horrível. Comentei que tinha mudado de ideia e que
dessa vez iria acompanha-lo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Quando acabamos com as dançarinas, eu
fui para o meu quarto. Manoela ainda não tinha retornado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">A exposição estava marcada para a noite
seguinte e, depois que criei coragem para levantar do caixão, fui pegar o jornal
que a nova entregadora trouxera na noite anterior. No caminho até a sala eu
ouvi Manoela cantarolando em seu quarto e presumi que ela estivesse de bom
humor. O que era ótimo, porque eu não estava com o mínimo pique para uma outra
briga daquelas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Voltei para o meu quarto com o jornal e
acendi o abajur. Apesar de ser o final da tarde, as nuvens de dezembro nos
davam noites precoces em Paris, mas eu preferia cobrir minhas janelas mesmo
assim. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">No meio da minha leitura, Lucas abriu a
minha porta sem bater, coisa que eu odiava, perguntando curioso: “Foi você que
se livrou dos corpos das meninas ontem?” e do quarto de Manoela veio a
resposta: “Fui eu. Cheguei ontem bem tarde e vi a sujeira que vocês deixaram.”
- ouvi os passos dela atravessando o corredor - “Mas não tem problema, hoje à
noite você ‘lava a louça’.” e roubou um beijo de Lucas. Respirei fundo e
perguntei “Hoje à noite?”, Manoela ainda abraçada nele desse com um sorriso
largo: “É, acho que podemos nos divertir um pouco depois daquela recepção
chata, não é? Afinal de contas quem acha que aquele museu vai dar em alguma
coisa mesmo?" <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Lucas não tinha contado a ela, e nem
contou naquele momento. Fui eu quem falou “Não, Manoela. Eu é que vou ao Louvre
com Lucas hoje. Você nunca ligou pra arte mesmo, é melhor que eu vá. Resolvi
aceitar o convite.”. Ela olhou para mim confusa, depois para Lucas e seus olhos
sem expressão. Tirou os braços do e começou a botar para fora tudo aquilo que
só dizia em indiretas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Enquanto esbravejava aos quatro ventos
que eu era uma cobra, que jogava Lucas contra ela, que aproveitava as saídas
dela para seduzir o seu homem, seu tom de voz ia aumentando e me incomodava
cada vez mais. Pedi calmamente que ela saísse do meu quarto. Três vezes. Ela
continuou esbravejando e não só recuou, como avançou em minha direção. Manoela
era maior do que eu, em qualquer medida, mas eu estava transformada há mais
tempo e conhecia melhor minha força. A peguei pelos braços e usei seu próprio
impulso para joga-la em minha estante de livros. Rapidamente olhei para Lucas
esperando que ele me ajudasse a conter Manoela, mas o filho da puta estava
gostando de ver nós duas brigando pela sua companhia e apenas sorriu. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Enquanto Manoela tentava se livrar dos
livros que caíram em cima dela com o impacto, eu sentei em suas pernas e a
mantive no chão com as unhas fincadas em sua garganta. Meu stiletto foi tão
fundo que ela chegou a sangrar. Só quando vi calma de novo em seus olhos foi
que saí de cima dela e mandei os dois para fora enquanto lambia meus
dedos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Consegui ouvir gritos de raiva e alguns
socos na parede do corredor mesmo com a porta fechada e me diverti. Ouvi também
a porta de casa batendo num baque seco e preciso. Manoela saíra como ela fazia
sempre que as coisas não iam de acordo com a sua vontade de menina mimada. Eu
precisei refazer as unhas depois da briga, e talvez por nostalgia ou por
saudade, escolhi o esmalte preto que só usava em ocasiões importantes e separei
meu vestido favorito do armário. Era o mesmo que eu usava quando conheci
Carlos. Ele disse que viu minha apresentação cinco vezes antes de tomar coragem
e esperar duas horas na chuva só para falar comigo na saída do theatro. O
vestido era um pouco curto para o inverno, por isso também resolvi colocar
botas três oitavos e luvas que cobriam até o cotovelo. E um batom russo,
vermelho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Perto da hora marcada para que o cabriolet
chegasse, peguei um casaco de inverno também preto e fui até a sala. Lucas já
me esperava lá de smoking e gravata borboleta. Nunca houve competição entre eu
e Manoela, mas se tivesse havido uma, ela sequer teria tido uma chance. O
cocheiro tocou a campainha fomos para uma noite que não sairia como o esperado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Fiquei em silêncio a maior parte da
viagem, observando a neve que caía e batia no meu lado da janela. Mesmo estando
alheia ao caminho, percebi o cabriolet reduzindo a velocidade conforme nos
aproximávamos do museu. Depois de alguns minutos, o cocheiro parou, desceu de
seu posto e veio nos avisar na cabine que a polícia havia feito um cordão de
isolamento no lugar. Algo tinha acontecido. Realmente, o caminho desde a Place
du Carrousel até a pirâmide estava obstruído. Lucas, polido, agradeceu o senhor
enquanto dava-lhe o pagamento da corrida quando descemos e seguimos a pé.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Pude ver a praça apinhada de gente e
Lucas foi abrindo espaço entre as pessoas que pareciam não conseguir negar
passagem. Procurei o policial mais próximo de mim e perguntei o que havia
acontecido. Mesmo insistindo ser informação confidencial, ele não pareceu se
importar em contar após eu pedir uma segunda vez e me disse que um dos artistas
convidados havia sido atacado por uma criminosa. Estrangeira, ele disse.
Provavelmente inglesa, porque só os britânicos poderiam ser tão cruéis ao ponto
de atacar daquele jeito alguém. “Mas é preciso dar um crédito à moça também.” -
ele dizia ainda um pouco atônito - “Derrubar alguém tão forte quanto aquele
homem somente com mordidas não era algo que muitos homens fariam, uma mulher
então…”. No meio da frase o homem foi atraído pelo inconfundível som de uma
luta. Pediu que eu esperasse onde estava enquanto ele ia checar, mas cheguei à
multidão antes dele de muitos de seus companheiros.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">A cenário não era bom. Lucas tentava
conter Manoela que tinha voltado à cena e agora armava um escândalo. Todos os
mortais que estavam presentes ali, desde os de posse que haviam sido convidados
para a exposição até os mendigos que apareciam curiosos estavam vendo
aquilo. Manoela estava com os lábios, dentes e pescoço reluzindo de sangue
fresco. Suas roupas estavam manchadas e rasgadas, os olhos assassinos estavam
vermelhos como rubis. Não temos reflexos, então eu nunca pude saber, mas se for
assim que nos parecemos sempre que estamos em ataque, o horror das vítimas é
justificado. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Lucas tem uma frieza e impassividade à
frente de problemas que faz a maioria das pessoas achar que ele está seguro e
tem a situação sob controle, mas eu o conheço o bastante para saber quando ele
sabe que as coisas não estão indo bem. As pupilas dilatadas e sobrancelhas
cerradas me davam pistas de que estávamos em apuros. Manoela avançava sobre ele
cegamente, que se esquivava sem revidar. Um homem maltrapilho ao meu lado disse
“Ele está tentando tirar ela da multidão.” e ele estava certo! Lucas não estava
se esquivando apenas, ele estava recuando em direção à área que estava isolada.
Tirar Manoela dos olhos dos mortais era sua prioridade. Entendi o que ele
estava fazendo e resolvi me aproximar, apesar de ainda estar no meio da multidão,
para quando tivesse a melhor oportunidade, imobiliza-la e minimizar maiores
problemas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Foi então que eu ouvi.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Muito discreta, propositalmente baixa.
Audível o suficiente para me incomodar como uma agulha que é enfiada lentamente
por baixo das unhas, mas não para que eu pudesse perceber de onde vinha. Era
uma oração. Minha sede começou a piorar repentinamente e minha concentração
ficou comprometida. Percebi que apesar de estar sofrendo seus efeitos, eles
estavam sendo piores em Manoela e Lucas. Eu era apenas um alvo indireto. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Foquei toda concentração que tinha
naquela voz que reconheci <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>ser de uma
mulher. Ela não tinha me percebido, e essa foi a nossa sorte. A moça era boa, a
melhor que eu já vi. Boa e corajosa, pois estava sozinha, mas estava confiante
de que não teria problemas. Enquanto tentava fazer contato visual, vi Manoela
levar as mãos aos ouvidos como se quisesse causar uma surdez momentânea cair
sobre seus joelhos. Lucas foi em sua direção à passos largos. Rápida como uma
flecha naquela cena quase estática, nossa caçadora saiu da multidão com um
crucifixo na mão erguida acima da cabeça. Foi a primeira vez que vi o efeito
que aquela coisa tem sobre nós. Lucas, quando explicou, não fez jus ao que
era. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Da arma da saiu uma luz tão brilhante
quanto eu me lembrava ser a luz do sol. Lucas tentou proteger os olhos com os
braços mas começou a queimar e pelo que eu vi, ficou momentaneamente cego. Se a
mulher continuasse a insistir nele, talvez só restassem as cinzas, mas seu foco
de ataque mudou para Manoela. Numa sequencia de movimentos que parecia ter sido
ensaiada, vi a sacerda enrolar um cordão de dentes de alho no pescoço de
Manoela que ainda estava ajoelhada à sua frente, cruzá-lo sobre as mãos e puxar
as pontas. Lentamente a corda de alhos ia afundando em sua pele e, em não muito
tempo, Manoela não teria mais a cabeça sobre os ombros.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Eu não pensei, quando percebi já estava
abrindo caminho pela multidão com toda a velocidade que tinha até parar atrás da
mulher que quase acabou conosco. Eu podia perceber as pessoas ao meu redor me
olhando com o mesmo terror que olharam para Manoela, mas isso não me impediu. A
mulher era rápida e visivelmente bem treinada, mas não conseguiu travar a sua
ação quando me percebeu. Atacando pelas costas, agarrei seus antebraços e puxei
para baixo de uma vez, sentindo suas escápulas deslocarem. Manoela tombou
quando a pressão sob o cordão de alhos cedeu e, ainda no chão, segurou as
pernas da mulher enquanto eu chupava seu pescoço depois de tê-lo quebrado. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">A maioria dos mortais correu da praça em
polvorosa e os poucos policiais que restaram atiravam balas que não nos feriam.
Lucas, já recuperado me tirou do frenesi arrancando a mulher de mim sem
dificuldades. Ajudou Manoela a levantar com uma mão estendida e desprezo nos
olhos. Dizendo cada palavra como se lhe custasse toda calma que tinha, ele
mandou que voltássemos para nossa casa imediatamente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">A super velocidade ajudou, éramos mais
rápidos que qualquer cabriolet ou carruagem da época. Não houve bate-boca quando
entramos em casa. Manoela afundou numa das poltronas de nossa sala chorando e
se mostrando verdadeiramente arrependida do que fez e Lucas que parecia ter
esquecido todo o ocorrido, consolava-a. Eu estava com muito frio e acendi a
lareira para que pudéssemos ter algum conforto enquanto pensávamos o que
faríamos a seguir. Pude ver Lucas indo até as costas da poltrona onde Manoela
estava sentada soluçando e disse a ela com voz de veludo que tudo estava bem,
enquanto fazia carinho em seus cabelos longos. Calmamente, ele diz que sabe que
ela estava arrependida de tudo o que aconteceu, e que não iria se repetir outra
vez. Manoela concorda com a cabeça, e pude ver seus soluços acalmando e se
tornando mais espaçados. Lucas desceu dos seus cabelos para seu pescoço.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">O barulho foi seco. Como um galho de uma
arvore morta que quebra sob o peso do acúmulo de neve. Lucas girou o pescoço
dela tão rápido que eu mal vi seu movimento até ele estar terminado. Manoela
continuou sentada do mesmo modo que estava, só que agora seu rosto fitava o
encosto da poltrona enquanto seus cabelos eram iluminados pelo fogo de nossa
lareira. “Você está arrependida, pena que é tarde demais.”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Seria mentira dizer que senti sua morte,
Manoela nunca foi próxima à mim. Mas tive sim um choque vendo aquela cena. Uma
das coisas que Lucas me dissera logo nos meus primeiros dias como vampira foi
que nossa classe só tem uma lei, a que condena que nos matemos exceto se algo
muito grave for feito. E sim, Manoela tinha feito algo que pôs em risco nossa
segurança. Mas mesmo assim não foi algo fácil de ver. Lucas pôs seu corpo na
varanda onde, quando o sol nascesse, seria banhado pela sua luz e em questão de
minutos não seria nada além de cinzas. Quando voltou, sentou ao meu lado e perguntou
se eu tinha alguma ideia do que poderíamos fazer agora com a mesma naturalidade
de quem pergunta o sabor de pizza que deve pedir ao telefone.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">A noite tinha sido longa demais, uma
sequência de acontecimentos inesperados que saiu do controle. Eu estava
exausta, física e mentalmente. Lucas não pediu urgência na resposta, mas seus
olhos inquisidores sim. Pensei em lugares da França que eu já tinha conhecido,
se algum deles seria um bom lugar, mas mesmo a fortaleza murada de Mont
Saint-Michel, o lugar mais seguro que pude me lembrar parecia ser suficiente. E
como uma epifania que se torna óbvia depois que é tida eu percebi: não existe
lugar mais seguro que o nosso lar. Então foi com segurança que eu afirmei: “Vamos
voltar para o Brasil.”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Lucas me olhou intrigado. Vi um sorriso
brotar em seus lábios enquanto seus pensamentos se concatenavam em uma fuga bem
sucedida. “Isso! Vamos até Grenelle, lá tem navios de carga com vinhos que são
enviados para o Novo Mundo diariamente! Os virgenzinhos vão nos procurar pela
França, no máximo pela Europa, mas vão demorar para ir tão longe...Acredito que
devemos deixar tudo como está. Eles vão achar que ainda estamos por perto. Vamos
levar apenas a roupa do corpo e os caixões. Precisamos correr, - olhou o
relógio - acho que tem um carregamento saindo às 3am. Carolina, você é incrível!”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">Era irônico ouvir a palavra que Carlos
mais usava para me representar nos lábios de seu assassino com o mesmo
significado. E foi exatamente na ironia que eu pensava enquanto ele tomou meu
rosto nas mãos e beijou um beijo gelado. “Agora não tem mais ninguém para nos
atrapalhar”, ouvi Lucas dizer, quando me derrubou no tapete e rasgou meu
vestido favorito. Da onde eu estava, conseguia olhar para o corpo de Manoela na
varanda.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">De fato, era irônico.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 16.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span style="font-family: "Adobe Garamond Pro"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue";">E foi assim, por um ataque de ciúmes
imaturo que eu me vi, algumas horas depois, no convés de um navio que cruzava o
Atlântico e me levava de volta para casa." <o:p></o:p></span></div>
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<br /></div>Doughttp://www.blogger.com/profile/10921754351760150046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3896754087151831820.post-91895845813253700652015-12-28T15:33:00.001-08:002015-12-28T15:33:22.427-08:00Ver034<iframe width="420" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/I483tB12SyE" frameborder="0" allowfullscreen></iframe>
<br>
<br>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Eu não pude me conter.
Avancei sobre Catharina e dei-lhe um abraço tão forte que senti as
minhas próprias costelas doerem. Carol estava viva, agora os
ferimentos não doíam mais.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
- E depois?</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
- Como assim, depois?</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
- Depois…depois que
ela falou com você sobre não me deixar mais sozinho, o que
aconteceu?</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
- Nada. Ela foi embora,
e eu entrei. Não tinha mais nada para acontecer.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
- É que eu pensei
que...</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
- Não é como se eu
fosse chamá-la para entrar e tomar um chá enquanto esperávamos
vocês voltarem.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
- Eu sei, mas ela não
disse mais nada? - meus pés começavam a voltar ao chão agora -
Aonde ela tem ficado ou quando faria uma visita, algo do tipo.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
- Pablo, eu vou ser um
pouco dura agora, mas é para o seu bem. Ela sabe onde você mora,
sabe até onde você estava essa noite. Se ela quisesse mesmo, se ela
ao menos se importasse, você não acha que ela já teria aparecido?
- ela estava certa, foi algo duro de se ouvir, como eu não tive o
que responder, ela continuou - Carolina prejudica e tira sua vida dos
eixos há séculos. Depois do último “encontro” de vocês,
talvez ela finalmente tenha percebido o quanto é perigosa estando
perto de você, e agora quer deixar você seguir a sua vida. Pelo
menos esta.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Eu me afastei, não
queria continuar aquela conversa. Não queria mesmo ficar perto de
Catharina naquele momento. Eu estava confuso, conseguia sentir que
havia algo errado. Alguma coisa não batia, não faria sentido
Carolina ter ido até a Candelária atrás da minha protetora cobrar
um serviço mais presente se ela não se importasse mais comigo.
Catharina passou a mão pelos cabelos e me devolveu um daqueles
olhares preocupados que eu não suportava. Não voltei para a cadeira
que ela sugeria que me sentasse novamente. Fui até a minha valise,
que graças à luta agora estava bastante arranhada, quando ela
segurou a minha o meu pulso. Catharina não aparentava estar fazendo
força, mas eu tentava desvencilhar o braço dos seus dedos com tudo
que tinha e eles não cederam.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
- O pior de tudo isso é
que ela realmente tinha razão. Eu não posso ser mais tão
descuidada com você assim. O que teria acontecido se ela não
tivesse parado naquele dia? Como eu conseguiria olhar para você
morto outra vez por ter sido mais sua amiga que sua protetora? Não,
Pablo - a porta do apartamento se fechou delicadamente e eu consegui
ouvir seu tranco passando - dessa vez não.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
- Você não pode fazer
isso. Me deixa ir! - puxei o braço e dessa vez ela soltou.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
- Ir aonde? Atrás
dela? Você pode fazer a loucura que quiser, Pablo, mas não ferido
depois dessa confusão toda.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
- Abre a porta,
Catharina, agora! Você não está indo contra tudo aquilo que você
me disse? Contra o meu direito de escolha, livre-arbítrio e tudo
mais?</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
- Talvez eu esteja.
Tive uma ideia, se você está tão incomodado, por que não chamamos
Ganthen aqui e contamos o quanto você quer sair por aí nesse estado
pra ir encontrar sua vampirinha? Aí a gente vê quem tem razão.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
- Ah, você aprendeu a
ser irônica agora, é? Para, porque não te cai bem.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Bati a porta do quarto
com força e abri a janela. Três andares e uma parede lisa que não
tinha nada pra me ajudar a descer, eu não sobreviveria à queda.
Percebendo que não tinha nada a ser feito fechei a janela e sentei
na cama. Eu nunca tive tanta raiva de Catharina quanto naquela
madrugada. Olhei para o chão, ainda com resquícios do giz que eu
usei nas marcas daquele ritual improvisado para chamar Carol, e
tentei entender algum motivo lógico por ela estar bem e não ter me
procurado. Acho que muito da minha raiva, na verdade era medo. Medo
de Catharina estar certa e nunca mais ver Carol de novo. Resolvi
tentar dormir para afastar este pensamento mas antes me levantei
outra vez.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Caso ela aparecesse, a
janela deveria estar aberta.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: center;">
+++</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Apesar de estar
exausto, não dormi aquela noite. Carol não apareceu. Por volta das
10am, Catharina bateu gentilmente na porta. Ela estava arrumada,
Catharina sempre se produz quando está incomodada com algo, acho que
é o jeito dela sentir que está dando o melhor de si naquela
questão. Se até os anjos podem ser vaidosos, acredito que este é
um pecado bem perdoável.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Ela sentou na cama. Eu
recolhi as pernas e me sentei também. Depois de um tempo ela quebrou
o silêncio dizendo:</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
- Eu esqueci de limpar
o giz no chão.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
- Não precisa, aquilo
pode ficar.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Precisei de mais dois
dias até estar totalmente recuperado e poder me apresentar novamente
à ordem. Catharina passou estes dois dias comigo, mas na maioria do
tempo em algum cômodo onde eu não estava.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Ao retornar, meu
treinamento continuou, mas acredito que este seja um bom ponto para
pausar a narrativa. É hora de contar algo importante antes de seguir
com a história. Na época eu estava perdido em dúvidas e
insegurança. A saudade dela só não era maior que o medo de não
ver Carol de novo, mas no fim das contas eu estava certo. Havia sim
um motivo para sua ausência que eu só descobri algum tempo depois,
quando ela me mostrou um caderno que usava como diário e relatou
tudo o que pensava durante os dias que tentou me deixar.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Como tudo que ela
deixou aqui, este caderno é extremamente valioso, e não só pela
capa de couro levemente rosea, decorada com um mosaico geométrico de
padrões elegantes, daqueles que a gente vê princesas carregando em
filmes de época. Ele é valioso, porque é em suas páginas que eu
encontro as palavras dela e, se eu fechar os olhos, até consigo
ouvi-la falando comigo. O que vai ser relatado a seguir faz parte dos
relatos que ela escreveu:</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
“<i>Rio de Janeiro,
28/04/2015</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i><br />
</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i>Não consigo me lembrar
quando foi a última vez que usei este caderno. Folheando algumas
páginas de seu início, encontrei alguns escritos que eu fiz onde
pontuo a data, mas com o tempo elas vão desaparecendo. Quando se tem
séculos de vida, datas parecem não ter importância. São
desprezíveis.</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i><br />
</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i>‘Desprezível’, eu
sempre odiei essa palavra. Entendo que desprezível é algo tão
baixo que não é capaz nem mesmo de causar incômodo. Algo que não
se registra e não se sente falta. Alguma coisa que, mesmo estando
ali, não se nota. Odeio esta palavra e tudo que ela representa, mas
era exatamente assim que eu me sentia durante boa parte do último
século. Desprezível.</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i><br />
</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i>Lucas é sádico,
calculista e não confiável. Narcisista, ele transformou a mim,
Manoela e Biatriz apenas por vaidade. Se bem que, no meu caso, acho
que houve certo teor de vingança também. Muitas vezes eu o odiei,
no inicio principalmente. Ele queria manter nós três para ele, é
difícil se encontrar depois da transformação. Tudo muito novo,
amedrontador. Éramos reféns de seu conhecimento e ele queria manter
as coisas assim.</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i><br />
</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i>Cortar relações com
meus pais foi o mais difícil. Via as cartas da minha mãe acumulando
no meu quarto em pilhas e todas as suas preocupações que machucavam
mais do que sede que eu sentia. Eu estava em frangalhos naqueles
primeiros meses após a transformação. Tudo que eu queria era
responder a minha mãe, contar a coisa horrível que havia acontecido
comigo. Só que Lucas me alertou para não fazer aquilo, que um único
raio de sol seria fatal para mim e que, ainda que encontrasse meus
pais à noite, avançaria sobre eles como um animal. Assim como fiz
com Carlos.</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i><br />
</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i>Lembro da sensação de
angústia que senti, alguns dias após ter escrito uma carta para
minha mãe simulando um agente funerário que relatava minha morte,
ao ver um retrato meu na primeira página do Le Figaro, ilustrando
uma matéria paga pela companhia de ballet que eu trabalhava.
"Primeira-Bailarina desaparecida há semanas", era o que
dizia, e em seguida relatos de algumas de minhas colegas e até da
diretora da companhia, que eu achava nunca ter gostado de mim.
Lagrimas molharam o jornal quando li que Marie dizendo que eu era a
melhor colega de quarto que alguém poderia ter, ou mesmo Juliette,
de quem peguei o papel principal no último espetáculo, dizendo que
eu era a alma da companhia. Aquelas pessoas eram minhas amigas, foram
minha família desde que eu cheguei em Paris, e apesar de à essa
altura Manoela já ter sido transformada e estando ao meu lado todas
as noites, eu me sentia sozinha.</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i><br />
</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i>Na maior parte do tempo
eu evitava pensar nele e até tinha algum sucesso, mas as noites eram
longas e cedo ou tarde ele voltava aos meus pensamentos. Carlos foi a
melhor pessoa que eu conheci, sempre fui relutante em me abrir ou
confiar em outras pessoas, mas com ele isso era tão natural que eu
não pude evitar. Eu conheci muitos homens, homens que enxergavam o
meu corpo, e eu nunca achei isso um problema. Até acho que alguns
deles estavam realmente interessamos em mim. Mas Carlos era
diferente, apesar de ter flagrado dois ou três olhares discretos
quando eu passava, sabia que isso era o que menos importava para ele.
Para ele, eu não precisava ter o cabelo mais bonito ou os maiores
peitos do mundo, eu só precisava ser eu, Carolina, e isso bastava.
Não acho que alguem já tenha sentido ser o bastante para alguem,
como eu era para ele. Eu não acredito no amor, mas se ele existir,
era bem parecido com o que Carlos sentia por mim. Ele foi me
contaminando com esse sentimento de modo que, quando eu vi, já não
tinha mais volta.</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i><br />
</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i>Eu, Carolina LeBion,
moradora do bairro mais boêmio de Paris, apaixonada por um padre.
Seria cômico se não fosse a culpa. Eu o convenci a largar a batina
sem dificuldades. Sabia que ele aceitaria a ideia de fugirmos juntos
no momento que eu a fizesse. Seu único pedido foi algumas semanas
para se resolver com a igreja e não sair fugido. Se eu não tivesse
me precipitado e comprado as passagens para Londres num trem noturno
para dali a dois dias ele ainda estaria vivo.</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i><br />
</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i>Eu não tinha mais
necessidade de dormir, e mesmo assim esse pensamento me vinha algumas
vezes ao deitar. O pior tipo de pesadelo é aquele que temos enquanto
estamos acordados. Toda vez que esse pensamento me afligia, somado ao
sentimento profundo de solidão e tristeza que toda aquela situação
causava, eu pensava em suicídio. Cheguei a tentar algumas vezes. Mas
facas não perfuravam minha pele, nem fogo queimava. Nem mesmo um
revólver foi capaz de ferir. Eu poderia me jogar ao sol, mas por não
confiar em Lucas, não poderia ter certeza do seu efeito fatal. Não
queria que restasse nada de mim para sofrer as retaliações por ter
exposto o clã. Sim, era disso que eles nos chamava, "o seu
clã". Então optei por tentar uma forma de suicídio mais
discreta e silenciosa: a inanição.</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i><br />
</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i>No ato da minha
transformação, eu suguei Carlos até a última gota, por isso a
sede demorou algum tempo até se tornar insuportável. Foram semanas
até sentir a garganta queimar de novo. Mesmo assim eu resisti,
pensar no seu corpo, estirado na chuva e o meu por cima dele fazia eu
perder o apetite. Mas as vezes, mesmo sem apetite, seu organismo
grita por alimento e, em nós isso toma contornos irracionais.</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i><br />
</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i>Seis semanas depois de
transformada, eu fiz minha primeira vítima.</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i><br />
</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i>Lucas gostava de se
manter informado e, como éramos impossibilitados de sair durante o
dia, ele fez um acordo com uma funcionaria da edição do Le Figaro,
provavelmente seduzindo-a. Todas as noites a campainha de nosso
apartamento tocava religiosamente às 22h trazendo edição que
sairia apenas no dia seguinte para o resto de Paris. "Um dos
muitos privilégios que a nossa classe deveria gozar", segundo
Lucas. Por ser reclusa, passava a maior parte do meu tempo no quarto,
onde tentava fazer qualquer coisa para não pensar na minha condição.
Geralmente o próprio Lucas atendia a porta, e depois de alguns
minutos mandava a pobre mulher embora. Nas vezes que ele estava
ausente, Manoela fazia este serviço, de forma muito menos cordial,
devo dizer.</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i><br />
</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i>Neste dia específico
houve uma festa em Montmartre. Não consigo lembrar ao certo sobre o
que era, mas Montmartre por si só já era uma festa, então não faz
diferença. Lucas e Manoela foram, eu não quis ir, a Sacre Coeur era
logo ali em cima, não aguentaria mais chegar sequer perto daquelas
escadas sem que pensasse em Carlos. Ainda hoje o efeito é o mesmo.</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i><br />
</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i>Estando em casa, restou
a mim receber a mulher dos jornais. Como sempre, ela bateu à porta
pontualmente. Até então, só tinha ouvido sua voz abafada através
das paredes. Ao olhar para ela, achei que Lucas nem teria precisado
ser um vampiro para seduzir aquela pobre mulher. Gorda, atarracada,
de feições grossas, e com um sinal que os irmãos Grimm botariam em
suas bruxas, aquela mulher era certeiramente uma das coisas menos
atraentes que eu já vira na vida, mas algo nela me atraía. "Joulie
Anne", ela se apresentou, e perguntou por Lucas. Parecia
nervosa, quando eu disse que ele não estava, mas perguntei se ela
não queria se sentar e descansar um pouco da caminhada. Antes que
ela pudesse responder, a trouxe para dentro do apartamento com um dos
braços, enquanto fechava a porta com o pé. Me surpreendi com a
facilidade que eu movi aquela mulher certeiramente quatro vezes mais
pesada que eu.</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i><br />
</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i>Então percebi, era seu
cheiro. Seu cheiro que me atraía daquele jeito. Não como um
perfume, era um cheiro mais profundo. Minha garganta começou a
queimar e a dor do meu estômago aumentava. Por um breve momento
pensei em manda-la sair do apartamento, mas logo em seguida a joguei
contra a porta fazendo certo barulho. Eu estava consciente do que
estava fazendo, mas não controlava meus atos. Tudo que meu corpo
sabia era que precisava do sangue de Joulie Anne. Ela tentou me
empurrar de volta com seu corpanzil enquanto gritava por ajuda. Vetei
seus lábios com a minha mão esquerda enquanto dei um chute em seu
joelho para que seu pescoço ficasse na minha altura. Eu ouvi o osso
quebrar e senti a fina camada de pele cedendo aos meus dentes sem
resistência. Joulie Anne se debatia, mas minhas mãos eram chumbo,
mesmo eu não acreditava na facilidade daquilo tudo. Seu sangue saía
da jugular com pressão e eu puxava ainda mais com o vácuo que
criara com meus lábios.</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i><br />
</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i>Não sei dizer quanto
tempo demorei até me dar por satisfeita, mas quando terminei me
sentia cruelmente bem. A sede acalmara, meu estômago não incomodava
mais e mesmo meus pensamentos pareciam estar mais claros agora. O que
não foi exatamente bom, pois eu tinha acabado de assassinar alguem
pela primeira vez. Eu, sentada ao seu lado do corpo de Joulie Anne,
ainda tentava processar tudo aquilo enquanto sentia o sangue dela
ressecando nos meus lábios e pescoço, mas não queria tirá-lo
dali. Eu queria seu gosto na minha boca o quanto pudesse deixar.</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i><br />
</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i>Lembrei que Lucas, após
ter me transformado, disse que meus conceitos iriam se moldar à
minha nova vida, que a sede seria mais forte e que eu ia acabar me
acostumando à isso. Era isso que eu era agora e eu deveria aceitar.
Eu estava aterrorizada naquela noite, era tudo muito diferente! Mesmo
sendo noite e estando debaixo de uma chuva covarde, meu olhos viam
cores que eu não saberia nomear. Pude ouvir nitidamente, mesmo
estando ruas distante, o maquinista do trem fazendo a última chamada
do embarque para Londres. O nosso trem.</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i><br />
</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i>Os cachos de Carlos
encharcados numa poça que misturava agua e seu próprio sangue foram
a última coisa que eu registrei antes de avançar para o corpo dele.
Eu ouvi a voz de Lucas me incentivando com um prazer quase sexual,
sabia que ele estava olhando e sabia que ele estava gostando.
Continuei até que não sobrasse nada. As lágrimas vieram quase que
automaticamente. “O que está acontecendo comigo?”, lembro de ter
perguntado enquanto me afastava do homem que me observava satisfeito.
Não precisava de luz para analisar suas feições. Os cabelos pretos
e escuros não pareciam ter mudado muito com a agua, tinha
sobrancelhas marcantes e olhos sedutores. O nariz era um tanto quanto
largo mas combinava com seu sorriso descompromissado. Lucas era
atraente, mesmo no estado em que me encontrava consegui notar isso.</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i><br />
</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i>Ele se aproximou de mim
em silêncio, e eu só percebi que estava recuando quando bati com as
costas numa parede da rua. Desviei o olhar por um segundo e ele já
estava diante de mim, suas mãos nos meus pulsos manchados de sangue.
Ele levantou meus braços até acima da minha cabeça com facilidade
e senti sua língua passando pelo lugar ainda sensível onde ele me
mordera. Era fria como neve, mas me deixava excitada. Como?! Como eu
poderia pensar nesse tipo de coisa depois da cena que acabara de
acontecer?</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i><br />
</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i>“É bom, não é?”,
por um momento eu não soube do que ele estava falando, mas
concordei, “O sangue descendo pela garganta. A vida daquela pobre
criatura passando para você.”. Durante os anos eu fiz a mesma
coisa com muitas as minhas vítimas, mas naquela noite, era eu que
estava sendo seduzida. Ele me soltou e me deu as costas. Ao passar
por Carlos, chutou-o com um movimento leve, mas que fez o corpo voar
alguns metros na rua.</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i><br />
</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i>“O que aconteceu?”
perguntei entre soluços, “O que eu fiz?”. A resposta de Lucas,
foi uma espada: “Eu só lhe dei um pequeno presente. E você foi
muito bem, devo dizer. Fez exatamente o que deveria fazer à essa
escória mortal. Agora venha comigo, vou te levar para casa."</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i><br />
</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i>O apartamento fedia na
primeira vez que entrei lá. Meu olfato, agora mais sensível,
percebia cheiro de suor, sangue seco e vinho impregnado ao ambiente.
Estava sendo guiada por Lucas ainda tentando me acostumar àquelas
sensações e me convencer de tudo que havia acontecido aquela noite.
Ele mandou que eu tomasse um banho enquanto providenciaria novas
roupas para mim e me levou até o banheiro. Me pus de frente ao
espelho que ficava à esquerda banheira para ver como eu estava e
lembro do choque que tive ao não encontrar nada ali. Depois do
susto, as lágrimas voltaram, tirei meu vestido sujo e encharcado - o
vestido havia sido escolhido propositalmente por ser o favorito de
Carlos - e o atirei do outro lado do banheiro, quando ouvi a porta se
abrir outra vez. Primeiro, estranhei o fato de Lucas já estar de
volta em tão pouco tempo, mas depois lembrei que não conseguia
precisar quanto tempo eu fiquei ali naquele banheiro. Eu não queria
que ele me visse daquele jeito, então recuei até a banheira, mas
antes de conseguir cerrar a cortina a porta se abriu. Demorei alguns
segundos para reconhecer Catharina. Naquele tempo sequer lembrava o
nome dela, mas seu rosto é algo que você não esquece de ter visto.
Contei a ela, aos soluços, tudo que acontecera e repetir toda aquela
noite maldita com palavras deixava tudo ainda mais doloroso. No fim,
concluí que não queria mais viver, não queria ser daquele jeito.
Pedi, implorei, para que ela me matasse. Catharina revelou para mim
quem era realmente e com um certo prazer no olhar decretou que eu
deveria viver com aquilo me atormentando. "É o que uma criatura
baixa como você merece, demônio."</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i><br />
</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i>Ela me deixou ali,
coberta em sangue e lágrimas, no chão gelado. Nunca fui religiosa,
apesar dos desejos da minha família, mas esse tipo de atitude é
muito interessante para quem se proclamava ser "do lado da luz".
Durante os anos encontrei Catharina algumas vezes e, apesar de nunca
ter dito isso, eu sinto que ela odeia nossos esbarrões tanto quanto
eu.</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i><br />
</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i>Matar Joulie Anne para
me alimentar pesou em mim, mas não tanto quanto Carlos pesava.
Demorei alguns dias para que eu sentisse sede outra vez, e quando
aconteceu, as palavras de Catharina ecoaram em mim e não hesitei em
atacar novamente. A morte seguinte não demorou, nem as outras depois
dela. Com o tempo, passei acompanhar Lucas e Manoela pelas noites de
Paris, Lucas gostava de ver nós duas em ação, como seduzíamos
atraíamos os escolhidos de cada noite. Homens eram alvos mais fáceis
e Lucas não parecia se incomodar que eles fossem nossa preferência.
Manoela e eu costumávamos levar jovens garotos da universidade ou
militares da coroa para casa quase diariamente para o apartamento. Eu
percebia o desejo em seus olhos e a excitação nos seus corpos.
Também o terror em seus olhos quando finalmente percebiam. Confesso
que gosto da sensação de poder, sempre gostei, e passado o primeiro
ano de minha transformação eu já não me importava mais em matar.
Muitas vezes fazia mais por tédio do que por sede realmente.</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i><br />
</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i>Por quase duzentos
anos, nunca pensei duas vezes antes de atacar um mortal. Até hoje a
noite. Máira me chamou para dar cabo de um desafeto que ela tinha
arrumado, como já fizemos em muitas outras noites. Deixei que Máira
começasse a se divertir enquanto eu observava, gosto de ver até
onde eles aguentam. Confesso que o garoto me era familiar à
distância, mas não me ative muito a este fato até Catharina
aparecer. Tudo parecia um déjà vu de mal gosto até o garoto
cortar a própria mão. Não tive tempo de entender se por sorte ou
de propósito, sua mão vermelha oferecida me fez entrar em cena sem
pensar muito e foi só quando eu estava sobre ele preparada para
atacar que vi.</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i><br />
</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i>Carlos. O garoto não
era só parecido, mas ele era exatamente igual a Carlos! Os cabelos
mais curtos e a barba por fazer, é verdade, mas sem dúvidas era
ele. Não demorei a perceber, demorei a acreditar. Fiquei alheia à
situação; não ouvia mais Maíra ou Catharina. Eu não sei o que
houve essa noite, ele voltou, e eu estava sobre ele enquanto chovia.
Do mesmo jeito que tudo acabou quase duzentos anos atras. Já estou
acostumada à saudade, mas agora que cheguei em casa ainda com a
cabeça girado do que acabei de ver, percebi que também estou
sentindo algo que já tinha esquecido o que significava: esperança.</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i><br />
</i></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<i>E medo.</i>”</div>
<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>Doughttp://www.blogger.com/profile/10921754351760150046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3896754087151831820.post-62662156626345399352015-11-14T13:55:00.000-08:002015-11-14T13:55:03.181-08:00Ver033<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/4_0umDHCfSE" width="420"></iframe>
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<br />
<div class="MsoNormal">
Todas as referências que eu tinha de filmes ou histórias
fantasiosas sobre possessão não conseguiam dar conta da insanidade que era
aquilo. Uma marionete sem fios, era como se alguma mão invisível e maligna
estivesse escondida sob o véu da escuridão no teto da casa e estivesse fazendo
Júlio dançar. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Começou sem música, os pés batendo com força no chão,
fazendo barulhos propositais. A luz do meu terço erguido me permitia ver muito
pouco além daquela cena, mas minha visão periférica ainda captava a presença de
Victor à minha esquerda. O rosário pendia da sua mão direita que estava levada
à boca, os olhos estavam tão vazios quanto os de nosso inimigo, que não os
tinha. Em algum lugar no interior da casa abandonada uma vitrola arranhou um
disco que começou a tocar uma melodia fúnebre que eu nunca ouvira antes. Era um
piano melancólico e cadenciado que ditava os passos e movimentos de Júlio de
forma artificial e doentia. Pouco a pouco, a música o levava para perto de nós.
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
E eu observava a tudo, atônito. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Catharina sempre disse que havia em mim uma esperança cega e
injustificada, e que isso era uma qualidade que poderia me matar algum dia.
Atitudes como a que eu tive naquele dia me fazem acreditar que ela estava
certa. Sem pensar eu corri até Júlio para tentar trazê-lo de volta a razão de
algum modo, mesmo sem ter ideia do que faria quando chegasse até ele. Fui
impedido por uma parede de energia que pareceu se formar do nada. Era Victor,
que neste momento era um vulto escuro mergulhado em uma escuridão ainda mais
densa. Poucas vezes na minha carreira eu captei tanto ódio vindo de uma só
pessoa. Ele me tirou do caminho sem olhar para mim, conforme andavam em direção
ao breu, a luz em sua mão ia aumentando de intensidade. Seu terço ia do amarelo
ao laranja, inundando a sala com cores quentes. Às nossas costas, o demônio
ainda falava coisas para perturbar a psique de Victor na voz de sua antiga
mulher: <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- O que foi, Victor? Acha que eu estou blefando? A alma dele
é minha. Eu poderia fazer ele quebrar todos os ossos…ou melhor, furar os
próprios olhos. Você acha que ele ficaria bem parecido comigo? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Tamanha crueldade me causou arrepios. Temi pelo que poderia
acontecer com Júlio e com isso, fiz tudo o que o demônio queria: acreditei
nele. Pensei em Carolina e, se algum dia ela teria sido tão vil deste modo com
alguém. Quis acreditar que não. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Victor seguiu em silêncio até Júlio, que ainda dançava. O
pai pôs as mãos nos ombros do filho que imediatamente cessou seus movimentos
não-naturais. Victor emanava uma energia mais agradável, mas igualmente forte.
Passou seus mãos pelos olhos de Júlio e fechou suas pálpebras, encostou a mão
direita em seu peito e com a outra, o trouxe para perto de si. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Pude ver, alguns momentos depois, a expressão de Júlio
relaxando e seu corpo se livrando dos cordões invisíveis, desfaleceu. Depois de
um longo abraço, Victor encostou Júlio em um sofá sem encostos que havia no
centro daquela sala. Os abajures voltaram a se acender, dessa vez com uma luz muito maior do que eu
achava que abajures seriam capazes de produzir. Em silêncio pela primeira vez
desde que começamos aquilo, o inimigo nos observava. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Agora que o quarto estava iluminado, pude dar mais uma
olhada rápida no estado dos outros. Vinícius permanecia desacordado, mas
Gabriela me surpreendeu estando desperta. Ela lidar com tudo aquilo de maneira
menos surpresa do que eu achei que estivesse. Primeiro achei que ela olhava pra
mim, mas quando ela soltou um gemido de exclamação, percebi que olhava por cima
do meu ombro, que olhava para o monstro. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ele arqueara o corpo sobre o encosto da cadeira onde estava
preso e forçou tanto a coluna para trás que eu pude ouvir umas vértebras se
partindo. Victor disse sem olhar para mim: <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- Aí vem o último estágio, o conflito. Prepare-se. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Grande parte dos móveis da sala estava coberta por panos com
manchas e cheiro de mofo. Enquanto o possuído trazia seu corpo novamente para a
posição normal, percebi que alguns destes móveis se moviam sozinhos em
diferentes pontos da sala, parecendo acompanhar seu movimento. Pode parecer
estranho, mas ver objetos se movendo sozinhos atraiu mais a minha atenção do
que aquele meio-cadáver infeliz que estava à minha frente. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Pareciam fantasmas tremulando seus lençóis velhos,
acompanhando o movimento deles, vi que formavam um círculo que mantinha eu,
Victor e os outros dentro. No centro estava aquele que os controlava. Todos os
móveis cobertos pararam ao mesmo tempo. Eu acreditava que havíamos prendido
nosso inimigo firme na cadeira, mas a facilidade com a qual ele se livrou das
amarras e se pôs de pé diante de nós me fez perguntar há quanto tempo ele
poderia ter se soltado antes disso. Como uma coreografia, os móveis pararam no
exato momento em que nosso oponente se punha de pé. Os panos caíram,
revelando uma coisa em comum aos móveis-fantasma: eram todos espelhos. As
molduras e os tamanhos eram diferentes e parecia haver algo de errado com eles,
algo que me incomodava. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- Espelhos, ein? Você está deixando isso mais fácil para
mim. - Victor disse após olhar a cena - Pablo, preste atenção, agora você vai
ver como se manda um lixo desse de volta para o Inferno. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ele retomou o ritual. na parte de dentro da casa uma agulha
começou a riscar freneticamente o vinil que ainda tocava, o ruído ia crescendo
cada vez mais a ponto de já abafar as palavras que Victor dizia, tornando
difícil para mim acompanhar com as respostas. O barulho se tornou perturbador
sem muita demora e nosso adversário, que estava só a alguns passos de mim,
abriu a boca e puxou todo ar que podia com seus pulmões. Foi tão forte que
criou uma corrente de ar violenta, me fazendo dar passos involuntários para
frente, quase me desequilibrando. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Com os pulmões cheios de ar, a figura era ainda mais
grotesca. Era como se o seu tronco fosse muito mais pesado que a parte inferior
do corpo poderia sustentar. O monstro subitamente despejou em nós tudo que
guardava de uma vez. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Vidraças e vigas de madeira que protegiam as janelas se
quebraram com a pressão. Parecia que o monstro tinha uma turbina dentro de si e
ela estava ligada na nossa direção. Alguns estilhaços arranharam o braço que eu
levantei para proteger o rosto. Victor tinha tido mais sorte e saído ileso do
ataque e, ainda tomado de ódio disparou em direção ao demônio. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não houve embate físico dos dois, mas as duas energias se
colidiram com tanta força que era quase possível ver o ponto onde elas estavam
em contato. Meu instrutor pressionava, o outro empurrava. Percebi que não
precisava mais seguir com o ritual, as palavras já tinham sido todas ditas,
agora dependia da vontade do Victor. Ela precisava sobrepujar a energia que
envolvia o monstro como um escudo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- Desista, padre! Você é fraco! Eu vou tomar o corpo do seu
filho e matar você com as mãos dele. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Não. Não, você não vai, Dybbuk. - a menção deste nome fez
a energia do adversário diminuir vertiginosamente - Já passou da hora de você
sumir deste plano de existência. Me atrasei para acabar com você da última vez,
mas dessa vez eu vou te traumatizar tanto que você vai preferir ficar do outro
lado e não voltar. Sim. Sim, eu sei seu nome, procurei você por anos. O Dybbuk
que havia chegado antes de mim e atacado ela anos atrás. Sabe, você deu azar,
monstro. Nem todos nós que usamos batina somos bons, alguns só fazem isso pra
ter em quem descontar suas frustrações e olha, meu amigo, eu tenho muitas. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Agora, batendo com a cruz que carregava no peito do inimigo,
Victor gritava: <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- VADE RETRO SATANAS! VADE RETRO SATANAS! <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Uma sombra gasosa e espectral se formou com o que saía de
todas as feridas no corpo do velho e se acumulou numa nuvem alguns metros acima
dele. A sombra pairou por cima de nós por alguns segundos depois avançou sobre
um dos espelhos que formavam o círculo ao nosso redor e o atravessou. De
súbito, todos os espelhos se estilhaçaram ao mesmo tempo. Tudo estava acabado. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O primeiro objetivo de um exorcismo é mandar o demônio
novamente para as profundezas, os segundo é salvar a vítima enquanto conclui-se
o primeiro. Fomos bem sucedidos no primeiro, entretanto falhamos no
segundo. O velho senhor não havia resistido, mas pelo estado em que o corpo se
encontrava depois de tudo aquilo, acredito que tenha sido melhor assim. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Estávamos exaustos, debrucei sobre meus joelhos para
recuperar o fôlego e o sangue que saía do meu braço cortado pintou o rosário
branco de vermelho. Victor foi correndo em direção aos outros, abriu sua mala e
de lá tirou uma caixa de curativos. Gabriela, a única em condições, o ajudou a
cuidar dos outros dois. Vinicius, apesar da perna, tinha apenas ferimentos
leves e logo se recuperou do choque, Júlio que havia sofrido o maior trauma. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Nós cremamos o corpo e saímos da velha casa amarela. Eu
achei que haveria uma multidão ali nos esperando, mas parecia que nossa luta
tinha acontecido somente no universo interior daquele velho casarão. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- Quem como você descobriu a identidade do demônio
possuidor, afinal? - Gabriela perguntou enquanto me ajudava a carregar Júlio
ainda desacordado de volta para o carro. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Usar a voz dela foi um erro, mas mesmo assim não podia ter
certeza que era ele. Muitos demônios usam nossos entes queridos contra nós para
acabar com a nossa vontade. - ele olhou para Júlio que descansava no banco
detrás do carro e suspirou - Acho que é um bom momento para vocês saberem. Eu
nunca tive muito apreço pelas regras e condições que a ordem impõe à nós.
Durante meu treinamento briguei com Reint inúmeras vezes por ele tentar tolir
minhas ações por causa dessas malditas regras. Acredito que teria sido expulso
há muito tempo se eu não tivesse sido o que se mostrou ter maior habilidade em
exorcismo da minha turma. - ele riu um sorriso irônico - Minha dádiva foi a
minha maldição. Eu mantive uma namorada em segredo durante todo o meu
treinamento. Nunca tive o interesse real de ficar na ordem, estava interessado
no conhecimento e nas habilidades que poderia conseguir lá. Depois disso meu
plano era seguir sozinho. Vocês sabem, existem alguns sacerdos renegados por
aí, agindo por conta própria, e ele costumam
ser menos hipócritas que o resto de nós... <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- E o que aconteceu? - Vinicius, havia despertado enquanto
íamos para o carro. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Ela engravidou. Eu já tinha algum tempo ordenado, era um
pouco mais velho que vocês e conhecia bem esse sentimento de invencibilidade
que vocês sentem nessa idade. Resolvi que abandonaria a ordem e viveria com ela
e nosso filho. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Qual era o nome dela? – Gabriela perguntou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Bárbara. Não tem um só dia que eu não acorde e sinta a
falta dela. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Silêncio. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- Eu não contei a ninguém. Haveria um baile de bodas na
família dela naquela noite, combinei que me encontraria com ela para uma dança,
nosso filho havia nascido há pouco tempo e eu queria estar dedicado
integralmente a eles o quanto antes. No dia de minha partida, Reint descobriu o
que eu faria e me prendeu na Candelária. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Prendeu? - Gabriela disse surpresa - Hoan nunca me obrigou
a fazer algo que eu não quisesse. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Ela nunca tentou. Se tentasse você veria que uma luta com
um anjo não pode nem ser chamada de luta. Reint fechou todas as portas da
Candelária e ficou tentando me convencer a não abandonar a causa. À despeito
dos pedidos de Pedro, ele só permitiu que eu saísse quando outro membro de
nossa ordem disse que estava havendo um ataque em uma reunião de família. Era o
mesmo lugar da festa de bodas dos pais da Bárbara. Quando chegamos lá, já
estava tudo acabado. Toda família dela estava naquela festa. Nosso filho
recém-nascido também estaria lá se tivesse mais idade. Tomei a decisão de que o
melhor para ele - indicou Júlio com a cabeça - seria crescer num lar que
estivesse longe de qualquer envolvimento com essas nossas…questões. Eu o deixei
na porta de um orfanato na Gávea naquela mesma noite. Me dediquei a estudar
aquele ataque nos mínimos detalhes e torcer para que o infeliz cruzasse meu
caminho novamente. Algo que me intrigou era que, apesar do salão estar
destruído, todos os espelhos estavam intactos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Você disse que ele estava tornando as coisas fáceis para
você quando os espelhos começaram a andar sozinhos lá dentro. O que isso tem a
ver? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Bom saber que você estava ouvindo Pablo, talvez da próxima
vez além de ouvir, você possa me acompanhar propriamente com o ritual. Como eu
disse, usar voz e características de outros é uma habilidade até certo ponto
comum entre demônios. Mas só um Dybbuk conseguiria fazer isso e transitar entre
os mundos de modo etéreo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Eu estava desacordado durante tudo o que aconteceu na
casa, o que é um Dybbuk? - Vinicius estava realmente à parte de toda aquela
conversa. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Um dos tipos de demônio mais traiçoeiros que vocês
poderiam encontrar. Já foi humano. É uma alma que foi impedida de entrar no céu
por ter sido muito impura durante a vida, mas que se recusa a entrar no inferno
também. Este tipo de espírito fica numa espécie de plano intermediário paralelo
ao nosso, sempre em busca de um corpo para voltar aqui e continuar fazendo suas
atrocidades. O Dybbuk precisa de certos portais para sair deste plano paralelo
e entrar no nosso. E esses portais são espelhos. O espelho é incapaz de
refleti-los porque não tem o que se refletir, eles não deveriam estar nesse
mundo. Por esse motivo, qualquer tipo de demônio que já foi humano não pode ser
refletido numa superfície espelhada - ele olhou para mim - upyres, por
exemplo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Então você associou um possuidor de corpos com monstro que
não poderia ser refletido e achou que era um Dybbuk. - Gabriela estava muito
curiosa sobre o caso. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Não um. Mas o mesmo que possuíra Bárbara anos atrás. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Bom, isso não foi sorte? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Não acredito em sorte, mas é bom saber se ela existisse,
ainda poderia estar do nosso lado. Agora vamos. Precisamos cuidar desses
ferimentos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
+++ <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Voltamos para Candelária pela entrada lateral. Pudemos
descer direto para o Grande Salão onde todos ainda esperavam. Catharina estava
na sua forma humana, mas eu poderia dizer que ela voou em minha direção quando
me viu. Hoan fez o mesmo com Gabriela, que pareceu um pouco desconfortável com
tanta efusividade. Victor, que trazia Júlio nos braços, o entregou para Reint
sem dizer uma palavra. e desceu para a enfermaria. Padre Pedro checou todos nós
um por um antes de nos dispensar e dar os próximos dias de folga. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Parecia ter passado uma eternidade desde que havia estado em
casa pela última vez. Estava tudo limpo e organizado. Catharina, que insistira
em passar a noite comigo, disse que voltava ao meu apartamento diariamente para
manter as coisas em ordem. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Eu só queria descansar, mas Catharina me fez contar tudo o
que tinha acontecido e não escapei dos sermões também. Já que estava acordado,
resolvi me abrir com ela e contar algo que não saía da minha cabeça desde o
início daquela noite: <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- Você acha que ela realmente está morta? Quer dizer, isso
explicaria tanto tempo sem notícias. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Minha função é proteger você, Pablo - disse ela hesitante
- e por isso eu não deveria te contar isso... <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Contar o que? - é incrível a quantidade de coisas que a
gente consegue pensar no espaço de um segundo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Não, ela não está morta. Esse Dybbuk mentiu ao dizer isso.
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Como você sabe? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Eu queria poder mentir pra você... <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Catharina, me conta por favor. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- No meio da noite, alguém…um pássaro bicou o vitral
principal da igreja. Estávamos lá embaixo esperando vocês e torcendo pelo
melhor, mas as batidas eram sistemáticas e inconvenientes. Depois de algum
tempo passaram a irritar até mesmo Pedro. Fui até a nave principal para ver o
que estava acontecendo. Ao abrir a porta principal eu a vi esperando exatamente
onde acabava o terreno da igreja. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Carol? Você viu a Carol?! <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Sim, Pablo - ela disse incomodada - era Carolina. Ela não
estava muito contente. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Por que? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Bom, tivemos uma conversa nada amigável sobre o fato de eu
ter ido você lutar contra um demônio sozinho. E o pior é que eu nem pude dizer
muita coisa, porque ela estava certa. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Tentei ficar tempo calado, mas não consegui muito mais que
cinco minutos. Enquanto ela fazia um curativo meu supercílio, eu perguntei: <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- E…ela falou mais alguma coisa de mim? <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Sim. Ela falou que você era um idiota. Mas um idiota que
ela se importava, então era bom que eu fizesse meu trabalho direito. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ao terminar o curativo e checar meu rosto, Catharina falou: <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- Você podia pelo menos disfarçar esse sorriso bobo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<!--EndFragment--></div>
</div>
Doughttp://www.blogger.com/profile/10921754351760150046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3896754087151831820.post-70926690574124252015-10-04T12:58:00.001-07:002015-10-04T12:58:49.229-07:00Ver032<iframe src="https://player.vimeo.com/video/52383325" width="500" height="375" frameborder="0" webkitallowfullscreen mozallowfullscreen allowfullscreen></iframe> <p><a href="https://vimeo.com/52383325">Bob Dylan - The Ballad of a Thin Man</a> from <a href="https://vimeo.com/user1114172">Vasco Cavalcante</a> on <a href="https://vimeo.com">Vimeo</a>.</p>
<br>
<br>
<div class="MsoNormal">
<br />
Já não sei precisar há quanto tempo estou escrevendo. Desde que…aquilo
aconteceu, eu não tenho tido apetite, por isso a pausa para as refeições é
desnecessária. Exceto o cappuccino. A pausa para o cappuccino é quase religiosa
e não por sono, já que este também foi embora junto com o apetite. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Algum tempo atrás, em uma das visitas que me fez, Catharina
me disse que eu deveria cortar todas as coisas que me prendem à Carol se eu
quisesse seguir em frente. Seguir em frente. Qual é o sentido disso? Por que
seguir em frente quando toda a felicidade que eu conheci está atrás. Não.
Minhas memórias, ou devo dizer, nossas memórias são a minha melhor companhia.
Não preciso de mais nada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
O sistema digestório dos upyres rejeita qualquer coisa que
não seja sangue, por isso desde a sua transformação, Carol não podia mais
provar seus vinhos favoritos ou aqueles pratos refinados franceses que eu nunca
soube dizer o nome. Ela não se queixava, já estava transformada há muito tempo
e parecia acostumada à condição. Menos seu cappuccino, dele ela ainda sentia
muita falta. Acho que a única coisa de valor desse apartamento, sem contar a
calcinha dela que eu encontrei no armário, é a máquina de cappuccino que ela
mesma trouxe. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sempre que eu acordava, Carol já de pé, preparava duas
xícaras do melhor cappuccino que já provei. Uma para mim, outra para ela. Dizia
que queria que eu estivesse disposto durante o dia. À noite, ela repetia o
ritual. Duas xícaras e, maliciosa, dizia que queria que eu estivesse disposto
durante a noite também. Quando eu perguntava sobre a xícara dela, que sempre
ficava intocada, ela respondia:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- É que ninguém deve tomar cappuccino sozinho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Hoje, meus dias se resumem em escrever estes relatos. Sempre
que a saudade e falta dela me acertam como um soco eu faço uma pausa e preparo
duas xícaras de cappuccino. Duas, e se você me perguntasse o motivo, eu
responderia que ninguém deve tomar cappuccino sozinho.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A lembrança do que o possuído disse naquela noite, dentro da
velha casa amarela no Catete, me fez precisar parar. Victor havia me alertado,
tinha dito que o demônio iria se valer dos meus pontos mais vulneráveis, que
iria olhar e atacar nas rachaduras da minha alma. Eu sabia, mas isso não
impediu que o medo se instalasse em mim. Nunca tinha contemplado a ideia da
morte de Carol, eu nem mesmo sabia se ela poderia morrer. A revelação do meu
envolvimento com ela para Victor parecia sem importância agora que eu começava
a me perguntar se era realmente este o motivo que a fez ficar tanto tempo sem
dar notícias.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Deixo as xícaras sobre a mesa e sei que o calor da bebida
vai marcar a madeira gasta, mas não me importo. Aprendi a valorizar as marcas
que ficam. Após alguns goles retorno às teclas da Olivetti. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Eu não tinha condições de rebater o que fora dito
pelo velho sem olhos. Não conseguia falar, piscar ou me mover. Mesmo respirar
era uma tarefa difícil. Victor dava instruções que eu não ouvia, o demônio
tecia comentários que eu não registrava. Minha mão esquerda cedeu e o crucifixo
foi ao chão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Carol estava morta?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Uma pressão no meu peito me trás de volta. Não interna, mas
externa, um impacto. Victor devolvia meu terço com a força de quem devolve um
empurrão de bar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- Nunca mais deixe isso cair. Aquilo não é humano, ele vai
fazer de tudo para desmontar você. Vai usar mentiras e verdades, e eu não me
importo se você estava comendo uma vampira ou não. Mas preciso
que você tenha foco, porra! Não fale com ele, não ouça ele.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Victor pôs as mãos nos meus ombros e me puxou para perto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- Nós vamos começar agora. Preciso de alguém para ler
as respostas ou seguir com o exorcismo se algo acontecer comigo. O ritual tem
cinco estágios: presença, presunção, ruptura, conflito e acabamos com a
expulsão. O frio, o mal-estar, náusea, dor de cabeça…tudo isso foi o primeiro
estágio, a presença dele. Não se deixe abater por ela! Precisamos ser mais
fortes.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O demônio olhava para um ponto fixo no teto do casarão e
ignorava nossa presença solenemente. Tive vontade de partir para cima dele,
exigir que ele me contasse a verdade, que me desse detalhes do paradeiro de
Carol. Mas Victor estava certo, ele apenas queria me desestabilizar. Carol
estava bem, nada teria acontecido à ela.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Certo?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- Se atenha ao livro, - ele trouxe meu olhar de volta - leia
as respostas e faça somente o que eu disser. Ok?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Ok.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Muito bem, vamos começar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Victor caminhou até ele. De um jeito calmo, mas imperativo.
Eu me mantinha alguns passos atrás, bíblia aberta nas mãos exatamente na
página que começava o ritual. Ele esmagou uma hóstia nas mãos antes de começar.
Beijou a cruz bordada nem sua batina sobriamente e começou uma prece tão
baixa que tive dificuldades para acompanhar na bíblia. O demônio seguia olhando
para o teto. Segui, seu olhar vazio mas nada vi além da escuridão e me
perguntei se era isso que nos esperava no fim de tudo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O inimigo grita de dor e atrai minha atenção. Victor esta
com a mão com os farelos de hóstia em sua cabeça, pressionando forte.
Entoa uma oração que termina numa ordem. Conforme o tom de a agressividade da
voz do meu instrutor aumenta, marcas e sulcos vão se fazendo na pele
do corpo que já fora de um homem. Em pouco tempo, sua pele já estava
tomada de símbolos que eu não conhecia, mas que de certa forma me eram
familiares.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A cena tomou toda minha atenção. Existia um prazer sádico da
minha parte em ver o vincos aparecendo na pele do monstro que ousou anunciar,
mesmo que fosse mentira, a morte de Carol com tanto desdém. Achei que estávamos
ganhando, baixei a guarda, meu pensamento voou para ela. Distraído, não percebi
a deixa que Victor deu, onde eu deveria ter respondido de acordo com a
escritura.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- Príncipe glorioso da milícia celestial, São Miguel
Arcanjo, defendei-nos neste conflito contra as regras deste mundo de trevas
contra os espíritos do mal nas alturas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Eu não prestei atenção, ele repetiu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- ...defendei-nos neste conflito contra as regras deste
mundo de trevas contra os espíritos do mal nas alturas. MERDA, PABLO! VOCÊ
PRECISA RESPONDER!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Caí em mim e procurei a resposta que viria à fala dele,
mas me perdi nas entrelinhas apertadas da bíblia. Victor já tinha recuado até
onde eu estava e tomou o livro das minhas mãos, acertando a página e me
indicando a linha com rispidez. Tentei ler mas a pouca luminosidade que
entrava pelas frestas das placas de madeira que tinham sido pregadas às janelas
esmaeceu de uma vez. Como se o mundo lá fora fosse iluminado por uma lâmpada
e alguém, sem aviso, tivesse desligado o interruptor.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Quatro barulhos. Barulhos metálicos, metal se chocando
violentamente contra paredes e chão. A única fonte de luz que tínhamos eram
nossos terços, o de Victor mais intenso que o meu. Ele me instruiu
para ficarmos próximos e fui seguindo-o no meio da escuridão. Ele estava
indo em direção ao nosso inimigo, mas eu só percebi isso quando chegamos ao
lugar onde sua cadeira estava pregada ao chão e vimos apenas os buracos das
placas que a prendiam.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- Merda… ONDE VOCÊ ESTÁ?! EM NOME DE YAWEH ORDENO QUE SE
REVELE!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A resposta não foi imediata, mas ele não precisou perguntar
uma segunda vez. Após alguns segundos ouvimos uma risada naquela voz gutural
outra vez. Ela não vinha de um ponto específico, parecia reverberar por toda a
sala. Até que, um a um, os velhos abajures empoeirados foram se acendendo.
Alguns, mesmo sem ter uma lâmpada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A luz era débil, mas servia para termos mais noção
do cenário. Meus três colegas ainda permaneciam desacordados no mesmo
lugar e as quatro placas de metal reluziam espalhadas. Examinei os quatro
cantos do cômodo e, numa das quinas, rodopiando como se estivesse numa caixinha
de música infernal, estava a figura amarrada em sua cadeira. Victor o viu ao
mesmo tempo que eu, suspirou e disse:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- O segundo estágio: a presunção. Ele vai drenar nossa
confiança. Pela última vez, Pablo, fique atento ao ritual, e limpe esse
medo da sua cara. Ele vai farejar isso.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A última instrução me foi dada com ele já virando as costas
e caminhando em direção ao perigo. Olhei para o meu rosário que àquela luz
parecia quase apagado. Eu precisava me agarrar ao que eu tinha de mais forte, e
isso era o sentimento que eu tinha por Carol. O problema é que cada vez que eu
focava numa recordação dela, a faca gelada do medo espetava meu coração. Eu
afastava o pensamento dela e apagava qualquer luz que poderia ter só para
tornar menos real a possibilidade de sua morte. Eu me sufocava, cada vez mais
naquela escuridão, mas não podia superar a presença da sua ausência nos meus
pensamentos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O demônio seguia nos atormentando. Victor parecia ter notado
minha apatia e decidido dar cabo do ritual sozinho. Bradava palavras
desconhecida e grandes comandos de ordem para o corpo que rodopiava como uma
criança em sua cadeira levitada. Não aprecia estar adiantando até o momento em
que, sem aviso, Victor põe as mãos sobre os braços do inimigo, presos à
cadeira e com força atrás a cadeira de volta ao chão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O barulho ecoa por toda a sala.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- Em nome do Criador eu comando: dá-me teu nome! Dá-me teu
nome! Dá-me teu nome!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O rosário dele havia se vertido em pura luz. Luz que agora
era pressionada contra a testa calva e lacerada do velho sem piedade. Era
possível ver uma fumaça escura emanar do monstro e sua boca se escancarou num
lamento de dor lancinante, depois, sua cabeça tombou. Quando recuou o terço,
era possível ver a marca em forma de cruz queimada em sua testa como uma
tatuagem malfeita. Pela segunda vez na noite, achei que tivéssemos vencido.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Victor não. Ele mantinha o rosário iluminado e em posição de
ataque. Eu estava prestes a perguntar o motivo quando uma risada me respondeu.
Não era agressiva, sequer era exaltada. Um sorriso delicado, feminino e
sincero. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- Mariana Lopes - ela respondeu em voz baixa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Victor fraquejou. O braço agora pendia ao lado do corpo e
seus lábios tremiam.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- Não achei que você esqueceria do meu nome tão rápido, meu
bem. Mas faz sentido, é o que se pode esperar de um homem que abandonou sua
mulher e seu filho recém-nascido à própria sorte.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Pare com isso!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Eu esperei você. Eu esperei você naquele salão a noite
inteira. Me diz, qual é a sensação? Como é saber que eu morri por sua culpa?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Aquilo foi inesperado. Uma voz doce saindo daquele corpo era
algo bastante perturbador mas o que realmente me surpreendeu foi a reação de
Victor. Os nervos dele estavam prestes a explodir. Ele tremia compulsivamente,
tateava por algum apoio, mas não havia nenhum perto. Voltou a apontar o terço
na direção do demônio, mas ele já não era tão brilhante. O suor, cobria-lhe a
face.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Nunca imaginei que algo poderia perturbá-lo deste modo, quem
era aquela mulher? Victor estava fazendo o que me alertou para não fazer: dando
corda ao demônio. Tentei chamar por ele, trazê-lo de volta à razão, mas ele não
me respondia. O monstro sabia que estava ganhando terreno, e continuou:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- Silêncio. Essa foi a minha resposta durante todos esses
anos. Eu esperei, mesmo depois de morta eu esperei pela dança que você me
prometeu. Agora vai ser impossível comigo, mas acho que nosso filho estaria
ansioso para honrar esse compromisso, Victor. Mas acho que é melhor você se
apressar. - um sorriso maléfico tomou as feições do velho agora - PORQUE EM
BREVE EU VOU TOMÁ-LO PARA MIM TAMBÉM HAHAHAHA<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A luz de Victor se apagou totalmente. De repente, meu
crucifixo que brilhava de forma tão precária, era a única fonte de luz do
cômodo. Pouco a pouco um som tímido ia quebrando o silêncio. Primeiro achei que
fossem passos, depois percebi que havia um ritmo entre eles. No escuro era
difícil precisar de onde vinha o som mas eu fui caminhando até ele com
cautela. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
- Meu Deus… - Victor disse levando a mão à boca quando
iluminei a cena. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Júlio havia se levantado. e ele estava dançando.<o:p></o:p></div>
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<!--StartFragment-->
<!--EndFragment--><br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>Doughttp://www.blogger.com/profile/10921754351760150046noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3896754087151831820.post-9650686909437928662015-08-23T16:16:00.001-07:002015-08-23T16:22:24.369-07:00Ver031<iframe width="420" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/ShqkBC9zmWM" frameborder="0" allowfullscreen></iframe>
<br>
<br>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">Meu primeiro reflexo foi pegar
Vinicius como pude e correr para perto de Victor. Gabriela, estava na parede
oposta ao monstro que urrava de dor. A coruja, ainda pousada no busto de Athena
parecia fazer parte do concreto que formava a estátua. Imóvel. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">Tive pouco tempo para olhar a ave,
mas por ter facilidade em identificar detalhes me foi o suficiente. A plumagem
era marrom-acinzentada, o tamanho era o mesmo de um dos meus braços. Duas
sobrancelhas que poderiam ser confundidas com cifres emolduravam os olhos que
eram de um azul-piscina antigo. Suas pupilas eram dilatadas, grandes e escuras.
Davam a impressão de conseguir olhar a minha alma. Como Carol também conseguia.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">O possuído, agora de quatro,
continuava fazendo bastante barulho, mas a coruja permanecia ali empedrada, me
analisando. Victor percebeu que eu era o único em condições de ajudá-lo a se
aproveitar do momento de vulnerabilidade do inimigo e caminhou em direção a ele
me dando um leve empurrão com os ombros. Olhei para a coruja pela última vez. No
bico ainda manchado de sangue, pedaços de tecido dos olhos que ele arrancara
para me salvar. Foi ele quem desviou os olhos grandes primeiro, mas não sem
antes me analisar de cima abaixo. Parecia ter tido ordens para só sair de lá se
tivesse certeza absoluta que eu estava bem. Quando se convenceu, levantou voo e
saiu pelo mesmo lugar que entrou. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">- Traga aquela cadeira até aqui e
tranque a porta. - Victor disse enquanto passava o polegar úmido de agua-benta
na própria testa - Sem demora! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">Trouxe uma cadeira de madeira
maciça que jazia tombada num dos cantos do aposento. O assento de veludo grená
estava bem castigado pelo tempo e havia marcas de mofo, mas julguei que as
pernas seriam fortes o bastante para aguentar o peso de um idoso. Victor passou
uma espécie de fita-adesiva resistente que tinha em sua mala algumas vezes pelo
tronco do velho desacordado. Eu o ajudei fazendo o mesmo com seus braços. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">Quando terminamos, fui em direçao
aos meus companheiros. É verdade dizer que eu estava preocupado com o estado
deles, mas meu desejo maior naquele momento era sair de perto do que eu já
acreditava ser um cadáver. Certo de que toda a luta tinha acabado e que não
seria preciso um exorcismo, dei-lhe as costas. E com uma surpresa enorme eu
escuto: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">- Já está de saída, filhão? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">Tudo se deu no espaço-tempo de um
passo. Eu ouvi, mas não registrei de imediato. A voz. Tinha algo de familiar
naquela voz, algo nostálgico. Acessei minhas memórias. Primeiro lembrei, depois
me questionei. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">- Pai? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">Não, não era o meu pai. O não-homem
agora fixava ar órbitas vazias em mim. Preso à cadeira, com os dedos como
garras fincados nela, ele ainda mantinha um sorriso no rosto. Um sorriso
desproporcional, como se a sua boca tivesse sido deslocada e os lábios rasgados
por uma navalha. Veias começavam a irradiar dos olhos ausentes e se estendiam
até as orelhas e pescoço. Meu pai falou através dele outra vez: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">- Ah, agora voc<span style="mso-bidi-font-style: italic;">ê</span> lembra do papai, não é, seu
merdinha?! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">- Pai? - eu repeti ainda perplexo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">Ele emitiu um som que era difícil
identificar se como uma risada ou um grito. Só quando Victor passou por mim,
com a mão do terço em riste, na direção do demônio, eu entendi o motivo do
som. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">- </span><span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Helvetica; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">Ergo!</span><span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;"> - Victor dizia à plenos
pulmões - </span><span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Helvetica; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">Draco maledicte et omnis legio
diabolica, adjuramus te per Deum! Vivum, per Deum! Verum, per Deum!</span><span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Helvetica; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">Cada fim de frase era marcado
por uma rajada de água-benta que era respondida com caretas que expunham
sua língua branca em nossa direção. Voltei a sentir frio e
desconforto. Comecei a notar outra vez o cheiro nauseante, a dor de cabeça
que martelava mais forte à cada pulso de sangue enviado ao cérebro. No
havia parede para eu buscar apoio agora, eu teria tombado sobre meus joelhos,
mas senti uma pressão se fazer no meu pescoço.</span><span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">A sensação foi parecida com a que
tive mais cedo, quando sentia Carol através do terço na minha mão. Protetora,
quase que como um escudo. O mal-estar foi embora do mesmo jeito que veio e meus
sentidos foram se ajustando sem muita demora. O rosto que estava na minha
frente foi entrando em foco como se eu estivesse acordando de um
longo sono, era Gabriela. Ela já tinha se recuperado do baque, mas isso lhe
custou um grande esforço, e apesar de sua aparência ainda parecer horrível, ela
parecia satisfeita. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">- Victor me avisou para te dar
isso, caso voce precisasse. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">Ao olhar para baixo vi, pendendo de
meu pescoço, havia uma batina branca de tecido trançado e bordado preto dando
forma aos detalhes em sua ponta. Apesar da aparência delicada e de sua
espessura fina, ela parecia pesar sobre meus ombros. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">Olhei para Gabriela com a intenção
de agradece-la, mas sua fisionomia já nao se esforçava para parecer tranquila.
Ao contrário, seus olhos me atravessavam e as maos levadas à boca serviam de
anúncio para o horror que estava refletido neles. Girei os calcanhares rápido,
como quem arranca um curativo. De uma vez, para que não perdesse a coragem no
meio do caminho. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">Recuei alguns passos com a cena à
minha frente. Victor traspassava as pernas traseiras da cadeira onde tínhamos
prendido o pobre senhor com placas de metal formando um ângulo agudo,
pregando-as no chão. As dianteiras levantavam e retornavam ao piso desgastado
da casa em intervalos irregulares causados pela agitação do monstro, bem
agitado. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">Eu, observando aquela cena, voltei
a tremer apesar de não sentir mais frio. Todas as minhas articulações pareciam
instáveis e doloridas. O demônio, quem quer que fosse, parara de se agitar na
cadeira. Estava placidamente sentado com os olhos vazios me fitando. Lentamente
ele abriu a boca e um som contínuo e monofrequente que parecia sair das
profundezas do próprio Inferno começou a ser expelido. Víctor continuou seu
trabalho, agora nas pernas dianteiras da cadeira, e pareceu não se importar
muito. Eu mesmo ouvia o som, que era desagradável mas não chegava a incomodar
só que, ao olhar pra trás, vi que Gabriela e Vinicius haviam desfalecido. Como
se o som lhes tivesse tirado a vitalidade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">Me envergonho da minha atuação
neste primeiro exorcismo, mas minha apatia se justificava. A voz do meu pai saindo
daquele maxilar deslocado ainda ecoava na minha cabeça e eu precisei fechar a
mão esquerda bem forte para me manter ali. Quando teve certeza de que as quatro
pernas da cadeira estavam bem presas ao chão, Victor caminhou até onde eu
estava, tirou de um de seus bolsos internos uma bíblia não muito diferente da
que eu tinha em minha própria mala. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">Victor disse com seu jeito frio e
firme: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">- Preciso que você se imponha. Eu
só tinha uma batina reserva, e ela está com você. Não pude proteger os outros,
e agora eles precisam de cuidados. Só posso ajudá-los se você parar de ser tão
sensível. Acorda, Pablo! Não é o seu pai ali. Seu pai está morto, você sabe
disso então não tem motivos para se deixar enganar pela criatura. Quero que vá
até lá e comece o ritual, logo me juntarei a você. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">Urgente, Victor ajoelhou e começou
a procurar algo em sua valise. Eu ainda segurava a bíblia que ele tinha acabado
de me dar sem saber muito bem o que fazer com ela. Ele levanta e traz nas mãos
uma pequena caixa retangular. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">- A página está marcada. - ele
disse secamente e indicou o possuído preso à cadeira. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">Andei até meu adversário com os pés
pesados como chumbo. Abri a página onde o marcador estava, o texto vinha em
latim. Inseguro, olhei para trás para buscar alguma ajuda ou apoio de meu
instrutor, mas ele não prestava atenção em mim. Agora estava focado nos meus
companheiros. Dentro da caixa, eu vi quando ele abriu, havia uma quantidade
considerável de hóstias imaculadas. Sem nervosismo, mas com certa pressa, ele
pegou um punhado delas e começou a tritura-las em suas mãos, caminhando ao
redor do meu grupo de companheiros enquanto entoava uma prece baixa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">Quando olhei novamente para o rosto
sem olhos à minha frente, percebi que ele já não fazia mais aquele ruído sujo
pela boca, ela agora estava fechada. Sua arcada superior fincada sobre o lábio
inferior com força, causando vazamento de sangue que escorria pelo seu pescoço.
Pareceu não notar a minha presença ali à sua frente até que eu, desajeitado,
comecei: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">- </span><span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Helvetica; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">Er…ergo, draco maledicte et omnis legio diabolica….</span><span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">Eu não tinha familiaridade alguma
com a língua ou o ritual, entoar aquelas palavras não parecia ter efeito algum.
Sentindo a minha insegurança crescer, o monstro começou a gargalhar a plenos
pulmões. Continuei. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">- </span><span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Helvetica; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">Adjuramus te... per Deum vivum, per Deum verum, per Deum...</span><span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Helvetica; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">- Garoto tolo - falava novamente
com a voz do meu pai.</span><span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Helvetica; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">- Per Deum qui sic dilexit mundum,
ut Filium suum unigenitum daret!</span><span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Helvetica; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">- Você está sozinho, garotinho.</span><span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;"> Ela não vai vir pra te salvar dessa vez.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">A bíblia acabou caindo da minha mão
e o demônio lambeu os lábios sangrentos com satisfação. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">- Você é fraco! Não conseguiu
salvar o seu pai. Quer saber porque ela sumiu? Quer saber onde ela está? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">- UT OMNES QUI CREDIT IN EUM NON
PEREAT! - Victor veio com a próxima linha decorada em meu resgate - CESSA!
CESSA DECIPERE HUMANAS CRIATURAS! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">Com ele surtiu efeito. O corpo do
velho se retraiu, e mesmo os braços atados à cadeira pareceram se enrijecer num
sofrimento mudo. Victor ofereceu a mão para que eu levantasse. Abri novamente
bíblia e estava pronto pra seguir o ritual quando o possuído recomeçou: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">- Ela não vem, ela não vem…. -
baixo, como que pra si mesmo - ela não vem, nem aquele pássaro. Você está
sozinho. Sozinho no escuro. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">- Me diga seu nome, infernal! -
Victor ordenou. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">- Ela não vem. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">- SEU NOME! - e lançou um jorro de
agua-benta no preso que gritou de dor - EXIJO SABER SEU NOME! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">A fumaça causada pelo contato da
agua-benta na pele do monstro se dissipou e pudemos perceber o grito de dor se
vertendo num sorriso diabólico. Seus dedos indicadores apontados pra mim. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">- Você quer saber o meu nome,
padre? Porque não se preocupa com os segredos dos seus preciosos…alunos
primeiro? HAHAHAH <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">- Não precisamos de nenhum Favrashi
aqui para te mandar de volta para o inferno, sujo! Não importa se Catharina vem
em nossa ajuda ou não. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">- Catharina? Não, bom padre, eu não
estava falando de nenhum anjo. - mesmo sem olhos era possível definir sua
expressão irônica - Quem não se chama Carolina. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">Eu empedreci. Victor desviou os
olhos do inimigo pela primeira vez desde que começamos o ritual, olhando para
mim em dúvida, pedindo por uma resposta com as sobrancelhas questionadoras. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">- Ah, “filho”. O que foi? Você não
contou ao professorzinho da sua amante vampira? Deve ter sido dificil inventar
uma desculpa para essas cicatrizes, não? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">- Calado. - Victor disse sem tirar
os olhos de mim. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">- Ah, padre. Você sequer suspeitou?
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">- CALADO DEMÔNIO! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">Outra rajada de água-benta. Eu já
não tinha forças para segurar a bíblia ou a cruz. Minhas pernas estavam bambas
e eu me sentia sem nenhuma gota de sangue no corpo. Esse é o sentimento de
quanto descobrem um de nossos segredos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">- Calma, calma. Não há motivos para
tanto, padre. - disse o velho que já não usava mais a voz do meu pai - Não
fique triste pois seu aprendiz não vai ver sua putinha vampira em um bom tempo.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">E com um sorriso insano ele disse: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<span lang="EN-US" style="color: #bfbfbf; font-family: "Garamond Premr Pro Capt"; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: "Helvetica Neue"; mso-themecolor: background1; mso-themeshade: 191;">- Carolina LeBion está morta. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 12.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-autospace: none;">
<br /></div>
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Uma escuridão. Sólida e espessa. Como ser a gravidade fosse diferente no bloco de puro breu onde adentrei. A frágil luz que vinha da rua pela fresta da porta que deixei aberta ao entrar não parecia ter força para combater o peso de todo aquele mar negro e morria poucos passos após a soleira da porta. Passado este ponto, a única coisa que permanecia brilhando ali eram os crucifixos que meus companheiros e eu carregávamos.
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Os gritos da criatura cessaram e de alguma forma isso conseguia ser pior do que quando o lamento era audível. Estava confuso e sem referencia, como se a casa fosse muito maior do que deveria ser quando a via do lado de fora. Deveríamos conter o possuído eu, Victor e Gabriela, nossa falha poderia ser fatal para Vinicius. O silêncio, que era incômodo e quase tátil, foi cortado por uma lâmina de fedor que lembrava bastante o rastro que sentimos algumas horas atras, em frente à velha locadora de esquina. Só que mais forte, a náusea se transformava num prenuncio de refluxo e minha cabeça voltava a doer.
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A presença do infernal era mais forte e mais intensa que antes mas, de alguma forma, não me causava tanto mal-estar quanto da primeira vez. Agora era mais fácil combater aquilo, como se a minha própria energia se expandisse criando um escudo ao meu redor. A sensação me era nova, como se eu estivesse maior do que o meu corpo físico, como se não coubesse em mim. Percebi, então, o que me protegia, fosse o que fosse, começava da minha mão esquerda e irradiava para todo o resto de mim. Quente como o beijo dela.
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Vinicius voltou a chamar pelo homem estava sob posse do demônio. Ele não estava com seu terço em punho, por isso não conseguia saber exatamente sua posição, mas a sua voz me fazia perceber que ele não estava longe. Do outro lado do que eu acreditava ser a sala de estar, eu conseguia ver o brilho que se enrolava no pulso de Victor tal qual uma serpente, Gabriela era a luz frágil que estava entre nós. Ela tremia.
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Semicerrando os olhos afim de me acostumar com o véu negro que nos envolvia, não tive muito resultado positivo em distinguir formas mas percebi com surpresa que eu estava exalando algum tipo de vapor ao respirar, semelhante a quando nossa respiração condensa em um ambiente muito frio. Num primeiro momento descartei a possibilidade, afinal de contas estávamos no coração do Rio de Janeiro, mas ao encostar a mão na parede que estava próxima a mim senti com surpresa que o ambiente parecia estar sob temperaturas negativas. A aura de fé que me envolvia não se estendia pela casa e pensei que seria bom ter isso em mente.
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Eu me concentrava na posição de meus companheiros, e começava a me perguntar quando o nosso alvo se mostraria. Notei que não saberia bem o que fazer quando isso acontecesse e percebi o meu próprio rosário esmaecendo. O frio começou a me abraçar e não demorei a pensar em Carol, no fogo dos seus cabelos e ela fez, como sempre faz, tudo voltar ao normal.
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Tudo menos aquele som. Mais alto e agora bem mais perto. Algo fora de qualquer escala já pensada, alguma frequencia desconhecida o som de uma alma lamentosa que fazia tremer as estruturas da velha casa onde estávamos. O possuído voltara a gritar e agora estava no mesmo cômodo que nós. Recuei sem perceber, corri para trás até trombar em algo. Em alguém, na verdade, era Vinicius.
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Me assustei ao reconhecê-lo e percebi o quão mal eu tinha colocado meu referencial. Achei que o monstro tinha avançado sobre ele e quando vi que não, vasculhei a sala tentando achar os outros. Procurei por Gabriela, ou pela sua luz e não encontrei. Vinicius tremia, sua fé estava frágil, o frio estava consumindo-o diante dos meus olhos. Passei braço dele pelo meu pescoço e comecei a caminhar para longe dali, com ele. Tentando expandir o escudo que me me envolvia para ele, mas parecia ser pouca energia para nós dois. Comecei a me questionar se realmente passaríamos daquela noite.
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<br /></div>
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Foi quando eu ouvi. Parei de caminhar e perguntei com as sobrancelhas se Vinicius também tinha escutado algo e sua expressão de atenção me confirmou que sim. Começou muito baixo, só podia ser ouvido entre os gritos diabólicos da criatura. Era um sussurro, tão sutil que eu quase acreditava ser uma ilusão. Era um mantra, algo que se repetia em loop, calmo, um contraste com todo aquele barulho que estava sendo feito. Era, e eu só pude perceber quando o volume foi aumentando, uma prece.
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<br /></div>
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Uma oração que pareceu perturbar o nosso alvo. No momento em que eu comecei a reconhecer a voz de quem dizia as palavras, o homem que nos atacava se jogou com força sobre a parede que eu usava como apoio, abandonando o ponto que estava. Enquanto Victor continuava fazendo a reza a escuridão ia cedendo e eu pude ver que o ataque de nosso inimigo havia sido direcionado a Júlio que agora jazia desacordado. Victor agora falava em voz alta:
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- <span style="font-family: inherit;">Homo sum lucis. A</span><span style="font-family: inherit;">mo lucem servio lucem. E</span><span style="font-family: inherit;">go autem in luce. </span><span style="font-family: inherit;">Ego lux lucis, lucis, lucis!</span>
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<br /></div>
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Não sei dizer quantas vezes essas palavras foram repetidas, mas cada palavra era pronunciada mais alto e tinha tom mais imperativo que a ultima. Victor caminhava calmamente em nossa direção com o braço direito levantado e o terço brilhando acima da cabeça. Parou por um momento e disse:</div>
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- AGORA, GABRIELA!</div>
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Do outro lado do salão, eu e Vinicius vimos perplexos Gabriela que estava com os cabelos castanhos suados e colados ao seu rosto acompanhou Vinicius na prece, mas de um jeito menos controlado. De onde estávamos ela não parecia humana, os olhos sem íris olhavam para o nada, mesmo não sendo pálida suas veias eram visíveis por baixo da pele. O nariz sangrava e sua voz, enquanto repetia aquelas palavras em latim, a voz não lembrava em nada seu timbre normal.</div>
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Ela ergueu as duas mãos até a linha da cintura, as palmas para cima, e todas as luzes da velha casa amarela acenderam, mesmo um abajur que estava à nossa esquerda, fora da tomada. Em algum momento que eu não saberia precisar, as Victor parou de acompanhar Gabriela na oração e estava agora checando os sinais vitais de Júlio, que continuava desacordado.
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Vinicius atraiu a minha atenção para o possuído que agora parecia esmagado contra a parede por uma força invisível que o pressionava mais forte cada vez que Gabriela recomeçava a falar a oração. Só então, com as luzes plenamente acesas, eu pude vê-lo melhor. Era um homem idoso, por volta dos 70 anos, tinha os braços finos e lânguidos, poluídos por manchas senis. As pernas se abriam num angulo inexplicável e com certeza estavam quebradas. Seus olhos insanos emoldurados por olheiras profundas e escuras não pareciam atentar para mais nada além de Gabriela que estava no canto diametralmente oposto do cômodo. A boca, com uma língua desproporcionalmente maior que o normal fazia movimentos obscenos e tinha cor de morte.
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Ao correr os olhos pela sala eu vi o corpo de Júlio todos os arranhões severos que ele tinha. Pensei que talvez não sobrevivesse àquela noite. Me senti sozinho e reconheci que precisava de ajuda, mas não foi em Catharina que pensei. Queria que Carol estivesse ali comigo, mais que só como uma lembrança. Queria sentir seu hálito doce, sua pele gelada tocando na minha quente. Temi nunca mas poder ver seus olhos tão cheios de malícia e mistério. Fraquejei. </div>
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Falta de fé. Era tudo que o possuído precisava. Seu olhar focou em mim e seus olhos quase saíram das órbitas. Com um sorriso débil e ele passou a língua enorme pelos dentes que lhes restavam e começou a empurrar a parede a qual estava encostado. Os braços e pernas pareceram ter novamente força para sustentar o corpo e, depois de três passos dados ele fez um gesto vigoroso com as mãos. Do outro lado do salão, Gabriela foi atingida por uma lufada de ar e bateu com as costas na pilastra que adornava a escada. As luzes começaram a falhar e a temperatura pareceu baixar 10 graus no espaço de um segundo.
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Na penumbra, vi que que a entidade se aproximava de nós com seus olhos assassinos e não muito depois senti as garras do monstro fazerem dois rasgos em toda a extensão das minhas costas. Meu terço brilhava com uma intensidade muito frágil mas consegui ver, que um segundo golpe seria desferido contra o meu pescoço e desviei a tempo do pior rolando para o lado. No reflexo, levantei e corri para perto da escada enquanto ainda estava visível mas depois lembrei que Vinicius estava impossibilitado de correr. Quando olhei para ele, vi o possuído guinchar e unir as duas mãos com os punhos fechados acima da cabeça, ele iria desferir um golpe contra o tórax de Vinicius que se protegia como podia. Victor se manifestou em algum lugar atrás de mim e eu podia ouvir seus passos correndo, mas eu sabia que estava mais perto e sem pensar muito me joguei sobre o meu amigo que não podia se mexer. Me pus como escudo para o golpe e esperei que viesse.
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Mas não foi isso que aconteceu. Por uma das janelas superiores houve um rasante que mesmo de costas eu pude sentir passando por cima de mim e logo após isso o infernal começou a praguejar lamentos de dor verdadeira em muitos idiomas e vozes diferentes. Depois de registrar tudo isso me virei a tempo de ver a cena.
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O velho podre estava com as duas mãos cobrindo os olhos, de onde saía muito sangue. Se batendo em móveis e paredes da casa. No ar, ainda próxima de nós dois pairava uma ave que poucos minutos depois alçou voo e se pôs acima de um busto de Athena que ficava no terceiro andar.
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Era uma coruja e seu bico estava vermelho. </div>
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Minha expressão fazia o trabalho das palavras que não vinham. Na teoria é bem simples: um exorcismo nunca é performado sozinho. A carga de energia despendida pelo padre principal é altíssima, o que pode causar danos físicos. Por isso sempre há um diácono que o ajuda com as palavras e orações que são ditas em ordem correta, como uma coreografia metodicamente ensaiada. Em poucas vezes o diácono faz algo além de dar suporte ao padre titular do exorcismo, entretanto, há registros de demônios que só retornaram ao inferno sob comando do auxiliar.
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E eu? Eu não estava minimamente preparado para isso, sequer tinha lido toda a bíblia especial que estava na maleta que eu agora segurava. Aprendi do jeito mais difícil que era impossível pensar em Carol e na bíblia ao mesmo tempo. Não era uma decisão difícil escolher o meu foco de atenção.</div>
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O calor da tarde permanecia, mas agora era como se a umidade pesasse sobre meus ombros. Eu sabia, teoricamente, da responsabilidade que seria estar ao lado de Victor na hora do ritual, mas era não fazer idéia do que isso seria na prática que me deixava inquieto. Ele não me ouvia, ou escolhia não ouvir. Seguia, passos largos, em direção ao balcão para pagar a cerveja que agora pesava duas toneladas em meu estômago. Tentei acompanha-lo e, ao ver que ele não pararia pelas minhas palavras, minha mão foi ao seu ombro e fez com que ele se virasse.
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<br clear="none" /></div>
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- Espera! Acho que já você está adiantando um pouco as coisas. - agora que tinha sua atenção eu tentava argumentar - Veja o que o Júlio fez hoje, tenho certeza que...
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- Que ele é um ótimo rastreador e nada mais. Toda a idéia de trazer vocês para essa caçada era analisar os pontos forte se fracos de cada um. Eu observei vocês, peguei informações com seus protetores e, eu já faço isso há algum tempo. Não estava completamente certo de que Júlio nos acharia a encontrar o que quer que seja que estamos procurando, mas era um palpite que valia a pena apostar. Com você não é diferente.
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<br clear="none" /></div>
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Seu rosto refletia a calma de quem tem plena confiança em suas palavras. Lembrei da minha conversa com Catharina mais cedo, quando eu resolvi vir para cá sem ela. Se eu pretendia descobrir o que ou não poderia fazer, desistir dos obstáculos que aparecesses por insegurança não seria de muita serventia. Catharina seria contra, me protegeria. Mas Victor fazia exatamente o oposto, me empurrava em direção ao perigo.
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<br clear="none" /></div>
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- Você mandou um berne errante de volta para o Inferno, e antes disso lutou contra uma Aaba. Sem nenhum treinamento, Pablo. Você escapou com vida do ataque de um upyr sem nenhum dano maior que um par de cicatrizes discretas.
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<br clear="none" /></div>
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Ele apontou para a saudade que Carol havia deixado em mim. E eu discordei mentalmente, não eram discretas elas eram enormes. As cicatrizes eram do tamanho da falta que ela fazia. Era o sétimo dia sem notícias dela. Sem precisar de nenhum comando meus dedos tocaram a parte lacerada que parecia gelada, gritando pelo toque quente dos lábios dela que haviam estado ali uma eternidade atrás.
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<br clear="none" /></div>
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Uma coruja se manifestou em algum lugar e me trouxe de volta.
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<br clear="none" /></div>
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Victor já estava acertando a conta da cerveja que agora revirava no meu estômago. Cumprimentou Fábio que acenou para mim da caixa registradora. Respondi o aceno sem nem imaginar que tanto tempo depois aquele atendente de bar seria o mais próximo de um amigo que eu teria.
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<br clear="none" /></div>
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Quando voltamos para a mesa todos já estavam de pé, exceto Vinicius. Nem eu nem Victor dissemos uma palavra sobre a nossa conversa, mas Gabriela me olhou de um jeito tão piedoso quando voltei que desconfiei que ela tivesse ouvido algo. Senti uma onde de compaixão tão forte vinda dela que poderia comparar à um abraço mental. Ou espiritual, depende da sua interpretação.
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<br clear="none" /></div>
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O que quer que fosse, não me fez bem. Me senti invadido por aquilo e procurei me desvencilhar daqueles dedos invisíveis que tentavam se fechar em mim. Quebrar o contato visual com Gabriela ajudou, deixei de sentir as ondas de energia dela quase no mesmo momento em que ofereci ajuda a Vinicius. Desta vez ele negou e usou a velha mesa de madeira como apoio e, não sem esforço, conseguiu se erguer. A vezes precisamos levantar sozinho e ficar sobre nossas pernas, estando elas boas ou não.
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<br clear="none" /></div>
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Victor aprovou meu colega com um discreto movimento de cabeça. Quando todos estávamos prontos para ir, eu o vi conversando algo com Júlio que eu não consegui ouvir. Caminhamos até uma praça genérica que marcava a bifurcação entre a rua do bar e a da suposta morada de nosso alvo. Nesse ponto Victor parou e sentou num dos velhos bancos de concreto. Ele não precisou falar para fazermos o mesmo, quando Vinicius nos alcançou ele começou a falar:
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<br clear="none" /></div>
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- Acredito que este seja o primeiro exorcismo de vocês, então é essencial que alguns pontos fiquem claros para que todos saiamos inteiros dessa situação. À partir de agora somos um organismo só, precisamos manter todas as partes da engrenagem funcionando minuciosa e perfeitamente para que tenhamos sucesso. Todos entenderam?
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Gabriela fez menção de uma pergunta mas ele a calou com um gesto e continuou.
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- Um exorcismo é um ritual simples na teoria, mas imensamente complicado na prática. São muitas variáveis em jogo e nunca ha um padrão, cada ritual é um ritual. Faço a expulsão de demônios ha não menos que 18 anos e nunca consegui ficar tranquilo antes de faze-lo. - apesar de querer fazer o mesmo que Gabriela, me contive - Cada um de vocês ganhou uma bíblia que veio na maleta destinada aos jovens sacerdos, foi aconselhado que vocês a lessem e eu sei que não leram. Mas tudo bem - pensou consigo -, eu também não li a minha na época. Então deixe-me explicar isso para vocês, o livro que vocês tem em suas malas não é um exemplar desses que os civis encontram em barraquinhas de qualquer paróquia ou livrarias religiosas. Em meio a todos os livros comuns à todas as edições, o Vaticano nos fornece um numero contado de bíblias que contêm o Rituale Romanum, um livro escrito no século XVII onde se encontram todos os rituais ministráveis por um padre.
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- Entre eles o exorcismo.
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Júlio olhava para frente quando quebrou o silencio que Victor não pediu, como se estivesse em transe. Ele olhava para a casa amarela no fim da rua. O padre pareceu ignorá-lo e seguiu:
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- Entre eles o exorcismo, sim. E é ele que vamos ministrar. Sim, eu digo “vamos” porque a primeira lição que vocês precisam aprender sobre essa liturgia é: nunca a façam sozinhos. - fez questão de frisar esta instrução com pausas após cada palavra - O demônio, seja qual for…ou quais forem, que estiverem em posse da pessoa em questão farão de tudo para minar sua força física e psíquica. Estes monstros têm força sobre-humana, como nosso amigo manco aqui pode atestar e só este alerta já se faria necessário para não tentar o bancar o herói sozinho. É preciso emboscá-los. Fazer uma armadilha e prendê-los numa cama ou numa cadeira. Aconselho que usem cintos sempre consigo, eles podem ser úteis. Mas isto não é o mais importante. Depois de preso vêm a parte difícil.
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Pausa. Não durou mais que o tempo de uma expiração.
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- Fé. - ele disse por fim - É preciso que você tenham uma fé inabalável. Esta é a nossa maior força contra esses filhos da puta. Seus anjos da guarda provavelmente diriam “Fé em Deus” ou seja lá como é que eles chamam esse cara. O meu me disse isso. - um riso irônico escapou - Mas vou dizer para vocês, garotos foda-se Deus. Estou no ramo há quase vinte anos e todos os meus colegas que dependeram da resposta Dele para se salvar já não estão mais aqui para contar a história. Tenham fé no que quiserem, mas escolham bem. Aprendi do modo mais difícil que o nosso querido criador só ouve quando quer, e por isso eu digo: acreditem no que quiserem. Mas escolham bem, escolham algo no qual vocês acreditem acima de qualquer coisa porque é aí, na sua confiança que eles atacam. Com mentiras, injúrias e muitas outras artimanhas eles vão fazer vocês desistirem de si mesmos. Se agarrem ao que vocês acreditam, senão eles vão ganhar. Agora vamos pegar esse miserável.
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Esperaríamos anoitecer, Júlio sempre alerta a qualquer sinal de mudança do nosso alvo. Mas a casa amarela que carregava o número 79 pintado à tinta azul-turquesa em sua fachada não dava dúvida nem a alguém com as habilidades de rastreador reduzidas como eu. Ele estava lá dentro.
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Quando nos aproximamos, ainda com o sol no céu, todos tivemos novamente a sensação de mal-estar que nos arremeteu mais cedo, só que agora mais contida, como se estivesse adormecida ou pelo menos dispersa. Apesar de diluída, a energia negativa era expelida da casa como se fosse pus em seus poros. Para qualquer passante que não tivesse nossa predisposição para sentir espectros de energia, o número 79 da rua Paulo VI poderia ser apenas uma casa abandonada com tábuas nas janelas e pintura maltratada, mas nós, sacerdos em sua primeira missão, sabíamos que ali era a casa do Demônio.
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O plano era não parecia complicado: Vinicius, que já estava com piores condições físicas, seria a nossa isca. Não sem muito protestar, é verdade, ele aceitou. Entraria sozinho na casa e atrairia a atenção do possuído o bastante para sentirmos em que lugar da casa ele estava. Eu, Gabriela e Victor precisaríamos ser rápidos, precisaríamos alcançar Vinicius antes do infernal. Júlio ficaria como reforço. Próximo à porta, nos alertando da posição do inimigo se algo desse errado.
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Nosso objetivo era prender o possuído, numa cadeira ou numa cama, não importava. Victor nos dissera que o ritual deveria ser feito com o alvo imóvel. Uma vez tendo pego ele, seria tarefa de todos nós, exceto Vinicius, prendê-lo.
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Lembro de ter olhado o relógio antes de finalmente começarmos a missão, ele marcava 18:02h. Me parecia ser muito mais tarde, a rua era tão escura e fria que eu precisei olhar para cima e ver o sol se despedindo para me convencer que ainda não era noite.
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Nos reunimos, Victor deu as últimas instruções e repassou a tarefa de cada um no plano. Checamos nossas maletas e, antes de fechá-las, fomos orientados a usarmos o terço em punho já quando entramos na casa. Num gesto que não foi pensado, enrolei o rosário branco na minha mão esquerda, dando a volta no meu dedo do meio. Todos os outros fizeram o mesmo, mas na outra mão. Victor me olhou e disse:
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- Sabe, por muitos séculos não foram aceitos padres canhotos pela igreja. Era sinal de uma inclinação forte para o lado do Inimigo. O lado esquerdo, o lado sinistro.
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Ele riu um riso forçado, sem vontade e se pôs a olhar a casa amarela. Me perguntei se Carol também seria canhota. Percebi que nunca tinha reparado e decidi que essa seria uma das primeiras coisas que prestaria atenção quando a visse novamente.
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SE a visse novamente.
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Passamos pelo portão de grades enferrujadas que um dia pareciam ter sido cinzas. Nós três ficaríamos no jardim, Vinicius entraria e, logo após dele, Júlio. Senti meu amigo mais nervoso a cada passo que mancava, mas não precisei usar nenhuma habilidade especial para isso. Vinicius foi o primeiro a entrar, ele precisou que Júlio o ajudasse a quebrar a viga de madeira que servia de trava na porta, como aquelas toras que eram postas na horizontal em frente às portas dos castelos medievais. Ou uma versão podre e fétida disso.
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Quando eles entraram, uma lufada de vento veio em nossa direção, não de fora, mas de dentro da casa. O vento gemia, se lamentava como que nos alertando a sair dali. A casa era grande em altura, tinha três andares. Ele poderia estar em qualquer lugar, talvez até esperando por nós. A tontura voltou sem aviso e trouxe consigo um latejamento desagradável na nuca. Gabriela parecia sentir o mesmo. Victor, entre nós dois, focava seus olhos de general na escuridão da casa por onde os dois sumiam.
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- Ei! Eu voltei! Cade você?! - Vinicius gritava do escuro, não se ouvia sinal algum de Júlio.
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Os gritos foram repetidos algumas vezes até que silenciaram, melhor. Foram silenciados por um grito maior. Vinha de cima, do segundo ou terceiro andar. Horrível, como cordas vocais se rompendo num grave que ia ser prolongando até virar agudo.
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Minha espinha gelou, todo o resto do meu corpo também. A única parte que se movia era minha cabeça, que agora olhava para cima procurando a origem daquele barulho. Gabriela também olhava para os andares superiores em vão. Victor, por sua vez, olhava para baixo, para sua mão direita especificamente. O terço, que era negro, agora brilhava, num fenômeno parecido com o que houve com meu antigo crucifixo quando Máira em nosso primeiro embate.
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Na minha mão canhota, a mesma de Carol, meu terço também brilhava e pulsava. Fechei a mão sobre ele e imaginei que aquilo seria a mão dela na minha, me guiando e protegendo. E eu percebi que já tinha escolhido aonde minha fé estava.
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Victor entrou, seguido por Gabriela. Por fim eu, guiado pela mão de Carol, entrei na escuridão atrás de um demônio. E em algum lugar uma coruja se manifestou outra vez. </div>
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Me deixe explicar isso na melhor forma possível. Existiam algumas peculiaridades no nosso ramo de trabalho. Alguns de nós poderiam ter certas…habilidades mais desenvolvidas que outros. Não sei quantas vidas Júlio já havia vivido em serviço mas com certeza, durante elas, sua habilidade como rastreador fora desenvolvida.
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O rastreamento não era uma habilidade restrita a ele, na verdade. Todos nós tínhamos e isso nos fazia sentir e conseguir assimilar a presença de um infernal que estejamos perseguindo. Ou sendo perseguidos. Mas, chamamos de rastreador quem tem esta habilidade tão desenvolvida que passa da média.
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Júlio era um rastreador nato. Já faz muito tempo que não tenho notícias de Vinicius e, soube por Catharina que Gabriela morreu em combate em uma das visitas que ela me fez. Mas mesmo no último contato que tive com eles, nenhum tinha chegado perto do nível de Júlio como rastreador.
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Tanto tempo depois, eu também não.
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Não sei dizer ao certo se Victor já sabia que tínhamos um rastreador no grupo, ou se nos colocou naquela situação para moldar um. Quaisquer que fossem suas intenções, elas deram certo. Júlio estava descontraído, a pressão da energia negativa que o demônio havia deixado não pareceu aborrece-lo em nenhum momento.
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Víctor nos explicou qual era a função de um rastreador e enfatizou como este aspecto do nosso treinamento era algo importante, principalmente nos momentos em que estivéssemos sozinhos.
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Seguimos as direções que Júlio apontava, cortando as ruas do bairro do Flamengo, sempre indo para o interior do bairro. Num determinado momento, em uma bifurcação, Júlio que agora era a dianteira do grupo, parou. Em dúvida se o caminho certo seria esquerda ou direita, fechou os olhos e inspirou lentamente. O rastro havia ficado frio.
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Nenhum de nós havia dito nada desde que começamos a andar, ainda estávamos nos recuperando dos efeitos. Por isso foi quase um susto ouvir a voz de Vinicius, que agora caminhava sozinho, atrás de nós afirmando:
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- Direita. - ele disse como se fosse óbvio.
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- Você também está percebendo alguma coisa? - Victor materializou a dúvida de todos.
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- Não, mas eles têm um bar ali. E bares são sempre bons lugares para pensarmos sobre um problema.
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Pode ter sido a perna de Vinicius que o fez sugerir darmos uma parada no bar, mas eu chutaria que foi seu gosto pela bebida. Havia uma tradição, entre eu e ele, sempre após uma caçada (como depois fui saber que era o nome do que estávamos fazendo) ou um exorcismo solicitado, nós íamos ao Caneco 70, um botequim carioca tradicional, com uma fachada grande, dois andares e clientes cativos que conhecem os garçons pelo nome.
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Essa tradição foi iniciada naquele dia.
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Confesso ter ficado surpreso ao ver o quão prontamente Victor aceitou a ideia. Na época, eu tinha na cabeça que padres não poderiam beber nada alem de vinho. Devia ter estudado melhor as atitudes de meu instrutor, tomar uma cerveja não deveria ser nenhum problema para um homem que brigava com anjos e não usava batina. Sentamos todos em uma mesa circular do lado de fora do bar, que estava relativamente cheio para aquela hora da tarde. Depois de alguns minutos um garoto mais novo que eu e com uma barba por fazer que disputava lugar com algumas espinhas veio nos atender
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- Boa tarde, ja escolheram?
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- Voce tem Original? - Victor perguntou ao rapaz casualmente
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- Tenho sim, uma so para todos vocês?
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- Eu não vou beber. - Julio ainda parecia concentrado em achar o rastro perdido.
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- Então somos so três. - o garoto ia se retirando para dentro do bar quando Victor o chamou novamente - E qual e o seu nome?
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- Fabio, senhor.
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- Pega uma das geladas, Fabio.
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- E pra ja.
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Enquanto Fabio ia em direção ao balcão nós, na mesa circular de madeira estávamos perplexos com a naturalidade com a qual Victor levara aquela conversa. Não parecia mais nosso instrutor. Nos entreolhamos enquanto ele tirava do bolso da calça uma carteira de couro e um moleskine sem pauta. Ao levantar levantar a cabeça entendeu a expressão de nós três e disse:
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- Vinicius estava certo, este pode ser sim um bom lugar para conseguirmos informações. Nosso trabalho, ouçam bem, não é muito diferente do de um investigador de polícia muitas vezes. E bem como um policial tentando resolver um caso, precisamos conseguir a confiança antes de conseguir a informação.
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Fábio voltou trazendo uma cerveja tao gelada que o vidro da garrafa parecia estar empoeirado. Pôs os copos na nossa mesa e serviu a bebida. Victor foi o último a ter seu copo cheio. Fábio, que era menos experiente do que no dia em que comecei a escrever este relato, perguntou se gostaríamos de mais alguma coisa do bar e Victor disse:
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- Não. Do bar não. Mas eu gostaria de fazer algumas perguntas se voce não se incomodar. - Victor ainda esta travestido de sujeito amigável e isso parecia fisgar o pobre Fábio.
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- Pois não, senhor.
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- Veja, achar o seu bar aqui foi uma sorte danada. Meu nome é Victor. Detetive Victor, - e ao ouvir este título Gabriela se engasgou com o que saía de seu copo. Pude ver a expressão de Fábio ir de despreocupada para apreensiva e sua mão, num ato involuntário, buscar uma cadeira vazia e se sentar conosco.
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- Senhor detetive, se isso é por causa do problema na cozinha eu tenho certeza de que o Seu Luiz já acertou tudo e...
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- Não Fabio, vigilância sanitária não é bem o meu foco neste trabalho. Sou um detetive policial somos, na verdade - agora ele indicava a nós -, ainda que meus colegas estejam em treinamento. E, como eu disse, gostaria de te fazer umas perguntas, se isso não for atrapalhar suas atividades no bar, claro.
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As palavras eram sérias, mas o sorriso despretensioso permaneceu em seu rosto todo o tempo. Eu observava aquilo como quem vai ao teatro pela primeira vez. Fábio havia sido fisgado por ele e, agora mais tranquilo sobre quaisquer que fossem os problemas na cozinha do Caneco 70, parecia mais disposto a conversar:
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- Não vai atrapalhar não, senhor. Já atendi as mesas lá de dentro e, ah, qualquer coisa eles me gritam.
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- Que ótimo então. - Victor estava saindo do personagem e voltando à seriedade habitual - Fabio, eu e meus companheiros aqui estamos investigando um caso um tanto quanto...peculiar. Acredito que voce tenha ouvido rumores de ataques aqui pelas redondezas.
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- Ah, a gente sempre ouve, né? Outro dia mesmo no jornal saiu de um grupo de pivetes que usam faca para assaltar ali no Aterro...
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- Acredito que eu não tenha sido claro, desculpe. Veja, o caso que estamos investigando aqui é REALMENTE peculiar. Assaltos no Rio de Janeiro, infelizmente, ja fazem parte do nosso cotidiano, não é? Mas eu quero saber se voce viu ou ouviu alto realmente fora do comum.
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Fabio vacilou, parecia ser algo de que ele não queria falar mas o homem de preto à sua frente lhe intinimidava.
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- Bom, tem esses rumores, - falou cautelosamente - eu nem sei se eu acredito, na verdade. Acho que não. Mas é que muitos dos clientes aqui já a algum tempo tem evitado passar por aquela casa amarela ali no fim da rua. - apontou para o lado direito da bifurcação que tinhamos encontrado mais cedo - Um deles, um senhor que vem vem aqui quase toda terça-feira, disse que seu filho foi perseguido por um fantasma que ronda a casa durante a noite. Claro que todo mundo deu risada, mas eu não.
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- E porque você não riu?
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- Eu acredito que todos temos nossos fantasmas, seu Victor, e que não é bom zombar deles.
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Victor assentiu.
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- Sábia decisão, garoto.
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Eu terminava o meu segundo copo quando um dos clientes no balcão chamou Fabio para pedir algo e ficamos sozinhos à mesa. Gabriela fitava Victor com a expectativa de saber qual seria o nosso proximo passo. Vinicius esvaziava a garrafa que tínhamos pedido e eu tive certeza de que ele iria pedir uma saideira se Júlio não tivesse nos avisado que talvez a pista estivesse mesmo certa.
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Victor se levantou para pagar a conta e fui surpreendido quando ele me chamou para acompanha-lo. Não eram muitos passos da mesa onde estávamos até o balcão, mas parecia mais do que o suficiente para ele me jogar uma bomba:
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- No ritual que estamos prestes a performar, quero que voce seja meu diácono.
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“Diácono”, eu tinha lido no anexo que vinha junto à minha bíblia, é um cargo da hierarquia de sacerdotes com algumas atribuições, e uma das mais importantes é seguir com o exorcismo se o padre que o começou não puder continuar.
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<br clear="none" /></div>Doughttp://www.blogger.com/profile/10921754351760150046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3896754087151831820.post-68528120923820666952015-04-27T20:14:00.000-07:002015-07-05T07:24:35.284-07:00Ver027<iframe width="420" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/b8-tXG8KrWs" frameborder="0" allowfullscreen></iframe>
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Eu parei no meio de um dos passos de Vinicius e quase o fiz cair. Favrashis são anjos que tem a função específica de guiar e proteger aspirantes a sacerdos, disso eu já sabia. Mas nunca tinha atentado ao fato de que eles são imortais e nós não. Até Vinicius me falar isso, eu achava que cada Favrashi estaria ligado a somente um de nós, quando sua missão aqui estivesse concluída, por bem ou por mal, restaria a eles apenas subir e aguardar que voltássemos a este plano. Só agora eu via que fazia sentido o mesmo anjo proteger incontáveis mortais durante os seu dias infinitos.</div>
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E Reint, o Favrashi amargurado, tinha sido o guia de Victor, nosso também amargurado orientador. Preciso confessar que, desde o breve embate que os dois tinham tido antes de entrarmos no carro, minha simpatia pelo exorcista havia crescido sensivelmente. Não gostava do jeito superior e distante que o Reint parecia impor com a sua presença. Não que Victor tambem não o fizesse mas, sendo mortal, ele fazia de um modo diferente.</div>
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- Júlio não me disse o que houve, e acredito que ele também não saiba. - Vinicius, que tinha dificuldades para caminhar e falar, ofegava - Eu até perguntei pra Olyver, ele disse conhecia Reint há pouco mais de dois séculos, mas ainda assim sabia muito pouco sobre ele. O cara é muito fechado.</div>
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- Percebeu como é estranha a interação dele com o Júlio? Quer dizer não é como a relação que eu tenho com a Catharina ou você e o Olyver. As vezes parece algo mais...doutrinador.</div>
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- É, nao sei bem o que acontece entre aqueles dois. - se pudesse, Vinicius teria dado de ombros - Só sei que não queria estar na pele ele.</div>
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Vinicius indicou nosso colega com a cabeça, ele ainda caminhava ao lado da hiperativa Gabriela. Júlio era o mais peculiar de nós. Não digo pela aparência, quanto a isso meu amigo era bastante básico: pele morena, cabelos cortados à maquina e um nariz que indicava alguns antepassados judeus. A coisa mais diferente que Júlio apresentava à primeira vista era seu sotaque, ele era nascido em Macaé.</div>
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Mas isso mudava quando voce prestava mais atenção nele, e naquele dia eu prestei. A verdade era que Júlio era o mais preparado de nós para fazer o que faríamos. </div>
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Observei, alguns passos atrás, que ele e Victor caminhavam da mesma maneira. Marchando. No momento que eu acompanhava os pés de Victor ele parou. Girou nos calcanhares para nós e disse:</div>
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- O que vocês estão sentindo?</div>
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Estávamos numa rua estreita do Flamengo, havia um supermercado à nossa direita. O número de pessoas com seus sentimentos, suas dúvidas e intenções atraiu minha atenção para lá. Mais do que isso, atraiu meu rosto, instintivamente eu virei naquela direção.</div>
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- Ali…depois daquela locadora. É pra lá que estamos indo, não é? - Júlio apontava para uma esquina que dobrava sobre uma locadora antiga, daquelas que pareciam ter mais pornôs do que filmes de Hollywood.</div>
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Eu, e percebi que Vinicius também, que olhávamos para o supermercado agora começávamos a notar alguma coisa ali, logo atras da velha locadora. </div>
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- É mais fácil ver alguma coisa depois que sabemos que ela está lá. Vocês dois - Victor vinha caminhado até onde eu e Vinicius estávamos - olharam para o mercado porque ele grita, e o que grita costuma querer atenção. O que procuramos é um sussurro no meio de tudo isso. Procuramos alguém que não quer ser achado.</div>
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Parou, olhou para mim e para Vinicius por mais um momento e se encaminhou de volta para a posição de batedor do grupo. Mas ao passar por Júlio, disse:</div>
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- Bom trabalho rapaz, é mesmo pra lá que nós vamos.</div>
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Não houve um sorriso, uma mão no ombro ou mesmo um contato visual, mas aquela foi a primeira vez que Victor disse algo proximo a um elogio para qualquer um de nós. Júlio, se tivesse a pele branca como a de Catharina, teria ficado vermelho.</div>
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Quando viramos a esquina da locadora Vinicius pediu um para descansar um pouco mas Victor disse que não havia tempo. O que Júlio havia sentindo ali tinha sido um rastro da presença recente do infernal, e precisávamos encontrá-lo enquanto o rasto estava fresco.</div>
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Vejam, o que eu chamo de "rastro" é uma espécie de ectoplasma rançoso e invisível que, agora que estávamos mais perto, parecia inexplicável eu não ter notado antes. </div>
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O ar era pegajoso. Olhei e vi meus colegas com a mesma sensação de desconforto que eu tinha, Victor entretanto, era uma estátua que nos observava. Eram quase três da tarde e o sol estava forte no céu. Isso não ajudava no incomodo. </div>
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- Então, era sobre isso que a Eduarda estava falando outro dia, - ouvi Gabriela surpresa a minha direita - essa é a tal “presença”.</div>
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- Exatamente. E é este tipo de pegada que vocês devem estar atentos daqui para frente. Percebam como é uma energia diferente das que estavam lá no mercado da outra rua, e diferente das que nós emanamos também.</div>
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Muitas coisas na vida seguem a lógica da bebida e essa é uma delas. Após tanto tempo em contato direto com este tipo de experiência, seus efeitos já são mínimos para mim, mas confesso que neste início de carreira era algo bastante desconfortável, física e psiquicamente. Minha alma parecia ser arranhada, meus ouvidos pareciam ter subido a Serra, e minhas pernas tremiam.</div>
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Eu, que servia de muleta para Vinicius, de repente tombei sobre ele e ambos caímos. Do chão eu vi que Gabriela buscou apoio no vidro empoeirado da velha locadora. Encostada ali, aos poucos ela também ia escorregando. </div>
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Fora Victor, Júlio era o único que conseguira ficar de pé. </div>
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Quando olhei para ele, seus olhos estava fechados, como se lendo aquela energia, estudando cada pormenor, cada partícula invisível que nos impelia daquela forma. Victor veio até nós e nos deu a mão para levantar.</div>
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Não pude esconder a minha surpresa, ele ignorou.</div>
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- Agora, fechem os olhos, todos vocês - apesar da confusão que passávamos internamente, para os passantes na rua, acredito que não éramos mais de garotos reunidos tomando sermão de um dos pais porque exageraram na hora na noite anterior. Victor continuou:</div>
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- No seu primeiro contato com seus Favrashi tenho certeza que todos vocês se sentiram inundados por uma energia acolhedora inédita, isso facilita muito o trabalho deles. Nos faz sentir acolhidos e confiar no que eles dizem. Este caso é o oposto, esses caras querem afastar a gente, e aqueles de vocês que já tiveram experiências com demônios podem confirmar isso.</div>
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Ao ouvir isso me lembrei do meu primeiro contato com Máira, e do o berne que exorcizei mesmo antes de saber ministrar um exorcismo formalmente aceito pela Igreja. De fato, esses seres emanavam ondas de energia escura tão poluídas que era perturbador estar em sua presença. </div>
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Mas meu pensamento voou para a outra experiência de contato que eu tive com um ser do plano inferior. Com a Carol este tipo de coisa não acontecia. Não falei para Víctor, mas sua afirmativa era errada. O oposto disso era o que Carol fazia. Estar com ela era agradavelmente perturbador sim, mas era o seu par de pernas o responsável por isso, não algum tipo de ectoplasma negativo.</div>
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Se Carol tivesse deixado algum tipo de "rastro" eu já teria ido atrás dela.</div>
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Enquanto o pensamento nela tornava um pouco mais agradável os meus primeiros goles desse drink amargo, Victor continuava nos instruindo:</div>
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- Concentração, garotos! Contra-ataquem, vocês tem o poder de sobrepor essa energia escura com a sua própria. Empurrem, empurrem ela de volta, pra longe. </div>
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Foi literalmente isso: empurrar. Só que a força que eu fazia não era física. Foi difícil no início, mas pouco a pouco percebi que nós três fazíamos a pressão diminuir. Após alguns minutos ela ainda estava lá, mas bastante enfraquecida. Agora eu sentia, no máximo, uma dor de cabeça de fim de ressaca. Tirei os óculos para massagear os olhos doloridos, depois que o mundo entrou em foco novamente eu vi dei uma olhada geral no meu grupo: Vinicius se encostava em um carro por culpa da perna ruim e Gabriela estava sendo levantada por Victor num gesto semelhante ao que ele fez comigo minutos antes.</div>
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Júlio permanecia de pé.</div>
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Desde que tudo aquilo começou ele abriu os olhos e, após ter um panorama geral da situação disse, sorrindo, com seu peculiar sotaque de Macaé:</div>
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- Eu sei aonde ele está.</div>
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- Senhoras e senhores, - disse Victor, orgulhoso - encontramos o nosso rastreador.</div>
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<br /></div>Doughttp://www.blogger.com/profile/10921754351760150046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3896754087151831820.post-50741840419130015702015-04-18T14:18:00.001-07:002015-07-05T07:22:24.631-07:00Ver026<iframe width="420" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/Uz1Jwyxd4tE" frameborder="0" allowfullscreen></iframe>
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É verdade que esta era a parte mais prática do nosso treinamento. E é verdade também que eu havia perdido as duas primeiras sessões que Victor havia ministrado. Mas eu, e todos os outros aspirantes ficamos perplexos quando ele levantou e foi em direção à porta da sala.</div>
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Animação não parecia ser algo natural para aquele homem amargo. Júlio de prontidão se pôs atrás do nosso instrutor. Gabriela me olhou sem saber o que fazer eu dei de ombros.</div>
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- O que vocês estão esperando? - de braços abertos Victor tentava entender o que nos prendia em nossos lugares - Vamos, levantem! Vamos atrás desse encosto que atacou Vinicius!</div>
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- Espera! Você quer que nós…bom, que nós enfrentemos esse monstro assim, sem preparação? - apesar da timidez, a voz de Gabriela falou por todos nós - Professor, isso é muito perigoso, você viu o que aconteceu com Vinic..</div>
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- Eu não sou professor, Gabriela. Eu sou um exorcista e meu dever aqui é fazer com que vocês sejam também. - Victor falava firme, mas não tinha a voz exaltada. - Percebam, garotos, eu extermino demônios há anos e falo com propriedade quando digo para vocês: não ganhamos esse tipo de luta só com os livros. A teoria que Marcelo dá pra vocês é importante, Eduarda ajuda a balancear suas habilidades psíquicas mas, o que fazemos, o que vocês vão fazer daqui para frente, é estritamente prático. Por isso, tenham a bondade de me seguir para que possamos aprender um pouco, certo?</div>
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Havia faíscas em seus olhos. Não como os de Haniel, que incidiam uma luz vazia e sem alma. Mas da mesa que eu estava, percebi o que Victor tinha o olhar de um soldado dedicado que se iluminava sempre que uma nova missão lhe era entregue e, na verdade, ele não era mesmo muito diferente disso. </div>
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Júlio foi o primeiro a levantar e ir em direção à porta. Gabriela esperou enquanto eu ajudava Vinicius a levantar para seguirmos. A confiança que Victor passava naquele momento contagiava todos na sala, mas parecia que ela não vinha sozinha. Eu senti satisfação quando passei por ele. Ouvi a porta fechando e subimos para o piso principal do Templo. </div>
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Os quatro Favrashi e Padre Pedro conversavam quando aparecemos nos primeiros degraus da escada e se espantaram com a nossa movimentação. Victor fez sinal para pararmos e seguiu sozinho para conversar com o grupo de celestes e o velho padre.</div>
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Foi uma discussão acalorada, nos entreolhávamos com certo constrangimento quando algum deles levantava a voz. É estranho ver anjos gritando quando mortais ficam calmos. Sentei Vinicius num dos bancos da igreja e Gabriela fez menção de ir até o pequeno grupo que discutia à nossa frente, mas Júlio a manteve no lugar. </div>
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Obedecemos e ficamos observando de longe uma discussão que começava. Quando ela cessou, Catharina veio pisando firme em minha direção, seus pares fizeram o mesmo, exceto por Reint que chamou Júlio para ir ao seu encontro. Acompanhei meu colega indo conversar com seu anjo protetor com os olhos e o contato visual foi cortado por um estalo dos longos dedos de Catharina.</div>
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- Você está ouvindo o que eu falei?! Isso é loucura! Esse homem é maluco! Depois do que aconteceu, deixar vocês sozinhos, até parece! - a última frase foi dita em direção a Victor sem a menor tentativa de disfarce. Ele estava impassível. Catharina continuou:</div>
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- Escute o que eu vou te dizer, Victor falou a Pedro que vocês já poderiam escolher ir ou não. Ele sabe das regras, se você quiserem que fiquemos aqui nós não teremos opção. Olyver contou que se trata de um humano em estado de possessão, mas mesmo assim é arriscado, Pablo. Todos nós fomos contra…quer dizer, até Reint foi contra, e olha concordamos em muito pouco.</div>
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Ela olhava para mim com esperança de que eu endossasse seus comentários e concordasse com seus argumentos. Percebi que Hoan e Olyver faziam o mesmo com seus protegidos. Eu estava com medo, racionalmente era óbvio que eu não queria enfrentar aquilo sem Catharina. Por mais que os outros e Victor estivessem comigo eu percebi, pela primeira vez, a necessidade que eu tinha de ter Catharina ao meu lado. Ela estava comigo desde que aquilo havia começado e em todas as situações de perigo que eu havia estado, minha Favrashi estava presente.</div>
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E foi justamente por isso que eu resolvi ir sozinho. Percebi que o trabalho de Catharina era me acompanhar, e não fazer as coisas por mim. Foi aí que resolvi que, se fosse me dedicar totalmente à isso, eu deveria saber quais são minhas limitações, saber até aonde eu poderia ir. E aquela seria uma oportunidade perfeita para descobrir isso. </div>
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- Eu acho que Victor está certo. Tivemos uma conversa lá em casa mais cedo, lembra? Eu sei que você se preocupa e sei da sua função nisso tudo, mas acho que eu preciso…que nós precisamos, na verdade, começar a caminhar um pouco sem vocês. - indiquei Hoan com a cabeça enquanto falava isso - Eu quero levar isso à sério, e só vou conseguir se souber a extensão total das minhas habilidades.</div>
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Catharina murchou, deu a impressão de ser menor do que eu. Ela engoliu seco antes de dizer que entendia a minha decisão. Talvez tenha sido essa predisposicão que nós temos para captar os sentimentos alheios que me fez ser inundado pelo balde de agua gelada que eu mesmo havia jogado nela com as minhas palavras. A sensação não era boa, meu impulso foi abração Catharina e seus olhos tristes, mas me mantive firme. Seus lábios tristes se verteram num sorriso e as mãos que tocaram meus ombros ajudaram a tirar um pouco do peso que começava a se formar ali. Ela falou mesmo sem usar palavras. </div>
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- Volte inteiro.</div>
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Não sei se me ouviram ou não, mas Gabriela e Vinicius tomaram a mesma atitude que eu. Desta vez, os celestes ficaram e nós caminhamos até o altar, onde Vinicius e seu Favrashi conversavam em voz baixa. O clima na antiga catedral era tenso. Por vim, Reint e Júlio se juntaram a nós e pela primeira vez eu ouvi a voz do homem de terno que usava abotoaduras douradas e um cabelo impecavelmente penteado.</div>
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- Acreditamos que seja bom para os futuros sacerdos experimentarem situações em nossa ausência. No entanto…Victor, espero que você esteja ciente da responsabilidade que tem nas mãos. Os tempos estão difíceis, temos cada vez menos recrutas e ainda vai demorar para termos outra leva de encarnados. - sua voz era baixa, monótona e rouca. Diferente dos outros Favrashi, Reint não fazia questão de ter aquela simpatia natural. Me pareceu um funcionário público que está ali batendo seu ponto e cumprindo tabela até seu horário de saída chegar. Victor não pareceu intimidado, pelo contrário:</div>
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- Eu já calculei todos os riscos, Reint. Pode ficar despreocupado.</div>
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- Você já faz idéia do que vocês estão atrás?</div>
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Vinicius respondeu antes do nosso instrutor. Percebi que Reint não intimidava só a mim quando ele começou a fase gaguejando, como se sua voz também mancasse:</div>
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- B-bom, estávamos…Olyver e eu quer dizer, vindo para cá, era cedo aind...</div>
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- Porque é importante que você saiba exatamente qual é o alvo que estão procurando - o olhos de Reint não saíram do rosto de Victor, apesar da fala de Vinicius, que deu um sorriso amarelo quando o anjo continuou - Esses garotos tem uma responsabilidade enorme nos ombros, seria interessante se os seus instrutores lhes ensinassem algo sobre isso também.</div>
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- Esta não é minha primeira turma. Já passamos do tempo que você me dizia o que fazer, Reint, então por favor deixe que eu faça meu trabalho. Acredito que muitos dos que se ordenaram comigo ainda estivessem vivos hoje se tivéssemos tido experiências práticas assim. Eu vou levar os garotos e, fique tranquilo, não vou abandoná-los lá.</div>
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Reint se limitou a dar um sorriso amarelo e mudo. Deu as costas e se encaminhou para onde estavam os outros. Júlio, bastante desconsertado, deu dois passos a frente e Victor passou a mão na sua cabeça. Foi o primeiro sinal de afeição que eu vi naquele homem.</div>
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Com o grupo reunido e devidamente autorizado para a missão externa nós partimos. Fomos no carro de Victor, um Mondeo preto. Discreto e elegante, como era o seu dono. Vinicius foi sentado na frente por causa da sua perna machucada e Gabriela se pôs entre eu e Júlio no banco detrás.</div>
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O carro não tinha aparelho de som, e nenhum som foi emitido por nós todos enquanto pegávamos o caminho que daria no Aterro do Flamengo. Victor aproveitou um dos raros horários que o transito não estava caótico para extravasar o que quer que estivesse lhe perturbando os pensamentos em velocidade. </div>
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Em menos de 15 minutos estávamos estacionando o carro em frente à delegacia antiga do bairro do Catete. Segundo Victor, era mais seguro seguir à pé a partir dali. Júlio, sempre escoteiro, abriu a porta do carro que estava oposta a mim e esperou Gabriela passar por ela. Eu fui até a porta da frente para ajudar Vinicius a ficar de pé. Victor ia à nossa frente e não olhava para trás, Júlio e Gabriela conversavam à minha frente, ela gesticulava muito. Suas mãos ficavam inquietas quando ela estava nervosa. O esmalte nos seus dedos era escuro, escuro como os olhos de Carolina. De repente o nós estivéssemos indo encontrar, fosse o que fosse, já não era minha maior preocupação.</div>
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Demorei para perceber que Vinicius estava falando algo.</div>
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- Você viu aquilo lá? Acho que eles nunca vão superar.</div>
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- É, o clima ficou pesado mesmo lá na Igreja, né? - a frase saiu após um longo suspiro -Victor parece ser bem difícil, mas seu Favrashi também não fica atrás, não é?</div>
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- Nem sempre, é que esse caso é pessoal.</div>
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- Pessoal? Eles tem algum tipo problema antigo não resolvido?</div>
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- É, Júlio me contou - Vinicius disse entre seus passos mancos - Reint foi o Favrashi de Victor durante seu treinamento.</div>
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<br /></div>Doughttp://www.blogger.com/profile/10921754351760150046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3896754087151831820.post-48079215542384856692015-03-14T12:23:00.001-07:002015-07-05T07:20:10.610-07:00Ver025<iframe width="560" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/Qok9Ialei4c" frameborder="0" allowfullscreen></iframe>
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Amanhece e só então percebo que virei esta noite escrevendo. Levanto da cadeira com um salto e para fechar as cortinas num reflexo condicionado que aprendi a ter há muito tempo. O apartamento se acostumou a ser escuro. Como eram os olhos dela.</div>
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Tomo um banho e me ponho de volta debruçado na velha Olivetti Lettera 25. Bebo meu café da manhã, uma cerveja dessas de produção nacional e gosto suor. Desce amargo, como deveria ser. Começo então, a me lembrar da época mais dura do meu treinamento.</div>
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Os meses de sumiço da Carol.</div>
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Minha recuperação não foi tão demorada quanto eu achei que fosse. Dentro de dois dias meu sangue já estava de volta ao volume normal. Ainda precisava tomar alguns cuidados, mas nada grave. Catharina ficou ao meu lado todos estes dias, não saindo em nenhum momento. Ganthem, o Ofanim desagradável bateu na minha porta no fim do segundo dia para saber notícias e ouvi Catharina lhe dizer que voltaríamos ao treinamento no próximo dia.</div>
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Isso me animou. Fazia cinco dias que eu não tinha notícias dela e eu começava a ficar preocupado. Achei que, após ela saber que voltei a frequentar a Candelária regularmente, iria me fazer outro contato daqueles surpresa que só ela sabia fazer. Esse pensamento me fez sorrir sem perceber.</div>
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Catharina desenvolveu uma mania engraçada de trancar a porta duas vezes para ter certeza de que ninguém entraria mesmo sabendo que Carol preferia usar a janela. Ela repetiu seu novo transtorno obsessivo compulsivo e entrou no meu quarto à tempo de ver o sorriso que a lembrança de Carol tinha posto nos meus lábios.</div>
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- O que é tão engraçado?</div>
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- Você achar que a minha porta de madeira compensada pode parar um ataque de demônios é engraçado.</div>
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- Só estou cuidando de você, Pablo. De nada, inclusive.</div>
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- Você não precisa fica preocupada se a Carol vier aqui, sabe...</div>
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- Pablo, você realmente quer seguir com isso? - a mudança de tom foi tão brusca que eu quase pedi para que ela repetisse a pergunta - É que parece que você está tratando isso tudo como uma grande aventura. E não é isso, Pablo! Pessoas se machucam, pessoas….morrem fazendo o tipo de coisa que fazemos. Quando Victor me contactou e eu fui ao templo atrás de você, temi o pior. E eu preciso te confessar que não estou preparada para falhar com você de novo. Se você não estiver completamente disposto a se dedicar a isso, acredito que você deva repensar o treinamento, para o seu próprio bem. Afinal o que você quer com tudo isso?</div>
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Catharina não estava agressiva e o que ela disse não soou como um sermão. Na verdade, parecia cansada, mas ainda assim suas palavras tinham tom cuidadoso e acolhedor. Foi um puxão forte de volta à realidade. Não digo sobre Carol, sabia que o que é que tivesse acontecido depois que eu apaguei, não foi a intenção dela me machucar. Mas eu estava trilhando um caminho bastante perigoso e, confesso, na época não tinha muita dimensão disso. Desde que Carol se aproximou tudo havia estado tão certo que eu esqueci momentaneamente do risco que era essa estar nessa missão. Lembrei do meu pai e tive saudade. Uma saudade afiada como um bisturi cirúrgico que causava dor e, ao mesmo tempo, me fazia ter vontade de impedir qualquer coisa parecida com aquilo acontecer novamente.</div>
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Sem pensar nada, como uma resposta automática eu disse:</div>
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- Eu quero parar todos os demônios que possam fazer as coisas que Lucas Malta faz. Quero matar esses filhos da puta com as minhas próprias mãos.</div>
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- Você soa como Carlos. Espero que Carolina não bagunce seus julgamentos morais como fez com ele. </div>
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Carolina. Porque ela ainda não havia feito contato? Será que não tinha gostado do que fizemos? Quando eu a veria de novo? Começava a me questionar o que houve de errado. A animação que começara a surgir em mim ia ficando mais tímida a cada segundo. No fundo, bem lá no fundo, se esboçava um pensamento perturbador. O pensamento de que não a veria novamente.</div>
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- Vamos? Se sairmos agora é possível que você surpreenda aos instrutores chegando na hora.</div>
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Catharina saiu pela porta e eu a segui.</div>
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Passava da hora do almoço, mas eu ainda não sentia fome. A igreja estava vazia neste dia, à exceção de dois turistas estadunidenses que fotografavam a estrutura interna. Passamos por Eduarda que falava algo com o Favrashi de Gabriela, que era o de cabelos enrolados e aspecto moderninho. Passei por eles e o anjo, que se apresentou como Olyver:</div>
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- Prazer, Olyver? Isso é russo? - Brinquei</div>
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- Hahahah, não não. É de uma língua um pouco mais antiga. - disse bem humorado e com um sorriso caloroso. Olyver ganhou minha simpatia automaticamente, como Catharina também conseguiu. Continuou, ainda carismático mas agora com certo peso - Catharina nos contou o que aconteceu, espero que esteja tudo bem. </div>
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- Fora isso aqui - puxei os esparadrapos que cobriam o lugar onde ela tinha me beijado pela última vez - estou pronto para outra.</div>
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E só Deus sabe como eu realmente queria outra noite daquelas. Não sei se Olyver entendeu, mas estendeu a sua mão para mim num cumprimento e, de sobrancelhas levantadas, retornou para sua conversa com Eduarda. De passagem vi que seus olhos bem verdes carregavam uma seriedade que contrastava drasticamente com a leveza de Reint. </div>
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Achei ter sido impressão e desci para o Grande Salão. Desta vez padre Pedro não estava presente, era o dia que eu teria minha primeira orientação com Victor e, apesar dos outros já terem tido duas aulas com ele enquanto eu estive em recuperação, não pareciam muito mais animados que eu. Catharina, Hoan e o Favrashi calado e discreto de Júlio, que eu ainda não sabia o nome, também estavam presentes.</div>
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Caminhei até onde estavam Gabriela e Júlio e perguntei por Vinicius. Apesar de não ter exatamente uma forte afinidade com nenhum deles ainda gostava de Gabriela, conseguia sentir a sinceridade que ela exalava. </div>
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- Ele está dando detalhes do que aconteceu alguns dias atrás para Victor. Estão ali na sala de arquivos tentando identificar quem…ou melhor, o que o atacou.</div>
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- Ele já contou alguma coisa para vocês?</div>
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- Não, e nem você. Reint me contou que você foi atacado por uma espécie de, vampiro. - Júlio fez uma afirmativa que ganhou tom de pergunta na última palavra. Estava estranhamente fascinado com tudo aquilo. Acredito que, de nós quatro, Júlio era o mais destemido.</div>
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- Reint? </div>
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Júlio apontou para o rapaz que usava um terno de mafioso ao lado de Catharina e Hoan.</div>
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- Foi uma upyr, na verdade. - porque Carol ainda não havia feito contato? - Mas está tudo bem agora. </div>
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- Este já é o segundo ataque que você sobrevive, - percebi que gostava mais de conversar com Gabriela do que com Júlio - acho que alguém lá em cima gosta muito de você, hahahah.</div>
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- É, parece que sim.</div>
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Victor e Vinicius iam se aproximando. O exorcista veio na frente, vestes pretas, típicas de clérigos mas não usava batina. Quando passou, fez sinal de que o seguíssemos até a sala aonde costumávamos ter a orientação. Percebia que, apesar de estar aparentemente sem ferimentos, Vinicius mancava mas antes mesmo que eu levantasse Júlio já estava se propondo a ajuda-lo. </div>
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Fui o último a passar pela porta e Victor bateu-a quando estávamos todos sentados. Seguiu até o centro da sala pequena e disse:</div>
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- Não é supresa que Vinicius foi abordado alguns dias por um demônio. - os olhos escuros fitaram meu colega - Porque você não divide com eles sua experiência?</div>
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Visivelmente desconfortável, Vinicius o fez:</div>
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- Estávamos vindo para a cá, Olyver e eu. Ainda era dia, não passavam das 14h, entramos numa rua estreita…na verdade era um beco, e vinha em nossa direção um homem. Eu senti que algo estava errado mas resolvi não dar atenção. O homem andava de modo estranho, como se estivesse machucado nas pernas, não parecia morador de rua ou algo do tipo. - as mãos dele se fecharam sobre os joelhos - Quando passamos por ele eu olhei para trás e a sua cabeça estava virada para mim num angulo impossível. Percebi antes de Olyver, mas era tarde demais. Com um movimento ágil, ele pegou impulso numa parede do beco e desceu com as pernas no tronco de Olyver. A pancada foi forte, um homem de meia-idade não teria aquela força. Busquei o terço como você tinha dito, Victor, mas fui lento demais. Logo a criatura estava na minha frente e passou a perna por trás das minhas. Caí facilmente.</div>
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Gabriela estava com as duas mãos levadas à boca, Júlio de olhos arregalados. Os lábios de Vinicius tremiam, só agora eu percebi olheiras profundas sob seus olhos. </div>
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- Ele…ele falava em tom gutural e numa língua incompreensível para mim. Os olhos do homem, se é que ainda era um homem, reviravam nas próprias órbitas e sua língua parecia ter um comprimento bem maior do que o normal. Com os dedos que apontavam um para cada direção, ele alcançou uma pedra e a levantou sobre a minha cabeça. Tive sorte que Olyver conseguiu montar um escudo forte no exato momento que ele desceu os braços. A pedra voltou com toda a força para a garganta do infeliz. Que levantou fazendo barulhos nojentos e saiu de do beco com seu andar deficiente.</div>
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Um silêncio negro desceu sobre a sala. Todos olhávamos para Vinicius e ele não estava à vontade com aquilo. Victor se levantou de uma vez, passou a mão pelos cabelos e disse.</div>
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- Você e Olyver estavam no Flamengo quando aconteceu, certo?</div>
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- Isso, não lembro ao certo a rua...</div>
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- Ótimo! - Victor o interrompeu - A aula hoje vai ser prática, garotos.</div>Doughttp://www.blogger.com/profile/10921754351760150046noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3896754087151831820.post-69998333894769531052015-03-04T15:27:00.000-08:002015-07-05T07:15:48.483-07:00Ver024<iframe width="420" height="315" src="https://www.youtube.com/embed/dO6PzzkrLwQ" frameborder="0" allowfullscreen></iframe>
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Não me entenda mal, eu não sou mentiroso. Na verdade eu odiava mentir, mas o fazia quando era necessário e geralmente era convincente. </div>
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Não naquele dia.</div>
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Quando a maioria dos membros da Ordem foi embora, eu achei que tinham comprado o que eu disse sobre não lembrar muita coisa depois do suposto ataque sofrido duas noites atrás. Ficou mais fácil organizar as coisas na cabeça depois que aquele anjo de olhos vazios foi embora e, justo quando eu comecei a relaxar Catharina e padre Pedro vieram com aquela pergunta. Diretos como um trem-bala.</div>
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- E então, que tal nos contar a verdade agora? - Catharina disse, de braços cruzados e aquilo me bateu como um tapa no rosto.</div>
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- Como assim? - dissimulei</div>
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- Pablo, padre Pedro me disse que você não foi jogado na entrada do templo e deixado lá à própria sorte. Alguém o trouxe aqui para dentro. Alguém com flamejante cabelos ruivo, certo Pedro?</div>
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O velho padre parecia desconfortável com toda aquela situação, com se Catharina estivesse obrigando-o a delatar um amigo. Minha simpatia pelo homem crescia mais a cada momento.</div>
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- Eu acordei com um barulho aqui em cima. Subi as escadas e vi alguém trazendo você desacordado nos braços. Cheguei a pensar que fosse Catharina quando a vi de longe, meus olhos já não são mais tão confiáveis como eram, eu acho. Mas chegando mais perto eu vi que não poderia ser ela ou nenhum outro celeste porque a criatura estava sofrendo por estar aqui. Mas é curioso porque ela, seja quem fosse, não parecia ter atacado você. Na verdade, me pareceu que ela estava tentando salvar você.</div>
<div>
- Marcelo esqueceu de falar uma coisa mais cedo. Vítimas de upyres, totais ou mesmo aquelas que foram transformadas, quase sempre mostram marcas de resistência ao ataque. Você não. Era como se você tivesse se entregado à ela. Então agora nos faça um favor e o que você e Carolina LeBion fizeram duas noites atras. - Catharina num tom muito inquisidor.</div>
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Ao saber que ela tinha me levado até la, a mão que parecia estar apertando meu coração desde que comecei a pensar que Carol tinha me abandonado sumiu como que por encanto. Mas o sentimento de alívio durou muito pouco porque minha cabeça começou a se questionar o que me trazer à Candelária poderia ter custado a ela.</div>
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<br /></div>
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- O que aconteceu com ela? Quer dizer, quando me deixou aqui? Marcelo nos disse na sala que igrejas são a única arma absoluta contra qualquer tipo de demônio. Nenhum deles pode por os pés em igrejas. Aonde ela está? - o silêncio dos dois era como uma agulha sendo pressionada contra meu cérebro - Por favor?</div>
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- Ela começou a tremer muito e se contorcer. Cada passo lhe pesava muito. As veias saltavam na pele muito pálida e as olheiras faziam os olhos parecerem pequenas bolas de gude. Estou no ramo há alguns anos, filho. Já vi demônios poderosos tombarem assim que passaram por aquela mesma porta. Essa…menina andou quase até o altar com você nos braços. </div>
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- E?</div>
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- E depois foi embora.</div>
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- Assim, sem mais nem menos? Ela disse alguma coisa? Para onde iria, algum contato…qualquer coisa?</div>
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- Não, sinto muito.</div>
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Sacerdos são treinados para captar as emoções alheias, isso é uma arma muito poderosa quando precisamos identificar algum demônio na multidão de mortais. Mas padre Pedro era capaz não só de sentir, mas como de acalmar qualquer emoção ruim que pudesse tomar conta de alguém. Percebendo que eu fiquei cabisbaixo com a notícia, ele pôs a mão no meu ombro e me disse:</div>
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- Mas não se esqueça de que ela entrou aqui só para salvar você. </div>
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Seu sorriso não era largo, mas era sincero e isso bastou para me acalmar um pouco naquele momento e fez brotar uma chama de esperança de que ela poderia estar bem. </div>
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- Na minha reunião com Hoan e os outros Favrashi, a segurança de vocês foi um importante ponto de discussão. Anteontem decidimos que não vamos mais ao plano superior dar e receber informações até a ordenação de vocês quatro. Ganthen foi designado para fazer a função de mensageiro, embora não tenha ficado muito feliz com isso. Houve uma outra tentativa de ataque ontem à noite enquanto você se recuperava, Vinicius foi abordado no caminho para a orientação que Eduarda aplicaria, a sorte é que Olyver, seu protetor, estava com ele. Aquela pobre menina Bruna foi morta antes mesmo de começar o treinamento. Eles já sabem o que a gente está fazendo aqui e vão se empenhar em impedir. A decisão que tomamos foi a de acompanhar nossos protegidos incessantemente vinte e quatro horas por dia. Eu estaria preocupada com o seu ataque se realmente acreditasse que foi um ataque, mas não foi, certo? </div>
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Catharina tinha na voz a confiança de quem usa um argumento irrefutável em uma discussão. Eu não mentiria pra ela, até porque ela já sabia da minha relação com Carol. Mas me preocupava com o que padre Pedro pensaria daquilo tudo. Meus olhos foram dela para ele e voltaram para Catharina. </div>
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- Não se preocupe, Pedro sabe. Eu contei a ele que você tem recebido visitas de Carolina LeBion. E de todo romance que vocês tiveram no passado.</div>
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Padre Pedro afirmou com um leve aceno de cabeça. Senti uma raiva instantânea de Catharina por ter contado esse segredo para ele, mas durou menos que um segundo. A raiva deu lugar a um orgulho inexplicável, mas bastante forte, por ter ouvido que eu tive um romance com Carol. Mesmo que tenha sido em outra vida. </div>
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- Bom - eu comecei relutante - saí daqui e me despedi de todos antes de pegar o caminho até a estação de metrô. Em algum ponto no meio do caminho ouvi ela me chamando. Me virei e a vi, Carol usava um vestido vermelho...</div>
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Falar ainda era algo incômodo, mas contar da noite que tivemos me fez voltar ao abafado apartamento na Lapa e quase reviver tudo que fizemos. Disse tudo para eles, omitindo os detalhes desnecessários apenas. Catharina e padre Pedro acreditaram quando eu disse que não lembrava nada após o beijo que ela havia dado no meu pescoço.</div>
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Minha Favrashi que alegava já saber que não havia sido um ataque estava muito mais perplexa do que eu imaginei que ela ficaria quando eu terminei meu relato. O bom padre negro esfregou a manga de suas vestes negras na testa também negra para limpar o suor e eu consegui ver através de suas emoções. Não era choque ou perturbação. Parecia nostalgia, como se ele tivesse tido uma experiência parecida com a minha anos e anos atras. Preferi não tocar no assunto mas esbocei um sorriso que foi correspondido por ele. Catharina falou:</div>
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- Eu ainda não acredito que ela fez isso! </div>
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- Ela fez, e fez muito bem. - brinquei.</div>
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- Catharina está certa, este tipo de relação pode comprometer não só o seu desempenho como sacerdo, mas também a sua própria vida. - Pedro falava com uma seriedade comicamente dissimulada na voz.</div>
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- Exatamente! Além de ser explicitamente proibido pelas regras desta Ordem!</div>
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- Bom, tecnicamente isso não é verdade...</div>
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- Do que você está falando?</div>
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- As regras incentivam sim a não relação com outros mortais, até pelo sofrimento que isso poderia causar para ambas as partes se o um demônio descobrisse que o secando tem entes queridos. Mas eu não lembro de nenhuma ressalva sobre relações com infernais, você poderia me dizer alguma?</div>
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Catharina cruzou os braços e sentou novamente nos bancos da catedral. Eu finalmente consegui levantar e, apesar da dor, me sentia bem. Se eu fechasse os olhos e me concentrasse bem, ainda conseguia sentir seus cabelos no meu rosto e o perfume da sua pele em mim.</div>
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É engraçado porque pessoas costumam odiar cicatrizes. Eu gostei gostei do fato daquele anjo de presença desagradável não ter conseguido tirar as cicatrizes que ela fez em mim. Levei as mão ao meu pescoço, gesto que eu repetiria muitas vezes depois disso, e mesmo com o curativo eu as senti ali. Era como sentir seus lábios no meu pescoço de novo e isso me fez começar a pensar quando nos veríamos novamente. </div>
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Infelizmente seria um bom tempo depois dali.</div>
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